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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Eis o meu segredo...


Sai da academia radiante. Criei coragem de subir na balança depois de longos quarenta dias de exercícios regulares e quase não acreditei quando vi os ponteiros diminuindo.
Quase três quilos. Um recorde. Principalmente para mim que continuo comendo bem e já passei dos vinte e cinco. Como disse uma das professoras que me monitora: é a operação carnaval.
E é claro que emagrecer um pouco para entrar em um biquíni durante o carnaval na praia não é má ideia. Mas mais do que estar mais enxuta para o carnaval, me alegro por ter fôlego para subir o morro de casa sem nenhuma paradinha, e pela disposição para encarar as semanas, cada vez mais longas.
Não sinto mais dores nas pernas, meus pés não incham mais, consigo caminhar por mais de três quilômetros em um ritmo razoável sem colocar a língua para fora e ainda recuperei parte do meu guarda-roupa. Isso não é incrível?
Com certeza alguns de vocês devem estar pensando que além de entrar na academia sofri uma lavagem cerebral, afinal nunca fui fã de malhação e sempre defendi as gordinhas com toda veemência, coisa que garanto não mudou, assim como minhas convicções. Contudo, tenho que admitir que adquiri um novo olhar pela prática de exercício físico.
Meus amigos educadores físicos na certa ficarão orgulhosos de mim, afinal, sempre fui a primeira a levantar a bandeira do sedentarismo e abominar o culto ao corpo.
Mas depois da prática de esportes entendi que ter um corpo legal é só mais um detalhe, o bem estar que o exercício me provoca, a possibilidade de extravasar minha raiva numa aula de boxe, de renovar a mente na aula de yoga, de suar toda a raiva na esteira e ainda dar muita risada com os novos amigos que encontrei, isso sim é que faz toda a diferença.
Não entrei na academia para ficar magra, até por que gosto da minha silhueta e não quero que ela se transforme em um monte de pele e ossos, claro que queria perder um pouco de peso e isso já estou conseguindo, mas confesso que o que mais queria já consegui, me sinto saudável.
Corpo são, mente sã. É tão bom me sentir assim... Hoje, tive o prazer de conseguir transformar todas as preocupações do trabalho e pendências em suor e então pensei: por que não divulgar esta proeza?
Não estou dizendo que todos precisam entrar na academia e ficar suando até sumir, mas sim que é importante fazer algo que lhe dê prazer. Não gosta de esportes, faça aula de pintura, de fuxico ou jardinagem. Não tem dinheiro para fazer natação, faça uma caminhada com o cachorro ou um amigo bom de papo. Não gosta de esportes monótonos, faça trilhas ou um piquenique com a família. Não quer sair de casa, cante ou fotografe a vista da sua janela... É disso que estou falando: mente sã, corpo são.
Quando estamos de bem com a vida, ficamos bem com os que estão ao nosso redor e torna-se muito mais fácil olhar no espelho e dizer: caramba, você está bonitona hein?!
Acho que demorei para descobrir o elixir da longa vida...E hoje consigo entender perfeitamente todas as mulheres que mesmo acima do peso usam macacões justos e colados durante as aulas na academia e os homens que ficam olhando os braços nos espelhos de um lado e de outro.
A felicidade, aquela real e perene, está nos detalhes, no caminho e não no fim. Perder peso é só um passo, o importante é a movimentação, é sair do estado de conforto e provocar uma mudança, de preferência interna, pois com certeza ela transbordará.
O essencial, já dizia Antonie Saint-Exupéry, é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração.
Dias repletos de pensamentos sublimes, de realizações e de matrículas em novas atividades é o que desejo a todos nós!

