“O tempo é o melhor autor, sempre encontra um final perfeito”
(Charlie Chaplin)
- Taline?
- Oi.
- Como termina um relacionamento?
Foi assim que começou uma
conversa e com ela uma tempestade de pensamentos e lembranças que me fizeram
correr para a folha em branco e escrever.
Perguntinha difícil essa,
especialmente para ser respondida em uma segunda-feira perto das onze horas da
noite... Existem coisas que não são passiveis de definição, muito menos de
esclarecimentos objetivos como uma conta matemática.
- Quanto é 2 +2?
Não... Com os sentimentos as
coisas não começam assim e muito menos terminam. A conta nunca é exata, sempre
tem um resto, um zero a mais, uma dízima que parece não ter fim.
Relacionamentos, creio eu, devem terminar do mesmo jeito que começaram, com a
certeza de que a decisão a ser tomada é aquela, que é única e sem espaço para
arrependimentos.
A mesma certeza que impulsionou o
primeiro beijo, o frio na espinha no primeiro encontro, a ansiedade de esperar
por um telefonema, a vontade de estar por perto o tempo todo, enfim... Toda
aquela certeza deve estar presente no final de um relacionamento, com a mesma
força e intensidade, pois se ela não estiver, provavelmente ainda não é o fim.
É por isso que muitos
relacionamentos se arrastam, muitas vezes por anos, mesmo com o insucesso já
anunciado. Aposto que você conhece alguém, ou já ouviu alguma história de um
relacionamento que durou 5, 8, 10, 12 anos e por fim acabou bem longe do altar.
Pois é... Para se terminar um
relacionamento é preciso resgatar a certeza de que não se quer mais aquele
beijo, é preciso não sentir mais um frio na barriga quando encontra a outra
pessoa e ter a convicção de que não quer mais aquela companhia o tempo todo,
caso contrário pode estar tomando uma atitude precipitada, e quando o assunto é
amor...Ah! Precipitação é sinônimo de confusão e arrependimento.
O mais complicado, é que neste impasse, temos
que admitir que sentimentos são volúveis e frequentemente nos pregam peças. Por
vezes é possível acreditar que o amor acabou, que já não se sente mais nada,
que nunca mais quer ver o fulano na sua frente, nem pintado de ouro. Mas pode
em poucas horas e até mesmo em alguns minutos descobrir que tinha sido apenas
raiva, tristeza, falta de motivação ou decepção e conforme o rancor vai
passando, reabre espaço para aquela certeza do “felizes para sempre” e o fim
fica para depois, ou não fica.
O risco maior está na acomodação.
Essa incerteza do talvez, do “já passou” pode frequentemente gerar um
sentimento que muitos casais compartilharam antes do fatídico ponto final,
aquele medo de não saber mais como é estar sozinho. Aquela angustia só de
pensar em recomeçar, a aflição de saber que o outro pode ser feliz ao lado de
alguém que não seja você. E isso tudo, acaba deixando que a raiva, a tristeza e
a decepção se acumulem, fiquem ali adormecidas, como se um manto acalmasse os
ânimos só para que não houvesse a necessidade de fazer o que, ao meu ver, é uma
das coisas mais difíceis da vida: tomar uma decisão.
Só nos esquecemos de que o que
fica adormecido, acumulado, não resolvido, uma hora reaparece e o que tinha
tudo para ser um simples obstáculo torna-se o início de discussões sem fim,
culminando por vezes na falta de respeito e na incompatibilidade relatada no
final de muitos relacionamentos.
Acho que podemos sintetizar
relacionamentos em um ciclo, que em nossas vidas devem ter um único ponto de
partida e chegada: a certeza. Se você tem certeza: comece! Se você tem certeza:
termine! Mas nunca use o talvez, pois quando o assunto é coração...Ah! Melhor
não tentar explicar o que é tão relativo que não cabe no talvez e ao mesmo
tempo é tão exato que se encaixa perfeitamente em um simples sim ou não.
Em suma, diria que não existe
receita para o fim, assim como ninguém prevê ou escolhe o começo. Não existe a
melhor maneira, nem um jeito certo de se fechar ciclos. Creio que seja apenas
preciso, em todas as fases e aspectos de nossas vidas e, principalmente para se
efetivar esse ponto final, muita certeza, pois diferente da matemática que é
real e exata, os sentimentos, se não estiverem respaldados pela certeza, acabarão
por nos deixar eternamente presos em uma crise, alimentada diariamente pela
dúvida do não saber...
Ilustração de: Carlos Ruas. Disponível em: http://www.umsabadoqualquer.com/
4 comentários:
Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 12/05/2012. Aguardo comentários!
Como sempre arrrassssaaaannnndooo!
Vdd, deveria existir uma fórmula, para terminar um relacionamento...doeria menos e recomeçaríamos as nossas vidas mais rápido e com menos culpa e menos tudo!!!
Parabéns
Ainda bem que tanto a vida como os relacionamentos não obedecem à lógica matemática... caso contrário teríamos ao invés de poetas e filósofos, apenas engenheiros e físicos! rs Parabéns pelo texto! bjs
Taline obrigada por mais uma vez nos proporcionar reflexões em torno desse tema tão complicado que é o relacionamento humano, em suas mais variadas dimensões.
Quanto a pergunta não acho complicado, mas a resposta demais....
Parafraseando Amyr Klink lembro "que o maior perigo de uma viagem é não partir". Assim, vamos continarmos inciando e se necessário terminando relacionamentos, ou quem sabe apenas transformando esses relacionamentos, quem sabe essa é a saída para não precisar terminar..............
Beijos, continue sempre buscando nos (re)começos...........
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