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segunda-feira, 25 de julho de 2011

A música que vive em mim...

Sempre tive uma relação engraçada com a música. Não nasci em uma casa de musicistas, tão pouco de gosto musical apurado. Na verdade pouco me lembro de ter ouvido música na minha infância.

Lembro-me do rádio de pilha do meu pai com suas modas de viola, minha mãe com a rádio AM ligada ouvindo notícias da cidade e a música do ouvinte. Nunca fui apresentada aos grandes nomes da música, demorei para descobrir o que era MPB, Jazz e Blues. Contudo, acho que alguma coisa dentro de mim me despertava para a música.

Quando tinha meus dez anos, minha mãe levou a mim e a minha irmã até uma loja que comercializava discos de vinil e fitas cassetes. Deixou que cada uma de nós escolhesse uma fita e fiquei encantada com tantos nomes, tanta música que eu nem sequer imaginava existir.

Pouco tinha ouvido falar sobre Milton Nascimento, mas naquele dia era uma música dele que tocava na loja e foi aquela que pedi. Minha mãe ainda tentou me convencer a mudar de ideia, certa de que eu odiaria a fita e choraria pedindo a troca tão logo chegássemos em casa, mas decidida bati o pé e fiquei com a fita.

Ouvi mais de vinte vezes, seguidamente, até decorar todas as letras. Senti um nó na garganta quando ouvi uma ou duas músicas e pensei: que coisa estranha, essa música não me fez bem. E foi assim, no susto que aprendi a conversar com meus sentimentos e a identificar quais eram tocados por essa ou aquela melodia.

Quando tinha doze anos recém-completados, recordei-me do dia da loja de discos tão logo cheguei ao Hospital CAISM/Unicamp para visitar minha mãe que tinha passado por uma cirurgia recente. Ao entrar no saguão dei de cara com um painel enorme bem na entrada, onde estava estampada a letra da música “Maria, Maria”, na mesma hora pensei: isso é melhor que uma oração.

Enquanto aguardava a autorização para entrar no quarto, fui até uma capela do hospital e ajoelhada no banco não consegui rezar, a música não saia da minha cabeça. Lá fiquei cantarolando “Maria, Maria” como uma prece certa de que o efeito seria positivo, afinal era música e se me fazia bem porque não a Deus?!

Tenho infinitas músicas que marcaram minha história, algumas me fizeram rir, outras chorar, outras me dão saudade. A verdade é que aos poucos fui definindo meu gosto musical. No período da faculdade fui apresentada aos ícones da MPB. Lembro-me das discussões que tínhamos sobre o significado das letras de Chico Buarque que apontavam nas entrelinhas um protesto contra a ditadura, mas que tantos acreditavam: falavam de amor.

Quando me mudei para Sorocaba, entrei sem querer em um bar próximo da minha antiga casa certa sexta-feira e a partir daquela noite fiz de lá meu quintal. Aprendi muito sobre meu gosto musical naquele espaço. Foi lá que assisti a meu primeiro show de samba raiz, onde aprendi meu primeiro (e único, visto que não levo jeito) passo de samba-rock, onde vi um show de salsa e descobri o que era Blues.

Mudar de cidade me possibilitou acesso a mais eventos culturais, aqui as coisas acontecem com mais frequência e tudo parece ser mais intenso. No final da semana passada fui a uma ópera, La Traviata, incrível como mesmo sem entender todas as falas é possível saber exatamente o que está acontecendo, o tom de voz, a música, a interpretação dos cantores, tudo em uma sintonia incrível. Sai de lá com a sensação de que tudo é feito de música e mais do que isso, tudo pode virar música.

Nunca me recusei a ouvir nenhum tipo de música, mas hoje sei quais são minhas preferidas. Admiro quem tem o dom de tocar um instrumento musical ou de cantar, transformando poesia em som. Eu não me atrevo, prefiro ouvir, mas sempre que possível me enveredo nesse meio através do contato com amigos que tem vasto conhecimento e apurado gosto musical.

Hoje recebi pelo correio meu CD do Chico Buarque, lançamento, comprei na pré-estreia e fiquei acompanhando diariamente os bastidores. Já escutei quatro vezes e a cada vez me surpreendo com um verso, com um arranjo, com uma melodia que me faz pensar: esse cara existe mesmo?

