“E guardemos a certeza pelas próprias
dificuldades já superadas, que não há mal que dure para sempre” (Chico Xavier)
Eu não sei quanto a você, mas
tenho uma dificuldade incrível de disfarçar meus sentimentos. Sempre fui do
tipo que se entrega com o olhar, sem tempo para desculpas ou disfarces.
Sem contar que além dos olhos
tenho duas companheiras que não fazem questão nenhuma de disfarçar quando o
assunto é demonstrar o que estou sentindo. Minhas bochechas. Sempre foram
grandes vilãs, me entregam em qualquer situação, quando estou com raiva, quando
acabei de chorar, quando conto uma mentira ou quando me sinto envergonhada.
Não importa o lugar, tão logo
algo do tipo aconteça já sinto o sangue subir bem rápido e se concentrar bem
ali, nas bochechas, que já são enormes e conseguem ficar ainda mais evidentes
com a nova cor rosada.
Meus olhos também falam por si.
Dificilmente quem me conhece realmente se convence com o meu: tudo bem, quando meus olhos estão apagados.
É esse o termo que minha mãe utiliza para começar uma conversa ao perceber que
algo não vai bem. Diz ela que eles perdem o brilho e ficam por assim dizer, sem
vida, vazios.
A verdade é que os sentimentos
não aceitam embalagem, nem disfarces. São maiores que nós, que nosso corpo e
precisam ganhar espaço saindo por ai de alguma maneira. Às vezes em forma de
lágrimas, outras por cores, por vezes utilizam os olhos como meio de transporte,
ou a boca para anunciar que algo está fora do previsto.
Acredito que essa seja uma
estratégia da humanidade. Exalar o sentimento nos possibilita a aproximação com
outras pessoas, seja para compartilhar nossa felicidade ou para dividir uma
dor.
Expressar bons sentimentos faz
bem para a alma, nos traz auto-estima e permite vibrações tão poderosas, que
são capazes de contagiar outras pessoas. O amor, a alegria que vaza pelo nosso
corpo não faz bem só para nós, permite também que aqueles que nos amam e nos
querem bem, sintam-se felizes. Quem
passa por momentos de extrema alegria não consegue tirar o sorriso do rosto e
ganha aquele brilho diferente nos olhos que faz com que todos digam: Hum...Esse viu passarinho verde!
Já os sentimentos ruins, quando se
tornam transparentes, servem como um grito de socorro. Ninguém escolhe sentir-se
mal e, controlar a tristeza é bem mais difícil do que conter a euforia de uma
boa notícia. Chorar quando se está triste, reclamar, lamuriar-se não vai trazer
resultado para o problema, mas entendo que essa possa ser a única forma para
quem está sofrendo, de livrar-se da dor.
Acontece que grande parte das
pessoas tem uma dificuldade imensa de encarar o negativo, o pessimista. Se
estão em uma fase boa preferem afastar-se para não se contaminar com a dor do
outro. Se estão em uma fase ruim preferem isolar-se, pois a dor do outro não
lhe interessa. E assim, infelizmente, alguns laços que pareciam fortes vão se
rompendo.
Como já escrevi aqui em outra
oportunidade, colocar-se no lugar do outro é impossível e isso não tem que ser
questionado, mas respeitar a dor do outro é possível e diminuí-la também, e se
quer saber, não custa nada, é de graça.
Um abraço apertado, a escuta
atenciosa, uma mensagem de carinho, um pensamento positivo, uma oração, são
coisas que fazem um bem danado para quem não está em uma fase muito fácil. Mas
até isso para algumas pessoas parece complicado demais.
De verdade, acredito que esse
tipo de gente seja o único que consegue usar disfarces para a alma. São pessoas
que sofrem sozinhas, não se incomodam com o sofrimento do outro. Que raramente
são felizes e quando são, não compartilham sua felicidade por medo da inveja
alheia.
Quando se disfarça uma
imperfeição física é possível enganar outra pessoa, o disfarce de uma dor da
alma só traz engano para quem o vestiu. Se todas as pessoas assumissem seus
sentimentos e permitissem olhar ao redor de vez em quando teríamos um mundo
muito mais leal. E daí que as imperfeições não são atrativas? Que atire a
primeira pedra quem não as têm, quem nunca passou por um dia difícil, ou gritou
de alegria e foi taxado de maluco.
Particularmente não recomendo
disfarces para a alma, são caríssimos e podem custar nosso maior bem: a
felicidade de uma vida. Não sinta vergonha de chorar, não tenha medo de pedir
ajuda, não finja estar feliz. As pessoas que realmente importam vão preferir
seus olhos inchados de tanto chorar do que vê-los carregados de maquiagem.
E tratando-se de maquiagem, é bom lembrar que até
mesmo as definitivas sempre terão que ser retocadas, é trabalho demais para
pouco tempo de vida, vamos ser nós mesmos e viver. Simples assim: vi-ver!
Foto de: Taline Libânio.
3 comentários:
Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 20/04/13.
Aguardo comentários!
Ótimo texto! Assim como outros seus!
A imagem do texto também foi bem pensada!
Postar um comentário