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domingo, 5 de agosto de 2012

O Rancho


“Ai que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão (...)”.
(Catulo da Paixão Cearense/João Pernambuco)

Existe um lugar nesse planeta onde consigo me sentir em paz o tempo todo, basta colocar os olhos na entrada daquele recanto para meu coração bater mais devagar, meus olhos ampliarem seu poder de avistar o horizonte e minha mente esvaziar-se por completo.
Não me canso de olhar para a grama verde que cobre o campo de futebol e pisar em cada pedacinho dela lentamente, deixando os ramos de mato mais alto fazerem cócegas nos meus dedos.
Adoro sentar na beira do rio enquanto observo meu pai pescar e ficar olhando para a mata ao redor, por vezes admiro a correnteza que vai e vem, renovando seu ciclo a cada instante, trazendo lembranças e levando tristezas.
Marchar entre as árvores que parecem compor uma verdadeira fila de soldados a nos receber é como adentrar o país das maravilhas. Escuto as cigarras cantarem enquanto trocam de casca e procuro ninhos novos de pássaros que ali rodeiam, tentando buscar renovação, na natureza e dentro de mim.
Andar pela beira do rio e escutar um casal de tucanos brincando, enquanto observo seu bico laranja surgir no meio das árvores verdinhas, em um show de cor e alegria, me traz uma sensação tão boa... É tanto conforto que por vezes não cabe em mim.
Andejar pela ponte de madeira que liga as duas partes daquele lugar e relembrar o medo da infância e o perigo que se corria ao atravessá-la correndo ou ao escalá-la com cuidado para jogar mais um barco de palha na correnteza, me traz de volta a coragem que hoje me falta.
Olhar para o sol se pondo e sentir o cheiro da relva, molhada pelo orvalho gelado e límpido, é como tomar banho de dentro para fora. Aquele cheiro de capim molhado, aquele friozinho até mesmo em dias de altas temperaturas, tudo para exaltar cada sensação.
Admirar o céu escuro, dominado por estrelas, milhares delas, tantas quantas se desejar, o céu mais estrelado que eu já vi, é como conversar com Deus sem nem precisar orar. Em dias de lua cheia então... Que espetáculo, que vontade de fincar os pés na relva e me deixar hipnotizar pelo clarão da lua, me enquadrando naquela paisagem que tanto me fascina.
Caminhar pelo campo na noite escura, longe da iluminação é correr o risco de maravilhar-me com os vaga-lumes que não cansam de acenar boa noite. Um, dois, dez, muitos...Fazendo da escuridão quase um enfeite de natal, com seu pisca-pisca constante.
Lugar de encontros, lugar de despedidas. Lugar de festas de aniversário, casamento e futebol. Lugar de família reunida e de gargalhadas perto da cozinha. Lugar de música, de viola e de piadas. Lugar de ser feliz e de encontrar-se com a felicidade até mesmo nos dias mais nebulosos.
Tantas lembranças...Tantas histórias. Tanto cheiro, sabor, abraço e som que fazem meu coração vibrar.
Daria tudo para estar nesse lugar hoje, para me refugiar da minha angustia, da minha frustação e da incerteza do amanhã. Daria tudo para me sentir segura, acolhida, rodeada por sentimentos reais e pelas pessoas que realmente importam. Daria tudo por mais uma tarde de sol e uma longa noite estrelada naquele rancho, que me viu crescer e hoje cresce dentro de mim tão intenso quanto a saudade do que vivi e do que ainda está por vir...

3 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 04/08/2012.

Aguardo comentários! ^^

Anônimo disse...

Maravilha de texto Tá, lindo!parabéns, adorei!


Bjao
Tamara

Alexandre Escoqui disse...

As vezes esperamos voltar, por vezes só estar, mas nosso canto nosso lugar nos faz aquetar.