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domingo, 15 de maio de 2011

A viagem sem fim (a saga continua)...



Como relatei anteriormente minhas viagens tendem a ter momentos de imensa satisfação e desconforto. Geralmente as idas e vindas transformam-se em horas de chateação e cansaço, mas até destes momentos é possível tirar algo de bom e na última viagem não poderia ser diferente.
Depois de quatro dias de sol, praia e muito descanso com a família e amigos era chegada a hora da partida. O retorno à rotina geralmente não é apreciado, cair na realidade dos compromissos agendados e da escravidão pelo relógio requer cautela e coragem.
Fazer as malas para viajar é uma delícia, mas para retornar não é assim tão bom. É claro que não existe nada melhor do que o nosso lar, mas quem não adoraria viver na mordomia de um bom hotel, sem hora para levantar, com comida quentinha na hora da fome apertada e com o mar bem ali na vista da janela?
Mas enfim, mala quase pronta, era hora de retornar. Os dias que estavam ensolarados foram substituídos por um céu cinza, carregado. Uma chuva forte caia enquanto terminava os últimos preparativos. Assim, pelo menos a vontade de ficar não era tão intensa, praia com chuva não combina, melhor voltar para rotina. Será? Que seja!
Malas no ônibus, cada qual no seu quadrado, cada um no seu espaço. Oração na saída (coisa de excursão, especialmente excursão de vó) para acalmar a ansiedade e garantir uma boa viagem, até que pouco mais de 30 ou 40 quilômetros à frente o veículo acena sinal de problema.
Um barulho esquisito na troca de marchas e os motoristas com cara de poucos amigos desviam do congestionamento que se apresentava bem antes da serra e adentram em uma cidade beira mar. Roda daqui, roda dali em busca de um posto de combustível.
Passa por um, dois, três até que o terceiro posto faz com que o motorista mude de estratégia e passe a procurar uma oficina mecânica, o mais óbvio para um veículo com problema, o mais simples para solucionar o enguiço, não fosse o fato de ser domingo de páscoa, com chuva e pouco depois do almoço.
Alguns diziam que encontrar uma oficina aberta era um milagre (aposto que a oração na saída contribuiu para isso), outros que era a melhor maneira do mecânico ganhar dinheiro durante o feriado. Pelo sim, pelo não era o que tinha para o dia e lá estávamos nós, parados em frente a uma oficina mecânica, tentando entender o que tinha acontecido e aflitos por uma rápida solução.
O motorista ia de um lado para o outro na chuva, falava no celular, franzia a testa e levantava a sobrancelha. Agachava-se junto ao pneu do ônibus e gritava com o mecânico deitado embaixo do veículo, enquanto isso os passageiros na janela indagavam ansiosos:
- E ai “moto”? Vai consertar?
- Ah, tem que rezar né? Vamos torcer.
Imaginei que nem mesmo todos os fiéis de Nossa Senhora Aparecida aliados a torcida do Flamengo seriam capazes de fazer aquele ônibus andar. Mentalmente calculava quanto tempo levaria para chegar até a casa dos meus pais e nos outros dois ônibus que teria que pegar até chegar à minha casa.
Na hora da aflição, na tentativa de amenizar a agonia, surgiram pelos corredores do ônibus sacos de salgadinho, bala e chocolate. Até um samba foi escrito pelo que soube durante as horas de espera e creio que fará sucesso nas ondas do rádio em breve, afinal quem nunca ficou parado na estrada por uma horinha sequer?
Uma não, duas, três, quatro... Quatro horas de espera até que o problema foi resolvido. O parafuso da ventoinha, do câmbio da correia do amortecedor que estava sem a porca estourou e deu nisso. Resumindo, ninguém ficou sabendo ao certo o que aconteceu, nem mesmo o motorista que entrou no ônibus cabisbaixo por ter perdido cinquenta reais na brincadeira e cansado de tantos por quês.
Nem mesmo às quatro horas de atraso nos fizeram fugir do congestionamento. Carros e mais carros por todos os lados, acidentes na estrada, mais chuva, frio, um verdadeiro caos. E as três costumeiras horas de viagem tornaram-se quase dez, deixando todos com um mau humor daqueles e com a sensação de que aquilo não teria fim nunca.
Chegamos à pequena cidade por volta das duas da manhã, para muitos a viagem sem fim acabava ali, para mim não, ainda restavam algumas horas de estrada e mal sabia eu que muitas horas de espera.
Coloquei a mala no chão do quarto, olhei no relógio e pensei: dormir ou não dormir? Restavam-me duas horas até a saída do ônibus para Campinas, a cama me convidada para um cochilo, mas preferi tomar um banho e esperar enquanto respirava fundo e pedia calma para aguentar a semana depois de uma noite insone.
Minha mãe me acompanhou até a rodoviária, quando as quatro e vinte da manhã entrava em outro ônibus, com o corpo todo doído por ter entrado no primeiro deles às quatorze horas do dia anterior. Consegui tirar um cochilo, mas fui interrompida por um senhor simpático que roncava feito um porco.
Cheguei a Campinas por volta das sete da manhã e me deparei com o formigueiro humano novamente, agora um pouco mais organizado, mas tão cheio quanto no dia da primeira viagem. Dirigi-me ao único guichê que me levaria até meu “lar doce lar” e fui informada de que o ônibus das sete e trinta estava lotado e que só teria passagem para as dez da manhã.
Que maravilha! Adoro ficar nesta rodoviária, principalmente depois de quase vinte horas de viagem. Comprei um café (isso pelo menos nunca falta), sentei em uma cadeira e fiquei ali observando aquele vai e vem desenfreado, rumo a não sei onde, nem por que, enquanto pensava se tinha mesmo sido válido tanto cansaço e correria.
Esta resposta foi fácil de achar: Mas é claro que valeu a pena!
Foram quatro dias inteirinhos de praia e sol, ao lado das pessoas que mais amo nesse mundo e rodeada por bons amigos. Nem mesmo cinquenta horas de espera teriam me feito mudar de ideia. Mas que foi uma viagem quase sem fim foi, você não concorda?

Um comentário:

Isabel disse...

só faltou a rebimboca da parafuzeta...ei laiá...