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domingo, 9 de dezembro de 2012

Férias!

Caros amigos e leitores,


Em breve retorno com novidades!! Minhas férias vão acabar rapidinho...

Enquanto isso...Entre e fique a vontade, este blog é mais seu do que meu!! ;)



Acompanhe também os textos na minha coluna do Jornal Democrata impresso ou digital:
http://jornaldemocrata.com.br/home


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Na pedra mais alta...

“O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta”
(O Teatro Mágico)

Foi em uma tarde de sol com cheiro de chuva. Em uma tarde daquelas em que a boca seca ao respirar e o calor provoca suor na nuca. Uma tarde quente, abafada, com algumas nuvens no horizonte, ainda longe do meu céu, mas que indicavam chuva futura.
O céu ainda estava azul, aquele azul celeste vivo, insistente. O sol ardia poderoso, lançando seus raios de cá e de lá sem se importar com seus efeitos. Óculos, chapéu e protetor solar pareciam pouco para tanta claridade.
Pouco antes das dezenove horas ele chegou e me levou até a pedra mais alta. No caminho acenei para o sol diversas vezes, quase suplicando que ele esperasse minha chegada para se despedir. Era muita natureza para pouca habilidade, queria que meus olhos tirassem fotos, teria imortalizado cenas incríveis naquela tarde.
Foram minutos longos e coloridos, entre árvores que deixavam o verde claro e começavam a ganhar a sombra do entardecer, nuvens que se pintavam de branco e cinza, parando no alaranjado que anunciava o final de outro dia e o sol que bocejava cansado enquanto atirava seus últimos raios, mudando a cor do céu, da grama, do chão, de tudo o que tocava.
A vista da pedra mais alta era hipnotizante. Cheguei a ficar sem respirar por segundos para registrar aquele momento. O horizonte se apresentava enorme, de braços abertos, colorido, disposto a contracenar com o sol naquele espetáculo que me deixou sem ar.
O azul logo deu lugar ao alaranjado e logo depois para o lilás e mais a frente um laranja cor de fogo que me fez sorrir. Era beleza demais para apenas dois olhos. Não me cansei de olhar, queria que o crepúsculo durasse horas, que aquele pôr-do-sol fosse eterno.
A lua, ainda nova, apareceu tímida, em apenas um filete claro, ainda sem muita graça, mas sorrindo, quase transparente. Tornou-se a protagonista do espetáculo poucos minutos depois, quando a escuridão tomou conta de tudo.
A lua amarela feito ouro firmou-se no céu negro, sem nuvens. Estrelas começaram a pipocar e aqueles segundos entre a escuridão e a sombra me permitiram admirar o céu e todos seus detalhes. Desde a minha infância não via um céu tão estrelado, a ausência de iluminação artificial deixou cada estrela evidente, abri os braços e girei olhando para o céu, o céu mais lindo dos últimos tempos.
Por um momento silenciei e agradeci em uma prece curta. Agradeci pelo espetáculo, pelos meus olhos, por estar ali, pela companhia. Foi tudo mágico.
Pouco antes de me despedir daquele pedaço do paraíso me emocionei ao ver a dança de vaga-lumes ao nosso redor. Um, dois, três, muitos... Aproximavam-se sem receio, fazendo com suas luzes outro céu no chão. Outra vez lembrei-me da minha infância e da corrida entre vaga-lumes no rancho do meu avô.
Voltei renovada, cheia de boas lembranças, com imagens difíceis de descrever, mas que ficarão eternizadas na minha caixinha de memória.
Foi em uma tarde de sol, com cheiro de chuva, bem ali, em cima da pedra mais alta que vi o pôr-do-sol mais lindo de toda a minha vida...



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Aqueles segundos...

“Foi só por um segundo. Todo o tempo do mundo. E o mundo todo se perdeu”.

