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domingo, 22 de abril de 2012

Cinco é muito pouco...



“Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira” .
(Johann Goethe)

Quinta-feira, oito da noite, dia frio apesar do tímido outono, chego em casa depois de um dia cansativo mas extremamente gratificante de trabalho e percebo que a ventania do dia anterior deixou bem mais do que uma vidraça trincada em minha vida, bagunçou com força minha mente e meu coração.
O pensamento fixo nas palavras da tarde anterior ia e vinha me lembrando constantemente que alguma decisão precisava ser tomada. Abro a geladeira, me empanturro de um doce em caldas feito pela minha mãe e não contente abro uma cerveja e tomo, devagar, gole a gole, brindando às conquistas do dia e pedindo coragem para novamente deixar de ser covarde.
Nem me lembro da última vez que tinha tomado uma cerveja sozinha em casa, especialmente em uma quinta-feira. Não é um hábito, mas às vezes é bom para relaxar, para engolir a solidão e olhar para dentro do caos que se instalou dentro do meu peito há quase dois meses.
Confesso que receios misturam-se a anseios e me fazem ter medo do sim e do não. Medo de arriscar e novamente me ferir, medo de recuar e me privar de algo bom. Cada receio um anseio. Cada medo um segredo. Cada segredo uma espera. Espera de um desejo sem fim que provavelmente nem exista mais, mas que permanece guardado em algum canto da minha alma e constantemente se apresenta sem pedir licença, fazendo questão de lembrar-me da sua existência.
Afirmei no meio da ventania da tarde passada que escrevo tudo o que preciso ouvir. O ouvido mais próximo é o meu, são meus olhos que leem as palavras inéditas e as assimilam, são eles capazes de me fazer sorrir ou chorar a cada ponto final, a cada reticências.
Minhas reticências chegaram ao fim. É hora de tomar uma decisão. Não me resta mais espaço para o talvez, para minha insegurança, para meu medo. A decisão tomada não terá volta, mas mudará com certeza o rumo dos meus rotineiros dias.
Enquanto escrevo procuro colocar os prós e contras na balança e mais uma vez me deparo com meu pavor de relacionamentos. Como uma garota romântica que desejava casar de véu e grinalda, e ter pelo menos três filhos hoje se tornou uma mulher que se apavora ao menor sinal de que um novo compromisso se aproxima? O que fizeram com minhas ilusões de adolescente? Onde as escondi?
A verdade é que parece que nunca estou feliz. Por vezes sou exigente demais, por outras flexível demais. Uma hora não dá certo porque não existe reciprocidade da parte dele, outra hora porque eu não consigo me envolver. Tem dias em que coloco um ponto final por não ter surgido o pedido de casamento e em outros porque me assustei com um pedido inesperado. O que está acontecendo? Alguém saberia me explicar?
Depois de terminar a cerveja e voltar para o texto me lembrei de uma palestra que assisti recentemente, dada pelo Professor Marins onde ele focava constantemente o poder do tempo em nossas vidas.
Que o tempo é meu grande inspirador não é segredo algum, pelo seu excesso, falta ou transformação já me rendeu inúmeros textos e reflexões, mas confesso que alguns pontos de vista abordados por ele não haviam me chamado a atenção até agora. Dizia o professor:
O tempo, dividido por nós em três partes só é alvo de nosso domínio em uma delas. O minuto passado não nos pertence mais, o minuto futuro ainda não nos pertence, a mim resta apenas o agora, o já, que passa na mesma velocidade, esteja você, feliz ou não, realizada ou não.
Acontece que vivemos 70% dos nossos dias no passado, cultivando dois sentimentos complexos: a culpa (Por que não fiz diferente, por que não fiquei com ele, por que mudei de trabalho, por que não me arrisquei, por quê, por quê, por quê?...) e a nostalgia ( Tempo bom era o da infância, ah! Bom mesmo foi aquele verão, queria ter quinze anos novamente...).
Os outros 25% do nosso tempo vivemos no futuro, alimentando dois sentimentos ainda mais complexos: a ansiedade (Será que vou conseguir, será que vai dar tempo, será que sou capaz, como vai ser?) e o devaneio (Se eu tivesse me tornado engenheiro, se eu não tivesse me casado, se eu tivesse nascido rico, se, se, se...).
E sabe o que resta para o agora? O único espaço de tempo dominado por nós? Restam apenas 5% do nosso tempo para investir no agora, no único espaço de tempo capaz de realizar nossos devaneios, amenizar nossa ansiedade, reparar nossa culpa ou superar nossa nostalgia.
Quando escutei isso pensei: mas não é que é verdade?! E logo em seguida: Será que eu também vivo desperdiçando 95% do meu tempo? E não menos de um minuto depois: Sim, você desperdiça.
E hoje, novamente me vejo colocando prós e contras no papel, relembrando o passado e tentando adivinhar o futuro para decidir o meu agora. Quanto tempo perdido! Por que insisto em acreditar que com essa estratégia, de calcular friamente cada minuto, terei mais sorte do que se simplesmente optasse por vivê-los, um a um, intensamente?!
A verdade é que ficamos esperando momentos inesquecíveis, declarações inacreditáveis, príncipes encantados, prêmios de loteria e não nos permitimos viver a grandeza de um pequeno detalhe, a simplicidade das coisas banais e que apesar de raras não custam caro, basta treinar nosso olhar para encontrá-las.
Agora tenho a oportunidade de ser feliz, de ganhar beijos apaixonados, abraços demorados e ouvir diariamente o quanto sou especial por fazer parte da vida de alguém. Deixar isso tudo passar com receio de que as cicatrizes do passado retornem ou com o temor de que o futuro não seja tão colorido quanto almejo seria no mínimo burrice.
Desejo ser feliz sem pressa, morosamente. Desejo ser feliz agora e não só por cinco minutos, cinco dias, cinco anos ou cinco por cento... Desejo ser feliz já e integralmente porque cinco, ah...cinco é muito pouco!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Independência ou morte!


