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sábado, 29 de agosto de 2009

Voar, voar...


Fui questionada esta semana sobre minha paixão pelo ar. Tão logo me perguntaram sobre qual animal eu seria se pudesse me transformar, rapidamente respondi: um pássaro, mais precisamente um beija-flor.
Pássaro rápido, ágil, aparentemente frágil, mas muito forte, adorador das flores, do doce e do ar livre. Já experimentei a sensação de estar solta no ar, livre, e confesso que adorei.
A primeira vez que saltei de pára-quedas foi sem planejar, fui convidada no meio da semana e no fim dela estávamos lá, recebendo instruções sobre como saltar e chegar ao chão. Lembro-me bem da sensação do vento no rosto, da adrenalina que contagiou meus movimentos e do pensamento que se esvaiu. A queda livre transforma-se num marco, o medo do pára- quedas não abrir, a sensação de liberdade, a falta de controle sobre seu corpo e os acontecimentos seguintes, tudo isso nos faz experimentar uma sensação atípica, é como estar livre e preso ao mesmo tempo. É como poder voar, mas sem bater asas.
Abrir o pára-quedas é resgatar o autocontrole, é poder respirar no ritmo de sempre e observar a natureza que, altiva, nos convida a uma sutil hipnose. O silêncio é incrível, nenhum som, nenhum barulho, só a brisa leve e aquela sensação de paz.
O segundo salto de pára-quedas não foi tão bom quanto o primeiro, apesar do céu azul e da adrenalina constante, saber o que aconteceria nos próximos segundos não me deixou aproveitar cada minuto como se fosse o último, mas ainda assim foi ótimo olhar o mundo lá do alto, enxergar a pequenez dos nossos passos e restaurar o autocontrole.
Minha última experiência no ar foi na semana passada, num salto de paraglider. Confesso que senti mais medo do que dos saltos de pára-quedas e o motivo é simples, ali ninguém controla nada, o único dono da situação é o vento e a ele fui apresentada. Não existe avião que te indica a hora certa de saltar, não existe cronômetro para indicar quanto tempo te resta no ar, não existe local marcado para pousar, nada certo, tudo depende do vento.
Aguardar o aceite do vento na saída já me deixou com o coração na boca, pouco mais de dois minutos, que pareceram horas, aguardando aquela lona amarela se abrir. Enfim se abriu! Era o sinal, corremos rumo ao precipício, que maluquice, correr num penhasco, dependendo apenas do vento, e ele surgiu, e nos levou para o alto, com massas de ar quente e fria os movimentos iam alternando-se para baixo e para cima, pouco mais de oito minutos, foi o tempo que o vento me deu para ganhar seu espaço e eu flutuei, feito um beija-flor em busca de respostas, olhando do alto aquela nossa pequenez, olhando do alto todas as dificuldades que dali pareciam mínimas.
A descida, assim como tudo neste esporte, resume-se ao imprevisto. Caímos na ponta do barranco, com o vento inquieto tentando nos jogar para baixo e nos puxar para cima, agora já não dependia mais dele, dependia de nós. Levantei-me, olhei para o alto e me lembrei do trecho de uma música: “Vento, ventania me leve para os quatro cantos do mundo. Me leve pra qualquer lugar...”.
Durante estes momentos de liberdade sem limite aprendi uma lição que compartilho com vocês. Olhar as coisas do alto nos mostra um novo ponto de vista, uma nova dimensão das situações e dos riscos, esta lição eu trouxe para o meu dia-a-dia com os pés no chão.
Tem dias que me encontro irritada, aflita em busca de uma solução para algum problema e por mais que pense não encontro uma saída. Nestes dias, me permito a solidão. No silêncio profundo, como no ar, sem nenhum barulho, permito-me recostar a cabeça no travesseiro e fazer um exercício que muito se parece com os saltos ao ar livre, permito-me olhar-me do alto.
É como imaginar ser outra pessoa e visualizar todos seus conflitos como num filme, onde cedo ou tarde saberemos o final. Basta concentrar-se no todo e esquecer do problema para que a resposta apareça, feito mágica, e com ela a paz e o resgate do autocontrole tão essencial a nós humanos.
Olhar de fora nos indica novas saídas, enxergar nossa fragilidade nos igualando a toda a humanidade reduz nossos problemas e aflições, o olhar do alto nos assegura a existência do penhasco, mas também nos aponta seu pico e nos permite escolher descer ou subir.
E pensando bem, fica clara a nítida relação do ato de voar com os sentimentos de medo ou coragem. Para chegar ao topo é preciso arriscar. Para voar é preciso identificar um medo e superá-lo, assim como os problemas, para vencê-los é necessário primeiro admiti-los.
Voar, voar...Sempre! Seja do alto de um avião, ou com a ajuda do vento; seja sozinho ou acompanhado; seja para fora do país ou para dentro de você, o importante é nunca deixar de voar.


