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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Plano?! Que plano?!

O que me move a escrever hoje é a indignação. Se não todos, a maioria de vocês sabe que sou assistente social, trabalho diariamente pela incessante busca de efetivação dos direitos sociais. Aliás, até hoje me perguntam: o que faz o assistente social? E está é minha única resposta: trabalho para informar a população sobre seus direitos, lhes garantido a oportunidade de acessá-los.
Tudo muito lindo no papel. Diariamente esbarro nos limites institucionais, na ausência de recursos e essencialmente na precária efetivação de direitos sociais. Entenda que não tenho como objetivo primordial tirar ninguém da miséria e elevá-lo ao posto de milionário do ano, minha busca é pela efetivação do mínimo, daquilo que já deveria existir sem a necessidade de cobrança, pois está garantido na Constituição Federal, porque é lei e é para todos igualmente, mais que isso, equanimente, ou pelo menos deveria ser.
E a estes mínimos se inclui o acesso com dignidade e qualidade aos serviços de saúde, educação, habitação, segurança alimentar, capacitação profissional, lazer, cultura e por ai vai. Resumindo, o acesso a tudo aquilo que é essencial ao ser humano e à sua formação, a sua sobrevivência. Mas a cada dia tenho mais certeza de que neste país, infelizmente, as leis existem apenas nos papéis, ficam lá engavetadas, esquecidas, encardidas sem efetividade alguma.
Cansei de encaminhar munícipes para o acesso a estes serviços básicos e vê-los retornando sem atendimento. E muitos me diziam: se eu tivesse condição pagava um convênio médico! Ou ainda: Se eu pudesse colocava meu filho em uma escola particular! Até mesmo aqueles que dependem do serviço público estão discursando a favor da privatização, será que isso não quer dizer alguma coisa?!
Pois hoje fui cerceada em um de meus direitos e assim como as famílias a quem atendo diariamente me senti indignada, impotente, ridicularizada. Feliz ou infelizmente (já não sei mais) sou conveniada em um Plano de Saúde que deveria me garantir o atendimento necessário fora da rede pública de saúde. Digo deveria, pois levei pelo menos uns vinte “nãos” durante a tentativa de agendar consulta com um especialista.
Estou gripada há mais de duas semanas. Já passei pela consulta com clínico geral duas vezes, na primeira delas o médico nem olhou para mim, perguntou o que eu sentia, não me examinou, me mandou tomar duas injeções e me deu uma receita que custou mais de quarenta reais. Fácil atender assim, não é?! Eu já apresento os sintomas, sugiro um diagnóstico e ele não precisa nem ser simpático, só assina um papel e chama o próximo. Mas o médico era ele e não eu, então acreditando na competência do doutor, gastei com o remédio, tomei direitinho e nada dos sintomas passarem.
Segunda consulta, o médico perguntou novamente o que eu tinha, desta vez limitou-se a examinar minha garganta, passou outra receita, que desta vez custou quase cinquenta reais e mais uma injeção e me mandou para casa descansar. Entupi-me de remédios, tomei todos, na hora certa, no dia certo, até acabar e adivinhe?! Fiquei pior do que estava.
Então pensei: está na hora de passar com um especialista! A ideia brilhante foi péssima. Liguei em todos, pasmem, em todos os otorrinolaringologistas conveniados ao meu plano de saúde e nenhum deles poderia me atender antes de vinte dias. Tudo bem que já estou doente há quinze, mas esperar mais vinte dias para melhorar é no mínimo absurdo, não acha?!
Lembrei-me então da resolução n°259 da Agência Nacional de Saúde Suplementar- ANS que em junho deste ano estabeleceu prazos para o agendamento de consultas nos Planos de saúde, sendo que os Planos teriam noventa dias para colocá-la em prática, tendo este prazo se esgotado no último dia vinte de setembro. Assim, comecei a questionar nos consultórios sobre esta lei e me mandavam reclamar no convênio.
Foi então que comecei a rodar igual pião. Liga daqui, passa para lá, aguarda aqui, chama o fulano de lá. Falei com umas seis pessoas e ninguém sabia me informar o que estava acontecendo. Por fim, uma das representantes do convênio me disse que os médicos estavam se desconveniando e que os conveniados não tinham data na agenda para respeitar a lei e que nada poderia ser feito.
Assim, me vi mais uma vez obrigada a pensar por ela e dei inúmeras sugestões lembrando todo o tempo que a obrigação de cumprir a resolução era do convênio e ela é que tinha que se entender com os consultórios, não eu. Fiz questão de lembrá-los também que pago pela saúde duas vezes e que já não uso o Sistema Único de Saúde, na expectativa de que quando fosse necessário poderia ser atendida pelo tal Plano de Saúde.
Então me questiono: Plano de saúde. Que plano é esse?! Nunca vi nome mais ridículo para um serviço. Convênio médico, que raio de convênio é esse?! Ninguém planeja absolutamente nada e não existe cooperação entre prestador e consumidor, está tudo errado!
Minha alma de assistente social, mesmo gripada, não suportou os “nãos” e fez questão de buscar uma solução para o problema. Então pensei: reclamar é o primeiro passo. Elaborei uma reclamação por escrito e fui até o site da ANS, postei a queixa, coloquei meus dados pessoais para contato e no último estágio do processo de reclamação descobri que o meu Plano ou Convênio, ou seja lá o que for não está na relação de operadoras ativas da ANS e devido a isso não seria possível concluir minha reclamação.
Fiquei ainda mais indignada quando vi no site da ANS a divulgação da resolução, aclamando sua aprovação e destacando a consulta pública realizada antes de sua aprovação com mais de três mil contribuições. Ótimo! Sou totalmente favorável à consulta pública, incentivo diariamente a participação popular, mas que respeito é dado aos que participam? Os três mil que deixaram sua contribuição, na esperança de melhorar o serviço de seu plano de saúde, provavelmente estão tendo as mesmas dificuldades que tive hoje.
Que beleza, não?! Fazer o que agora?! Bolar um plano contra o Plano de Saúde? Fazer um convênio com alguém capaz de resolver a burocracia e intransigência do Convênio? A única coisa que me passou pela mente foi escrever este texto e mandar a reclamação que já está pronta por escrito para a diretoria da Fundação que administra meu Plano de saúde. Fora isso, pretendo rezar bastante para melhorar antes dos vinte dias da consulta e manter minha sanidade, pois que dá vontade de fazer besteira dá.
Mas é isso... O jeito é respirar fundo, manter a calma, sem perder a indignação, pois ela é capaz de nos mover mesmo quando todos nossos músculos doem. Amanhã pretendo tentar novamente uma negociação com o Plano de saúde, até lá espero que assim como eu você também não perca sua capacidade de se indignar, pois acho que o importante é ter:


“(...) certeza daquilo que me conforma
Daquilo que quero entender
E não acomodar com o que incomoda”.
(Criado-mudo – O Teatro Mágico)

3 comentários:

Xandy disse...

Que vergonha, essa è a situaçao da saude no Brasil e pra sua surpresa aqui tb vai por esse caminho. A soluçao è rezar para ñ ficar doente.
#indignado

Luis F. disse...

Olá Taline!
Infelizmente, a cada dia que passa fico cada vez mais chateado, inconformado, e mais ainda, revoltado pela situação em que o nosso país se encontra. Como você disse, é necessário ter um profissional específico para "lutar" para que cidadãos menos favorecidos possam ter um mínimo de dignidade em quesitos que o poder público (federal, estadual e municipal) teria a OBRIGAÇÂO de fornecer a população sem maiores questionamentos. Aqui no Brasil, o que vale é a lei do dinheiro. Os convênios médicos pagam pouco aos médicos, estes por tal situação preferem se desconveniar (não compensa lotar consultórios recebendo pouco...), e assim caminha a humanidade.
Atualmente, como bancário que sou, também estou indignado percebendo como fazem o trabalhador de idiota. Aqueles que elegemos para legislar para o povo não pensa em nada mais a não ser em benefício próprio. Mas enquanto o povo continuar elegendo Tiririca, Romário, e etc...

ana flávia disse...

é uma vergonha!
eu já cansei de brigar com o meu plano de saúde, ainda resolvi fazer um corporativo para pagar menos que piorou a situação, pq agora ninguém quer ser dono do problema! um joga pro outro e ninguém resolve nada!

concordo com o xande, tem q rezar pra não ficar doente! e reclamar antes de adoecer! sou super a favor de reclamar, de abaixo assinado, de passeatas... as pessoas se conformam e isso tudo fica assim, do jeito que está.

saudades,