Enquanto ouvia o CD, recebi a visita de um querido amigo que veio me brindar com sua música. Trouxe-me a gravação de quatro músicas inéditas de sua autoria e pediu minha opinião. Apontei a ele minha preferida e fiz questão de saber a história de cada uma delas. Que maravilha poder conversar com pessoas como ele, que me arrastam para shows incríveis e me mostram um outro lado da música.

Alguns poderão dizer: mas que atrevimento! Essa garota falando de música! E realmente confesso que me sinto atrevida ao falar sobre isso, pois não tenho domínio de instrumento, nem de estilo musical algum, mas sei que tem algo que me move e me faz respirar melodia, talvez seja a única música que eu conheço: a música que vive em mim...

Desejos de uma semana melodiosa a todos nós!

"(...) Maria, Maria

É o som, é a cor, é o suor

É a dose mais forte e lenta

De uma gente que ri

Quando deve chorar

E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força

É preciso ter raça

É preciso ter gana sempre

Quem traz no corpo a marca

Maria, Maria

Mistura a dor e a alegria..."

(Maria, Maria – Milton Nascimento)

5 comentários:

Tamara Caroline Braga disse...

Falar de música, respirar música, sentir música, puxa, pra mim essa é a arte que mais mexe comigo!Amei o texto, principalmente quando vc falou sobre cantar a música do Milton porque não saía da sua cabeça.
Não vou dizer que te conheço por completo, mas com certeza sei que a música que vive em você é das mais bonitas que conheço!

abçs my dear! e viva a música!=]

Diario de um Pirata disse...

Parabéns por mais um texto e por abordar um assunto que eu tbm não tenho conhecimento, mas que veio chegando lentamente e tomando posse de todos os dias...A música.
Tem uma música de minha autoria que se chama "Salve Marias", leva a crer que Maria e música tem a ver, ou não!
Beijão

Anônimo disse...

Aprendemos a distinguir a melhor música, quando percebemos que ela nos leva a pensar algo.
Nós todos aprendemos com o passar do tempo , o que é música de qualidade e o que não é .
Sabem por que ?
Música de qualidade te leva a algum lugar, a alguma lembrança , a alguma pessoa especial.
A alguma pasagem pela vida, boa ou má ,que nos fez aprender algo.
Algo para nossa crescimento pessoal, social , intelectual.
Não temos o dom de sabermos na primeira experiência se aquela música é boa ou não .
Mas com o passar do tempo , começamos a prestar mais atenção naquilo que nos interressa ; e isso nos leva a escolhermos aquilo que realmente nos chama atenção, que tem qualidade , que diz algo .
Tb não sou músico , não toco nada (nem tambor ) kkkk , mas tenho sim hoje bom gosto pra música , e sei que temos músicas maravilhosas , independente de gênero músical.
Gosto da música , que me agrada , seja ela de qual gênero for.
SAMBA ,ÓPERA , RAP,LENTA ,HIP HOP,MPB, JAZZ .
Gosto da música que ,naquele momento que estou ouvindo preencha o outro lado da minha vida, que ela se torne naquele momento a música mais linda que ouvi .
Aquela que me traga lembranças , boas ou más , mas que faça parte da minha vida.
Em nenhum momento da minha vida,
poderia passar sem uma música de fundo, afinal que música irá me fazer lembrar dos momentos bons ou maus que passei pela vida.
Rir ou chorar são coisas da vida, e rir ou chorar com música se torna menos dolorido .
Já chorou de alegria ?
Eu já e até hj não esqueço a música de fundo .

beijos Taline , adorei .

Isabel disse...

ah! mas vc. não é atrevida mesmo...
é uma brasileira, por aqui a musicalidade está no ar, é o que respiramos. Amo o Milton Nascimento.
Desejo a vc. uma semana cheia de sons, abuse do seu novo CD do Chico, bjs.

ANDERSON FERREIRA PINTO disse...

Você diz que não tem domínio sobre o assunto e que sente-se uma atrevida ao escrever sobre... Eu fico pensando, o que escreveria se domina-se o assunto... Adorei seu texto...