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sábado, 22 de novembro de 2008

Papa o quê? Gaio!


Andar de ônibus não é a melhor coisa do mundo, principalmente às sete horas da manhã, após ficar quinze minutos em uma fila e logo em seguida perceber que aquela pessoa que estava atrás de você conseguiu viajar sentada e você não.
Mas isso não acontece sempre, no máximo cinco vezes por semana, especialmente nas quartas e quintas-feiras, que creio eu, sejam os dias em que as diaristas são mais procuradas. Afirmo isso porque a linha que uso para ir trabalhar passa por um dos maiores condomínios da cidade, o ônibus sai abarrotado do terminal, e lá se esvazia, como se fosse mágica!
Bem, dia desses, quando me adiantei e pude ficar vinte minutos em pé na fila e finalmente conseguir meu lugar ao sol, digo, no ônibus, presenciei uma conversa no mínimo animada.
Sei que é falta de educação ouvir a conversa dos outros, mas neste caso foi impossível não ouvir, por três motivos em especial: meu mp3 estava sem bateria, a pessoa que viajava ao meu lado estava dormindo e principalmente pelo tom de voz e gargalhadas que me chamaram a atenção para o assunto.
Sentei-me nas primeiras poltronas e logo atrás de mim duas diaristas conversavam animadamente. Não me atrevi a olhar para trás e identificar seus semblantes, mas pela voz consigo imaginá-las. Aliás, esse é um exercício que gosto de fazer, escuto a voz das pessoas e crio uma imagem delas na mente, depois olho para ver a realidade, já me surpreendi tantas vezes que não posso afirmar se são reais ou não, mas tentarei descrevê-las pelo que pude ouvir.
Umas delas tinha a voz bem aguda, e uma risada contagiante, imagino que seja baixa, cheinha, de cabelos compridos e presos em um coque. A outra falava e ria baixinho, creio que era alta e magra, cabelos crespos e rosto tímido.
A conversa começou com notícias rotineiras e a programação do final de semana, afinal, já estávamos em uma quinta-feira, até ai tudo bem, mas o que me chamou a atenção foi o seguinte diálogo:
- Qual será a novidade de hoje hein?
- Ah não quero nem saber. Da última vez ela me apareceu com um papagaio!
- Papa o quê?
- Gaio!
- Verdade?
- Juro por Deus! Minha patroa tem cada idéia...
- E você cuida do bicho?
- Eu cuido de tudo lá, tenho que cuidar do papagaio também. No começo não gostava não, bicho esquisito, soltava um monte de penas, fazia uma sujeira danada e ainda me bicava, me rasgou duas blusas!
- E a patroa te deu outra?
- Até parece! Ela riu.
- E você?
- Ri também ué...vou fazer o quê? Mas cheguei a imaginar o bicho depenado e bem fritinho! Com uma cervejinha hein?!
Nessa hora as duas gargalharam muito, a ponto de perceber por suas sombras que chacoalhavam o corpo. Só pararam de rir quando uma das duas perguntou:
- Mas o papagaio ainda te bica?
- Não, agora somos amigos! Ele até conversa comigo. O danado é esperto que só vendo! Toda vez que a gata deles pega algum passarinho ele grita, grita até que eu apareça. Então tiro o bichinho da boca da gata e ele ri bem alto.
- E a gata?
- Me unha e depois corre!
- Mas você não tem sorte com esses bichos não hein?!
Novas gargalhadas e um suspiro bem fundo. O ônibus se aproximava do condomínio:
- É... chegamos.
- Pois é, a melhor parte do dia acabou.
- E não é mesmo?
- Vamos ver qual será a novidade de hoje.
Que seja uma novidade agradável e que lhes mostre que o dia pode ter coisas bem melhores do que uma conversa no ônibus, pensei.
Não tive coragem de olhá-las e conhecer seus semblantes, preferi guardar a impressão que tive durante a conversa, e eternizar aquele momento e aquelas gargalhadas neste texto.
Passei o resto do dia pensando naquela fala, e na diferença que existe entre nossos interesses e realidades. Os valores e prioridades de uns nem sempre são os mesmos de outros. Eu mesma, nunca gostei de viajar naquele ônibus lotado às sete da manhã e para aquelas duas mulheres essa era a melhor hora do dia.
Fiquei imaginando que a minha melhor hora do dia poderia ser um sonho para elas ou simplesmente nada significar, mas sabe o que mais me inquietou? Não consegui definir qual a melhor hora do meu dia... Será que você poderia sem pensar dizer qual a melhor hora do seu?Creio que já está na hora de retomar meu otimismo e voltar a sentir prazer nas pequenas coisas da vida, estas sim nos enchem de esperança e nos permitem um recomeçar melhor, um viver melhor. Afinal, melhor rir e papagaiar do que chorar, não acham?

2 comentários:

Anônimo disse...

Bem, ninguém comentou aqui mas eu vou comentar!!! Gostaria de dizer que sempre fico encantada com a forma com que episódios cotianos são transformados por você em grandes reflexões!!! Mas tenho uma objeção... a pessoa ao seu lado não estava dormindo não!!! Hehe!!! Ela também ouviu a papagaiada, mas não se comoveu e nem refleitu sobre o fato, assim como você o fez! E lendo a sua crônica parei para pensar na forma como o dia a dia tem me tornado uma pessoa insensível e rasa!!! Mas os seus textos amiga... e o convívio com você acima de tudo, tem me ajudado a me resgatar, e recuperar em mim a possibilidade de me inquietar e refletir diante de situações como a que presenciamos!!! Obrigada!!!!

Taline Libanio disse...

Oi Fer...
Amiga, fiquei emocionada com seu comentário!! Escrever, significa rever meus valores e sentimentos a cada palavra, a cada frase. Meus textos me mostram o quanto somos vazios, sem sal ou açúcar em tantos momentos de nossas vidas. Fico muito feliz que estas palavras tenham te trazido algum significado, uma reflexão.
E o prazer de conviver com você é todo meu, tenho o dever de manter bem perto uma pessoa maravilhosa como você.
Obrigada pelo seu sorriso, pelas gargalhadas e por essa amizade sincera!
PS. Objeção aceita!Rs..Mas eu precisava encrementar o texto, entende né?rs.