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domingo, 7 de março de 2010

O dia em que a Terra acelerou...

Li no jornal desta semana que os dias na Terra ficaram mais curtos desde a madrugada do último sábado. Logo pensei no horário de verão e achei que poderia existir alguma relação com o escurecer mais breve e a menor quantidade de horas claras para se dedicar aos afazeres cotidianos.

Mas ao continuar a leitura da manchete, não demorou muito para me surpreender com a notícia de que os dias mais curtos são uma consequência do terremoto que devastou o Chile na última semana. Os cálculos, feitos por um Laboratório da NASA, indicam que os dias ficaram 1,26 microssegundos mais curtos.

Considerando que os dias terrestres possuem cerca de 86.400 segundos, pode parecer pouco, ou quase nada. Contudo, o fato de pensar que a força de um terremoto é capaz de acelerar ou reduzir a rotação da Terra, tornando os dias mais curtos ou mais longos de acordo com a redistribuição da massa do planeta após seu tremor, me deixou tensa.

Quando era criança estudei sobre o movimento de rotação e translação da Terra, mas ninguém me disse que isso era passível de mudança... Aliás, sempre imaginei que a Terra estivesse “presa” em um eixo imaginário, seguindo seu ritmo rotineiramente a fim de nos garantir nossos dias e noites.

E agora essa novidade... Novidade que para muitos não passou de mais uma manchete sem sentido e que pouco ou nada impressionou, mas que me fez pensar em algumas coisas

Como é possível um tremor no Chile acelerar os dias da humanidade inteira? A quem devemos “cobrar” esse milionésimo de segundo que nos foi tirado? Será que os atrasos no trabalho poderão ser justificados com a aceleração da Terra daqui por diante? Chego a imaginar como serão as desculpas em um futuro breve:

- Desculpe chefe, é que o planeta acelerou na madrugada passada e eu não acertei meu relógio.

- Estava marcada para antes do tremor, mas acabei me atrapalhando com a aceleração da Terra.

Dias atrás estava preocupada com o fim do planeta, com medo de que o mundo acabasse em água ou coisa assim, mas hoje vejo que não é nada difícil a Terra sair “rodando” por ai, depois de um tremor daqueles. Imagine que loucura, o planeta rodopiando como uma bola de gude pelo espaço?

Claro que estou exagerando, mas imaginar os dias mais curtos, mesmo que com uma mudança quase imperceptível na relação tempo-espaço, me faz aumentar ainda mais minha cobrança sobre minhas certezas. Sobre de que modo tenho aproveitado meus dias, meus milionésimos de segundo e que mundo estou construindo para a nova geração.

Terremotos, enchentes, calor excessivo, nevascas, as pessoas tem morrido de desastres naturais hoje em dia. Não se fala mais de morte por velhice ou acidente de trânsito, quiçá de câncer ou AIDS. Nos noticiários os índices de mortalidade apresentados são causas de efeitos da natureza, isso é o que podemos chamar de “morte natural”.

É bem possível que com tanto espaço na mídia, em breve existirão “empreendedores” utilizando-se da desgraça alheia para lucrar. Do mesmo modo que já ouvi dizer que turistas de outros países pagam para fazer um tour pelas favelas cariocas, não me assustarei se em breve aparecerem anúncios do tipo: Conheça um tornado de perto! Ou: Venha viver a emoção de um terremoto! Ou ainda: Faça seu passeio de bote na marginal (coletes inclusos).

Brincadeiras à parte, o fato é que frequentemente direcionamos nossa energia para coisas que em pouco tempo deixam de ter sentido. Aproveitamos os dias (curtos ou não) com pouca intensidade, valorizamos negócios que prejudicam nossa existência, pouco nos importamos com mudanças que afetam a humanidade.

Que tipo esquisito nos tornamos... As crianças são bem mais interessantes que nós. A “adultescência” nos faz perder alguns dos valores mais interessantes desta vida. Por essas e outras, que se fosse possível gostaria de desacelerar não só a Terra, mas também o tempo, com tanta intensidade que retornaria para a calmaria dos meus cinco anos, onde a Terra não saia do eixo, muito menos a humanidade.

Ilustração de: Gabriel Vicente.

2 comentários:

Paulo disse...

Muito bom o texto, faz imaginar como de um dia para o outro perdemos microsegundos preciosos que nos renderiam um pouco mais em nossos dias.
Talvez nossa infancia fosse de menos preocupações e obrigações e isso acabe nos ocupando o tempo e tornando o dia mais curto.

Paulo

Marly Meyre disse...

Interessante...
Normalmente as pessoas, ditas comuns, nem se preocupam com isto, não da nem p imaginar q aceleração é esta.
Mas, estamos presenciando um aceleramento em nossas vidas mesmo.
Não temos tempo pra nada.
E, se achamos que temos algum... aruumamos uma coisa pra fazer.

bjus no seu coração