Cláudio Lins


Algumas coisas me envolvem, outras me comovem, outras me fazem pensar. Tenho algumas manias que adquiri ao longo da vida que me provocam certo prazer difícil de descrever. A maioria delas relaciona-se a coisas banais, simples, pouco importantes para a maioria das pessoas, por vezes imperceptíveis, mas que para mim fazem toda a diferença.
Uma delas diz respeito a duas coisas que sempre me deram medo e que hoje aprendi a respeitar: o silêncio e a escuridão. Barulho demais nunca me agradou, mas confesso que a ausência total dele me permitiu escutar barulhos interiores que incomodavam bem mais do que um grito, então tive que me adaptar ao silêncio aos poucos, até poder repousar, sentir-me em casa e enfim nele poder respirar.
Já a escuridão sempre foi casa de bicho-papão, esconderijo de bandido, ausência de luz e estar no meio dela era como adentrar um buraco negro terrível, onde o vazio dominava todos os espaços, não cabendo mais nada além do medo e do desencontro.
Acontece que aprendi no meio do meu temor a encarar a escuridão e o silêncio de uma forma ímpar. Encontrei naqueles poucos segundos que antecedem a adaptação da visão noturna motivo para me deslumbrar com o que antes me dava medo.
Sabe aqueles segundos, aqueles poucos segundos em que os olhos se adaptam a total escuridão e te dão de volta a percepção das coisas? Pois então, eu adoro esses segundos.
Sempre que apago a luz ao deitar, me ajeito no travesseiro e mantenho os olhos abertos. Os abro o máximo que consigo e fico a vislumbrar o espaço. O negrume que consome tudo e não permite o reencontro nem dos olhos com a palma das mãos vai cedendo lugar a uma sombra bonita, que deixa tudo tranquilo, em seu devido lugar.
A angústia de não enxergar nada, logo cessa e, finalmente posso fechar os olhos. Pode parecer bobagem, mas aqueles segundos geralmente me trazem paz, são momentos de encontro com meus medos e com a minha coragem, é ali que inicio o balanço do dia, são eles que precedem minha reza e velam meu sono.
Diante dos últimos acontecimentos tenho dado mais valor a esses segundos e a tantos outros que me dão prazer. Poderia descrever vários aqui, como o segundo exato em que o sol ao se despedir reflete na minha janela e muda a cor da minha parede; ou o segundo que alinha perfeitamente a lua com a rua da minha casa e a deixa ainda maior; sem contar aqueles segundos que me fazem sentir um frio na barriga, enquanto espero minha mãe abrir a porta da sala, depois de meses sem vê-la; ou ainda aqueles segundos que antecedem a chegada do elevador e sempre me deixam na expectativa do que vou encontrar ao abrir a porta. Enfim... São tantos segundos!
Os segundos que antecedem a escuridão têm me feito demasiado sentido nos últimos dias, por isso o seu destaque aqui. Mas a verdade é que todas as lembranças são feitas de segundos, e são nelas que me apoio e me renovo todos os dias, com o intuito de trilhar um novo caminho, um novo recomeçar.
Quanto dura cada segundo não faz a menor diferença. O segundo pode durar apenas um segundo, talvez alguns milésimos de segundo e até mesmo um minuto ou uma hora. Vai depender da intensidade, da vontade, do momento. Ontem enquanto esperava a escuridão ganhar sombra contei os segundos e foram bem menos do que eu imaginava, para mim esses poucos segundos parecem horas e assim continuarão a ser, pois o que me faz bem deve ganhar mais tempo do que qualquer outra coisa na minha vida.
Faltariam páginas para descrever todos os segundos que me provocam prazer de alguma maneira. Na verdade, cada um deles mereceria um texto. Aposto que você também tem aqueles segundos que te parecem horas e que queria tornar dias, não?
Dias com muitos e longos segundos é o que desejo para todos nós...



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Juntando cacos...


