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quarta-feira, 25 de junho de 2008

O mais breve “para sempre” de toda minha vida...




Tentando entender a vida, as pessoas e, mais uma vez, a humanidade, comecei a me descobrir. Foi nas idas e vindas da vida que descobri que era muito mais que uma mulher independente e moderna. Descobri que era frágil, sensível e carente também. Descobri que tinha uma co-dependência de outros em minha vida e que viver sozinha era algo mesmo muito complicado.
Mas sabe como é, quanto mais você observa o outro e tenta entendê-lo, mais ele diz coisas sobre você mesmo. Quando o destino, sem pedir permissão, me colocou numa cidade quilômetros de distância da minha e disse para eu me virar, tive que arregaçar as mangas e ir à luta. Foi nesse mesmo instante que levei um dos maiores tombos da minha vida.
Um dia você está bem, trabalhando, estudando, namorando, e no outro tem que mudar de cidade, perde a bolsa de estudos e o namorado, que vai viajar para bem longe. Então, você se agarra no novo emprego – a única coisa que te restou, e não desanima. Antes, contudo, precisa curtir uma fossa daquelas e passar por umas sessões de terapia. Mas em compensação faz novos amigos e conhece um outro amor.
Esse amor era o que busquei minha vida toda e nunca tinha conseguido encontrar, procurava nos olhos de algumas pessoas especiais, nas ruas e padarias e nos catálogos de perfumaria, mas nada de encontrá-lo. Sujeitinho difícil, eu pensava, será que ele existe mesmo? Olhava por todos os lados e até ouvia algumas mulheres dizer que o haviam encontrado, mas onde, eu me questionava. Até dentro dos vidros de açúcar da cozinha eu procurei, mas nada de encontrar esse doce amor.
Até que um dia, cansada de procurar de cá, de lá, aqui e acolá parei de olhar para desconhecidos e comecei a olhar pra alguém mais importante, aliás, a pessoa mais importante da minha vida e que esteve ali, o tempo todo e eu nem notara. E o primeiro local em que nos encontramos foi no espelho. Olhando pra o espelho achei meu maior amor.
Conheci meu amor-próprio, me apresentei a ele e pedi licença ao destino, pois agora estava mesmo disposta a cuidar da minha vida. E foi assim que comecei a olhar a vida, as pessoas e a humanidade com outros olhos. Foi aqui que comecei a ser prioridade não na vida de outras pessoas, mas na minha própria vida. Cuidar de nós mesmos é bom, aliás, muito bom e nos mostra o quanto somos belos e o quanto podemos cativar.
Aberta ao mundo para novos conhecimentos, novos gostos, sabores e dissabores, também me abri para outros relacionamentos. Conheci algumas pessoas interessantes, mas como era dona do meu destino não me atrevi a escolher ninguém, pois ainda achava que não era a hora, ou por que achava que merecia alguém mais especial.
E quando eu menos esperava, escutei minha mãe murmurando no meu ouvido: quem muito escolhe, acaba escolhida. Fim de assunto. Foi isso mesmo que aconteceu. Acabei escolhida. Dei uma brecha ao destino e ele realizou mais uma de suas artimanhas. Colocou uma pessoa bem especial na minha vida. Tive como promessa ser feliz para sempre, gostei da idéia e aceitei.
Antes, porém, tentei me certificar de que era mesmo real, de que desta vez estava pisando em chão firme. Com atitudes, palavras e incansáveis demonstrações de carinho fui acreditando que podia mesmo ser real, que poderia mesmo merecer tudo aquilo e ser feliz para sempre.
Então, esperei o momento certo (e o dia de Santo Antônio, me pareceu um bom dia, afinal, dizem por aí que ele é um santo casamenteiro) e aceitei o pedido de namoro que seria o início da mais bela, curta e decepcionante história de amor da minha vida.
Em menos de dez dias o encanto se quebrou, todo o carinho e vontade de fazer dar certo se tornaram dúvida e confusão. Na verdade, acho que participei (sem saber) de uma espécie de “jogo da conquista”, mas por acreditar que daria certo me deixei conquistar cedo demais e fui desclassificada. Restou-me, então, mais uma vez olhar para o espelho e agarrar-me ao meu verdadeiro e único amor.