sábado, 22 de agosto de 2009

Mentira tem perna curta

A cada dia me admiro mais com a capacidade dos homens de acreditar que podem enganar uma mulher. Quando será que os homens deixarão de ser ingênuos e de subestimar nossa capacidade?
Já cansei de ver estudos que comprovam a sensibilidade feminina, seu aguçado sexto sentido e sua capacidade de sentir o cheiro de podre no ar. Pode ser que demore algum tempo, mas cedo ou tarde as mulheres sempre descobrem o que está acontecendo e isso é explicado por dois motivos bem simples: 1°- Mentira tem perna curta, já dizia a minha avó; e 2° - As mulheres são competitivas e pouco confiáveis com seu gênero.
O fato da mentira ter perna curta já definiria bem a ousadia que muitos homens tem de ocultar ou inventar histórias absurdas para que as mulheres permaneçam ao seu redor, mas o fator mais comprometedor está vinculado a nós mulheres, as protagonistas de todas as histórias sem final feliz e já explico o porquê.
Sem querer generalizar, diria que a maioria das mulheres carrega em si um pouco de inveja e muito instinto competitivo. Mulheres quando iniciam um projeto dificilmente mudam seu foco, vão até o final, até as últimas consequências e isso porque nós competimos primeiramente com nós mesmas. Olhamos no espelho e encontramos uma gordurinha ali, um cabelo branco aqui, uma olheira acolá e adoramos olhar revistas de moda que nos apresentam mulheres perfeitas e esculturais, nos fazendo esquecer dos recursos que transformam essas fotografias hoje em dia.
Mas sejamos nós, simples mortais, ou as belas das revistas, em uma coisa somos todas iguais, vivemos tentando ser enganadas pelos homens, que se aproveitam de nossas fragilidades para exercitar sua criatividade com desculpas cada dia mais interessantes.
Dias atrás estava no salão de cabeleireiro e pude comprovar o que acabo de relatar para vocês. Lia uma revista de fofocas quando vi uma entrevista de uma atriz linda, independente e bem sucedida que afirmava já ter sido traída. Logo imaginei: como um homem poderia trair uma mulher como ela! Famosa, linda, bem sucedida. E logo em seguida sorri me lembrando da fila de mulheres que fazem parte do meu cotidiano e agregam todas as características que esta atriz e também foram enganadas.
Neste mesmo dia pude comprovar o segundo motivo pelo qual as mulheres sempre acabam descobrindo as cafajestagens alheias. No salão de cabeleireiro não há regras para o assunto que deve ou não ser dito, são inúmeras as histórias que ouvimos de traições, de conflitos familiares e de fofocas da vida alheia. Basta uma mulher sair linda de lá para aquela que permanece contar para a amiga uma fofoca dela, ou do marido dela, como querendo dizer: ela é linda, mas é uma tola.
Infelizmente esta é uma realidade que nos atropela nas relações femininas de amizade e confiança. Uma mulher que sente inveja de outra será capaz de tudo para vê-la infeliz, inclusive contribuir para que ela saiba de algo que poderá magoá-la e deixá-la feia e deprimida. Mais uma vez reforço que não estou generalizando, porque há outra parte das mulheres que por serem de extrema confiança também colaboram para o desvendamento destas situações com o intuito de nos abrir os olhos e não nos deixar virar fofoca de salão de beleza no dia seguinte.
Então meus queridos amigos do sexo masculino, abram os olhos, vocês podem acreditar que estão enganando hoje e ter uma bela surpresa amanhã. Andei pesquisando na internet sites sobre mulheres traídas ou enganadas, encontrei muita, mas muita coisa. Em todos os países, mulheres de todas as classes sociais e idades abrem o coração e a boca para declarar: “este homem não presta!”. Em um dos sites me admirei quando encontrei um rosto conhecido, onde muitas mulheres escreviam comentários e falavam dos seus defeitos e das histórias que ele usava para enganar as mulheres, todas muito parecidas por sinal.
Aproveito também para não generalizar o sexo masculino, pois apesar de ainda não ter muita certeza disso, devem existir homens fiéis e confiáveis por ai, não é mesmo?!
Existindo ou não, gostaria de reforçar só mais uma coisa, relacionamento prevê confiança e, sobretudo respeito. Conquistar a confiança de alguém com juras de amor e promessas de uma vida perfeita e logo em seguida ocultar mentiras, ou fazer a mulher sentir-se culpada por sua desconfiança indicam a falta de respeito, que me parece tão essencial.
Para não partir nenhum coração, a regra é simples: faça aos outros apenas o que gostaria que lhe fosse feito. Assim a gente nunca erra.
O fato é que sejamos homens ou mulheres, traídas ou traidores ninguém gosta de sentir o coração partir e é tão bom ter alguém para amar. Vamos tentar exercer a sinceridade, porque a mentira tem perna curta e causa um bocado de dor, mas a “Dona verdade”, pelo que eu saiba, nunca fez mal a ninguém.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Férias?!

