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sábado, 20 de dezembro de 2008

Noite feliz?!



Não sei quanto a vocês, mas para mim os dias têm passado cada vez mais rápido. Claro que têm dias que você reza para o tempo passar e depois de ter ficado meia hora fazendo hora, olha no relógio e vê que só passaram-se dois minutos, mas estou me remetendo ao “voar” dos dias e dos anos.
De uns dez anos para cá, o ano tem parecido um mês, as semanas, dias e os dias que deveriam ter 48 horas para se dar conta de todos os afazeres, restringem-se a poucas horas, que geralmente são “aproveitadas” dormindo, comendo e trabalhando.
As horas dedicadas ao prazer, ao lazer e à diversão têm se tornado cada dia mais escassas. E falo isso por mim, inclusive. Geralmente nos lembramos de dedicar nosso tempo a atividades prazerosas em épocas festivas, e é por isso que acho que o tempo está passando tão rápido.
Não temos tido tempo de aproveitar os minutos de nossas vidas, do nosso dia-a-dia, e ficamos esperando um feriado, uma data comemorativa para extravasar as energias e colocar antigos planos em prática, e para que isso ocorra fingimos que os demais dias não têm importância.
Sobrecarregamo-nos de afazeres, de coisas sem sentido, só para que a noite chegue rápido e possamos dormir (quando não ficamos insones) e o outro dia chegar logo, e vamos fazendo isso até o próximo feriado.
É mais ou menos assim: “Nossa ainda é segunda-feira, mas tudo bem, na próxima terça-feira é feriado, então eu vou suportar essa semana”. E você passa os dias contando as horas para chegar terça-feira, e faz planos, e se mata de trabalhar e quando chega na terça o dia passa que você nem vê e na quarta-feira, você se levanta vai para o trabalho e pensa: “daqui um mês tem carnaval”.
E com isso perdemos muitas vezes o significado das festas, dos feriados e principalmente dos nossos dias comuns. Lembro-me que quando era criança o Natal demorava uma vida para chegar e era uma expectativa tão grande que os preparativos vinham durante o ano todo, me comportando bem, sendo boa aluna e boa filha para receber o tão esperado presente.
E quando começava a contagem regressiva no SBT, ou aquela música (que particularmente acho triste): “Noite feliz, noite feliz! Oh, Senhor Deus de amor...", já me dava um frio na barriga.
Com o passar dos anos as emoções eram ativadas com outros sinais da proximidade do Natal como as propagandas dos ursos brancos e os caminhões iluminados da coca-cola que, ainda hoje, cortam o país.
Sem falar naquela melodia irritante que algumas pessoas adoram ouvir, pelo menos 10 vezes, durante a ceia de natal e que te faz perder o espírito natalino e querer quebrar o rádio na cabeça de alguém: "Então é Natal, e o que você fez? O ano termina e nasce outra vez".
Mas enfim, os dias custavam a passar naquela época. Hoje, quando ouvi a mensagem de final de ano de uma emissora de televisão, percebi o quanto muitas destas coisas, inclusive nossos dias, já perderam o significado para muitos de nós.
Criar mensagens de final de ano virou merchandising barato, tornou-se especulação, e não sei quanto a vocês mas ouvir que: “Hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou...”, desde a década de setenta, já é demais para mim. Causa-me a impressão de que com a virada do ano todos os problemas e dificuldades serão simplesmente eliminados.
O que tenho mais ouvido nos últimos dias é a súplica para que o ano termine. E para quê? O que você pretende para o próximo ano que não conseguiu concluir neste ou que não possa iniciar nestes dias que ainda restam? Iniciar um ano novo, não significa deixar os sonhos e problemas de lado, e sim reafirmá-los, encará-los de frente. E isso você pode fazer hoje, agora, neste instante, sem que seja necessário pular sete ondas, comer sopa de lentilha ou vestir lingerie cor-de-rosa.
Não quero parecer amarga com essas palavras, nem lhes causar desânimo, pretendo apenas mostra-lhes (mostrar-me) que o tempo é um ótimo conselheiro e pode resolver muitas coisas, quando aproveitado intensamente.