Não me arrependo de ter vivido esta curta história, pois apesar de breve me deixou ótimas recordações, além de mais uma cicatriz, que me lembrará de como o amor é dolorido às vezes. E hoje, fortalecida, certa de que ainda viverei muitas histórias de amor e de que ainda irei colecionar muitas cicatrizes deixo, com carinho, lembranças a este alguém, que me escolheu para viver ao seu lado o mais breve “para sempre” de toda minha vida.

domingo, 22 de junho de 2008

Minguante: meio-cheia ou meio-vazia?



Realçando meu lado observador e minha fértil imaginação estive a pensar no quão semelhante somos com um satélite que admiro muito, a lua.
Desde criança me colocava a olhar para o céu e imaginava se era mesmo possível ter um Santo e um dragão dentro daquela bola iluminada. A interrupção no repasse de energia sem prévio aviso, freqüentes na minha rua de infância, eram motivo de desespero para meus pais, que se revezavam atrás de velas e lanternas, mas de alegria para a garotada, inclusive para mim. Adorava deitar nestes minutos na calçada e olhar para o céu. As estrelas pareciam se reproduzir na minha frente, milhares delas, e o negro da noite tornava-se quase claro. Mas mais gostoso que sentir a brisa no rosto e tentar contar as estrelas era observar a lua.
Como será possível uma bola, tão luminosa, em plena noite e com tantas formas. Nova, crescente, cheia e minguante. Sempre gostei mais da lua cheia, vistosa, pálida, a dona do céu. Mas a lua crescente também sempre me chamou muito a atenção, aquele fiozinho tímido que aos poucos ia aumentando até chegar à fase mais esperada, a cheia. A lua minguante sempre me confundiu, nunca soube se era uma lua meio-cheia ou meio-vazia, então a deixava de lado. E a nova, bem, essa era misteriosa demais para meus oito anos de idade.
Hoje, com alguns anos a mais, mas nem tantos assim, começo a olhar este satélite com outros olhos. Os olhos de quem vive observando atitudes humanas e imaginando de onde elas surgiram. Começo a acreditar que copiamos a natureza, ações boas são cópias de lindas paisagens, ações ruins são cópias da devastação.
E pensando nisso me coloquei a imaginar, se eu fosse a lua, que lua seria? Se tivesse meus oito anos responderia sem pressa: a lua cheia! E se me questionasse por que, seria fácil responder: é a mais bonita, oras!
Mas e hoje? Que lua seria eu?
Ainda gosto muito da lua cheia e pensando nos quilos a mais que adquiri nos últimos meses poderia me enquadrar perfeitamente em seu semblante. Mas sua altivez que antes me encantava, hoje me assusta. Ser admirada demais, observada demais causa incômodo e sempre gostei mais dos bastidores do que dos palcos, exceto na minha formatura, mas aquilo, bem, aquilo foi...melhor deixar para lá, uma explicação renderia outra crônica. Assim, pensando por este lado não seria uma lua tão cheia, mas se pensar por outro lado poderia ser sim, uma lua cheia de planos, sonhos, conflitos, escolhas, renúncias, assim como você, eu aposto.
Então você pode me dizer que eu gostaria de ser a lua crescente. Tímida, que aos poucos vai ganhando seu espaço, atrás das cortinas mas não dos aplausos, pois é, ela poderia ser um bom palpite. Crescer! Coisa de gente grande! Mas crescer demais ainda não está nos meus planos, pelo menos não por agora, então, a crescente seria uma lua a se pensar, mas não a escolhida.
E a lua nova? Quase transparente, como a alma de toda pessoa boa, quase invisível como àqueles que oferecem sem cobrar, quase insignificante para aqueles que não sabem observar as pequenas e boas coisas da vida. Escondida atrás do clarão do dia é imperceptível na noite, mas se olhar bem, mesmo sem vê-la saberá que ela está lá. É como uma guardiã, dá seus sinais, sopra os caminhos e se esconde pois não gosta de platéia. Sem passado, sem futuro, é ela e apenas ela, nova, limpa, cada dia como se fosse única. Meu passado ainda é bastante presente e o futuro faz parte dos meus planos, e longe estou de tanta transparência, mas que algo de nova existe em mim, isso eu sei, assim como aposto que também existe em você.
