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domingo, 10 de junho de 2012

Fogos? Eu prefiro o artifício!


Ouço fogos de artifício e hoje nem é quarta-feira. Não é dia de nenhum santo ou aniversário da cidade. Estamos longe da virada do ano e provavelmente não se trata de um casamento ou funeral, tão pouco é final da copa do mundo ou início da terceira guerra mundial. Pelo que saiba, não existe nada para se comemorar com fogos, talvez nada assim. Talvez não para mim.
Na verdade devem existir inúmeros motivos para se comemorar... Tantos que provavelmente todos os fogos do planeta não seriam suficientes. Neste exato momento alguém acabou de nascer, outro alguém completou 15 ou 21 ou 18 ou 30 ou 100 anos, mais alguém decidiu se casar e outros dois se separar. Um novo livro acaba de ser lançado, um filme tem sua pré-estreia, alguém recebeu o diagnóstico de cura, e outro alguém chegou de viagem depois de longos anos.
Motivos para comemorar não faltam, nós é que raramente fazemos questão de reconhecê-los. Tudo parece ter perdido a importância. Só acontecimentos mirabolantes (e, diga-se de passagem, supérfluos) são considerados eventos dignos de comemoração e na verdade todo o resto, que deveria ser o mais importante, passa despercebido.
Acho que deveria soltar um fogo de artifício de cada cor para cada noite bem dormida e mais quatro deles para cada amanhecer. Um almoço em família e um abraço de mãe e pai mereciam logo uns dez fogos. A risada com as amigas e o final do expediente pelo menos uns três fogos diários. Sua violeta deu nova flor? Seu filho aprendeu a andar? Quitou sua casa? Encontrou um novo amor? Fez um bolo de cenoura com cobertura de chocolate? Dá-lhe fogos de artifício!
A vida seria bem mais fácil se fosse assim. Se não mais fácil pelo menos mais divertida, mais colorida, mais doce. Mal me lembro da última vez que assisti a queima de fogos de artificio, nem mesmo daqueles que queimei dentro de mim restam lembranças recentes. Péssimo sinal.
Ando procurando algo que não sei o que é. Sinto falta de coisas que ainda não vivi e me esqueço do que faz sentido pelo simples fato de ser real, de ser o agora, de ser vida.
Hoje levantei da cadeira e fiz questão de olhar pela janela. Os fogos eram coloridos, barulhentos e coloridos, como meus pensamentos.
Queria comemorar cada pensamento com um fogo de artifício, cada concretização com dois e cada surpresa com três. Mas não tenho tido muito ânimo para comemorar, apesar de saber que motivos não me faltam, vivo procurando algo e me parece que os fogos só vão estourar quando um dia eu encontrar.
Encontrar o quê? Bem, isso não sei dizer. Mas com certeza será algo digno de muitos fogos, já que tenho economizado todos eles para esse grande dia, certo?
Errado. A verdade é que está tudo errado. Tudo muito errado. Fogos nunca deveriam ser economizados e é por isso que gostei de ouvir fogos explodindo em uma quinta-feira perto das onze da noite em um mês que apesar de frio, ainda não deu partida nas comemorações juninas.
Eu quero fogos em forma de coração, outros do tamanho do mundo e mais alguns que caibam na palma da minha mão. Queria espalhar cor e barulho em todos os eventos do meu dia e quando os fogos acabassem me utilizaria do riso, das gargalhadas sem fim e riria tanto até perder o ar e então voltaria a respirar fundo e contaria bem baixinho: dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um...Fogos! Com muito artifício para você!

Foto de: Murilo Mendes.

Um comentário:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 09/06/12.
Foto de: Murilo Mendes.

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