Tenho refletido bastante sobre minhas escolhas nas últimas semanas. Percebi que muito do que fiz, disse e senti não representavam minha vontade real, apenas parte de mim, do meu desejo de moldar o tempo e seus caminhos de acordo com meu querer.
Tentei recuar por algumas vezes, me mostrar apática e alheia a qualquer possibilidade de envolvimento e confesso que foi mesmo uma boa tática, recebi atenção redobrada, telefonemas diários, mensagens infinitas e promessas de encontros inesquecíveis. Tenho que confessar que tudo respaldado com um: “Cuidado para não se apaixonar...”. Mas cá entre nós, quem ligaria para este mero “detalhe” sendo alvo de tanta atenção?
Eis que cometi o primeiro erro. Apesar do discurso sinalizar um distanciamento, um não querer relacionar-se, meu coração de açúcar derretido (e queimado, diga-se de passagem), deixou-se novamente se envolver.
Quando percebi já estava amarrada pela ilusão de um novo recomeçar. Já acordava pensando no telefonema que receberia naquela noite e dormia contando os dias para rever aquele alguém que me fazia sentir tão especial.
Mas... E como sempre tem um mas, a postura dura, de mulher segura e independente que fazia tanto sentido para aquela situação, começou a dar lugar a verdadeira mulher que mora aqui...Independente sim, mas insegura, frágil ainda e decidida a não passar a vida toda sozinha. Alguém que não quer um romance de filme, mas não suporta mais um lance e já não é capaz de deixar os dias mostrarem o que pode acontecer ao menor sinal de desprendimento do outro lado.
O fato é que tanto homens quanto mulheres só começam a dar valor naquilo que perderam ou estão prestes a perder. Homens vivem dizendo que mulheres independentes são ótimas companheiras, mas que jamais se casariam com elas, pois são independentes demais, inclusive emocionalmente e tanta segurança os fariam sentir-se inúteis. Contudo, ao verem uma mulher demonstrar a menor dependência sentimental que seja deles, correm quilômetros dela, acenando perigo, pois não se sentem capazes de ofertar segurança afetiva a ninguém.
E por outro lado, as mulheres que demonstram sua carência afetiva, sua insegurança emocional, geralmente são “maltratadas” por homens insensíveis que se aproveitam desta fragilidade para fazer delas o que bem entenderem, utilizando principalmente o jogo do “chuta e agarra”, pois não querem suprir essa insegurança, mas não as querem independentes deles também. Já as mulheres seguras, sem dependência afetiva alguma, possuem grande dificuldade de encontrar homens dispostos a ofertar-lhes a única coisa que procuram: companhia e carinho.
Chegamos então a um impasse terrível... Homens insensíveis e mulheres carentes, ou homens em busca de um casamento (eu sei, é raro, mas ainda existe) e mulheres desacreditadas do amor, ou ainda mulheres independentes, mas inseguras e homens seguros, mas dependentes.
Acho que a palavra chave para definir esse problema é “dependência”. Dentre tantos significados para esta palavra alguns me chamam muito a atenção, entre eles: Sujeição e subordinação. Ser dependente de algo, ou de alguém é o mesmo que direcionar sua vida para aquilo. É precisar tanto da pessoa que tudo gira em torno das suas vontades, desejos e necessidades. Mas se pensarmos que enquanto estamos dependendo de alguém para ser feliz, para fazer uma viagem, para mudar de emprego ou cidade, para recomeçar, estamos deixando de fazer tudo isso, soa no mínimo ridículo, não é?
Se cada um ganhou uma vida todinha sua, com o livre arbítrio de escolher e renunciar ao que bem entender, por que precisamos condicionar nossa vida a algo ou alguém? Por que precisamos nos tornar dependentes de alguém para ser feliz? Por quê?
Entendo que seja saudável a busca por sentimentos nobres em nossas vidas, mas cometemos o erro de personificá-los. Querer amor, não significa depender do amor de alguém. Ter amor não significa subordinar-se ao amor de alguém. O amor está em toda parte e cabe a nós encontrá-lo e percebermos quando não será recíproco, quando não será amor, quando não será para sempre.
Depois de uma semana sem telefonemas e mensagens, que se findaram tão logo demonstrei minha insegurança afetiva, resolvi fechar mais um ciclo em minha vida. Peguei meu celular, procurei a letra D na agenda e corri a lista com calma, olhei aquele nome mais uma vez, com o cuidado de não visualizar demais o número e sem pensar duas vezes apaguei definitivamente a Dependência da minha vida.
De hoje em diante só quero o que for verdadeiro. Quero sentimentos nobres que durem mais do que uma estação. Quero palavras que não percam seu significado depois do quinto encontro. Quero compartilhar alegrias e lágrimas sem que para isso dependa de alguém para sorrir, sem que para isso precise da aprovação de alguém. Quero ser livre e independente para fazer da minha vida aquilo que eu desejar, aquilo que for o melhor para mim e para mais ninguém... Plenitude, acho que esse é o nome disso e se for, é isso que busco.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Coração birrento...