E aquela lua estranha que eu nunca entendi, a minguante, hoje me mostra um lado bem marcante da humanidade. Aquela dúvida de estar sempre meio-cheia ou meio-vazia reflete a vida de muitos de nós. A minha e a sua em alguns ou muitos momentos. Nem sempre sabemos se estamos meio-cheios ou meio-vazios com as coisas. Cheios de raiva ou vazios de afeição. Cheios de ódio ou vazios de amor. Cheios de alegria ou vazios de tristeza. Cheios de calmaria ou vazios de angústia. Cheios de barulho ou vazios de silêncio. Cheios do mundo ou vazios da paz. Cheios de dinheiro ou vazios de dívida. Cheios de fome ou vazios de alimento. Cheios de nós mesmos ou vazios de esperança.
E é assim mesmo. Um dia meio cheio outro meio vazio, um dia bem outro nem tanto, um passo a frente dois para traz e assim é que se vive. É no meio desses rompantes que fazemos nossos planos, que os reconstruímos, que conhecemos pessoas especiais e logo em seguida as desconhecemos.
São nessas idas e vindas que amadurecemos, que crescemos, minguamos, inovamos e nos enchemos de todos os sentimentos e aflições humanas. E é por isso que ainda hoje não consegui me decidir.
Acho que seria um misto de todas as luas, ou ainda um eclipse lunar, pois este ocorre apenas com a lua cheia, mas a deixa crescente e minguar antes de torná-la nova, bem ali, num piscar de olhos. Façamos de nossa vida um eclipse lunar, a cada decisão, a cada dia, a cada ano, assim poderemos aproveitar a melhor fase de nossas luas e aprender com o pior delas, e quando um dia você for detentor de um vasto “auto-conhecimento” poderá enfim me responder: que lua é você?

Sentimentos nobres! Sim, eles ainda existem...




Começo a acreditar que o fato de ser chamada de doida por uma amiga queira realmente significar alguma coisa. Sair de casa em um sábado, numa noite muito fria para encontrar alguém que eu nunca tinha visto, realmente não é algo muito natural.
Você pode até me dizer que a humanidade está assim mesmo, maluca e, que é natural encontrar com estranhos depois de 20 minutos teclando em um site de relacionamento, ou que ainda é comum você querer sair numa noite fria de sábado para tentar acalmar seu coração, mas sobretudo, sua curiosidade. Realmente serei obrigada a concordar com você, contudo, o que me pergunto é: de onde vem tanta loucura?
Talvez da vontade de ser surpreendida por coisas simples, ou de despertar algum sentimento nobre escondido depois de uma decepção ou um sofrimento grande demais. Talvez do compromisso com seu amor- próprio e de ser brasileiro, ou seja, de não desistir nunca ou ainda pela vontade incontrolável de saciar sua curiosidade.
E como somos curiosos! Tudo é motivo para um por quê, ou um e aí ? A humanidade não é maluca, é sim, curiosa. A curiosidade faz com que as pessoas cometam loucuras.
Quantas vezes por não se agüentar de curiosidade você não tomou uma atitude precipitada ou cometeu algum erro? Eu poderia enumerar diversos acontecimentos, mas hoje me prendo a este, um encontro, num lugar conhecido, com um desconhecido e por quê?
Bem, porque precisava matar minha curiosidade.
Mas e ai?
E ai que me surpreendi.
Na verdade é isso que acontece. As pessoas querem matar sua curiosidade, mas, sobretudo precisam surpreender-se. A surpresa é que controla as mazelas da humanidade, ressalvo, a surpresa boa, é ela que salva o mundo da loucura que leva ao crime ou ao descontrole. As surpresas agradáveis quebram ciclos de violência, de tragédias e, sobretudo dão espaço ao novo e à esperança.
