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domingo, 20 de junho de 2010

Êta povo esquisito!


Hoje tive a felicidade de observar a movimentação dos brasileiros em dia de jogo do Brasil na Copa do mundo. Que maluquice! No bairro onde trabalho uma das ruas foi praticamente fechada, com a bandeira do Brasil pintada no asfalto, bandeirinhas brigando por espaço com os fios de alta tensão e crianças competindo com o barulho das buzinas ao soprarem suas vuvuzelas.
Que barulho ensurdecedor. Maldita mania esta dos sul africanos. Cornetas não eram tão famosas em outros mundiais. Pelo que me lembro, os brasileiros inventavam gritos de guerra, aguçando a criatividade de qualquer um e garantiam seu barulho no gogó.
Não vi muitas demonstrações de confiança durante meu trajeto para o trabalho. Logo pela manhã as camisas amarelas, se é que existiam, estavam cobertas por cachecóis e casacos que não demonstravam nenhum tipo de empolgação. Para dizer a verdade a não ser pelo barulho das crianças na rua, e pelo fim do expediente ao meio período nem parecia que seria um grande dia para os brasileiros.
Mudei bruscamente de opinião ao retornar para casa, quase três da tarde, e dar de cara com um congestionamento de dar inveja a São Paulo. Bandeirinhas, bandeirões, faixas, blusas, brincos e até unhas em verde e amarelo pintaram as ruas. Vuvuzelas a mil, buzinaço e uma alegria de final de campeonato, simplesmente contagiante.
O motorista de ônibus com o radinho de pilha na sintonia, o porteiro do prédio com a TV ligada no celular, todos unidos para torcer pelo Brasil. Telão na praça central, a economia do país parada, fábricas fechadas, intervalos para assistir ao jogo e vamos lá Brasil!
Assiti ao jogo na casa de uma amiga, onde não faltaram vuvuzelas para animar a monótona partida que pintou o primeiro tempo. Superstições a parte, concordamos em mudar o lugar dos presentes para melhorar as vibrações e pudemos gritar gol por duas vezes no decorrer do segundo tempo.
Mas no caminho de volta, dentro do ônibus é que pude perceber tudo voltando ao normal. As pessoas escondiam na bolsa o verde e amarelo, falavam sobre a aula ou o trabalho, nem se importando com o resultado do tão esperado jogo.
Entrei em casa pensando: Brasileiro é um povo esquisito mesmo. Passo de seis a oito horas do meu dia orientando famílias sobre seus direitos sociais, incentivando a união, a participação popular, tentando mostrar-lhes sua força para a transformação de sua realidade. No máximo que já consegui reunir até hoje foram umas trinta pessoas, que se reduziram para quinze no segundo encontro e para cinco no último, como se fosse uma grande perda de tempo falar sobre direitos e lutar por sua efetivação.
Mas para o jogo do Brasil, só na praça central da cidade reuniram-se quase mil pessoas. Para quê? Para torcer oras! Por quem? Pelo time do Brasil é claro! Por quê? Por que ele nos representa lá fora.
Por que não nos reunimos para reivindicar melhorias sociais, por nós mesmos, pelo povo oprimido, pelo simples fato de sermos cidadãos livres e merecermos o mínimo de dignidade para nossa sobrevivência?
Por que não perdermos tempo com isso? Não pretendo aqui desmerecer o jogo do Brasil e a importância disso para a nação, mas sim questionar o valor que damos a nossa pátria ultimamente.
Os noticiários dedicam integralmente seu tempo a falar sobre a copa do mundo, falam sobra a África do Sul, mas não mostram nossa miséria; falam sobre a jabulani, mas não falam sobre os candidatos à eleição; repetem e até sopram no ar as vuvuzelas, mas não divulgam as greves no país e guerras civis pelo mundo. É como se todo o planeta estivesse em standby. Pausado, na espera de divulgar uma enorme alegria ou uma grande decepção que com certeza interferirá no humor de cada brasileiro.
Mais uma vez repito: Que maluquice! Parece que nos orgulhamos de ser brasileiros e brigamos pelo nosso país, até com socos e pontapés se por preciso, só a cada quatro anos, e olha que nem me refiro ao período de eleições.
Se tivessemos tanta garra para escolher nossos políticos como palpitamos na escalação da seleção brasileira, se fossemos as ruas cobrar as promessas de campanha, como fazemos com os jogadores no final de cada jogo, com certeza este país teria muito mais para se orgulhar.
E salve o Brasil, com todo seu povo alegre, guerreiro e esquisito!


Ilustração de: Gabriel Vicente.

4 comentários:

Anônimo disse...

SABE DE UMA COISA TALINE?
NESSES 27 ANOS DE QUERER A EFETIVAÇÃO DE DIRETOS, DESCOBRI UMA COISA FUNDAMENTAL...PRECISAMOS DE CIRCO...MESMO QUE SEJA POR 90 MINUTOS, DE 4 EM 4 ANOS...PRECISAMOS DISSO... E VIVA A ALEGRIA...BJS.

Fernanda disse...

Amiga, excelente reflexão e sua última frase resume muito bem seu texto e grande parte da nossa realidade! Especialmente a dessa semana longa e estranha que só está na segunda-feira! Hehe!
Viva nossa alegria e esquisitice!!

Anônimo disse...

Puxa, realmente mesmo diante da alegria, soa esquisito tanta empolgação e reação aos lances futebolísticos de copa e etc, e uma certa inércia, ou seja lá o que for, para outras coisas que até poderiam ter mais resultados sobre a vida do sujeito torcedor..huaahu
Eu, agora que sou moradora de bairro..rsrs, posso dizer que quanto mais humilde eram as ruas, mais enfeitadas e cheias de alegria elas estavam! Em compensação, não tenho certeza, mas penso que quanto mais alto nível social, a comemoração era como um compromisso na agenda: até às 14h eu continuo pressionando meu empregado a sei lá, vender mais, às 14h15 libero o pessoal pra ver o jogo, e o cara sai com os amigos e comemora exatamente naquele tempo de jogo. Depois tudo volta ao normal, a alegria é efêmera, dura só ali durante aquele tempo do jogo.
Já aquele pessoal das ruas, eles ficam prolongando a alegria e fazem de tudo pra ela não acabar, e se esforçam pra ela não acabar.. dão o sangue torcendo, as últimas economias nas tintas pra pintar a rua, o rosto! Acho que toda essa empolgação é uma forma de proteger essa alegria (quase felicidade) e não querer deixar que ela vá embora...

bjookas my dear!=]

Tamara

Marly Meyre disse...

Interessantíssimo texto.
Nunca fui fã de futebol, mas, na copa de 70 torci muito com amigas pelo TRI.
Hoje vejo futebol não como esporte.
Vejo sim, como uma lavagem de dinheiro muito sujo e encardido.
E o povão, parece não se dar conta da realidade que o cerca.
Seleção Brasileira?????????
Não creio que eles sejam assim tão patriotas; afinal...nem moram mais no Brasil. O fundo disto tudo é...
Dinheiro(sujo e encardido).
Mas... povão gosta de alegria passageira. Regada a CERVEJA.
bjus com carinho.