“(...)De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama”.
(Vinícius de Moraes)

Coloco-me de joelhos enquanto tento recuperar os cacos. Os junto um a um, tomando cuidado para retirar do chão inclusive as menores lascas, os mínimos vestígios do que aconteceu. Não tenho força para pensar em reconstruí-lo agora, será um trabalho árduo, minucioso e que talvez não tenha fim.
As cicatrizes permanecerão. Serão lembradas diariamente e mesmo que as lascas se emendem perfeitamente, sempre haverá um buraco entre os remendos. Espaços minúsculos que antes eram preenchidos por suspiros e lembranças e que agora permanecerão vazios.
Até a cor dele foi alterada. O vermelho vivo, ofuscante, deu lugar a um cinza gélido. Não é mais atrativo, mantém-se sem graça, sem vida, desiludido e desconfiado.
Penso que deveria existir uma punição para quem comete esse tipo de crime. Revirei páginas na internet, pesquisei em livros, mas não existe nada que fale sobre uma pena para corações partidos.
É um crime sem previsão penal. Hoje fiquei me perguntando por quê. Será que os legisladores e juristas nunca passaram por nada parecido? Será que não consideram grave esse tipo de crime? Será que o prejuízo emocional não pode ser avaliado e a moralidade nessas situações perde inclusive seu valor?
Acho que tem algo de muito errado acontecendo. Fui vítima de um golpe, de um jogo sórdido, sujo e triste. Sinto-me injustiçada, pois sei que minha perda, meu prejuízo, foi bem maior que qualquer bem, que qualquer gorda quantia de dinheiro.
O que perdi não pode ser substituído, nem reparado, nem mesmo com um prêmio da loteria. Crença, confiança são valores incalculáveis. Fui vítima de um jogo tão cruel que me fez pela primeira vez desacreditar da humanidade.
Não confio mais em ninguém desde então. Os danos do que vivi me acompanharão eternamente e influenciarão no que eu chamo de vida daqui para frente. Já tenho sentido os efeitos. Será difícil acreditar novamente em alguém, querer “pagar para ver” acho que nunca mais.
É por isso que deixo aqui a sugestão de ampliação do código penal. Crimes contra as pessoas de bem, deveriam ter penas como qualquer outros. Ser desonesto ao desviar um dinheiro pode te levar para a cadeia, mas ser desonesto ao iludir uma pessoa não te acarretará dano algum. Acho que é por isso que o mundo está cada dia mais doente.
O que realmente tem valor, o que realmente importa não é relevante para a maioria das pessoas, pelo simples fato de não poder ser vendido, por não ter valor comercial. Daria todos os meus bens para não ter passado pelo que passei. Pois mais do que ter sido enganada, foi-me tirado o que eu tinha de mais valioso: minha esperança.
Será que com o tempo? Será? Acho que o amigo tempo será capaz de amenizar os efeitos, com certeza irá apagar a tristeza e varrerá as lembranças até o completo esquecimento do algoz que me deixou assim, mas todas as vezes que tiver que me envolver... Sempre que precisar me entregar...Ah! Nem mesmo o tempo será capaz de apagar esse medo que voltou a me rondar.
E agora, aqui de joelhos, enquanto olho os cacos do que antes era um coração vivo e cheio de esperança, continuo me perguntando por quê. Continuo tentando preencher esse vazio que é bem maior do que tudo que já senti.
Continuo tentando encontrar as respostas do que nunca terá explicação. A espera de ver “a maldade desaparecer, e o sol, brilhar mais uma vez”, hoje me despeço em uma oração silenciosa: E livra-nos de todo o mal...
Que o silêncio me traga conforto, renove minha fé e traga de volta minha esperança... Que assim seja.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vazio



