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domingo, 8 de julho de 2012

Castelos de areia


Existem dias em que o sol parece se apagar mais cedo. A noite chega rápido e deixa tudo cinza, nem mesmo a lua cheia se faz notar. Uma sensação estranha invade meu peito e domina todos meus sentidos, um nó na garganta que não se incomoda com a dor que causa, insistente, permanece frio e rijo.
Hoje a música que mais combina com meu dia é o silêncio. A ausência de barulho me consola e me faz pensar no que trouxe essa angustia de volta.  Não há conhecimento, não há reciprocidade, não há vínculo, não haveria de ser decepção, mas foi, mais uma, uma mais entre tantas criadas pelas expectativas construídas dia a dia.
Sinto-me tola, a maior de todas, toda vez que isso acontece. Chego a perder o sono, dominada por uma ansiedade sem tamanho, criando detalhes, fazendo planos, construindo histórias com pessoas que nem abriram a porta de suas vidas para mim.
Dói me sentir assim. Ingênua, ridícula até. Incomoda ser criticada pela minha razão toda vez que subo na altura do mais alto prédio e me jogo, sem proteção, sem medo, pronta pra levar outro tombo, pronta mais uma vez para bater com a cara no chão.
Lembro-me de quando era criança e ficava construindo castelos de areia com minha mãe na praia. Sempre queria ficar mais perto da água, sentir a onda se aproximar trazendo aquela brisa salgada e ela me alertava o tempo todo: seu castelo vai ruir, seu castelo vai se desmanchar, o coloque mais para cá, em solo seco, seguro.
Mas que graça tinha montar castelos de areia no concreto?! Que graça tinha não poder pingar água sobre as torres e deixa-las enfeitadas como confeites de bolo, gota a gota?
E quando o mar mostrava seu poder e direcionava uma onda bem ali, no caminho do meu castelo eu o via desaparecer em segundos e por vezes corria, outras chorava e até ria. Tanto tempo, tanto planejamento e dedicação para ser levado assim, em segundos. Por vezes não achava nada justo, mas quem era eu para brigar com o mar, o jeito era recomeçar ou inventar nova brincadeira.
Hoje entendo bem as palavras da minha mãe. Os castelos de areia costumam ruir facilmente e não é só o mar o causador de seus estragos. Expectativas são como castelos de areia, quanto mais as alimentamos mais dolorida é a frustação de não as ver realizadas.  Expectativas criadas sem reciprocidade são castelos de areia ruídos pelo próprio pé...
Aprendi nesta semana que quanto maior o castelo, maior a decepção ao vê-lo sumir, muitas vezes sem nem tê-lo aproveitado, sem nem tê-lo vivido, sem nem tê-lo finalizado. Um amigo me disse que aprendeu a não se decepcionar não se entusiasmando demais com as pessoas. E eu disse a ele: um dia eu chego lá!
 Ainda me falta equilíbrio. Por vezes me envolvo de corpo e alma, em outras nem com o dedinho do pé e a vida vai aos poucos me moldando com suas ondas, com sua ventania, destruindo castelos que queria tanto um dia se tornassem de concreto.
Até ontem era um sonho. Um sonho de vida, que cheguei quase tocar, que achei finalmente iria viver, acreditava mesmo que era uma história reservada para mim, mas foi bem aqui, no auge da minha ilusão que descobri, mais uma vez, que o castelo era de areia...

“Tentaram me fazer acreditar que o amor não existe e que sonhos estão fora de moda. Cavaram um buraco bem fundo e tentaram enterrar todos os meus desejos, um a um, como fizeram com os deles. Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. Em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. A manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica...”.
 Caio Fernando Abreu.


Fotos de: Murilo Mendes.

3 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 07/07/12.

Foto de: Murilo Mendes.

Aguardo comentários!^^

Isabel disse...

A gente não se decepciona, a gente aprende, e o que torna algumas pessos especiais é que mesmo aprendendo, reaprendendo, recomeçando, reinventando, não perde a capacidade de sonhar... sem sonho de que vale a Vida? pense nisso...

Alexandre Escoqui disse...

Criar expectativa eh esperar pelo desconhecido, eh viver uma " estória ". Ter um momento único, porém incerto, a unica certeza da expectativa eh a incerteza do desfecho. Uma humilde opinião . Bjo