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domingo, 31 de maio de 2009

Confusões de uma adultescente

Escutei enquanto uma amiga respondia uma pergunta feita a meu respeito dia desses e aquilo ficou martelando na minha cabeça.
Um rapaz se aproximou dela e perguntou onde estava meu namorado e ela contou com toda a dramaticidade do mundo o fim do meu último namoro, que, diga-se de passagem, já é uma história trágica por ela mesma, e no final concluiu: “Depois disso, ela nunca mais namorou ninguém”.
Discretamente olhei para o rapaz, que balbuciou qualquer coisa, que para mim pareceu: “Nossa!”. O que ele pensou ou deixou de pensar não me causou impacto nenhum, afinal nem o conhecia e ele e qualquer pessoa do mundo pode pensar o que quiser sobre qualquer coisa, já que, felizmente, ainda não inventaram nada para censurar pensamentos.
O que me inquietou foi o “nunca” na fala da minha amiga, como se fosse uma promessa sagrada, ou ainda uma maldição jogada para durar anos e anos. Pensei no quanto esse nunca estava durando e sinceramente não soube responder, se nestes dois anos, foi muito ou pouco tempo.
Era como se eu não reconhecesse meu próprio sentimento a respeito disso e isso me deixou muito: triste, irritada, chateada, inquieta e, sobretudo, confusa. Comecei a lembrar de todas as sensações que aquele rompimento me havia proporcionado e percebi que nada estava em seu lugar.
No início achei que ia morrer de tristeza, que o mundo não tinha mais sentido e que nunca mais (olha o nunca ai) ia querer me apaixonar novamente. Depois de alguns meses o coração foi se cicatrizando e tudo o que queria era me apaixonar, encontrar a pessoa ideal, que me fizesse feliz para o resto da vida. Levei vários tropeços nessa fase, um tombo grande e a certeza de que nunca mais (olha ele aqui outra vez) iria me deixar envolver por alguém. A sensação de auto-suficiência até que durou bastante e inclusive foi uma alavanca para outras prioridades em minha vida, mas o homem não nasceu para viver só e nem eu. Mais uma vez pensei em me aventurar, em me apaixonar, mas por quem? "Melhor só, do que...". E termine este ditado como preferir, não me atrevo.
O fato é que descobri que meu coração sempre esteve aberto, contudo, passou a ser seletivo demais. Charme e um sorriso bonito já não bastavam para cutucá-lo, para isso era necessário conciliar tantas qualidades que significavam praticamente o homem perfeito, o que sei, não existe. Em outras palavras, significava que eu não queria me envolver e que me coração não estava aberto coisa nenhuma, mas usava todas as minhas exigências como uma forma de dizer: “Ei! Eu estou aqui, mas não tem ninguém que mereça minha dedicação, então, continuo só”.
Acontece que a solidão muitas vezes incomoda, e com o passar do tempo você começa realmente a acreditar que ninguém te merece ou que você é tão especial que não merece sofrer mais, ou que não é obrigada a conviver com os defeitos do outro que tanto te incomodam. É como se você se esquecesse que vive rodeada de pessoas imperfeitas e que querem te fazer tanto o bem quanto o mal, e o que te resta é arriscar, pode com cautela analisar as cartas, ver as probabilidades de ganhar ou perder, apostar mais ou menos de acordo com a intensidade do seu sentimento, mas não deve nunca, deixar de arriscar.
E é exatamente o que está acontecendo comigo, deixei de arriscar. Tenho fugido de situações que sinalizam, mesmo que minimamente, qualquer possibilidade de sofrimento. E sabe o que isso significa? Significa que tenho deixado de viver intensamente, e que provavelmente, a felicidade já passou por mim, pelo menos, umas três vezes e eu não abri a porta, ou quando abri coloquei a vassoura atrás dela para que ela fosse logo embora.
Estranho, não? Pois é, para mim também. Mas a verdade é que tenho ficado muito apática com sentimentos nos últimos tempos. Um novo relacionamento, ou o fim deste, uma declaração de amor ou um rompimento, não me abalam mais como antes. Uma decepção é como se fosse um ralado que com sopro de mãe sara. E uma demonstração de afeto pode me incomodar tanto quanto o vento frio que assopra no final da tarde. Estou assim, sem saber se me apaixono, se me deixo envolver ou se fujo, não de alguém, ou do amor, mas de mim mesma.
A verdade é que as coisas se misturam demais nas minhas histórias. Cada sentimento com uma mania esquisita de estar na hora errada e no lugar mais errado ainda. É um tal do coração tomar o lugar da cabeça e a cabeça se esconder dentro do estômago, que fico sem saber se choro ou rio, se me empanturro de doces ou perco o apetite, se arrisco ou me retraio, e assim vai.
Creio que só quando cada coisa estiver em seu lugar, poderei ter a certeza do que quero agora. É como se precisasse de um aquecimento, um ensaio da realidade. Algumas percepções passageiras, alguns sinais do que vem pela frente, para então, abrir meu coração e me permitir viver nobres sentimentos. O problema é que me conhecendo como me conheço, esse ensaio pode tornar-se a peça central, ou um grande emaranhando de emoções que demoraria dias, quiçá anos, até se desembaralhar. E no meio de tanta confusão, como eu fico?!
Será que alguém se habilita a me ajudar nesta organização e, a compartilhar as confusões deste coração partido? De minha parte, só posso afirmar que ainda há esperança!

