“Chega de saudade
A realidade é que sem
ela não há paz
Não há beleza
É só tristeza e a
melancolia
Que não sai de mim, não
sai de mim, não sai”
(Chega de saudade – Tom
Jobim)
Unha encravada, cólica de rim,
dor de estômago, enxaqueca, fratura, queimadura, sapato apertado, parto normal,
picada de animal peçonhento, ralado em pedregulho, dor de dente e por ai vai...
São tantas as dores dessa vida que por vezes imploramos para que elas nunca
mais se repitam, mas como a vida é um ir e vir em estrada tortuosa e cheia de
obstáculos, por vezes nos deparamos com alguns que nos derrubam literalmente.
Mas pior que qualquer dor física creio
que ter na alma uma cicatriz seja o pior dos desafios a se superar. As dores da
alma não são contidas com analgésico e antitérmicos, nem mesmo com massagens e
dieta especializada.
Quando uma alma se fere, provoca
dores que invadem o corpo físico e chegam a nos provocar sensações que antes
nunca tinham sido vividas. Um coração partido chega a doer tanto quanto se
tivesse sido apunhalado, da mesma forma que uma ofensa pode nos doer como um
tapa na cara. Sem contar aquela que eu classifico como a pior dor da alma, a
que nos deixa sem ar e advém de uma notícia ruim.
Notícia ruim quebra a gente,
parte o coração, deixa um vazio, nos faz reviver medos adormecidos e faz com
que o chão saia do lugar. O inesperado nos faz perder o fôlego e por vezes nos obriga
a estatizar, ficar paradinhos, sem nenhum movimento, para que a alma se
recomponha e faça o corpo voltar a funcionar.
Essa semana tive uma sensação
desse tipo. Notícia ruim, daquelas bem difíceis de engolir. Notícias que não
deveriam nunca ser dadas, que nem deveriam existir. Notícia que mexe com a alma
e o coração da gente.
Quando essa notícia faz
referência a alguém querido, parece que a dor se triplica, e nem mesmo a melhor
palavra de consolo é capaz de amenizá-la. Nesses momentos é até estranho quando
alguém diz: Sinto muito. Pois na
verdade, nenhuma palavra faz o menor sentido. A dor é tão grande que não é
possível olhar para mais nada.
Nessas horas a impressão que se
tem é que não existe saída. A vontade que se tem é de tomar o lugar do outro e
guardá-lo junto com todas as outras pessoas que ama, em uma bolha de vidro,
para que nunca, nunquinha precisem sofrer e possam viver eternamente.
Sempre fui uma defensora da vida,
adoro viver e desejo viver pelo menos uns 100 anos, e acho que os anos a que
cada um tem direito deveriam ser melhor distribuídos. Conheço um monte de gente
que vive reclamando de tudo, que não dá valor a nada do que tem e que implica
até com o fato de ter nascido, mas que vive longamente, são por ai chamados de
vasos ruins (os que nunca quebram). E outras pessoas que amam viver, que
valorizam cada respiro, que passam maus bocados e nunca desistem, que tem a
maior fé e confiança do mundo e estão ali, sempre sendo testadas e partindo
mais cedo que muitos rabugentos por ai...
A verdade é que acho que algumas
pessoas deveriam ser eternas. Mãe em primeiro lugar. Pai e avós também. Quem
nos dá a vida deveria ter a escolha de acompanhar cada etapa da nossa jornada,
deveriam ser merecedores de viver até cansar, sem testes, sem dor, seja ela
física ou da alma. Daria minha vida para que isso pudesse virar realidade.
Daria todos os meus suspiros para que eles pudessem ser eternos.
Pode parecer egoísmo, mas ainda
não me sinto preparada para viver sozinha neste mundão de provas e expiações. O
que me ergue, me segura e ampara, o que cura minha alma e acalma meu coração é
o abraço de mãe, o sorriso de pai, o colo dos avós...É disso que preciso para
viver até os 100 anos, então espero que logo se crie uma forma de fazê-los
viver até os 200 anos pelo menos.
Ou quem sabe, para acabar de vez
com tanta incerteza e sofrimento, seja possível produzir latas com beijos de
mãe, caixas de abraços de avó, sacos de risada de pai, bolsas de conselhos de
mãe... E o mais importante, algum remédio bem poderoso e baratinho para acabar
com a saudade, a pior dor da alma já diagnosticada e ainda sem remédio, nem
solução...
Foto de: Taline Libânio.
Foto de: Taline Libânio.
3 comentários:
Texto publicado na Capa do Caderno Dois, do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 13/04/13.
Aguardo comentários! :)
Mais um texto em que se sente todo o sentimento contido nele! Muito bom! Adorei principalmente o ultimo paragrafo!
Até mais!
Girl, que texto!
Essas dores da alma realmente são difíceis de lidar.
Há tempos tinha passado por uma situação bastante delicada, e me recordo bem nitidamente da dor q senti..lembro que chorava muito e repetia pra mim mesma.."que dor", enfim, passou assim como tudo na vida passa, mas a dor é memorável e, de fato, guardamos cicatrizes dessas dores de amores, perdas. Não sei se tem remédio certo..mas acho que para a dor, assim como para tudo na vida, a gente tem que acreditar que vai ficar tudo bem, uma hora ou outra, mesmo que enquanto essa hora não chegue continue doendo. Esse "acreditar" é uma questão de fé e tem que estar em cada segundo sentido, porque algumas situações da vida são tão difíceis e parecem tão grandes perto da gente, e nos sentimos tão pequenos e incapazes de lidar com tantas coisas, e aí, só nos resta ter fé de que tudo vai ficar bem, e essa fé parece uma pequena luz no meio de uma escuridão imensa, mas é luz e isso nos mostra que não estamos perdidos, é pra lá que temos que olhar, pra luz.=]
Seus textos são maravilhosos, este mesmo é tão profundo que dá pra senti-lo do começo ao fim.
abçs my dear
Tamara
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