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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O caracol é o cara! Já eu... preciso de um caminhão!


Dizem que a casa onde a gente vive reflete nosso interior. Que quanto mais bagunçada a casa maior a confusão interior, que quanto mais organizada, mais objetivos trilhados. Dizem ainda que guardar muitas coisas significa uma enorme dificuldade de desprender-se do passado.
Confesso que se isso tudo for verdade estou em apuros. Pude perceber isso esta semana enquanto tentava organizar minhas coisas para a mudança. Depois de sete meses de árdua procura encontrei um bom apartamento, com preço acessível, em boa localização e o melhor de tudo, um espaço só meu, que possibilitará o retorno da minha privacidade.
Mas voltando a arrumação, percebi que minhas poucas coisas transformaram-se em muitas, mas muitas coisas mesmo. Coisas que eu não lembrava ter visto, que eu nem imaginava existir apareceram no meio do meu guarda-roupa e das gavetas da cozinha. Sei que encontrei um amontoado de coisas, de entrada de cinema a extrato bancário, coisas de dois anos atrás, ali acumuladas, ocupando espaço.
Espaço é algo que não terei na nova moradia, claro que terei o suficiente para me acomodar com conforto, mas nem tanto que me permitirá acumular papéis de dois anos atrás. Desfazer-me destas pequenas lembranças não foi fácil, mas foi bom.
A cada papel rasgado e colocado no saco de lixo relembrava uma situação vivida, um passeio, uma pessoa e logo em seguida separava a lembrança no coração e todo o resto despejava no saco escuro, aquele buraco negro que poderia me dar mais espaço para novas lembranças, novas alegrias e com certeza novos papéis.
Já fiz tantas mudanças de residência que nem sei dizer qual delas foi a mais difícil, além das coisas que se perdem pelo caminho, o emaranhando de opiniões, palpites e formas de fazer isso ou aquilo deixa qualquer um maluco. A começar pela escolha do caminhão que fará a mudança, pelos carregadores e porque não pela forma com que os copos e pratos serão embalados, sem falar na data em que a empresa telefônica poderá transferir o serviço.
É chato, cansativo, irritante, mas no final é muito bom. Mudar dá trabalho, nos deixa de mau humor, sem disposição por alguns dias, mas todas as mudanças nos trazem uma lição e o melhor, um novo caminho.
Tem gente que viveu por toda a vida no mesmo lugar, e isso não é ruim, mas tenho certeza que estas pessoas nunca abriram todas as gavetas e armários para reencontrar lembranças do passado. Arriscaria dizer que estas pessoas criaram novas aspirações pelas mudanças ao seu redor ou por uma mudança interior, mas não por sua própria mudança.
Tem gente que passa a ser mais simpático quando recebe uma nova vizinha na casa da frente, outros ganham verdadeiro ar sisudo com o cachorro do novo vizinho ao lado, o fato é que a mudança seja sua ou ao seu redor sempre provoca sensações que nos obrigam a renovar nossas emoções.
Existem ainda, pessoas que não conseguem se desfazer das coisas, vão guardando aqui e ali na esperança de um dia ser útil, como se aquela blusa de dez anos atrás ainda fosse servir no próximo ano, ou aquele pedaço de cano que sobrou da construção pudesse ser útil até o final do mês. Confesso que me incluo neste grupo, pois não sou tão desprendida, não consigo me desfazer de tudo o que ganho, especialmente quando se diz respeito ao meu ponto fraco, que está diretamente relacionado aos papéis.
Pode ser um bilhetinho da época da faculdade, ou um diário da quarta série, a entrada do cinema ou o cartão do táxi, tenho a mania de guardar todo e qualquer tipo de papel, o problema é que quando preciso deles dificilmente encontro. E por conta disso estou vivendo momentos de mau humor e ansiedade, deixar no saco escuro aqueles papéis que parecem tão úteis tem sido um sacrifício.
Além disso, parece que o tempo não colabora, a cada hora o número de sacos aumenta e os papéis aos poucos vão sumindo e dando lugar ao espaço, que eu sempre precisei e nunca tive. O lado negativo da mudança pode ser resumido ao meu último dia de férias, pois foi totalmente utilizado para encaixotar pertences, rasgar lembranças, empacotar saudades e detalhar certezas, amparando-as bem para que em segurança fossem levadas para o novo lar.
O que me espera agora é um novo porteiro, um novo supermercado e padaria, novos vizinhos, momentos de constrangimento no elevador, novo motorista de ônibus e novas histórias. Que sejam coloridas e alegres como todos os papéis que piquei nesta tarde, para que possam enfeitar minhas lembranças até a próxima mudança.
O que posso afirmar agora é que os sacos continuam se acumulando, e as caixas de papelão também. Seria bom se pudesse levar a casa nas costas como os caracóis que hoje dormem ao pé de uma roseira e amanhã se mudam para as folhas dos antúrios enfeitando os jardins.
Seria bom me deslocar sem rumo levando a casa nas costas, o difícil seria me desfazer dos papéis e de seus significados. Mas enquanto carregar a casa não é possível, creio que preciso de um caminhão! Um não, talvez dois ou três para acomodar bem minhas lembranças, meus pertences, minha saudade, meus papéis e, claro, toda a minha expectativa de um novo recomeçar...

Um comentário:

Marly Meyre disse...

Querida Taline...

Re...começar - esta palavra as vezes é tão dura com a gente né?
começar é iniciar, tudo são espectativas e esperanças...
Re lembra voltar atras, onde podemos ter novas espectativas e novas esperanças.
Que seu recomeçar seja repleto de alegrias e esperanças.
Faça uma faxina mensal nos papeis e gavestas, hihi
bjus com amor