Ter saído de casa na noite fria, com uma intensa curiosidade e aquela vontade de dessa vez surpreender-se para valer, fez daquele momento único. Único, pois permitiu que eu observasse cada detalhe, os olhos pretos e puxados, a boca pequena que escondia um sorriso encantador, as mãos pequenas e bem cuidadas, o colar no pescoço e a pulseira escondida embaixo do agasalho, que devem ter tantos significados para ele, os óculos que iam e vinham no seu rosto. Mas mais que isso, me permitiu encontrar uma pessoa boa, no meio de tantos desencontros.
Gestos delicados, palavras gentis e carinhosas, bom humor, é... aquela pessoa deveria ser mesmo especial. Mas basta que uma surpresa boa aconteça para que você logo se pergunte: mas será? Será real? Será verdade? Será que mereço?
E eu te respondo, com toda a certeza, você merece. E merece mais. Merece ser olhada daquela forma todos os dias da sua vida, receber todos os elogios do mundo, ganhar rosas e chocolates (sem se preocupar com as calorias que eles te trarão), receber serenatas e poesias com seu nome, ou deixar ser conquistada todo dia. Contudo, você só receberá isso, ou um terço disso quando achar que realmente merece. E para isso você precisa resgatar uma coisa simples e que vive esquecida na maioria das pessoas, o amor-próprio.
O resgate desde sentimento nobre, lhe permite ser nobre com outros sentimentos, inclusive com um bem famoso, um tal de amor, que você já deve ter ouvido falar.
E foi assim, resgatando meu amor-próprio, me deixei surpreender. Foi neste resgate que deixei de escolher, de tentar otimizar para simplesmente deixar acontecer. E foi nesse momento que fui escolhida.
- Eu escolhi você.
- Me escolheu? Como assim?
- Te escolhi pra te fazer feliz.
- Isso é uma promessa?
- Sim.
- Então vou te cobrar até o último dia da minha vida.

Engane Murphy e seja feliz!



“Se há duas ou mais formas de fazer alguma coisa e uma das formas resultar em catástrofe, então alguém a fará”, ou seja, se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível, já dizia o engenheiro Edward A. Murphy Jr., em 1949.
Remeto-me a Murphy novamente, pois, depois de publicar minha primeira crônica em um jornal, recebi e-mails de amigos que sugeriram algo menos pessimista ou até mesmo uma continuação da crônica com um final: felizes para sempre.
Depois de muitas decepções e desilusões pessoais comecei a ver a vida de outra maneira, com um olhar bem mais Murphy e bem menos conto de fadas, mas posso afirmar, sou muito mais feliz assim!
O fato de algo em sua vida dar errado, e da pior maneira possível é muito positivo, pois, se você consegue dizer que algo foi muito ruim é porque você tem algo muito bom que lhe sirva de referência, desta forma, a vida nunca será sempre um horror, ela será um misto de bons e maus momentos, de críticas e construções, de alegrias e tristezas.
Culpar Murphy é uma forma de ilustrar o quanto é mais simples continuar o ciclo de tragédias a rompê-lo, então aí vão algumas dicas para construir um final feliz para a sua história:
Se seu despertador faz um barulho ensurdecedor e te irrita todas as manhãs, compre um galo, acorde com o som da natureza, regresse ao mundo bucólico dos poetas franceses e sinta-se revigorado! Afinal, o galo não é cor-de-rosa, não quebra e pode acordar aquela sua vizinha chata que te irrita toda noite com o som alto.
Acabou de se levantar e levou um tropeção? Tudo bem, aproveite o quase tombo pra treinar aquele passo da aula de dança, saia girando pelo seu quarto, requebre até o chão na frente do espelho e siga para o banho.
O chuveiro está frio? O shampoo acabou? Sem problema, lembra-se do galo? Nos tempos bucólicos era muito comum banhos em tinas, e hoje eles são chiques e caros, à venda em clínicas de estética de todo o mundo. Esquente água e tome seu banho de “tina”, quanto ao shampoo, use o sabonete e depois capriche no creme para pentear, afinal essa invenção deve ter alguma serventia além de ensebar os cabelos.