Confesso que pensei muito antes de escrever esse texto. Muitas coisas ainda estão confusas e senti um misto de insegurança e vergonha ao escrevê-lo. Insegurança por não saber direito o que estou sentindo diante dos últimos acontecimentos e vergonha por ter me permitido fazer parte de uma história tão absurda como essa.
A coragem para escrevê-lo partiu da lembrança de todas as pessoas que já se disseram motivadas pelos meus textos ou que se encontraram em alguma parte deles.
A verdade é que precisava compartilhar esse vazio com mais alguém, pois a cada dia me assusto mais com a humanidade.
Por diversas vezes assisti a filmes, novelas e pensei que toda aquela maldade só podia ser coisa de ficção, que era impossível ou no mínimo inconcebível que alguém em sã consciência fosse capaz de causar propositadamente sofrimento para outra pessoa.
Acontece que me esqueci do detalhe de que é na vida real que a ficção encontra inspiração. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa do bem. Raramente me zango com alguém ou guardo rancor, afinal aprendi que isso tem o mesmo efeito que tomar veneno em doses homeopáticas. Não julgo, não maltrato nem faço joguinhos com as pessoas que estão no meu convívio. Mas esse tipo de comportamento tem me parecido exceção ao invés de regra nos últimos tempos.
Vivenciei uma história de filme essa semana, onde a protagonista era eu. Assumindo o papel da mocinha enganada e traída, iludida por um psicopata mau caráter.
Em sete minutos fui do céu ao inferno. Tempo exato que durou a conversa com a fulana que sabia bem mais do meu relacionamento do que eu e que me mostrou que todas as minhas verdades eram mentiras e que a única verdade não era nada colorida.
Confesso que estou em estado de choque. Custo a acreditar que alguém que parecia tão bom, honesto, gentil, conseguiu me manipular e me enganar por tanto tempo.
Lembrei-me muito de um amigo hoje que sempre me dizia: Você é ingênua demais. E não é que é? Sou mesmo muito bocó. Tenho a mania de achar que as pessoas só farão comigo o que farei com elas. Na ilusão da lei de ação e reação como não prejudico ninguém, acredito que ninguém vai me prejudicar. Mas é aqui, bem aqui que me esqueço de um detalhe essencial: Não vivo nos folhetins! E a vida real é muito cruel, chega a ser mais sórdida do que muitos vilões de filmes que já vi por ai.
O mais engraçado é que não estou com raiva, nem ódio, nem tristeza. O que eu sinto não tem nome. É apenas um vazio. É como se todos os sentimentos tivessem sido jogados para fora do meu peito. Os bons, os ruins, os não tão bons e aqueles que tinham chance de se tornar ruins. Todos se foram. Rápido como o vento que antecede a chuva.
O que aprendi com isso tudo? Que sou mesmo muito ingênua. Que dificilmente confiarei novamente em alguém. Que a solidão não é tão ruim quanto se parece, depois de passar por uma situação como essa.
Não sei se terei coragem de me envolver com outra pessoa novamente. A solidão hoje me parece bem mais segura. Além do que, é bem provável que, se acaso encontre alguém realmente disposto a compartilhar sua vida comigo, eu duvide.
Provavelmente se alguém por mim se encantar vai me fazer correr quilômetros, assustada e quando estiver bem longe, vou gargalhar alto e dizer: dessa vez você não me pegou!
Chega de desilusão. Eu só quero ser feliz.

domingo, 28 de outubro de 2012

Quem muito escolhe...


