“Ai que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão (...)”.
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão (...)”.
(Catulo da Paixão Cearense/João Pernambuco)
Existe um lugar nesse planeta
onde consigo me sentir em paz o tempo todo, basta colocar os olhos na entrada
daquele recanto para meu coração bater mais devagar, meus olhos ampliarem seu
poder de avistar o horizonte e minha mente esvaziar-se por completo.
Não me canso de olhar para a
grama verde que cobre o campo de futebol e pisar em cada pedacinho dela
lentamente, deixando os ramos de mato mais alto fazerem cócegas nos meus dedos.
Adoro sentar na beira do rio
enquanto observo meu pai pescar e ficar olhando para a mata ao redor, por vezes
admiro a correnteza que vai e vem, renovando seu ciclo a cada instante,
trazendo lembranças e levando tristezas.
Marchar entre as árvores que parecem
compor uma verdadeira fila de soldados a nos receber é como adentrar o país das
maravilhas. Escuto as cigarras cantarem enquanto trocam de casca e procuro
ninhos novos de pássaros que ali rodeiam, tentando buscar renovação, na
natureza e dentro de mim.
Andar pela beira do rio e escutar
um casal de tucanos brincando, enquanto observo seu bico laranja surgir no meio
das árvores verdinhas, em um show de cor e alegria, me traz uma sensação tão
boa... É tanto conforto que por vezes não cabe em mim.
Andejar pela ponte de madeira que
liga as duas partes daquele lugar e relembrar o medo da infância e o perigo que
se corria ao atravessá-la correndo ou ao escalá-la com cuidado para jogar mais
um barco de palha na correnteza, me traz de volta a coragem que hoje me falta.
Olhar para o sol se pondo e
sentir o cheiro da relva, molhada pelo orvalho gelado e límpido, é como tomar
banho de dentro para fora. Aquele cheiro de capim molhado, aquele friozinho até
mesmo em dias de altas temperaturas, tudo para exaltar cada sensação.
Admirar o céu escuro, dominado
por estrelas, milhares delas, tantas quantas se desejar, o céu mais estrelado
que eu já vi, é como conversar com Deus sem nem precisar orar. Em dias de lua
cheia então... Que espetáculo, que vontade de fincar os pés na relva e me
deixar hipnotizar pelo clarão da lua, me enquadrando naquela paisagem que tanto
me fascina.
Caminhar pelo campo na noite
escura, longe da iluminação é correr o risco de maravilhar-me com os vaga-lumes
que não cansam de acenar boa noite. Um, dois, dez, muitos...Fazendo da
escuridão quase um enfeite de natal, com seu pisca-pisca constante.
Lugar de encontros, lugar de
despedidas. Lugar de festas de aniversário, casamento e futebol. Lugar de
família reunida e de gargalhadas perto da cozinha. Lugar de música, de viola e
de piadas. Lugar de ser feliz e de encontrar-se com a felicidade até mesmo nos
dias mais nebulosos.
Tantas lembranças...Tantas
histórias. Tanto cheiro, sabor, abraço e som que fazem meu coração vibrar.
Daria tudo para estar nesse lugar
hoje, para me refugiar da minha angustia, da minha frustação e da incerteza do
amanhã. Daria tudo para me sentir segura, acolhida, rodeada por sentimentos
reais e pelas pessoas que realmente importam. Daria tudo por mais uma tarde de
sol e uma longa noite estrelada naquele rancho, que me viu crescer e hoje
cresce dentro de mim tão intenso quanto a saudade do que vivi e do que ainda
está por vir...
3 comentários:
Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 04/08/2012.
Aguardo comentários! ^^
Maravilha de texto Tá, lindo!parabéns, adorei!
Bjao
Tamara
As vezes esperamos voltar, por vezes só estar, mas nosso canto nosso lugar nos faz aquetar.
Postar um comentário