Suas roupas estão sem passar, você coloca aquela blusa branca de sempre e consegue sujá-la antes de ir para o trabalho? Ok, não precisa se descabelar e nem tente limpar, porque não vai adiantar, o melhor é usar aquela blusa que você comprou ontem e estava guardando para o final de semana, garanto que sua auto-estima será elevada e o ciclo de tragédias será rompido instantaneamente.
Já ouviu falar em testar a paciência? Levar uma bronca no trabalho, ouvir um desaforo de alguém na rua, ou receber um café frio de uma cantina são ótimas oportunidades de fazê-lo. Teste seu poder de fingir que entende, ouça e finja que não ouviu, e finalize com um sorriso bem amplo e um muito obrigado! Você vai ver como as coisas melhoram. A melhor vingança para um desaforo é a indiferença, ela causa incômodo porque mostra que você é muito melhor e mais importante que qualquer palavra mal-educada.
Tomar um banho de chuva forçado porque esqueceu o guarda-chuva não é o fim do mundo, aproveite pra sentir cada pingo em sua pele, ouvir o barulho das gotas caindo em cada estrutura, respire fundo, sinta o cheiro da terra molhada e cante: “I’m singing in the rain; Just singin’ in the rain; What a glorious feeling; I’m happy again…”.
E quanto ao atraso, bem, ele é constante na vida de muitas pessoas, atrasar-se, perder um ônibus, ter que esperar 30 minutos em um terminal, ou em uma estação rodoviária, pode ser algo muito enriquecedor. Outro dia mesmo estava em São Paulo e enquanto aguardava meu ônibus no terminal rodoviário, pois tinha perdido o anterior, uma mulher sentou-se ao meu lado, abriu um livro e continuou a lê-lo, quando concluiu a última página me olhou e disse: Que lindo! Quero te dar esse presente hoje, leia isso aqui.
Eu li, e era a última página do livro “Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres”, do autor Augusto Cury, e aquelas palavras me marcaram, talvez porque era o dia do meu aniversário e estava sozinha em uma cidade estranha depois de prestar um concurso público, ou simplesmente pelo fato de ter aprendido algo mais naquele dia. Quando aquela mulher se levantou e despediu-se ela não disse até logo, ela disse: uma feliz vida para você. Obrigada, eu disse, e sorri.
Assim, finalizo com a seguinte reflexão, as coisas sempre podem piorar e a intensidade dessa situação irá depender da sua imaginação e dos seus atos, da mesma forma que um simples sorriso, uma piada sem graça ou o cantarolar de uma música pode quebrar o ciclo de tragédias e deixar tudo melhor. Afinal, ao contrário do que diz aquele ditado ridículo, eu acredito que “se melhorar, melhora” e não estraga como dizem por ai...Então, crie seu final felizes para sempre e carpe diem!

Sim! Murphy é meu amigo!



Tem dias que você se levanta da cama e pensa: “Ah não! Eu estou viva!”.
São nesses dias que – você pode apostar, as coisas não vão andar como o esperado. E não vai adiantar culpar Murphy, nem suplicar ao Saci ou ao Santo Expedito por uma maré de boa sorte, pois, com toda certeza, ela não virá.
São nesses dias que você acorda como um zumbi, pedindo mais 5 minutos na cama, mas seu despertador cor-de-rosa não para de tocar e, quando você gentilmente lhe dá uma leve pancada para encerrar aquele bip-bip ensurdecedor, ele cai, e não feliz com a queda, se quebra, se esborracha, ponteiro de cá, pilhas de lá, e...Parabéns! Eis seu primeiro prejuízo.
Mas você não desanima e pensa: “Calma! O dia está só começando”. Levanta-se, tropeça no chinelo que estava virado, vai com muito sacrifício ao banheiro, liga o chuveiro, percebe que a água está fria, mas como não deve fazer mais do que 11°C lá fora, se “anima” e toma seu breve banho assim mesmo, pega seu shampoo preferido e percebe que não tem mais nenhuma gota, lava o cabelo com o sabonete mesmo, desliga o chuveiro e sai do boxe. Então, percebe que esqueceu a toalha.