Andei pensando no significado de um ditado que me acompanhou por grande parte da vida nos últimos anos: “Quem muito escolhe, acaba escolhido”.
Cansei de ouvir isso da minha mãe e da minha avó, especialmente quando demonstrava insegurança sobre o início de um relacionamento, ou medo da pessoa não ser tudo aquilo que eu imaginava ou desejava que fosse.
Lembro-me bem de ouvir minha avó dizendo: Você é exigente demais. Desse jeito vai acabar sozinha.
Era essa, uma cobrança tão constante que ecoava nos meus ouvidos todas as vezes que chegava à casa dela. Antes mesmo de me abraçar já ouvia a fatídica pergunta: Já arrumou um namorado?
Confesso que sempre levei na brincadeira e por vezes dizia a ela que um não, mas que tinha alguns em vista e permitia que a cobrança se tornasse parte de uma piada, de uma conversa gostosa que sempre acabava em risadas.
Isso quando tinha lá meus dezoito, vinte anos, parecia divertido. Hoje com quase trinta, escutar essa pergunta todas as vezes que nos encontramos chega a me causar mal estar. Não por ela, claro que não, minha avó é um doce, aliás, tenho as melhores avós do mundo, mas é que a cobrança que antes era externa, agora é minha.
Tenho me perguntado nos últimos dias porque as coisas parecem tão difíceis quando se trata de relacionamentos. Fiz uma retrospectiva dos últimos encontros que vivi e do quanto os desencontros que lhes colocaram fim foram responsabilidade minha.
Talvez minha avó tenha razão, devo ser muito exigente mesmo e na certa vou acabar sozinha. Mas sabe de uma coisa? Acho que tenho preferido a solidão a brincar de castelo de areia em mundos cor-de-rosa.
É muito mais fácil encarar a cama vazia ao acordar, a cadeira vazia ao tomar café, a ausência de objetos espalhados pela casa e de uma escova de dente extra no banheiro, do que fingir que se está realizada quando não está.
Hoje, sei o que quero para a minha vida. E sei bem também o que não desejo. Eu não quero um namoro de aparências, não quero alguém só para constar no status de relacionamento. Não quero alguém só para colocar no currículo como mais uma experiência vivida ou objetivo alcançado.
Eu quero um companheiro.
Eu quero alguém que esteja disponível, que tenha disposição para fazer parte do meu mundo e me deixe entrar no dele, sem medo, sem restrições. Eu quero alguém para conversar nas tardes de domingo e ir ao cinema no meio da semana. Alguém que não se importe de cochilar depois do almoço, mas tenha disposição para sair nas sextas-feiras à noite.
Acontece que sempre me frustro quando tento me relacionar. E o que mais me incomoda no meio de toda essa desilusão é o fato de ter que chegar novamente na terra natal, olhar bem para a vovó e responder quando ela perguntar: Onde está o namorado? – que o namorado não existe, nem em forma real, nem virtual ou imaginária.
Então terei que respirar fundo ao ouvi-la me “criticar” pela minha seriedade, rigidez, exigência e tudo mais que segundo ela afasta os homens de mim.
A verdade é que eu só quero ser feliz. E hoje tenho me sentido muito frustrada, de um jeito que não me sentia há tempos. Não pela solidão que volta a me rondar, mas pela certeza de que podia ter sido real, podia ter ganhado cor, mas faltou empenho.
Sei que não sou mestre em relacionamentos e por vezes sou muito desastrada, além de ansiosa e insegura, mas uma coisa eu garanto: nunca deixei de tentar. Sempre me joguei fundo, de cabeça, de corpo, alma e coração e se hoje assumo que a solidão é novamente minha companheira, foi depois de tentar insistentemente no que acreditava ser o melhor.
Acontece que o que é o melhor para mim, nem sempre é para o outro e então retomo o início desse texto e tomo a liberdade de mudar o ditado ao afirmar que: “Quem muito escolhe, acaba sozinho”. E sobre estar sozinho, bem...Disso ando entendendo um bocado.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O melhor de mim...


“Um dia de cada vez, que é pra não perder as boas surpresas da vida”.  (Clarice Lispector)