Já se passou tanto tempo, foram tantos nãos e tantas coisas por dizer, tantos sentimentos pela metade e tanta falta do que fazer que achei que já tinha passado. Mas algumas coisas nunca passam. Certos caminhos sempre se cruzam em um vai e vem desenfreado, dolorido, capaz de nos fazer cair do alto de nossa felicidade com uma simples palavra, nos lembrando a todo momento que no coração, definitivamente não se manda.
É como se ele apontasse o dedo no meu rosto e dissesse: mocinha, quem você pensa que é para me dizer a quem amar? Você acha mesmo que vou jogar esse amor fora só para te aliviar a alma? Nem pensar, aprenda a lidar com essa dor, porque o meu amor não abandono jamais.
E o tempo passa, nos faz acreditar que o amor morreu, se foi, que o coração birrento enjoou daquele sentimento desconfortável que ocupava espaço demais sem retribuição e o jogou para fora com toda força. No entanto, ele ali permanece, geralmente escondido atrás de uma paixão, de uma amizade, ou da esperança de conquistar um novo amor.
Então, quando menos se espera, lá está o coração, com os dentes cerrados, com o bico feito, agarrado aquele amor novamente e insistindo para que eu olhe para ele todos os dias. Corações deste tipo temem ficar sem amor e preferem guardar o maior deles, mesmo sem reciprocidade só pra ter o que segurar nos momentos de desespero. Corações birrentos são irresponsáveis.
Acontece que esse amor, que fica ali, a paisana, escondido, guardado, não nos deixa caminhar. Permanece alimentando expectativas, vontades, desejos e um gesto de carinho pode fazer com que ele saia de vez do armário e se coloque à frente de todos os outros sentimentos.
O problema é que ainda não inventaram um corretivo para coração birrento. Nem uma receita para que o amor fuja dessa posse desenfreada e procure outro lugar para viver. E quem sofre nessa guerra da razão e do coração é a gente.
Fazia tempo que não sentia a dor que senti essa semana. Tão forte que parece algo físico, mas na verdade, nada mais é do que o birrento coração recusando-se a se desfazer de um amor que continua a viver apenas dentro de mim.
Um amor que na verdade, sempre existiu apenas para mim, e é por isso que é tão difícil dele me desfazer, não teve história, não teve motivo, não teve um meio, nem um fim, só um início e como abrir mão desse sentimento sem nem tê-lo vivido?
É hora de chorar. Colocar as lágrimas para fora, distraindo assim o coração birrento enquanto o tempo se encarrega de sequestrar esse amor e levá-lo para bem longe. É hora de respeitar meus sentimentos e parar de insistir. É hora de aceitar que o meu desejo nunca será real e que sonhos de amor, infelizmente, só são suficientes quando sonhados a dois. E quando isso não ocorre, não há birra nesse mundo capaz de mudar o rumo de uma história...

