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sábado, 1 de novembro de 2008

A resposta


Eram os primeiros dias da primavera, mas o vento forte e frio deixava o amanhecer com cara de inverno. As árvores já mostravam sua folhagem nova, verdinha, verdinha, algumas arriscavam pequenas flores coloridas que encantavam o olhar dos transeuntes. O vento soprava fundo, assoviava alto e quase levava as árvores de um lado a outro como pêndulos de um relógio antigo.
Naquele dia em especial observou pela janela do quarto e viu o balançar das árvores, decidiu tirar a blusa cor-de-rosa e colocar uma branca com gola alta, escolheu o casaco preto com capuz e um cachecol colorido. Saiu sem lenço, nem documento. Era seu dia de folga, pensou apenas em caminhar, por horas se fosse necessário, até que encontrasse a resposta.
Caminhou por alguns minutos até a margem do rio, debruçou-se na beira e respirou fundo. O ar não era puro, nem o cheiro muito agradável, mas sentiu-se livre, como há muito não se sentia. Continuou a caminhar e sentia seu rosto cortando com o vento, pensou em voltar mas não teve vontade suficiente, continuaria até onde fosse preciso.
O sol escondeu-se entre as nuvens escuras e algumas gotas respingaram sobre sua pele, não era o melhor dia para tomar chuva, afinal o frio era real, contudo, não voltaria para casa por motivo algum naquele dia, não enquanto não encontrasse a resposta.
A chuva parou. Sentou-se na grama verdinha de um campo próximo dali e olhou para o alto, as nuvens iam e vinham, mudavam de cor bem na sua frente apresentando e escondendo o sol. Lembrou-se dos últimos dias. Novamente tentou entender e não conseguiu.
Viu duas crianças se aproximarem correndo, uma delas tinha linha na mão, a outra olhava para o alto, estavam soltando pipa. Outro garoto chegou logo em seguida, sem linha ou pipa, no alto dos braços levava apenas o casaco aberto que ganhava forma com o vento, parecia outro menino sobre sua cabeça. Minutos depois ele soltou o capuz do casaco e o observou rodopiar pelo céu. Gira, gira, paira no ar como um pássaro. Ele abre a boca num largo sorriso. Os outros garotos olham e sorriem, correm em busca do capuz, que é levado para longe com o vento. No mesmo instante o capuz do casaco preto é colocado sobre a cabeça, a imaginação pára, volta a sentir o frio e a tentar entender, mas ainda não consegue.
Depois de algumas horas decide retornar, tira o capuz e solta o cachecol colorido. O vento a surpreende e carrega o cachecol, lânguido e leve voa alto, mais alto que o capuz. Colorido, parece um mar de borboletas. As crianças voltam e tentam resgatá-lo. Ela simplesmente olha.
O cachecol na mão dos garotos transforma-se em capa de super-herói, vira um turbante e uma venda para cabra-cega, serve também para esconder o pescoço do frio, mas do que isso importa? Enfim descobrira a resposta. O sol surgiu.
Naquele instante descobriu o sentido para muitas coisas, entendeu a explicação para tantas outras, descobriu que para se obter algumas respostas não são necessárias perguntas, percebeu que as respostas sempre estão a nossa disposição, basta escolhê-las, basta querer enxergá-las, descobriu isso bem ali, naquele campo, num dia frio, através do sorriso puro daquelas crianças ao brincar com aquele cachecol colorido.

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