sábado, 23 de maio de 2009

Amanhã, outro dia


Seria um final de semana como qualquer outro de retorno à cidade natal. Seriam dias recheados de paparicos e guloseimas e noites repletas de risos e boas conversas. Seriam tardes de afagos e cafunés e madrugadas de segredos e amizade. Mas acabou por ser, além disso tudo, surpreendente.
Creio que já escrevi algo aqui sobre o quanto gosto de surpresas, por achá-las necessárias para o enfrentamento de obstáculos da vida. Reforço minha opinião de que a surpresa é que controla as mazelas da humanidade, ressalvo, a surpresa boa, é ela que salva o mundo da loucura que leva ao crime ou ao descontrole. As surpresas agradáveis quebram ciclos de violência, de tragédias e, sobretudo dão espaço ao novo e à esperança.
Esperança. Sentimento que invadiu o final de semana e instalou-se no meu vazio coração. Um simples convite, já esquecido depois de tantos desencontros, foi suficiente para resgatar esse sentimento e deixá-lo a postos. A espera de agradáveis surpresas. E elas vieram.
Engraçado como adoro me arriscar, e creio que não temo minhas atitudes, pois elas sempre tiveram respaldo da pessoa mais importante da minha vida, e desta vez não foi diferente. Em companhia da minha mãe, fui ao encontro de alguém que já conhecia há uns seis meses pelo menos, mas que nunca havia me apresentado a cor dos seus olhos, seu cheiro e sorriso.
A primeira impressão foi a melhor possível, e bastou para que logo me viesse na mente o seguinte pensamento: “Devia ter me arrumado mais”.
Lá estava ele, alto, magro, muito bem vestido, perfumado, educado e extremamente agradável. Olhos castanhos claro, quase mel, mãos bem cuidadas, um sorriso largo e bem humorado, um olhar tímido e uma ótima conversa.
Demorei a acreditar que enfim havia nos encontrado. Tantas conversas, tantos desencontros, tantas confissões e desabafos e agora ele ali, ao meu lado. Eu, ele e o Redentor. Ar puro, céu azul, brisa leve, o rio largo bem ali, a ponte, gargalhadas e uma vontade de parar o tempo. Apoiei em seu braço um instante e sorri, sim ele era real.
Passamos juntos a tarde toda, muitas conversas, histórias, visita aos pontos turísticos, que ele disse não conhecer, mas que na verdade conhecia melhor do que eu. Mas isso não importa, nenhum daqueles lugares será o mesmo depois que ele esteve lá.
Antes de sua partida lhe perguntei o que havia sido mais surpreendente naquele dia e ele me respondeu que era minha reação, não acreditando que ele estava ali. E acho que ele tem razão. Confesso que custei a crer que ele estava ali, fazia tempo que havia me privado de algumas ilusões, não as resgatei com ele, mas me permiti lembrá-las.
Não sei se nos encontraremos outra vez, talvez não, talvez a surpresa tenha sido parte apenas da minha visão desta história e a esperança que junto com ele foi-se embora, talvez nem sequer tenha existido em seu coração. Mas isso não importa, ganhei alguém para querer bem, mesmo estando longe.
Ganhei uma tarde linda, sorrisos sinceros e uma companhia muito agradável. Ganhei momentos de expectativas superadas. Ganhei paz e confusão. Ganhei lembranças e passos firmes feito aço, em busca de quem sabe, um novo recomeçar.
E você pode estar ai curioso, se perguntando, mas e ai? E ai que o amanhã é outro dia. O destino pode tomar sua parte daqui para frente, tentar encurtar as distâncias, as barreiras e talvez o cupido dê seu empurrãozinho atirando flechas sem destino. Ou ainda, quem sabe, o ai, se torne nada. Só isso e ponto final, sem reticências, apenas mais um capítulo da minha história que hoje, pelo menos, está mais colorida, com esta nova personagem.