Férias! As tão sonhadas e esperadas férias enfim chegaram. Confesso que os dias tem se arrastado com cuidado, na espera de alguma surpresa agradável ou de algo que me faça entender porque escolhi tirar férias em agosto. Mês morto, sem feriados, sem férias da pós-graduação, sem nada. Nem mesmo a semana euclidiana que encheria de nostalgia minhas férias, me fazendo relembrar os seguidos anos de maratonista, estará presente.
Minha primeira semana de férias foi consumida pela burocracia. Idas e vindas em imobiliárias, cartórios, sem falar nos documentos para inscrição em um processo seletivo para iniciar outra pós. Meu namorado disse que mesmo de férias eu não sossego, e ele tem razão. Podia ter ficado a semana toda passeando, indo ao cinema, fazendo compras ou viajando, mas não, corri todos os dias atrás de papéis, carimbos e expectativas.
Mas creio que tudo teve um bom motivo. Minha volta das férias será marcada por um período intenso de mudanças e isso, apesar de me deixar de mau humor às vezes, me dá novo fôlego. Mudar de casa, começar um novo curso, ter uma nova vizinhança, um novo caminho para ir e voltar do trabalho, nova padaria e motorista de ônibus, enfim, tudo isso trará muitas novas histórias para incrementar estas páginas, e principalmente minha vida.
Quando escolhi sair desta cidade para fazer faculdade fora, me lembro bem do susto que causei para meus pais e familiares. Não era possível a filha caçula querer ir pra longe, morar sozinha, numa cidade grande, estranha. A primeira filha a sair de casa, a primeira neta, a primeira sobrinha. Foram muitas as palavras desanimadoras, que me causaram insegurança e medo, mas as palavras de incentivo e os olhos orgulhosos de meus pais foram suficientes para não me deixar desistir.
Hoje vejo que criei gosto pela mudança. Foram muitas lágrimas até chegar aqui, muitas noites insones, muitas amizades construídas, muitos vínculos criados, novas opções, novas escolhas e algumas renúncias, mas todas com um gosto muito bom de ter seguido o caminho certo. Constantemente tenho “deja vú” e brinco que são sinais de que estou no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas.
Minha mãe me chama de nômade sempre que ameaço um novo concurso, uma nova morada e não discordo dela, exceto pelo fato do nômade não ter parada, não ter um porto seguro e vagar sempre sem destino. Espero conhecer e viver em muitos outros lugares, provar outros gostos, conhecer outras pessoas, mas sempre terei para onde voltar. Minha terra natal, meu lar, que me abriga, me acolhe e me faz descer a ladeira de casa olhando aquela vista repleta de verde, encher os pulmões e pensar: lar, doce lar!
Não poderei viajar para longe nestas férias, terei que me contentar com estas montanhas que abraçam a pequena cidade, e confesso que fica aquele vazio, é como ter o tempo todo do mundo e deixá-lo sumir entre os dedos como a areia fina de uma praia deserta. Tenho procurado dormir muito, continuo estudando, pois como disse, escolhi um mês horrível para tirar férias, e a pós-graduação não pode esperar, e tento escrever com a mesma intuição e inspiração de sempre, mas até isso tem ficado a desejar nestes dias.
Sei que estas férias ainda não estão com aquele gostinho de quero mais, mas felizmente, ainda estão apenas começando e tenho certeza de que ainda terei muitas histórias para contar, muitas coisas para lembrar, pois, aqui ou lá, por onde quer que eu vá, sempre terei pessoas boas ou nem tão boas assim, rodeando as entrelinhas e me deixando lembranças.
Até que as aventuras comecem continuo aqui, observando as mudanças sutis da cidade, uma loja nova aqui, outra lanchonete ali, acompanhando a notícia daquele amigo da quinta série que vai se casar ou daquela que não via desde a oitava série e hoje me apresentou seus filhos.
As novidades das pessoas que fazem parte da minha história me consomem, me alegram e me indicam sempre novos caminhos. E se você me conhece, ou já conheceu e tiver alguma novidade para contar vou adorar ouvi-la, quem sabe ganho nova inspiração para estas linhas e principalmente para ingressar de alma lavada e com novos objetivos na próxima fase da minha vida que deverá se iniciar nos próximos dias... Aguardo notícias!