Ótimo! Pneumonia à vista. Você sai correndo molhada do banheiro direto para a área de serviço, toma a friagem dos 11°C no corpo não muito quente, já que a água estava fria, pega a toalha no varal e diz um “bom dia” muito sem graça para sua vizinha que estava no bloco ao lado estendendo roupa e provavelmente não achou nada interessante te ver sem roupa da varanda dela logo pela manhã.
Mas, você é uma mulher moderna, e não é uma situação constrangedora ou um despertador quebrado que vai te aborrecer certo? Certo! É preciso muito mais do que isso!
Assim, você coloca sua roupa mais batida, porque a melhor está sem passar no armário, coloca um tênis porque usar salto em um dia desses seria abusar da sorte e vai tomar seu café da manhã. Outro erro! Em dias assim, os utensílios domésticos são nossos inimigos, mas como você não precisa mais do que um copo de leite para sair de casa, se anima e abre a geladeira, tira a caixa de leite, leva até a mesa e abre a lata de achocolatado, enche uma colher e despeja...na mesa! “Ai que raiva!”. Calma, respira... tudo bem, outra colher, desta vez mais cheia e no copo, adiciona o leite e bebe. É neste momento que você percebe que nestes dias a coordenação motora fica visivelmente abalada, e o copo erra a boca, cai leite dentro do seu nariz, pelo seu pescoço e claro na sua blusa, batida, mas branca.
Ok, vai para a pia do banheiro e tenta disfarçar o ocorrido...tsc,tsc...isso nunca vai dar certo. Troca de roupa e nota no relógio atrasado da cozinha que você está MUITO atrasada!
Sai de casa correndo, com a bolsa, a pasta e mais um casaco na mão, desce as escadas, fecha a porta do hall, coloca o pé na rua e percebe que o tempo não está nada bom, mas se você subir e pegar o guarda-chuva com certeza irá perder o ônibus. É melhor ir sem mesmo.
Um quarteirão, dois, três... cabrum! Quatro, cinco... raios.. seis, sete... cabrum! Oito e chuáaaaaa! Água para quem quer! Uma chuva torrencial desaba, bem em cima de você! Então você pensa: “Merda! Devia ter pegado o guarda-chuva” e pensa também: “Ainda bem que troquei a blusa branca (será que é isso que aqueles ridículos ditados querem dizer? “Toda vez que se fecha uma porta, uma janela se abre”; ou, “Deus escreve certo por linhas tortas”, ou ainda, “Ele sabe o que faz!”). Então, você se lembra dos caçadores de mitos e escolhe não correr, porque diz a lenda que assim você vai se molhar menos... continua andando, nove, dez, onze quadras... Pois é, correndo ou não, você já está como diria minha avó: como um pinto molhado!
Chega no terminal, o bilhete encharcado se recusa a entrar na máquina (lembra do que disse sobre utensílios domésticos?), mas você é persistente, tenta, tenta e observa seu ônibus chegando, chama o fiscal e pede ajuda. Ele diz para trocar o bilhete, os passageiros descem do ônibus, você na fila para trocar um mísero bilhete molhado, os passageiros sobem no ônibus, você consegue trocar o bilhete, passa na catraca e dá adeus ao seu ônibus, que passa bem na sua frente. Resultado: 2 minutos de atraso, e mais 25 minutos no terminal até chegar a próxima condução.
Pelo menos você terá tempo para se secar, pensa. Senta no primeiro banco que vê, quase bate os dentes de frio, mas persiste, vai até a cantina comprar um café e te dão um BEM frio. Você não reclama, afinal, num dia desses reclamar traria más vibrações, energias negativas, e você não gostaria disso não é?
O ônibus chega, você senta e lá vem um cidadão alcoolizado e joga-se, bem do seu lado. Pior que as besteiras que ele diz e os versos das músicas que ele enrola, é o cheiro de álcool. Pelo menos ele não deve estar com frio, mas que está muito chato, ah isso está.