Querer adiantar nossos dias não significa resgatar esperanças e sonhos, me parece muito mais medo do que se pretende deixar para depois. É como escolher uma Noite feliz e renunciar a uma Vida plenamente feliz.
Assim, por que deixar para o ano que vêm ao invés de colocar hoje, um ponto final em coisas que nos causam dores de estômago e de cabeça? Por que esperar mais um mês ou o final do ano para mudar seu estilo de vida? Por que concentrar todas suas energias em uma noite ou em uma data comemorativa, se tem todos os dias pela frente? Por que não cortar o cabelo hoje e vestir aquela roupa nova comprada há um mês na espera no Ano novo?
Recuso-me a concluir este texto, pois estas perguntas precisam de respostas e é a vocês que as peço. Deixo aqui esse texto sem fim para que você reflita e, além dos meus votos de um Feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso, irei desejar-lhes incansavelmente felizes dias, felizes tardes e felizes noites!
E é isso, todo o resto é com vocês.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Boca Santa



Sempre gostei de plantas, de olhar para suas folhagens, tocá-las, sentir o perfume de suas flores, a textura de cada pétala, mas confesso que nunca fui detentora de muito conhecimento sobre elas.
Sempre tivemos plantas em casa, folhagens como samambaias, babosa e espada-de-são-jorge; floríferas como margaridas, hortênsias, azaléias e onze-horas; além das suculentas flor-de-maio e calonchoê. Minha mãe sempre foi uma amante de violetas e rosas, cresci a vendo cultivar dezenas de vasos e mudas, uma de cada cor, de cada espécie. Aprendi os segredos de seu cultivo e a respeitar o ciclo de cada planta que crescia em nosso jardim.
Meu pai era o responsável por tirar as ervas daninhas, adubar o jardim e podar as plantas. Minha mãe escolhia o local do plantio, reproduzia as mudas e fazia os arranjos que enfeitavam a casa. Eu só observava e morria de dó todas as vezes que via as roseiras podadas, e minha irmã, bem, esta nunca foi muito ligada às plantas.
Mas de todas as plantas que existiam em casa, uma em especial me deixa grandes recordações. Ela sempre esteve na frente de casa, é um misto de bananeira com arranjo artificial, pois suas flores parecem ser de mentira de tão belas e coloridas, costumava chamá-la de: a flor do pica-pau, mas hoje descobri que a Strelitzia reginae, pode ser popularmente chamada de Ave-do-paraíso, você já deve tê-la visto, uma folhagem verde exuberante que protege as flores alaranjadas com toque de lilás e bordô, um primor.
Hoje minha mãe já não cultiva violetas, deixou esse hobby de lado para dedicar-se a planos mais sublimes que lhe tomam muito tempo, me lembro, contudo, que um dos motivos que a fez deixar o cultivo foi o fato de ter perdido grande parte de suas plantas com uma praga muito conhecida e popularmente chamada de mau-olhado, quebranto ou ainda boca santa.O jardim continuou mas a coleção de violetas se foi.
Eu cresci, me mudei de casa e mantive o amor pelas plantas. Quando fui morar em Franca/SP para cursar minha faculdade levei uma samambaia e uma violeta para me fazerem companhia. A violeta não se adaptou muito ao pequeno apartamento, morreu em menos de um mês, mas a samambaia por incrível que pareça adorou o ambiente, tanto que tinha que fazer podas freqüentes, pois ela começou a tomar mais espaço do que devia. Passou comigo os quatro anos da faculdade e ganhou o nome de Cazé.
Além da Cazé tinha uma coleção de mini cactos, uma ótima escolha para quem vive em apartamento, entre eles tinha um preferido, o ganhei de minha avó e o plantei em um vaso bem colorido trazido por um amigo maravilhoso que vive em Barcelona. Ainda hoje, não sei de que espécie esse cacto é, mas continua cada dia mais lindo, agora na casa dos meus pais.
As plantas no apartamento representavam companhia e eram um amuleto contra a inveja de visitas indesejáveis, como dizia minha mãe: “antes nelas do que em você”. Por via das dúvidas , melhor tê-las, visto que algumas vezes tive que dar atenção redobrada a Cazé que era quem mais sofria com a praga do mau-olhado.