domingo, 9 de agosto de 2009

É gripe?!


O assunto do momento tem relação com os espirros, tosses e narizes de porco que encontramos pelas esquinas. A gripe suína, que elegantemente ganha novo nome depois de sua aparição, e atualmente é comentada em voz baixa, aos sussurros como: “a nova gripe”, com um receio quase inconsciente de sua propagação, como se o fato de verbalizá-la fosse suficiente para seu surgimento em um grande espirro surpresa!

O fato é que com maior ou menor intensidade o temor da “nova gripe” tem se espalhado por todo o mundo, em grandes cidades ou vilarejos, muita gente anda se perguntando se já é hora de usar uma máscara no ônibus (se é que essas máscaras evitam mesmo alguma coisa), ou cobrir o rosto com o cachecol a cada espirro ou tossida ao lado.

Aqui na grande cidade com ritmo de interior, muitos casos suspeitos, vários confirmados e muitas pessoas assustadas. Já me deparei com algumas pessoas de máscaras nas ruas, no ônibus, sem falar nos olhares assustados ao menor sinal de alguém ameaçar tosse ou espirro nas proximidades.

Apesar das evidências e das notícias constantes no jornal local, não tinha sentido a nova gripe tão próxima quanto na última semana. Enquanto tentava organizar meus relatórios, deixar lembretes sobre as atividades pendentes para a equipe e contar os dias para entrar de férias, recebi um telefonema da chefia que determinava o cancelamento de todas as atividades grupais e qualquer tipo de aglomeração, pelo período de uma semana no mínimo.

Havia acabado de ler no jornal a notícia do adiamento do início das aulas em escolas municipais, estaduais e universidades federais por duas semanas. O cancelamento do desfile cívico de comemoração ao aniversário da cidade. Adiamento de atividades culturais. E agora a nova gripe estava ali, mais próxima do que eu imaginava, atrapalhando meu trabalho, minha rotina e atrasando a vida de muita gente. Reagi com espanto à notícia, logo eu que morro de medo de qualquer tipo de doença e já havia reforçado a dose de vitamina C para evitar qualquer sintoma suspeito, seja da nova ou velha gripe.