Ontem o porteiro do meu prédio me perguntou de onde a chuva vem. Parei por um minuto na escada, olhei para ele, olhei para o sol de rachar mamona que se apresentava no céu azul e tentei entender o porquê da pergunta. Por um instante havia me esquecido completamente de que esse questionamento tinha sido o título de um de meus textos.
Percebi a vinculação da pergunta com o texto quando ele ergueu o braço e disse com um meio sorriso no rosto: correspondência para você, enquanto levantava o jornal, que acabava de chegar da terra natal.
Subi os três degraus que me separavam dele e peguei o jornal enquanto o ouvia comentar sobre o texto. Contou-me que sempre gostou de observar a chuva, mas que fazia tempo que não o fazia e que em um dia quente como aquele, seria bom ter a oportunidade de observar a chuva mais uma vez, e quem sabe até se aventurar em um banho de gotas frias e perfeitas.
Achei interessante o comentário. Especialmente vindo de um senhor que pouco me conhece, e ao mesmo tempo, me conhece mais do que muitas pessoas, já que sabe quando saio, quando chego, quem me visita e as correspondências que recebo.
Ele disse que não tinha lido todo o texto, mas tinha ficado feliz por ver minha coluna e que a tinha reconhecido pelo meu sorriso. Realmente deve ser esse meu cartão postal, até mesmo quando a dor me consome, o medo me assola lá está ele, meu sorriso largo, mostrando todos os dentes e tentando esconder o que os olhos não desmentem nunca.
Algumas semanas antes, quando chegava em casa, esse mesmo porteiro havia me entregue os jornais, incluindo o da terra natal e havia me questionado porque recebia um jornal de um lugar tão longe.
Contei a ele que era da minha cidade e que dali acompanhava um pouco do cotidiano dos meus, e matava a saudade das minhas raízes, mas que também tinha um outro motivo e que ele poderia olhar o jornal com calma da próxima vez até encontrá-lo.
Nas semanas seguintes ele nada disse, até que ontem me perguntou sobre a chuva. Eu gosto do meu anonimato, gosto de não contar minha história, gosto do rosto das pessoas quando descobrem algo sobre mim que poderia ter sido anunciado aos quatro ventos e nunca foi.
Gosto disso. Aqui, na grande cidade, meu sobrenome nada diz. O que faço pouco chama a atenção e jamais seria notícia de jornal. E prefiro assim, pois vou colhendo sorrisos e rostos surpresos pelo caminho. É nesta estrada que descubro as pessoas que gostam de mim pelo que sou, aquelas que confiam em mim e acreditam na minha competência, livre de indicações e julgamentos.
O sorriso de satisfação do senhor de cabelos brancos, que me abre a porta todos os dias, por ter descoberto meu “segredo”, me fez mais feliz ontem e hoje me trouxe inspiração.
Desvendar pessoas é fascinante. Um desafio diário e árduo, mas que geralmente rende bons frutos. São nas entre linhas que se descobre o melhor e o pior do ser humano. É também ali, quase no meio fio, que se descobre do que cada um é capaz.
Tenho tentado evitar o pré-julgamento, especialmente de pessoas de quem tenho amigos em comum. Definir padrões, imagens, perfis não tem dado muito certo nos últimos anos. Minha intuição nunca falha, mas o olhar alheio já me fez atribuir pele de cordeiro a lobo e vice-versa.
O bom da vida é descobrir as coisas aos poucos, como abrir um presente. Primeiro um lado, depois o outro, depois a fita e assim vai, de modo que o pacote permaneça intacto, mesmo após desvendado seu conteúdo. Crianças não têm essa necessidade, nem a paciência de guardar os pacotes, mas nós, adultos cheios de máscaras precisamos de cada um deles e é por isso que jamais devemos julgá-los pela estampa ou cor da fita.
Só sei que melhor que ser surpreendida é surpreender e é por isso que ando guardando o melhor de mim para o final da festa, para aquelas pessoas que tiveram paciência e a necessidade de abrir o pacote com cuidado, respeitando cada amassado, cada corte e a fita já desbotada pelo tempo.
O porteiro descobriu algo que faz parte do meu melhor e hoje me recebe com um sorriso inteiro no rosto, espero receber muitos sorrisos cheios nessa caminhada...Um por vez, um dia de cada vez, até que consigam desvendar o melhor de mim...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Dia de quê?!


“Você tem seus jeitos de tentar.
Eu tenho os meus”.
(Caio Fernando Abreu)