Então, você tira um cochilo para esquecer o colega de viagem, e advinha? Passa do seu ponto! Você desce do ônibus correndo, quase é atropelada no meio da avenida, porque seu tênis simplesmente resolveu se desamarrar, chega no trabalho e já leva um “toco” do chefe por causa do atraso, mais 5 minutos e outro toco, dessa vez você nem imagina o por quê, mais duas horas e aquele monte de gente à sua espera, você coloca um sorriso no rosto e atende, mil solicitações, uma pessoa, meio computador – porque a impressora está sem tinta há séculos: “Vamos lá meu querido, liga logo, isso! Não, não é esse arquivo que pedi para abrir, é o outro!” Puf! Desliga tudo e reinicia, sozinho! (Mais uma vez, lembre-se do que disse sobre as máquinas e utensílios de cozinha nestes dias...). Então, você pensa.. “É, desgraça pouca é bobagem...”.
Mas, tudo bem, logo seu dia acaba e você volta para a segurança do seu lar. Faltando 5 minutos para ir embora o telefone toca, você até pensa em não atender, mas sua ingênua, boa e boba consciência não deixa. Atende o telefone, é um cliente chato que fica mais de 40 minutos te perguntando mil coisas sobre algo que ele nem sabe o que é. Você fala, fala e ele não entende absolutamente NADA. Resultado, você perdeu seu tempo, sua paciência e seu ônibus, terá que esperar mais 30 minutos, mas tudo bem, você chegará em casa.
Entra na condução lotada, vai em pé, no sacolejo leva uns cutucões daqui e pisões dali, mas resiste. No meio do caminho o ônibus simplesmente bate de leve em um carro. “Eita maravilha! É hoje”. Coisa de 20 minutos até chegar ajuda e mais 20 até fazer o reparo, 40 minutos e você vê outro ônibus passando,e você ali, ainda...
Quase anoitecendo chega em casa, vasculha a bolsa em busca da chave e, advinha?! Não, não, não esqueceu no trabalho, perdeu mesmo, merda! Então, você percebe seu outro prejuízo, pega o celular, quase sem crédito liga no chaveiro 24 horas e ele diz que está fechado, sutilmente você solta um palavrão, liga para outro chaveiro e pede humildemente para ele vir te auxiliar, ele diz que se der tudo certo daqui uns 40 minutos ele chega. Ótimo, 40 minutos e eu aqui, com o tênis ainda encharcado, com uma fome de leão e sem um mísero tostão no bolso. Ok, o chaveiro chega, abre as duas portas, te cobra um absurdo e isso faz você lembrar dos míseros tostões que não existem no seu bolso, pede para ele aguardar, vai até o caixa eletrônico, tenta fazer um saque, mas a máquina reinicia bem na sua frente (fiquem longe das máquinas em dias assim!!). Você pega o telefone do lado da cabine e xinga uma mulher que você nunca viu na sua vida e que toda hora erra o seu nome, e xinga a mãe dela também em pensamento, mas depois se acalma e vê o dinheiro saindo... saiu. Você corre em casa, paga o chaveiro que estava lá com aquela cara de pouquíssimos amigos à sua espera.
Finalmente sobe as escadas correndo, morrendo de fome, abre a geladeira e vê que aquele último pedaço de bolo que você tanto queria, já havia sido devorado por alguém. Ótimo, você pode fritar um ovo e comer com pão, quebra o ovo e advinha? Podre! Eca! Cheiro que se espalha pela casa...outro e aí sim, pão com ovo e no forno pão-de-queijo... mas que demora! Demora, demora... você vai dar uma olhada e advinha? Isso mesmo, o gás acabou, mas que hora para acabar um gás (se bem que é óbvio que o gás vai sempre acabar quando você estiver cozinhando, se fosse de outra forma, nunca saberíamos, não é?). O jeito é se contentar com o pão e ovo mesmo.
Liga a TV (apenas mais um eletrodoméstico na sua vida) mas por causa da chuva, a sintonia está péssima, resolve dormir, afinal o dia já tinha sido cheio demais.
Levanta do sofá, vai para o quarto, coloca o pijama, deita na cama, ouve um bip-bip ensurdecedor e pensa...só mais 5 minutinhos! Que sonho terrível!