Com ou sem espanto o fato é que a “nova gripe” estava nos rodeando, mesmo que inconscientemente, e o que nos restava era tentar tirar alguma lição disso e prejudicar o mínimo possível quem dependia dos atendimentos. Reorganizamos as atividades, priorizando agora as ações individuais, evitando as tais aglomerações e no final do dia uma enorme nuvem escura pairou sobre o bairro, um vento frio e o medo de adoecer me acompanharam até o ponto de ônibus.

Entrei no ônibus, encontrei um lugar próximo à janela e a abri, me certifiquei que havia ventilação suficiente e ali me sentei, observando os raios que indicavam o início da tempestade logo mais. Sinal de chuva é sinônimo de ônibus lotado, e neste dia não seria diferente. Gente e mais gente entrando por todo lado, pelo menos as janelas ainda estavam abertas, pensei.

Mais alguns quilômetros e a chuva desabou, fez-se um alvoroço! Pessoas fechando as janelas e eu ali, naquela ânsia de evitar que isso acontecesse, não sabendo se era melhor tomar chuva ou ficar sem ar, respirando no mesmo espaço que aquele monte de gente que tossia, espirrava e se enrolava em cachecóis e agasalhos, tentando se desvencilhar de uma possível gripe.

Sem a minha aprovação todos os vidros foram fechados, uma chuva torrencial lá fora e aquele monte de gente amontoado. Comecei a relembrar a notícia do jornal, a determinação da chefia, o fim das aglomerações e fiquei aflita. Quer aglomeração maior do que esta? E sem ventilação nenhuma!

Comecei a pensar se as alternativas de contenção da gripe estavam sendo eficazes e tive quase certeza que não. Só não afirmo a certeza, pois apesar do sufoco, felizmente não gripei, mas não posso afirmar o mesmo das outras dezenas de pessoas que ali estavam.

Será que o ideal não seria ao invés de evitar que as pessoas que possam contaminar-se saiam de casa, conter aquelas que já estão contaminadas em casa? Que tal proibir quem estivesse com a nova ou a velha gripe de ir ao trabalho, a escola ou ao supermercado? Seria uma solução aceitável a meu ver. Contudo, para o empregador liberar o funcionário por causa de alguns espirros e uma febrezinha não pode parecer uma boa idéia, da mesma forma que a “madame” não poderia ficar sem a empregada para fazer suas vontades mesmo gripada.

O fato minha gente, é que não adianta alguns, como eu, terem medo da gripe e fugir do contágio se outros não entendem o quanto o meu bem estar depende do seu e vice-versa. Pandemias só surgem porque alguém, em algum momento achou que era só uma coisa à toa, e ai falou para o vizinho que não era nada, que espirrou para a irmã, que afirmava logo estar melhor e foi viajar pelo mundo e deu nisso.

Não estou querendo instalar o caos ou dizer que essa nova gripe é o terror da humanidade, só queria deixar um recado para que pensássemos um pouco nisso tudo. Afinal, quando se há a necessidade de alterar o rumo da cotidianidade é porque algo realmente não está indo bem.

E o que está fora de prumo neste caso, não é a tal gripe, mas nós, que damos de ombro e vestimos a capa de super-heróis achando que nada nunca nos atingirá, tomamos chuva, gelado, beijamos e abraçamos quem está gripado, esquecemos de lavar as mãos antes das refeições e ainda fazemos piadas com a “nova gripe”, nos esquecendo que a história dos três porquinhos neste caso, talvez não tenha um final feliz...

domingo, 2 de agosto de 2009

Pare o mundo! Eu quero descer!