- Bom dia! Meu dia já começou todo atrasado, perdi a hora!
- Que pena! Espero que corra tudo bem de agora em diante, pois hoje é um dia especial, não é?
- Hum, pelo visto você também gosta de comemorar datas...
- Você não?
- Algumas.
- Por que disse que eu também gosto, lembrou-se de alguém em especial?
- Não, ninguém em especial. Acho que todas as mulheres do Sistema Solar gostam disso.
Foi assim que terminou a conversa via mensagens de celular no dia em que eles comemoraram dois meses de namoro. Ela toda romântica, afoita com seu sentimento tinha passado horas na noite anterior preparando um cartão personalizado.
Havia escolhido com cuidado cada palavra. Pesquisou um poema que fizesse sentido para a ocasião, escolheu a foto de um momento que lhe trazia boas lembranças, caprichou nos detalhes e depois dessa conversa teve receio de enviá-lo.
Acontece que algumas coisas perdem a graça quando não existe reciprocidade e festejar datas comemorativas é uma delas. Não adianta uma coisa fazer todo o sentido para alguém e simplesmente não fazer diferença para o outro. E quando digo aqui de não fazer a diferença, não quero dizer que o outro não se importa, é que realmente para ele tanto faz.
Os homens em sua grande maioria são assim. Não precisam comemorar o dia do primeiro beijo, do aniversário de namoro ou do casamento para continuar um relacionamento. Comemorando ou não o sentimento deles continuará o mesmo. Geralmente confundem-se até com as datas de aniversário dos filhos, pais e irmãos, lembrar-se do dia em que deu o primeiro beijo é para muitos deles uma missão impossível.
E eu até os entendo. Os homens são geralmente mais práticos que as mulheres, mais imediatistas, pouco nostálgicos, raramente ficam recobrando coisas do passado ou planejando o futuro. Mas aos homens cabe a necessidade de entender que as mulheres não são assim.
Mulher gosta de fazer de sua vida uma longa e linda colcha de retalhos, costura aqui, recorta dali, borda acolá e assim vai criando sua história. Para essa construção é essencial a lembrança de acontecimentos marcantes. Mulheres sobrevivem em um relacionamento muitas vezes pelas lembranças do que já viveram em outro momento com seu companheiro, já que não é sempre que os homens tem tempo e/ou disposição para oferecer-lhes algo que lhes tire da rotina.
E têm mais, as mulheres adoram as datas comemorativas, mas não são exigentes quanto aos seus festejos, pelo menos não a maioria delas. Não é preciso aparecer com um anel de diamantes ou fazer uma reserva em um restaurante caríssimo a cada data. Um bilhete com uma rosa, um abraço e algumas palavras, uma ligação no meio da tarde já são mais do que suficientes para deixar a maioria das mulheres com um sorriso bobo o resto do dia.
E se o problema for o esquecimento, não precisam se apavorar. As mulheres frequentemente anunciam as datas comemorativas, dão indiretas e diretas pelo menos uns dez dias antes, na expectativa de que se lembrem ou de que pelo menos retribuam o festejo programado. E a retribuição aqui não é no sentido de dar em troca algo igual ou maior, às vezes é só preciso aceitar de coração, entrar na brincadeira, entende?
Para exemplificar melhor vou usar a paixão nacional dos homens: o futebol. Aposto que a maioria dos homens já brincou de bola sozinho e que em menos de 30 ou 40 minutos a brincadeira perdeu a graça. Mas quando estavam com um colega, poderiam ficar horas e mais horas jogando sem se cansar, não é?
Relacionamento também é assim, se só uma das partes investe, demonstra, cria lembranças que fazem o casal sair da rotina, logo ela se cansa e vai embora. Para dar certo é preciso que a outra pessoa pelo menos esteja ali para segurar a bola, mesmo que demore para devolvê-la, o importante é que naquele momento não estava “jogando” sozinho.
Retomando o diálogo que começou esse texto, ela decidiu-se por mandar o cartão e ele adorou. Acabou entrando no jogo, pegou a bola com as duas mãos e devolveu para ela, com pouco mais de quatro frases escritas em um e-mail, mas que foram suficientes para deixá-la com um sorriso bobo nos lábios pelo resto da semana.
Então fica a dica: Mulheres não esperem demais dos homens, pelo menos não da maioria deles, pois não é do gênero masculino romantizar acontecimentos do seu relacionamento. E homens... Não estou sugerindo que façam uma festa por mês para sua mulher, apenas esteja aberto para receber o afeto, curta, entre na brincadeira, pois pior que jogar bola sozinho é vê-la furada pelo companheiro do próprio time, se é que me entendem...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

De onde a chuva vem?