sábado, 16 de maio de 2009

Cada coisa em seu lugar


Hoje me sinto como um quebra-cabeça desmontado. Não sei se me acho e me encaixo, não sei se me perco ou me desfaço. Uma sensação de ausência de não sei o quê, nem onde, nem por quê. Dia de pensar em mim, nos meus sentimentos e resgatar verdades e histórias.
Dia de lembrar de frases soltas, de risadas amargas e de olhares distantes. Dia de julgamentos e permissões. Dia de rir, chorar, chorar de rir e respirar fundo, contar até três e dormir.
Não sei mais se quero o encaixe das peças, não sei se quero me desprender dessa confusão, nela me encontro. Na confusão me sinto viva, humana, cheia de vontades, sonhos, erros e acertos.
No compasso do assoalho escuto um passo”. E essa frase a se repetir na minha mente, num ritmo de samba raiz. E outras letras a se embaralharem: “E lá vem ela, ela vem. Passo, aço, assoalho, lá vem ela, ela vem”. Será que isso é música? Ah...mas que bobagem.
Sinto falta das coisas em seu lugar, das pessoas no meu lugar, do meu lugar nas pessoas. Sinto falta da conversa ao pé do ouvido, da surpresa aos domingos, das rosas jogadas nos portões de vidro. Sinto falta do caminhar de mãos dadas e do luau na madrugada, protegida pelo Redentor.
Ainda assim, prefiro a confusão, que me embaralha, me invade, me assusta, me espalha e atrapalha. Faz-me rir e pensar no amanhã sem ter medo, afinal a confusão nunca é certa, o hoje é incerto e o amanhã nem sequer existe.
No compasso do assoalho escuto um passo. E lá vem ela, ela vem. Passo, aço, assoalho, lá vem ela, ela vem”. Quem será ela?
A confusão limita a lógica. O texto sai solto demais, estranho demais. Estranhamento. Sensação que me prendeu neste final de semana. Aqueles olhos, o sorriso, o convite, o Redentor. Tão familiares e estranhos. A lógica me fez voltar à realidade, cristalizou o dia e suas imagens, os pontos turísticos nunca mais terão a mesma cor. Mais coloridos estão depois de você lá, entre o rio e a ponte. Ponte que balança, ponte de madeira e não de aço.
No compasso do assoalho escuto um passo. E lá vem ela, ela vem. Passo, aço, assoalho, lá vem ela, ela vem”. Vem de onde, quem é ela?
As opções não se escondem. Pelo menos três imagens confundem minha certeza, pelo menos três olhares me fazem refletir. Inconstância que me leva, certeza que me traz. Um é pouco, dois é bom, três é demais e nenhum é o ideal. Não fujo dos outros, nem de lugar algum. Fujo de mim.
O galo está a cantar, o urso a dormir, o peixe a nadar, o gato a brincar, o cachorro a latir. Cada coisa em seu lugar. O ponteiro do relógio de lá e de cá, o ônibus e seus passageiros a passar, o compositor a rimar, o rádio a tocar. Cada coisa em seu lugar.
Certa não estou, quase certa, quase no lugar certo. A pessoa certa na hora errada, sempre assim. Hoje sem pessoa certa, nem hora errada, apenas a confusão, apenas a comunhão comigo. Apenas a solidão. Peças soltas, simples, coloridas, nem triste, nem difícil, apenas simples.
No compasso do assoalho escuto um passo. E lá vem ela, ela vem. Passo, aço, assoalho, lá vem ela, ela vem”.
Quando ela chegar me chama. Colocarei os sentimentos nobres nas prateleiras por ordem alfabética, separarei os ruins por cores no armário, dentro dos potes da cozinha deixarei doces palavras e em cima da cama uma meia bem branquinha pra amenizar seus passos no assoalho de aço. Cada coisa em seu lugar, só para ela passar.
Ela? Quem é ela? Não sei, me diga também, só sei que ela vem.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Calo senão atrapalho


