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sábado, 28 de agosto de 2010

A marvada gripe!


Começo a ter certeza de que algo aqui dentro não vai bem. Sinto como se todos os meus músculos ficassem se engalfiando, em um estica e puxa que faz tudo formigar. Minha cabeça está pesada, cheia de ar eu presumo, já que meu nariz fechou a passagem de qualquer coisa nesta direção. A boca está seca e a cada copo de água é como se pedisse mais e mais.
Parece que às vezes vou cair, uma tontura esquisita que aparece sempre ao final de um espirro. Odeio espirrar, meus olhos quase saltam do rosto e o alívio imediato não é suficiente para sanar a aflição.
Minha garganta apresenta sinais de irritação, ainda não reclama da água, nem do leite quente, mas já começa a ameçar o bloqueio de um pedaço de pão. Imagino milhares de microrganismos em uma luta sem fim dentro de mim. Soldados brancos e vermelhos tentando decifrar o nome do inimigo, enquanto sugam minhas forças.
O termômetro indica estado febril. Começo a lembrar das propagandas de antitérmicos que vi recentemente. Três em um, quatro, sete em um. Será possível que um comprimidinho de nada consegueria acabar com todo esse mal estar?
Tento controlar o início da inflamação com muita água e alguns comprimidos de vitamina C. Tenho me dado prazos para melhorar, se em dois dias não tiver sinal de melhora procuro um médico. Não consigo ficar nem por meia hora concentrada nos livros, minha cabeça dói e meu nariz implora por um lenço limpo.
Penso que deveria ter uma lei que proibisse as pessoas neste estado de sair de casa. Seria muito mais digno esperar isso tudo passar deitada na minha cama quente, do que espirrando no ônibus e espalhando vírus no meu trabalho.
Sem falar no mau humor que me assola e desta vez não me culpo. Quem consegue ficar disposto em dias assim? Quem pode sorrir se não lhe sobra força nem para olhar no espelho enquanto pensa: você está um bagaço, bom dia.
Felizmente estou vacinada contra a gripe A (H1N1). Desta acho que me livrei. Mas será que isso é gripe mesmo? Talvez seja apenas o tempo seco, agravado pelas queimadas que tem feito meus olhos arder e intensificado, pouco a pouco, a sensação de falta de ar.
O jornal apontava logo pela manhã um alerta sobre a baixa umidade do ar na região em que me encontro. Altas temperaturas, baixa umidade, nem sinal de chuva. Tenho seguido as recomendações a risca: evito exercícios físicos (se bem que isso independe da umidade do ar), tenho bebido mais de dois litros de água por dia, até porque outros alimentos têm sido rejeitados pela garganta irritadinha e o vício de hidratar o nariz, agora se estendeu aos olhos também. Ainda assim, não me sinto bem, deve mesmo ser gripe.
Já recebi diversos diagnósticos no meu trabalho, que variam de gripe a renite. Além disso, não me faltaram receitas caseiras contra a suposta doença: chá de gengibre com cravo, canela com limão, limão com mel e alho, tanta mistura esquisita que chego até a acreditar que realmente funcione, na certa maltratam tanto o corpo que até o vírus decide debandar.
Mas na verdade eu só queria repousar. Ficar deitada o dia todo, por três dias se fosse preciso, tomando uma sopinha leve e um leite quente com açúcar queimado. Para tanto, teria que importar minha mãe para cá, porque ficar doente sem colo de mãe, mesmo em casa, com folga do trabalho, não tem graça nenhuma.
E para quem ainda não foi acometido pelos sinais descritos anteriormente, meus parabéns, já para os demais, que se cuidem, pois deve mesmo ser gripe e daquelas bem “marvadas”!


Ilustração de: Gabriel Vicente.

domingo, 15 de agosto de 2010

Pé na estrada!