Acabo de preparar um cappuccino, coloco um casaco leve que combina com a brisa fresca que invade minha sala. É uma noite de primavera com vestígios de inverno. Escolho o lado direito do sofá e me sento com as pernas cruzadas, de lado, com o corpo voltado para a janela entreaberta que me permite olhar com detalhes a formação de uma tempestade.
Que a tempestade venha com calma, que refresque os dias e purifique o ar. Que venha sem raios e trovões, pois esses me assustam, mas que venha rápido e caia forte, até encharcar todo o chão. Avisto clarões no horizonte, o céu alaranjado apesar da escuridão anuncia que a chuva se aproxima, já quase sinto o cheiro da terra molhada.
Sinto vontade de levantar-me e tentar registrar esse momento com a câmera que acabou de chegar. Mas não me movo, a vista daqui é hipnotizante. Rabisco essas linhas no papel, com uma caneta verde que estava na vista, tudo para não ter que me privar desse momento.
Escuto Etta James, o blues invade a sala acompanhado dos primeiros pingos de chuva. Recuso-me a fechar a janela, gosto da garoa invadindo meu espaço, molhando meu rosto, gelando minhas bochechas. O vento, agora mais frio, é um convite a respirar fundo. Olho para a rua e não avisto ninguém em nenhum lugar. Ruas desertas, janelas com cortinas fechadas, poucos devem observar a chuva nos dias de hoje.
Lembro-me da decisão que ainda não foi tomada e da conversa longa com minha mãe na semana retrasada... Escolhas são difíceis. Diria que é um processo dolorido, nos tortura antes, nos faz perder o fôlego na hora e pode nos causar arrependimento depois. A renúncia é a parte da escolha que mais me incomoda, algumas coisas não deveriam nunca ser passíveis de escolhas, deveriam ser e ponto.
Confesso que ainda não tenho a certeza de que precisava, meu coração ainda se confunde, faz balançar vidraças como o vento que traz a chuva. Esquenta-se e traz a dúvida em uma tarde de sol. Mas é claro que não é fácil, escolher entre a lua e o sol, o dia e a noite, as nuvens e as estrelas...Não é nada fácil, diria inclusive que além de difícil é injusto.
Se preciso mesmo escolher?! Sim. Desta vez não existe em cima do muro, nem o aconchego do silêncio no sofá, preciso direcionar meu caminho e isso tudo depende de uma escolha. Razão e emoção duelam insistentemente, não há prós e contras suficientes, não há perdas e ganhos significativos, não há quase nada... Tudo se criará a partir desta escolha.
Coloco a mão para fora da janela e deixo a chuva esfriar meu braço, faço as gotas de chuva escorrerem pelos meus dedos e brinco de molhar os prédios, coloco uma gota perfeita no vidro e a sopro devagar, até vê-la se desfazer sem rumo.
Pergunto-me de onde a chuva vem, se já fez muito estrago por onde passou, se deixou saudade, se causou rancor, se despertou orações, se permitiu derramar-se sem pudor, se teve plateia e crianças brincando no seu manto. Pergunto-me para onde a chuva vai e se daqui vai levar minha indecisão. Se será capaz de lavar minha alma, renovar meu espírito e me dar coragem.
Coragem para superar os raios e trovões e para quebrar meu silêncio. Coragem para colorir meu caminho ao amanhecer ou numa noite clara de lua cheia. Coragem para seguir as estrelas ou desvendar animais escondidos nas nuvens.
A chuva passou rápido, deixou seu cheiro, sua marca e partiu. O cappuccino acabou num instante, deixou seu gosto, seu calor e a borra na xícara. O texto se finda aqui, deixa minha percepção, algumas frases e o registro dessa vivência solitária. A única coisa que não se esvaiu foi a dúvida...  E você dúvida, já sei de onde vem então me diga... Para onde vai?

Foto de: Taline Libanio.