domingo, 1 de abril de 2012

Surreal...


Acordei com a sensação de que ainda sonhava. É raro, mas às vezes isso acontece comigo e quando isso ocorre sempre fico com a sensação de que não pertenço a este mundo.
O sonho desenhou-se claro, colorido, cheio de aromas, gestos e sabores. Um sonho que desejava tanto tornar-se realidade, mas a cada dia que passa mais se distancia do meu plano de concretização.
Sonhar com outras pessoas envolve este tipo de risco. No sonho podemos viver tudo o que desejamos, mas acordar de um sonho com a lembrança é como cair de um muro bem alto, onde de um lado a realidade te apresenta a inverdade do que passou nas últimas horas e de outro a esperança inconsciente te abana, tendo o cuidado de soprar tudo, menos as lembranças do que viveu dormindo.
Era um campo florido e já me lembro de ter estado lá em outros sonhos. As flores soltavam grãos reluzentes, feito purpurina a cada passo, a cada brisa. O céu de um alaranjado quase rosa não se parecia nada com o azul daqui, mas me causava mais satisfação.
Olhei ao longe e percebi a presença dele, caminhava tranquilo, com as mãos no bolso da calça branca. A blusa de um azul claro reluzia seu sorriso que se abria a passos largos enquanto de mim se aproximava.
Cada passo dado causava um compasso no meu coração. Só de relembrar a cena, me chega a faltar ar. Aqueles olhos marejados guiando seus sentidos para perto de mim, os braços agora abertos me buscavam e eu só tinha força para sorrir enquanto naquele abraço me entregava.
Podia sentir cada toque do seu corpo ao me abraçar, os dedos um a um envolvendo meus ombros, os cotovelos juntando-se à minha cintura e a nuca roçando meu pescoço. Uma sensação de contentamento, de realização que me envolvia por inteiro. Meu corpo se arrepiou dos pés a cabeça.
Olhei para ele, com os olhos cheios de lágrimas e sorri. Foram poucas as palavras ditas, mas guardei-as como se fossem as primeiras e únicas.
- Como posso ter ficado tanto tempo longe de você?
- Então você também sentiu?
- O nosso abraço?
- Sim.
- Sinto sua alma tocando a minha toda vez que te abraço.
Cada gesto trazia de volta o encontro sereno de nossas almas. Almas perdidas, confusas, desencontradas, mas que ali, naquele plano, naquele espaço poderiam viver eternamente juntas.
Acordar de um sonho desses com o cheiro dele por perto, com a sensação dos braços pesados no meu ombro não me fez bem. Não é fácil aceitar que esse encontro é surreal, vive apenas no meu inconsciente, em outro plano que não é palpável a não ser no meu mar de esperanças.
Por outro lado, descobri que mesmo querendo, insistindo e tentando, não posso me desvencilhar daquela alma. Estamos ligados por outros laços, há tempos nos conhecemos e esperamos por um encontro e negá-lo, seria perder a oportunidade de esclarecer essa confusão, de finalmente entender se é amor, se é amizade, se é gratidão ou sentimento fraterno que me liga a ele dessa forma tão bruta e ao mesmo tempo tão sutil.
Já expressei meus sentimentos diversas vezes, tentei esclarecer esta confusão, mas tudo foi em vão. Não cabe a mim, nem a ele tal missão. Hoje já não tenho coragem de dizer-lhe o quanto ele fez parte dos meus pensamentos neste dia, nem do quanto precisava tê-lo visto logo pela manhã...
Contentei-me em deixar uma mensagem simples, mas que para mim significava muito mais do que o anúncio de um sonho, significava mais um capítulo do nosso encontro, desta vez em um momento surreal: “bom dia, sonhei com você...”.