Ilustração de: Gabriel Vicente.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Uakti


A semana que se encerrou foi repleta de surpresas. Mudanças inesperadas, respostas mal trocadas e muitas perguntas sem resposta. Há quem diga que a vida é assim e ponto final. Há quem diga que a vida nos faz assim e ponto e vírgula. Há ainda, quem nada diz e faz da sua vida um emaranhado de reticências.
Nunca fui de não falar. Falo muito, pelos cotovelos, desde criança. E nem sempre me dou bem com minha tagarelice, por isso o tempo me ensinou a ser ponderada e a escutar mais do que falar, especialmente quando não se tem certeza do que se quer dizer, ou do tornado que uma palavra dita aqui pode causar no outro lado do mundo.
A mudança da última semana refletiu-se na vida de muitas pessoas, não só na minha e tenho que admitir que algumas consequências da transformação ainda não são evidentes, outras me assustam. O murmurinho geral me fez calar. Ouvir mais, respirar fundo e tentar entender todos os 28 lados da história que hoje para mim, ainda não faz tanto sentido.
Acontece que em um desses momentos de abstenção e escuta tive o prazer de ouvir uma história que me trouxe de volta a vontade de enxergar algo bom em tamanho incômodo. A lenda foi narrada por uma pessoa que transborda calma e acolhida, fiquei paralisada até a última palavra e por fim um arrepio invadiu meu corpo e me indicou a necessidade de transformar a incerteza em esperança, e é isso que pretendo aqui.
Aos que já conhecem a lenda, peço licença para mais uma vez reproduzi-la e para os que nunca a ouviram desejo que lhes cause a mesma sensação que me despertou, um novo olhar sobre as dúvidas e incertezas da vida, no meu caso, em especial, as da última semana.
A lenda narra a história de Uakti, um ser mitológico que podia expandir-se a qualquer altura, atingindo a superfície de um precipício facilmente. Tinha o corpo cheio de aberturas, que exalavam música ao se encontrar com o vento.
Uakti, com sua música encantava a todas as mulheres que o ouviam. O encanto era tanto que elas abandonavam filhos, pais, maridos, irmãos e caminhavam hipnotizadas em busca daquela melodia, caindo inevitavelmente no precipício onde se encontrava Uakti.
Inconformados com tanta perda, os índios de uma tribo resolveram se unir e trancar todas as mulheres em uma caverna, as impedindo de ouvir a melodia que as encantava enquanto planejavam um grande ataque ao Uakti.
Uakti foi atingido de todos os lados e sua altivez não foi suficiente para suportar a fúria da tribo. O ser se desfez em pedaços, e foi jogado no fundo do penhasco, respeitando o que ele mais gostava de fazer e indicando o fim daquele encantamento.
Enquanto a tribo comemorava, no fundo do precipício brotavam ramos de uma planta cilíndrica, longa e oca. Assustados com a possibilidade de ser uma maldição de Uakti, um pajé da tribo foi convidado a identificar que planta era aquela.
Cortou um ramo e para melhor entender seu funcionamento fez buracos dentro dela e depois de muito olhar soprou em seu interior e qual não foi sua surpresa ao ouvir ecoar um som semelhante ao produzido pelo Uakti.
O som, antes destrutivo, agora causava boas sensações e harmonia na tribo. Desde então, reproduz-se através de flautas de bambu o som do Uakti, lembrando às novas gerações da possibilidade de transformação e restauração plena de tudo o que há na natureza.
Esta lenda me fez pensar que mesmo quando o fim se apresenta, ainda existe a possibilidade de um novo ciclo ser iniciado. Mesmo na dor do rompimento, da mudança abrupta e incerta é possível transcender a música, é possível provocar harmonia.
Música essa que hoje pode não ser entendida, pode parecer dura e irreversível, mas que pode ser restaurada, a cada buraco feito no oco bambu, a cada sopro dado no caminho que se reapresenta. Música que pode embalar um novo começo, que eu desejo seja belo e acolhedor.
Reportando-me ainda, ao maravilhoso compositor Chico Buarque, arrisco-me ainda a lembrar: “amanhã, vai ser outro dia...amanhã há de ser outro dia”, e que ele se apresente azul, melodioso e capaz de provocar paz a todos nós, pois é tudo o que desejo neste momento. Um copo de paz, por favor!
E para quem gostou da lenda, um convite à música:

http://www.youtube.com/watch?v=B8OwgKuqYWM&feature=related