“Cada porta, uma escolha. Muitas
vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de
promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces,
aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se”. (Lya Luft)
O coração grita. A angústia que
justifica a necessidade de se tomar uma decisão a consome. Sempre foi rodeada
por elas: escolhas. Sempre foi incomodada por elas: renúncias. Cada escolha uma
renúncia, nunca se cansou de dizer, primeiro a ela mesma, depois a todos os
outros que quisessem ouvir.
O destino lhe pregou nova peça.
Um drama, regado com um pouco de paixão, muito romantismo e a seriedade de
poemas que já não falam mais só de amor. Foram dias e mais dias pedindo a Deus
um amor, um sentimento nobre que lhe tocasse a alma e lhe fizesse sentir viva
novamente.
Os olhos claros e o sorriso
aberto lhe confiaram uma promessa, a realização de um sonho quem sabe. A
segurança, a estabilidade, a necessidade de ter alguém por perto, alguém que já
tenha feito suas escolhas e já não tenha mais medo das renúncias. Aquela
segurança lhe trouxe de volta para o chão.
Deixou envolver-se no romance
musicado, nas palavras que indicavam um futuro feliz, seguro, mas que já teve
promessas quebradas, expectativas desmanchadas e hoje ela se questiona: será mesmo real ou fruto da ilusão?
E quando a insegurança se
aproximava surgiu a promessa de amor sem fim, nos olhos escuros, no sorriso
tímido. As falas das comédias românticas, os planos, os desejos tão afins com
os dela. Tão repletos de sinceridade, de certeza... Ah! O medo!
De um lado o amor hollywoodiano, aquele amor que sempre a
incomodou. Aquele amor que nunca a convenceu, pois estava longe demais das suas
mãos, era bobagem, coisa de filme, duas pessoas com os mesmos ideais e tantas
afinidades só mesmo na vida ensaiada.
Do outro lado a serenidade, a
esperança de companheirismo, de relacionamento duradouro, a necessidade de
fincar raízes e enfim sossegar.
O avesso do avesso. A água e o
vinho. A cruz e a espada. O coração grita. Briga desenfreada de sensações, de
vontades, de lembranças.
Nessa história infelizmente não
há vencedores. Dificilmente a decisão correta será tomada, pois para cada
personagem o correto indica um caminho diferente. Bom seria poder juntar
caminhos e acabar de vez com essa angústia que a consome.
Aguarda os sinais. Trovões,
ventos, tempestade, o sol que brilha lá fora. Aguarda a ordem do mandante que
sempre lhe coloca em confusão, sábio e tolo coração. Aguarda que o destino lhe
mostre em suas linhas tortuosas qual caminho escolher.
Pode ser que o não de hoje se
torne o sim de amanhã e que o sim amanhã já tenha se transformado em não, isso
tudo porque a vida não para. Cada escolha, uma renúncia.
Acho que nunca a vi assim, com a
alma daquela cor. Um misto de alegria e desespero. De medo e satisfação. Os
olhos já não brilham com tanta intensidade quando pensa na decisão. O coração
lhe aperta o peito e lhe pede aos gritos para tirar de uma vez por todas um
titã desse espaço.
Mas coitadinha, mal tem forças
para olhá-los. Alimenta a certeza de um na insegurança do outro. Acompanha a
dificuldade do outro na decisão do um. E assim os dias passam e ela vai
guardando esse segredo no fundo do peito. Um segredo que já virou duelo de
titãs, sem plateia, sem efeitos especiais, a espera da única coisa que lhe
falta para colocar de uma vez por todas um titã para fora desse enredo: Certeza...
Ou seria coragem?
Um comentário:
Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 25/08/2012.
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