Ouço fogos de artifício e hoje
nem é quarta-feira. Não é dia de nenhum santo ou aniversário da cidade. Estamos
longe da virada do ano e provavelmente não se trata de um casamento ou funeral,
tão pouco é final da copa do mundo ou início da terceira guerra mundial. Pelo
que saiba, não existe nada para se comemorar com fogos, talvez nada assim.
Talvez não para mim.
Na verdade devem existir inúmeros
motivos para se comemorar... Tantos que provavelmente todos os fogos do planeta
não seriam suficientes. Neste exato momento alguém acabou de nascer, outro
alguém completou 15 ou 21 ou 18 ou 30 ou 100 anos, mais alguém decidiu se casar
e outros dois se separar. Um novo livro acaba de ser lançado, um filme tem sua pré-estreia,
alguém recebeu o diagnóstico de cura, e outro alguém chegou de viagem depois de
longos anos.
Motivos para comemorar não faltam,
nós é que raramente fazemos questão de reconhecê-los. Tudo parece ter perdido a
importância. Só acontecimentos mirabolantes (e, diga-se de passagem,
supérfluos) são considerados eventos dignos de comemoração e na verdade todo o
resto, que deveria ser o mais importante, passa despercebido.
Acho que deveria soltar um fogo
de artifício de cada cor para cada noite bem dormida e mais quatro deles para
cada amanhecer. Um almoço em família e um abraço de mãe e pai mereciam logo uns
dez fogos. A risada com as amigas e o final do expediente pelo menos uns três
fogos diários. Sua violeta deu nova flor? Seu filho aprendeu a andar? Quitou
sua casa? Encontrou um novo amor? Fez um bolo de cenoura com cobertura de
chocolate? Dá-lhe fogos de artifício!
A vida seria bem mais fácil se
fosse assim. Se não mais fácil pelo menos mais divertida, mais colorida, mais
doce. Mal me lembro da última vez que assisti a queima de fogos de artificio,
nem mesmo daqueles que queimei dentro de mim restam lembranças recentes.
Péssimo sinal.
Ando procurando algo que não sei
o que é. Sinto falta de coisas que ainda não vivi e me esqueço do que faz
sentido pelo simples fato de ser real, de ser o agora, de ser vida.
Hoje levantei da cadeira e fiz
questão de olhar pela janela. Os fogos eram coloridos, barulhentos e coloridos,
como meus pensamentos.
Queria comemorar cada pensamento
com um fogo de artifício, cada concretização com dois e cada surpresa com três.
Mas não tenho tido muito ânimo para comemorar, apesar de saber que motivos não
me faltam, vivo procurando algo e me parece que os fogos só vão estourar quando
um dia eu encontrar.
Encontrar o quê? Bem, isso não
sei dizer. Mas com certeza será algo digno de muitos fogos, já que tenho
economizado todos eles para esse grande dia, certo?
Errado. A verdade é que está tudo
errado. Tudo muito errado. Fogos nunca deveriam ser economizados e é por isso
que gostei de ouvir fogos explodindo em uma quinta-feira perto das onze da
noite em um mês que apesar de frio, ainda não deu partida nas comemorações
juninas.
Eu quero fogos em forma de
coração, outros do tamanho do mundo e mais alguns que caibam na palma da minha
mão. Queria espalhar cor e barulho em todos os eventos do meu dia e quando os
fogos acabassem me utilizaria do riso, das gargalhadas sem fim e riria tanto
até perder o ar e então voltaria a respirar fundo e contaria bem baixinho: dez,
nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um...Fogos! Com muito
artifício para você!
Foto de: Murilo Mendes.
Um comentário:
Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 09/06/12.
Foto de: Murilo Mendes.
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