Queria a capacidade de expressar em versos meus sentimentos.Queria escrever palavras tão complexas que seriam, enfim, capazes de demonstrar minhas confusas emoções. Queria rascunhar palavras com cheiro de flores, simples e belas, passíveis de entendimento em qualquer parte do mundo. Queria saber fazer música do meu grito e sons das minhas lágrimas. Queria murmurar palavras doces e receber abraços apertados. Queria arriscar. Queria mais uma vez me apaixonar e sentir aquele aperto no peito na hora da despedida. Queria me espalhar em canções tristes, transbordar em sentimento e alma e gritar. Não grito, nem me espalho, apenas calo.
Calo, apenas calo, em um silêncio quase invisível de tão sutil. Calo em uma angústia dura feito rocha, que já não se enxerga de tão densa. Calo, com a expectativa de na ausência dos sons encontrar algumas respostas. Calo com a perfeição de um beija-flor a bater asas, nem murmuro, nem falo, simplesmente calo. Calo senão atrapalho.
Atrapalho quando me espalho, quando o riso se faz ouvir no horizonte distante. Atrapalho o ciclo da vida ao convidá-la para um duelo. Arrisco, ora fujo, outras me espalho, mas ainda, atrapalho. Atrapalho o coração do músico que se sentiu invadido pelo meu olhar. Atrapalho as palavras desconexas de mais um adeus que não sei explicar. Atrapalho quando me espalho, quando me infiltro nos sentimentos alheios e tento desvendar seus segredos. Atrapalho quando me retraio, quando não encontro soluções e então me calo.
Calo com a tristeza de mais uma vez ter deixado de viver. Calo pelo arrependimento de ontem e pelos mistérios do amanhã. Calo enquanto penso nas “recordações de areia”. Abraço-me, suspiro, me alivio do cansaço. Calo. Cerro a boca e nem um suspiro passa entre os dentes. Não, não me espalho, não agora, não com medo. Calo, senão me espalho e se me espalho, atrapalho.
Atrapalho o show de sábado e o passeio no parque. Atrapalho a banda e seus músicos com meu vibrar. Atrapalho quando não vibro e me faço enxergar. Enxergo-me na transparência daquele olhar. Inseguro e triste olhar, perene, instável e irresponsável. Atrapalho quando me deixo cativar. “Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas”. Atrapalho quando falo, pois é aqui que mais me espalho, então, me calo.
Calo na espera de um convite. Calo na certeza de um recomeçar, com o peito apertado de nem sei o quê. Esperança talvez. Sublime esperança que me cala, que me atrapalha e se espalha entre meus segredos mais profundos. Um livro aberto, transparente, ausente de letras e linhas. Assim sou eu, quase tímida, quase certa, quase certa do que quero agora.
Agora não há querer, nem sentir, nem pesar, agora não há. O agora não existe neste despertar. Talvez o futuro. Talvez o futuro se espalhe e não me atrapalhe. Um dia, dois, um mês, dois, um ano, dois. Não. Não por tanto tempo, não pelo medo de viver. Não por não saber viver. Quem não sabe viver se atrapalha, pois não se espalha.
Calo, senão me espalho e quando me espalho, atrapalho, então, me calo. Calo um, calo dois, calo três. Quem chegar por último perdeu a vez.

domingo, 3 de maio de 2009

Eu te dou um fusca!


