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domingo, 17 de julho de 2011

Ai que dor de tornozelo!


A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas prima irmã do tempo, E faz nossos relógios caminharem lentos, Causando um descompasso no meu coração. (Solidão – Alceu Valença)

Como se não bastasse o coração partido, ganhei no início do final de semana uma bela torção no tornozelo direito que me deixou, por assim dizer, sem chão.

A dorzinha que vinha se arrastando desde a última aula de boxe na quarta-feira, ficou mais intensa na quinta e sexta me obrigou a encarar o pronto atendimento, tão logo identifiquei uma bola instalada no meu tornozelo que parecia aumentar a cada passo dado.

Depois de quase três horas de espera fui atendida pelo ortopedista na clinica de emergência. Pediu que me sentasse na maca e tirasse o tênis, não colocou a mão no meu pé, apenas limitou-se a dizer:

- Nossa, está bem inchado.

- Disso eu já sabia – pensei. Mas e então? O que faço para melhorar?

O médico sentou-se na sua cadeira confortável, rabiscou algo em um formulário da clinica e me disse:

- Vamos ver o que tem de errado ai.

Depois de mais quarenta minutos de espera consegui tirar um raio - X que felizmente indicou a ausência de fratura, mas me fez voltar a sala do médico:

- Não tem fratura, é só uma torção mesmo. Você está conseguindo andar?

- Ando com dor, mas ando.

- Bom, então vamos imobilizar e vou te passar um remédio para a dor.

- Imobilizar?!!Por favor, não!

- Se não imobilizar vai demorar uns quinze dias para sarar.

- Doutor, eu moro sozinha, não tenho nenhum familiar aqui, não tenho condições de assumir um pé imobilizado hoje. Prefiro esperar os quinze dias.

- Então faça compressa fria e tome mais esse remédio. Se na semana que vem não melhorar, me procure.

Sai da clinica mancando, com dor, mas feliz por ainda poder contar com meu pezinho para chegar em casa. Passei na farmácia mais próxima e fui surpreendida por uma farmacêutica nada simpática que simplesmente disse não ter entendido a letra do médico e que consequentemente, não me venderia o remédio.

Tudo bem que a letra dele não era um exemplo de caligrafia a ser seguido, mas eu li perfeitamente e até soletrei para ela que insistiu em dizer:

- Para mim é um medicamento não identificado. Sinto muito não posso vender.

- Dane-se! Vou procurar outra farmácia – limitei-me a dizer.

Seis quarteirões depois consegui comprar o tal remédio e a bolsa para compressa fria, podendo em fim chegar em casa.

Foi um alivio estar de volta ao meu canto, poder tomar um banho quente, jantar, tomar a medicação e ficar de repouso na ânsia da dor passar logo e levar aquela bola embora do meu tornozelo.

Dois dias depois já estava bem melhor, com um pequeno inchaço apenas e com 90% menos de dor, indicando assim que em breve poderei voltar a minha rotina de exercícios físicos.

Acontece que a dor de tornozelo me fez pensar no quanto sou vulnerável. Nunca me importei por morar sozinha, gosto de ter minha privacidade, meu espaço, poder receber meus amigos sem dar satisfação a ninguém. Contudo, até então, não tinha percebido o outro lado da independência que escolhi.

Se precisar mesmo imobilizar esse pé não tenho absolutamente ninguém nos arredores que possa me ajudar com as coisas do dia-a-dia. Apesar de ter muitos amigos aqui, nenhum deles seria convidado a sair da sua rotina para manter a minha no lugar. Confesso que senti, mais do que comumente, falta da minha família, podendo até medir com uma longa fita métrica o tamanho da minha impotência.

Ir ao mercado, tomar banho, fazer um café, ir trabalhar, tudo se tornaria um grande desafio com o pé imobilizado. São nessas horas que percebo o quanto é impossível viver sozinha.

Escolher morar sozinha, ter minha individualidade preservada, nunca será sinônimo de isolamento do mundo e das pessoas. Seja para compartilhar sorrisos nos momentos de realização ou uma dor de cotovelo (ou de tornozelo como essa) nos dias de tristes surpresas.

E graças à existência de muitas boas almas em minha vida, apesar da exigência de repouso, não fiquei sozinha em casa neste final de semana. Fui literalmente carregada por vários amigos para almoçar fora, participar de festa julina, sem contar um show de tirar o fôlego que me fez esquecer até da torção. A companhia das pessoas que constroem comigo minha história garantiram nesse final de semana minha segurança, me fazendo acreditar que ao escolher morar sozinha, não escolhi viver sozinha.

Hoje me sinto livre, mas não só. Apesar de viver grande parte do dia assim, sei que sem nem mesmo pedir ou cogitar tenho verdadeiros anjos sem asas que me rodeiam insistentemente, me lembrando todo o tempo que mesmo quando preciso ou desejo estar só, nem que seja por telepatia, nunca estou sozinha.

3 comentários:

Taline Libanio disse...

Em homemagem aos queridos: Fer, Dani e Lucas que tornaram esse final de semana mais ameno e feliz! Obrigada! ;)

jorge cesar disse...

Quando nos damos ao luxo de morrarmos só, corremos esse risco sim.
Na hora que mais precisamos lembramos que estamos só e que as pessoas não são obrigadas a abrir mão de suas vidas pela nossa.
Mas essa dificuldade, não me faz pensar diferente não.
Prefiro e curto a solidão de minha casa.
Solidão no sentido de estar só e não me sentir só.
Nunca me sinto só , pois é a opção que escolhi pra viver minha vida .

Fernanda disse...

Há quem diga que a solidão é boa quando a escolhemos, e não quando ela nos é imposta... Há quem diga que a solidão não é boa, nem ruim, mas necessária... E talvez isso tudo seja verdade, ela é necessária e positiva nos momentos de reflexão e descanso, mas ninguém pode ser plenamente feliz sozinho! É por isso que eu agradeço a Deus pelos anjos e anjas (rsrs) sem asas que Ele colocou em minha vida, e vc Tá, é uma delas!!