No final desta semana escutei uma conversa entre duas amigas num consultório médico onde uma delas dizia que um grande amor do passado havia lhe procurado. Depois de treze ou catorze anos ele reapareceu e fez a ela uma proposta no mínimo estranha. Convém registrar que logo no início do relato ela informou que o namorico que aconteceu entre eles, quando estavam na quinta série, nunca gerou nenhum tipo de relacionamento, apenas olhares, cartinhas de amor, declarações e só, bem, na verdade gerou uma série de emoções guardadas e alguns ressentimentos.
Aquele beijo que eles nunca deram pelo visto ficou guardado no coração dele por todos esses anos, e neste dia ele criou coragem e a procurou. Disse a ela que a amava, e enfatizou isso diversas vezes e que havia enriquecido, da noite para o dia, num investimento que deu muito certo, mas que não se sentia feliz. Disse que tinha o carro do ano, sua casa, muito dinheiro, que já tinha jantado nos melhores restaurantes, tinha as melhores roupas, mas faltava-lhe alegria, e isso só ela poderia lhe dar.
Foi então que ele lhe fez a proposta, queria que ela viesse morar na mesma cidade que ele, para tanto ele ofereceu pagar-lhe mensalmente o valor de seu salário e dar-lhe todo o conforto que ela quisesse, isso tudo, porque ele jurava que a amava e que não poderia viver mais nem um dia sem este amor reprimido por tanto tempo.
Sabendo que o rapaz era casado, a moça lhe questionou se era isso mesmo que ele queria: tê-la como uma amante, e ele, com toda naturalidade do mundo, perguntou-lhe porque não poderia ficar com as duas. Tolo pensamento machista que ainda acredita ser capaz de convencer uma mulher da existência deste sentimento nobre com dinheiro e promessas de amor.
A mulher disse ter negado a proposta, além de ter se sentido extremamente ofendida com tal sugestão. Eu, ao ouvir tamanho absurdo, que parecia mais uma trama de roteiro de novela, senti-me indignada e inquieta.
Comecei a imaginar as formas que os homens (leia-se aqui humanidade) encontram para expressar e resolver suas inquietações, problemas e até os mais nobres sentimentos. Será que esse rapaz não pensou na hipótese, simples e digna, de declarar esse dito amor quando estivesse livre? Ou ainda, será que ele em algum momento pensou nesta condição?
Quantos colares e anéis de ouro, quantos apartamento ou carros do ano seriam suficientes para conquistar um amor? Existirá no mundo quantia suficiente para comprar amor, felicidade?
Acho que esta resposta ele mesmo encontrou quando a procurou, dizia-se repleto de bens, mas faltava-lhe o essencial, o amor.
Será que se lhe fosse sugerido trocar todas as riquezas pela vivência deste amor ele o faria? Será que algum de nós seria capaz de deixar tudo o que possui para viver um grande amor?
Confesso que abdicar do que se tem é realmente difícil, mas creio que ainda pior seria ter que abster-se das coisas mais simples e deliciosas desta vida e que felizmente não são compráveis. Ninguém jamais conseguiu colocar preço no sorriso de uma criança, no cheiro de eucalipto ou no caminhar de mãos dadas com quem se ama.
Esta história me deixou assustada. Creio que minha teoria sobre a loucura da humanidade faz-se cada dia mais concreta. Muito me alegrará saber que alguns de vocês concordarão comigo, pois sei que em sua maioria todos devem ter achado essa mulher uma tola por não ter aceitado esta proposta. E isso me faz reafirmar um outro fator, como poderia esse casal viver bem com princípios tão distintos, como ele depois de treze ou catorze anos, poderia achar que ainda a conhecia a ponto de fazer-lhe uma proposta deste tipo?
Realmente as pessoas mudam, mas algumas permanecem iguais ou ganham valores e princípio melhores, acho que foi isso que faltou a esse homem: Princípio. Nenhum amor pode ser colocado na mesma balança que dinheiro, diria que são incompatíveis.
Diante destes relatos tão distantes e tão próximos da nossa realidade é que me perguntou diariamente: “Em que mundo estamos?”. E ao mínimo sinal de encontrar esta resposta tenho vontade de correr e bradar: “Pare o mundo! Eu quero descer!”.