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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Veja por outro lado...


“(...) Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego
Uma flor ainda desbota
Ilude a polícia, rompe o asfalto
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
Garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe
Suas pétalas não se abrem
Seu nome não está nos livros
É feia. Mas é realmente uma flor”.
(A flor e a náusea – Carlos Drummond de Andrade)

Nessa semana um acontecimento, que para muitos pode parecer banal, fez com que mudasse meu jeito de olhar para o caos que se instalou aqui, dentro de mim, há pelo menos duas semanas.
Estava me arrumando para sair quando meu pai perguntou:
- Por que você não vai de carro?
Parei por um minuto antes de responder e disse:
- É perto daqui, não será necessário.
Não satisfeito com minha resposta, ele insistiu e parecendo adivinhar os montes de questionamentos e medos que passavam pela minha mente disse:
- Vai de carro, qual o problema?
- E se acontecer alguma coisa? Se eu não conseguir estacionar, ou acontecer algum acidente?
- E o seguro? Serve para quê?
Nessa hora me lembrei de uma conversa que tínhamos tido há 08 anos, logo que tirei minha habilitação e sofri meu primeiro (e único) incidente automobilístico.
Convém esclarecer que nunca gostei de dirigir. Quando completei 18 anos meus pais me incentivaram a tirar a carteira de habilitação, mas eu não gostava nem de tocar no assunto. Fui tirar a carta três anos depois, quando senti necessidade e fiz questão de não contar nada a ninguém.
Fiz todas as aulas, o exame, reprovei, fiz mais aulas, outro exame e só quando estava com a carteira em mãos reuni a família e contei do meu feito. Na época lembro-me que meus pais não acreditavam que eu tinha feito aquilo, sem contar nada a eles, já que morava em outra cidade e lá tinha poucos conhecidos.
Chegaram a insinuar que eu tivesse comprado a habilitação, mas não, posso afirmar que paguei sim por ela, mas cumpri todas as normas, incluindo o cursinho preparatório que na ocasião era novidade.
Bem, mas o meu feito de tirar habilitação não se resume apenas a isso, prometo contar detalhes dessa saga nas próximas colunas, por enquanto o que foi dito já é suficiente para dar continuidade a essa história.
Então, como ia dizendo, logo que tirei a carteira, juntei todas as minhas economias e convenci minha mãe a ser minha sócia na compra de um carro. Afinal de contas, quem casa quer casa e quem tem carteira de habilitação quer carro.
Pois bem, escolhemos o carro, um carro popular, mas em ótimas condições que fez minha alegria até o segundo dia em que decidi dirigi-lo sozinha. Estava a caminho de um consultório médico, estava atrasada, era em uma das muitas subidas que existem aqui na pequena cidade.
Consegui estacionar com um pouco de dificuldade, mas ao sair, não sei como (até hoje me pergunto como aquilo foi acontecer), consegui enroscar a roda da frente em um arbusto que estava na guia. Era um arbusto pequeno e torto que se enroscava cada vez mais, a cada tentativa de tirar o carro dali.
Sei que o resultado foi um risco na lataria e um amassado enorme que me fez chorar dois dias seguidos enquanto pensava: Meus pais vão me matar!
Cheguei em casa inconsolável, só chorava e mal conseguia explicar o que tinha acontecido. Minha mãe ficou chateada é claro, mas disse para eu me acalmar, pois não tinha sido nada.
Quando meu pai chegou e me viu chorando disse:
- Por que você está assim?
- Você viu o carro?
- Vi.
- Então, por conta do estrago que fiz.
- Minha filha, se não tivessem pessoas como você os funileiros iam morrer de fome.
Na mesma hora sorri e pensei: Não é que ele tem razão!
Às vezes passamos por fases tão difíceis, por dores intermináveis, que nos impedem de olhar para o outro, para o que está ao nosso redor.  Mas precisamos exercitar nosso olhar, para que até mesmo nas dificuldades possamos encontrar algo bom.
Tenho vivido uma fase difícil, acho que a pior dos últimos 29 anos e hoje quando guardava o carro na garagem depois de ter vencido meu medo, observei uma florzinha reluzindo no meio do concreto. Foi então que percebi que essa fase difícil também deve me trazer uma lição. Acho que ainda estou confusa com seu real significado, mas uma coisa eu já percebi, ela está me fazendo mais forte e menos medrosa.
Que possamos encontrar uma flor em cada pedra que é colocada no nosso caminho. Que tenhamos a coragem de olhar para os lados, para baixo e, sobretudo para o alto em busca de soluções, de respostas que nem sempre estarão na nossa frente.
Coragem, foco, força e fé é o que desejo para que possamos encontrar, mesmo diante dos piores dias, mesmo nas noites mais escuras e silenciosas, a sensibilidade necessária para achar graça da desgraça, como meu pai fez...

Foto de: Taline Libanio.

3 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado na Capa do Caderno Dois do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 27/04/13.

Aguardo comentários! ^^

Luis F. Moraes disse...

Oi Taline! Com o tempo eu percebi que para tudo, TUDO, na vida sempre tem os dois lados, o positivo e o negativo.
Se foi positivo, maravilha!
Se foi negativo, por mais difícil que seja, existe alguma lição a ser tirada da situação.
Portanto, diariamente, e em tudo, existe sempre os dois lados...
Enfim, complicado, mas é a forma como encaro as adversidades da vida!
Beijos!

FM disse...

Minha amiga, concordo contigo e arrisco dizer que sei qual é o sentimento quando se ouve uma sugestão do outro lado da coisa. Aquele momento que a gente, de cabeça baixa, observa nossas lágrimas no chão e quando ouve o que foi dito chora mais ainda. Não sei se de vergonha, pela tempestade no copo d´aguá, ou se por saber que aquele não é o motivo da dor. Enfim, o bom é conseguir ver este outro lado. E que bom que você tem pais que te ajudam nisso. Adorei o texto, me fez lembrar de várias situações como essa.

PS: Continuo a insistir, conheça a bicicleta, o melhor meio de tranporte para pequenas distâncias (ou seja, para uma cidade). Tenho orgulho de dizer que este ano completo 15 anos de vencimento da minha carteira de habilitação. Hahaha.