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sábado, 2 de julho de 2011

Fora de foco


Depois de um longo feriado em família que, diga-se de passagem, me rendeu inúmeras risadas e histórias para contar, voltei para casa com a alma fora de foco. A mudança brusca de temperatura no trajeto até em casa fazia par com meu coração que resfriava com o passar dos quilômetros.
O calor humano da família e dos amigos dissipou-se com as gotas de chuva que caíram sobre o para-brisa do carro anunciando uma nova frente fria. Entrei no pequeno apartamento carregando a mochila nas costas e sentindo-me completamente sozinha, tão sozinha como jamais havia me sentindo.
Nem mesmo o cágado deu-se o trabalho de sair do casco para me dar boas-vindas. Na altura do décimo segundo andar, nem mesmo o barulho do vento me fez companhia naquela noite. Eram apenas eu e meus sentimentos que gritavam alto anunciando mais um caos instalado.
Meu coração chora. Iniciou uma briga sem adversário e agora tenta um empate com a razão, pois desistiu de lutar e não quer novamente ser vencido. Minha alma esvaiu-se, desiludida, sem rumo, abraçou a solidão e hoje busca no silêncio uma resposta para seus por quês, cada dia mais complexos.
Retirei da gaveta meus medos, meus desejos e meus sonhos mais secretos. Espalhei um a um pelas paredes brancas do apartamento e os vi ganhar formas, cores, vida e transparência. Essa sou eu – pensei. Humana, repleta de sonhos, de desejos, de medos. Essa sou eu, carregada de esperança, de amor, de vida. Não seria justo simplesmente jogar tudo pela janela e viver vazia, seria?
Viver o presente sem condicioná-lo ao passado e remetê-lo ao futuro hoje me parece utopia. Viver o hoje sem sonhos e desejos parece último capítulo de novela, com roteiro pré-escrito, sem chance de adaptação. O futuro é incerto e disso não tenho medo, o que me apavora é não poder sequer nele pensar, é não conseguir cristalizar na mente um sonho, afinal para que fazer planos se me obrigo a acreditar que o futuro não existe?
Não pense que com isso pretendo levar uma vida de faz de contas, apenas de sonhos e nada mais. Pelo contrário, sempre acreditei que o real é o reflexo do nosso ideal. Só podemos viver o hoje, se tivermos um objetivo, um sonho, uma meta, um ideal para ser alcançado, se não a vida fica vazia e por vezes assim, fora de foco.
Ando sem foco ultimamente. Minha motivação para novos sonhos e planos sumiu e tento encontrá-la em algum canto de mim, mas até agora nadica. O borrão da ausência de foco está presente na vida profissional e afetiva, na dificuldade de realizar planos com os amigos e a família, sem contar na carga de incertezas e ilusões que não tem me permitido ver o que me restou para o amanhã, se é que ele existe.
A noite caiu trazendo uma chuva fraca que quebrou meu silêncio, as gotas batendo na janela me fizeram entender que a vida é bem mais do que meus sonhos, mas que desenha-la sem eles tem sido algo bem triste.
Meus olhos voltaram a sorrir ao receber um lindo presente, quase no meio da madrugada, uma chuva de fogos de artifícios, que explodiu bem ali, na vista da minha janela. Pintando o céu de azul, rosa, lilás, verde e prata, trazendo meu sorriso de volta e me fazendo acreditar que ainda resta uma fagulha de esperança. Esperança essa, que mesmo fora de foco nunca sai de cena...


“Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar ..."

(Não vale a pena – Maria Rita)

2 comentários:

Isabel disse...

não sei não Tá...
quando tinha a sua idade era muito insegura com relação ao futuro, princialmente quando este futuro incluía outra pessoa, no fundo achava que toda história não daria em nada, como a dos meus pai não deu...
todas as vezes que me senti pressionada, caí fora... até o dia que alguém não me precisou e as coisas foram acontecendo... tento te falar sobre isso, não se esqueça... as pessoas são diferentes e vivem os sentimentos de forma diferenciada de nós... pense...pense, pode ser que sua história não acabou...apenas ela esteja acontecendo de forma diferente do que vc. sonhou, planejou... pense, pense...

Luis Fernando disse...

Olá Taline!
Mais um belo texto escrito por ti! Por mais que certas situações da vida nos façam "perder o foco", não podemos nunca deixar de tentar reencontrá-lo!
Beijão!