Carminha é uma moça muito dedicada em tudo o que faz. Trabalha, estuda, com certeza será uma excelente profissional, é bonita, alegre, engraçada, mas tinha um defeito que a acompanhava e a atrapalhava demais.
Carminha tinha um namorado. Não que todo namorado seja sinônimo de problema e defeito, mas neste caso era. Já perdi as contas das vezes que ouvi Carminha contar das idas e vindas de seu namoro. Já nem sei dizer ao certo quantas vezes ela foi e voltou nesse relacionamento, mas desta vez, segundo ela, havia rompido e era definitivo.
Confesso que não acreditei muito no início, pois já tinham sido tantos “tapas e beijos”, mas ao ouvir o fato que ocasionou o rompimento, tive a certeza de que para o bem de Carminha, este era o fim.
Dizia ela que o namorado havia conhecido um rapaz na faculdade e que em menos de duas semanas havia se tornado seu “melhor amigo”. Rapaz esse que ela não conhecia, mas que já frequentava mais a casa dele, conversava mais com os pais dele, tinha mais afeto da mãe dele do que ela própria que o namorava há quase dois anos.
Segundo o namorado de Carminha o amigo era o máximo, fazia e acontecia na sala de aula, nas festas da faculdade, tinha muito dinheiro, roupas bacanas, mas não tinha onde ficar, pois, morava em outra cidade. E não é que o namorado de Carminha ofereceu, com o alvará dos pais, um quarto na casa dele para o ”melhor amigo”?!
Carminha ficou possessa! Não acreditava em tamanho absurdo! Como o namorado era capaz de levar para sua casa um amigo que tinha acabado de conhecer, e se ele era tão rico e poderoso porque não tinha seu próprio apartamento na cidade?
Você pode estar pensando que Carminha era uma mulher ciumenta demais e que deve ter imaginado coisas terríveis do namorado. Pode imaginar que Carminha possa ter sido injusta, ao pensar que o namorado era interesseiro, ingênuo, ou ainda um maluco que provavelmente não assiste aos noticiários. Mas não era só ciúme ou preocupação, Carminha tinha um pé atrás com aquele rapaz, que ela nem conhecia, mas que já estava lhe tirando o sono.
Os dias foram passando e de cada dez palavras que o namorado de Carminha dizia, nove referiam-se ao amigo. Porque ele fez isso e comprou aquilo, e sabe disso e já viajou para esse país e fala aquela língua. As histórias cada dia maiores, as mentiras cada dia mais evidentes e Carminha ali, naquela inquietude, naquela vontade de dar um chacoalhão no namorado que nem tinha mais olhos para ela.
Mas pensar em tomar uma decisão é uma coisa, fazê-la é outra e assim como muitas de nós mulheres, Carminha ficou esperando que o namorado melhorasse com o passar dos dias, ou lhe desse um grande motivo para colocar de vez um ponto final neste relacionamento, e eis que o namorado não melhorou, mas o motivo chegou e veio a cavalo, quero dizer, de fusca.
- Carminha, podemos conversar?
- Claro! O que foi? Aconteceu alguma coisa?
- Sabe o que é amor, meu amigo me fez uma proposta irrecusável, quero muito que isso dê certo e para isso preciso que você me entenda.
- O que foi desta vez? O que seu “melhor amigo” da última semana lhe ofereceu agora?
- Ele disse que gostaria de companhia para sair, para viajar, e pediu para que eu ficasse mais próximo dele.
- E?
- E que para isso, eu vou ter que me afastar de você por um tempo.
- Afastar-se de mim? Como assim? Está me trocando por ele?
- Claro que não Carminha! É só por um tempo, até que termine a viagem, ai a gente pode até casar!
- Viagem? Casar? Do que você está falando?
- Ah Carminha, esquece, não foi nada.
O namorado de Carminha saiu correndo pelo meio da rua e Carminha sem entender nada tratou de saber direito desta história. Ligou para a sogra, que nunca foi muito fã de Carminha, e que tratou logo de abrir a boca santa e contar-lhe toda a história. Relatou para a futura ex-nora todos os detalhes da conversa do filho com o “melhor amigo”:
- Então cara, estava pensando em viajar nas férias, sair para umas “baladas”, que acha de ir comigo? A gente já virou irmão, não é?
- Ah! Eu ia adorar, mas sabe como é, estou sem emprego, com o orçamento curto e a Carminha nunca ia aceitar.
- Mas como não?! Isso ia ser bom para vocês! Um tempo separados para fortalecer o amor e no final da viagem você pede ela em casamento! E quanto ao dinheiro já sabe que nunca foi problema, não é?
- Ela jamais aceitaria isso, ainda mais a Carminha. E tem mais, ela é a mulher da minha vida, eu perco a Carminha e ganho o que em troca?
- Eu te dou um fusca!
- De que cor?
- Verde.
- Fechado, amanhã mesmo falo com ela.
Ele nunca falou. Pode ter sido por falta de coragem, por arrependimento, vergonha ou por simplesmente pelo fato de Carminha ter batido com tanta força a porta em sua cara que fez com que perdesse os dentes da frente. O fato é que desta vez, Carminha colocou o ponto final nesta história.
Vez ou outra Carminha ainda encontra com o ex-namorado, que continua sem os dentes da frente, mas pelo visto nem se importa, pois, abre o sorrisão dando voltinhas no tal fusca verde, ao lado do “melhor amigo”.
Quanto a Carminha, vai bem, arrumou outro namorado que não tem um fusca verde, mas tem alguns bons amigos, um Chevette azul e o melhor: tem todos os dentes da frente.
Moral da história: “Nunca subestime a ignorância de um homem. Para ele, um fusca verde pode valer mais do que todos os dentes da frente”.