Enquanto escolhia o tema desta semana para a coluna, dentre a imensidão de estranhices que me perseguem diariamente, comecei a perceber que não é de hoje que este jeitinho esquisito me acompanha.
Lembrei-me das inúmeras vezes em que me senti envergonhada, assustada ou confusa quando era criança diante de tantas situações inusitadas. Realmente já tenho sido treinada desde sempre para enfrentar com bom humor as peças que a vida me prega.
Dentre tantas histórias, pude voltar no tempo em pelo menos três situações que se repetiram recentemente. Claro que tudo em seu devido contexto e com seus importantes personagens, mas o motivo foi o mesmo, creio que banal, pois posso afirmar que todo mundo já passou por isso antes e se não passou provavelmente irá passar. Quem nunca teve um carro enguiçado no meio de uma estrada, afinal?
Voltando no tempo consegui me lembrar com detalhes de uma vez em que fiquei na beira de uma estrada de terra com minha avó, minha irmã e meu tio, na porta do sítio do meu avô depois do carro ter decidido parar de funcionar, bem na hora de voltar para casa, com a noite caindo, o frio chegando e os morcegos se aproximando cada vez mais de nós. Tinha meus seis para sete anos e o sítio que nem é tão longe da cidade, parecia distante demais para que alguém nos salvasse, linha telefônica em área rural naquela época nem existia, muito menos celular.
Consigo lembrar do barulho do vento nas árvores, dos barulhos de bichos do mato que pareciam monstros para uma garota no escuro. Na ocasião fomos salvos por um sitiante da vizinhança que nos colocou na traseira da caminhonete, em meio a sacos de milho e latões de leite e nos trouxe para casa sãs e salvas.
Depois deste ocorrido outros acontecimentos do tipo surgiram, foram inúmeras às vezes em que ajudei uma amiga a empurrar um fusca amarelo imperial ladeira a cima, já que o pobre carro vivia sem bateria e combustível era no conta gotas. Sem falar nas vezes em que fiquei na estrada por um pneu furado e em uma das ocasiões a motorista nem sabia informar onde ficava o tal do pneu step. Sabe como é, carro novo, com aqueles suportes, que mais parecem esconderijos secretos, tão secretos que nem os donos dos veículos sabem onde estão.
Foram tantas histórias! E a mais recente delas me surpreendeu na semana passada. Depois de um final de semana prolongado na cidade natal tive que voltar para a rotina e contei com a carona da minha querida mãe. Eu e meu namorado combinamos de voltar com ela e pegar uma carona até Campinas/SP, seguiriamos então para Sorocaba/SP e ela para São Paulo/SP.
Tudo ia bem até a luz do óleo começar a piscar no painel do veículo. Pisca daqui, dali e o motorista com um ar de preocupado decidiu avisar minha mãe de que algo não ia bem. Paramos em um posto de gasolina na beira da estrada, olhamos o óleo, a água, o combustível, aparentemente tudo certo. Já que o relógio não pára decidimos tentar chegar ao menos em Campinas e voltamos estrada afora.
Cinco quilômetros depois o carro começou apresentar um barulho estranho, um tipo de: tec,tec,tec, que começou a incomodar. É...decididamente seria impossível seguir viagem. Paramos no acostamento e minha mãe acionou o seguro. Com sorte trariam um gincho e um carro extra em aproximadamente duas horas, tempo mais do que suficiente para perdermos o ônibus em Campinas.
Acostumada com tantos desencontros olhei para o céu, vi o céu azul, com poucas nuvens e pensei: pelo menos não está chovendo. Não fiquei brava, nem com medo, mas com certeza tive a certeza de que algo estava por vir.
Não demorou muito para que minha mãe avistasse um ônibus no final da rodovia em nossa direção. Sem pensar duas vezes ela quase se jogou na frente do veículo acenando sem parar até que o motorista parou e nos permitiu embarcar.
Foi uma loucura. Aquele monte de malas tentando se ajeitar no interior do ônibus, já que o bagageiro estava fechado. As pessoas olhando assustadas, tentando entender o que tinha acontecido com aqueles malucos no meio da estrada. Eu e meu namorado esbaforidos, rindo como bobos e relembrando as idas e vindas até o momento.
Enfim chegamos a Campinas, mais tarde no que deveríamos,é claro, o que nos rendeu um chá de cadeiras de mais de duas horas até a chegada ao nosso destino. No final do dia soube que minha mãe havia chegado em segurança também, me contou rindo que voltou para casa de guincho. É...tem coisa que se contar ninguém acredita. Mas é isso, faça chuva ou faça sol, fé em Deus e pé na estrada!


