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segunda-feira, 11 de março de 2013

Labirinto



"(...) O amor é um sentimento tão difícil de explicar
É um labirinto
Só pode a cada dia complicar"
(Labirinto - Guilherme Arantes)

Passei por dias complicados nas últimas semanas. A isso atribuo minha ausência nesse espaço e na vida comum, visto que meus dias se resumiram a cama, banheiro, cama e sopinha da mamãe.
Caminhava tranquila para o trabalho, quando notei que algo estava errado. Os carros se moviam de forma estranha, as pessoas pareciam me rodear e o chão estava decidido a sair debaixo dos meus pés a cada passo dado.
O resultado foi quase uma queda no meio da rua, o amparo de desconhecidos até uma farmácia e a busca desenfreada por alguém que pudesse ajudar a recobrar meu eixo.
Fui socorrida por amigas. Levada até o pronto socorro e ali, onde achei que estaria segura, vivenciei um verdadeiro show de horror. Convém ressaltar que o pronto atendimento onde fui levada não era do temido Sistema Único de Saúde – SUS, fazia parte de um conceituado Hospital, pago pelo meu (caríssimo) convênio.
Depois de quase sofrer um desmaio, estar totalmente zonza, enjoada e com medo, afinal nunca tinha sentido nada parecido antes, me colocaram sentada em uma cadeira dura de plástico, enquanto uma enfermeira me assustava ainda mais, picando meu dedo para medir a glicemia e anunciando que minha pressão arterial estava muito alta.
Depois de longos quinze minutos, uma médica, com carinha de recém formada me perguntou o que eu tinha e após ouvir minha confusa explicação disse que pediria uns exames e me daria um remédio para o enjôo e para estabilizar a pressão.
Precisei esperar quase quarenta minutos para ter a medicação ministrada, momento em que finalmente me deixaram deitar em uma maca e aguardar o resultado dos exames.
Enquanto aguardava vi um garoto entrar com a mão ensanguentada após sofrer um corte no dedo. Uma mulher entrar urrando de dor e se jogar no balcão de atendimento. Um senhor discutir com o enfermeiro, devido à demora de atendimento da sua filha. Uma criança chorar o tempo todo com medo da injeção que posteriormente atingiria seu bumbum. Uma mulher avisar o enfermeiro que precisava vomitar e ter um lixo dado por ele para que ela o fizesse, bem ali, no centro do pronto atendimento. Enfim, um verdadeiro inferno na Terra.
O ponto crucial foi o segurança entrar correndo e pedir uma maca para socorrer um jovem que havia desmaiado e duas auxiliares de enfermagem decidirem no par ou ímpar quem pegaria a cadeira de rodas para buscar o garoto. Enquanto a perdedora trazia o menino, branco feito papel, a vencedora ficou incumbida de encontrar um leito vazio para acomodar o paciente e advinha só quem teve que voltar para a cadeira dura de plástico?
Pois é. Fui tirada do leito e deixada por mais quarenta minutos sentada, com um soro grudado no braço, até que finalmente tive o resultado dos meus exames.  Nesse período pensei no quanto é delicado o fato de precisar de auxílio, de depender de alguém para estar bem e descobrir que você está bem longe de ser o centro da preocupação da maioria das pessoas.
Estar doente significa estar vulnerável, impedido de realizar funções básicas, como andar no meu caso e o apoio esperado, necessário inclusive, por vezes passa bem longe, como ali no caos do pronto socorro. Se comigo foi assim, imagino quem depende do SUS e precisa ficar horas em uma fila até conseguir ser olhado. Olhado mesmo, nem digo consultado, porque no dia em que passei mal fui tratada como um número de leito, não era um rosto, não tinha nome, nem desejos e sonhos, era só mais um paciente em busca de socorro.
Confesso que passar quatro horas naquele lugar me deixou mais doente. Continuava zonza e me sentindo bem pior do que quando havia chegado. Depois dessa longa espera fui levada até o consultório, onde a garota com cara de médica, digo, a médica com carinha de garota, me tranquilizou ao dizer que minhas taxas sanguíneas estavam ótimas, sem alteração. Confesso que essa informação me deixou realmente muito aliviada, visto que o tema do momento na grande cidade é o surto de dengue, que provocou a morte de um adolescente recentemente.
Mas e aquela tontura que não passava?! Para dar um jeito nisso, a médica me deu um encaminhamento para outro médico, um otorrinolaringologista, dizendo que provavelmente poderia estar com labirintite. Dito e feito. Feito os testes e comprovada minha total ausência de equilíbrio, fui orientada a ficar deitada, tomando alguns remédios por no mínimo cinco dias, até que pudesse recobrar meu centro.
E hoje, estou aqui, um pouco mais equilibrada, ainda em busca do meu centro, mas 90% melhor do que há 15 dias. Aproveitei esse “descanso” forçado para repensar minha vida, meu trabalho, meus desejos e descobri que estou mesmo em um grande labirinto. Ainda não descobri a saída, são muitas perguntas sem respostas, mas o que me conforta é que sempre existe uma luz no fim do túnel, basta encontrar a saída para avistá-la...

3 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 02/03/13.

Aguardo comentários! :)

Marina disse...

Que ótimo chegar a conclusão que está num labirinto, pois isso significa estar viva,viver é, entre tantas coisas buscar respostas, saídas, começar e recomeçar o caminho, sem encontrar o fim. Com essa postura foge do perigo de ter certeza sempre. Este texto me remete ao labirinto de Ariadne.................

Liana Morisco disse...

Muito bom o texto!!! Gostei muito da metáfora do labirinto, acredito que muitos se sentem assim também, em busca de saídas e soluções lógicas!!! Mas um fato que com certeza me ergueu os olhos, foi o fato de não ser o SUS. Principalmente porque depois de um pouco mais de 2 anos trabalhando na saúde e vendo reclamações muito menores do sistema público de saúde, só prova o que tenho presenciado, que o problema não é o serviço de saúde público, mas sim a falta de comprometimento e humanismo dos servidores da saúde!! E se precisar de qq coisa conte comigo viu!!! Bjs