“Você tem seus jeitos
de tentar.
Eu tenho os meus”.
Eu tenho os meus”.
(Caio Fernando Abreu)
- Bom dia! Meu dia já começou
todo atrasado, perdi a hora!
- Que pena! Espero que corra tudo
bem de agora em diante, pois hoje é um dia especial, não é?
- Hum, pelo visto você também gosta
de comemorar datas...
- Você não?
- Algumas.
- Por que disse que eu também
gosto, lembrou-se de alguém em especial?
- Não, ninguém em especial. Acho
que todas as mulheres do Sistema Solar gostam disso.
Foi assim que terminou a conversa
via mensagens de celular no dia em que eles comemoraram dois meses de namoro.
Ela toda romântica, afoita com seu sentimento tinha passado horas na noite
anterior preparando um cartão personalizado.
Havia escolhido com cuidado cada
palavra. Pesquisou um poema que fizesse sentido para a ocasião, escolheu a foto
de um momento que lhe trazia boas lembranças, caprichou nos detalhes e depois
dessa conversa teve receio de enviá-lo.
Acontece que algumas coisas
perdem a graça quando não existe reciprocidade e festejar datas comemorativas é
uma delas. Não adianta uma coisa fazer todo o sentido para alguém e
simplesmente não fazer diferença para o outro. E quando digo aqui de não fazer a
diferença, não quero dizer que o outro não se importa, é que realmente para ele
tanto faz.
Os homens em sua grande maioria
são assim. Não precisam comemorar o dia do primeiro beijo, do aniversário de
namoro ou do casamento para continuar um relacionamento. Comemorando ou não o
sentimento deles continuará o mesmo. Geralmente confundem-se até com as datas
de aniversário dos filhos, pais e irmãos, lembrar-se do dia em que deu o
primeiro beijo é para muitos deles uma missão impossível.
E eu até os entendo. Os homens
são geralmente mais práticos que as mulheres, mais imediatistas, pouco
nostálgicos, raramente ficam recobrando coisas do passado ou planejando o
futuro. Mas aos homens cabe a necessidade de entender que as mulheres não são
assim.
Mulher gosta de fazer de sua vida
uma longa e linda colcha de retalhos, costura aqui, recorta dali, borda acolá e
assim vai criando sua história. Para essa construção é essencial a lembrança de
acontecimentos marcantes. Mulheres sobrevivem em um relacionamento muitas vezes
pelas lembranças do que já viveram em outro momento com seu companheiro, já que
não é sempre que os homens tem tempo e/ou disposição para oferecer-lhes algo
que lhes tire da rotina.
E têm mais, as mulheres adoram as
datas comemorativas, mas não são exigentes quanto aos seus festejos, pelo menos
não a maioria delas. Não é preciso aparecer com um anel de diamantes ou fazer
uma reserva em um restaurante caríssimo a cada data. Um bilhete
com uma rosa, um abraço e algumas palavras, uma ligação no meio da tarde já são
mais do que suficientes para deixar a maioria das mulheres com um sorriso bobo
o resto do dia.
E se o problema for o
esquecimento, não precisam se apavorar. As mulheres frequentemente anunciam as
datas comemorativas, dão indiretas e diretas pelo menos uns dez dias antes, na
expectativa de que se lembrem ou de que pelo menos retribuam o festejo
programado. E a retribuição aqui não é no sentido de dar em troca algo igual ou
maior, às vezes é só preciso aceitar de coração, entrar na brincadeira,
entende?
Para exemplificar melhor vou usar
a paixão nacional dos homens: o futebol. Aposto que a maioria dos homens já
brincou de bola sozinho e que em menos de 30 ou 40 minutos a brincadeira perdeu
a graça. Mas quando estavam com um colega, poderiam ficar horas e mais horas
jogando sem se cansar, não é?
Relacionamento também é assim, se
só uma das partes investe, demonstra, cria lembranças que fazem o casal sair da
rotina, logo ela se cansa e vai embora. Para dar certo é preciso que a outra
pessoa pelo menos esteja ali para segurar a bola, mesmo que demore para
devolvê-la, o importante é que naquele momento não estava “jogando” sozinho.
Retomando o diálogo que começou
esse texto, ela decidiu-se por mandar o cartão e ele adorou. Acabou entrando no
jogo, pegou a bola com as duas mãos e devolveu para ela, com pouco mais de
quatro frases escritas em um e-mail, mas que foram suficientes para deixá-la com um sorriso
bobo nos lábios pelo resto da semana.
Então fica a dica: Mulheres não
esperem demais dos homens, pelo menos não da maioria deles, pois não é do
gênero masculino romantizar acontecimentos do seu relacionamento. E homens... Não
estou sugerindo que façam uma festa por mês para sua mulher, apenas esteja
aberto para receber o afeto, curta, entre na brincadeira, pois pior que jogar
bola sozinho é vê-la furada pelo companheiro do próprio time, se é que me
entendem...
Um comentário:
Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 06/10/12.
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