Ilustração de: Gabriel Vicente.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ah! Se São Tomé fosse vivo...


Confesso que antes de sentar na frente deste computador estava certa de que lhes escreveria algo realmente raro, inusitado, inacreditável, mais uma daquelas coisas que só acontecem comigo ou quando estou por perto. Mas desta vez o mérito não é só meu, dei uma rápida pesquisada na internet e descobri que meu conto inédito é na verdade mais comum do que se imagina.
Contudo, não é assim tão comum que não mereça um relato, então vou prosseguir, certa de que este texto servirá ainda como um alerta aos motoristas de plantão. Explicações dadas, vamos aos fatos.
Não retornava para a cidade natal há quase um mês, quando cheguei tive pouco tempo para tantas novidades, mas ainda assim tentei ao máximo aproveitá-las, afinal cada dia ao lado da família é sagrado, especialmente quando se mora longe do “lar doce lar”.
Na ânsia de poder falar o tempo todo com todo mundo acompanhei minha irmã em uma das tardes em suas andanças pela cidade me aproveitando da sua companhia e de sua habilidade no volante para atender algumas necessidades: supermercado, farmácia, visita aos tios, enfim.
Depois de rodar por quase quatro horas de cá e de lá, aqui e acolá estacionamos na garagem de casa e ao descer do carro sentimos um cheirinho estranho. Não chegava a ser cheiro de queimado, mas era quase. Resolvemos por bem chamar meu pai para dar uma olhadinha no carro, afinal não conheço nada de mecânica automobilística e talvez pudesse ter algum truque que desconheciamos.
Meu pai chegou perto do carro, afirmou que sentia o tal cheirinho, andou pelos lados do automóvel e nos disse:
- Já abriram o capô?
- Não. Será que tem algo de errado?
- Vamos abrir para ver.
Não me atrevi a abrir o capô, mas estava ali, de olhos bem abertos quando ele foi aberto e além do motor e de todo o resto pude ver um gato, isso mesmo, um gato preto, peludo e enorme enfiado no motor.
No mesmo instante meu pai deu um pulo tentando desviar do meu vulto e dos meus gritos que me acompanhavam enquanto corria para a sala e quase me escondia atrás do sofá, certa de que tinha visto um gato morto.
Felizmente o bichano não havia morrido, creio que deva ter perdido apenas uma ou duas das sete vidas que dizem possuir, pois correu bem vivo quando foi cutucado por uma vassoura.
Confesso que fiquei em estado de choque por alguns instantes. Mas será possível um gato dentro do motor do carro? Tudo bem que ali é quentinho, mas nem estava tão frio assim. Sem contar o sufoco que ele passou por todo o tempo que andávamos de cá e de lá pela cidade. Por que ele não miou?! Será que estava gostando do passeio?!
Não sei a resposta para nenhuma destas perguntas, mas me tranquilizei ao saber que isso é mais comum do que se imagina. Já estava achando que era perseguição, uma sexta-feira, de agosto (e olha que não era treze), um gato preto enorme enfiado no meio do motor do carro, parece mandinga, não é?
Mas não é. Encontrei inúmeras reportagens de cobras, ratos e muitos, muitos gatos que se enfiaram no motor de automóveis em busca de calor ou de uma aventura qualquer (quem vai saber?).
Apesar do susto, que rendeu risadas o último dia deste longo final de semana tenho certeza que tirei disso tudo uma grande lição. Antes de sair verifique o óleo, a água, o farol e o gato. Caso não esteja bem posicionado o acomode bem, afinal o bichano também é filho de Deus e tem todo o direito de dar suas voltinhas e arriscar-se como qualquer um de nós, pobres mortais.
Ah! E para quem não acreditou na história, tenho provas e testemunhas do fato. Não perdi a oportunidade de fotografar a cena antes do gato ser acordado, afinal tenho uma mãe que é pior que São Tomé, só vendo para crer, e ela merecia saber com detalhes desta história!


Ilustração de: Gabriel Vicente.