Hoje, em outra cidade, em outro apartamento, ainda tenho plantas, ou pelo menos tento tê-las. Há pouco mais de seis meses comprei uma pimenteira, carregada, linda, linda. Ela ia bem, até eu sair de férias, foi quando tive que delegar as minhas colegas de república a função de colocá-la no sol, e aguá-la.
Até hoje não sei direito o que aconteceu, sei que quando voltei das férias, a pimenteira ainda estava lá, só que duas vezes maior que seu tamanho natural e com umas pimentas gigantes.
- Cadê a minha pimenteira?
- Na cozinha, você não viu?
- Vi a irmã mais velha dela, ela não.
- Xi, ela percebeu.
- E vocês achavam que eu não ia perceber que esta não é a minha pimenteira?
- Olha, nós tentamos achar uma igualzinha, mas não tinham vasos menores, então, trouxemos esta mesmo.
- Ok, mas e a minha, onde está?
- Estávamos tentando reanimá-la, mas a faxineira veio e jogou fora. Quando chegamos e perguntamos pela planta ela disse que estava morta e que ela tinha jogado no lixo. O jeito foi tentar substituí-la, mas não deu muito certo não é?
Rimos a noite toda dessa situação, acolhi a nova integrante da casa e proibi as meninas de sequer chegar perto dela, só assim poderia garantir sua integridade física.
Ainda hoje, elas culpam a faxineira que vivia elogiando a planta, mas acho que a culpa foi minha que esqueci de falar que além de colocar no sol, era preciso tirar a planta de lá às vezes. E se a culpa não foi minha e nem delas, pode ter sido mesmo daquela praga popular: o mau-olhado, que provavelmente partiu dos olhos arregalados da faxineira que não perdia a oportunidade de colher umas pimentinhas e dizer:
- Mas que beleza de pimenteira hein?!
Essa é a típica boca santa,ou melhor, Dona Cida, nossa faxineira.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Guajira, guantanamera. Guajira, quanta lamera!



O meu trabalho apresenta algumas peculiaridades, além do que lhe é comum, tenho alguns dias de plantão, e não é um plantão médico, é um plantão da defesa civil. Em casos de emergência, calamidades e tragédias gregas somos acionados.
O bom é que posso ficar em casa e sou chamada só em caso de ocorrência, o ruim é que fico presa na cidade e não posso me distanciar muito daqui. O bom é que recebo hora-extra quando as ocorrências surgem e o ruim é que quando isso acontece alguém perdeu tudo do pouco que possuía. Isso me lembra uma conversa que tive com um querido amigo esses dias, diz ele que precisou imobilizar o pé após uma cirurgia e enquanto a enfermeira o engessava ele perguntou:
- Engessando muitas pernas?
- Graças a Deus, foi o que ela respondeu.
Mas enfim, era um sábado, como qualquer outro se não fosse pela chuva torrencial que caiu na sexta-feira à noite e pelo fato do plantão ser meu. Às 8:00h o telefone toca e meu chefe, bem humorado, diz:
- Taline? Já está de galochas?
- Não, não tenho galochas aqui. Tem ocorrência?
- Sim, precisa de quanto tempo pra ficar pronta?
É quando me vejo de pijama, com muito sono e de mau humor, lembro do café da manhã que não tomei e do banho que preciso pra despertar, preciso de no mínimo cinco horas, o que acha?
- Trinta minutos, pode ser?
- Pode.
- Quem vem me buscar?
- A guarda municipal.
- Ok.
- Boa sorte.
Sorte. Sorte teria se não tivesse ocorrência, teria mais sorte ainda se pudesse ter dormido pelo menos até às dez. Mas é assim, não adianta resmungar, o jeito é optar pelo café ou pelo banho e aproveitar bem meus trinta minutos. Escolho o banho e um copo de leite, já que tomar café da manhã e dormir até passar o mau humor em trinta minutos não seria possível.
Procuro um sapato que seja compatível com a situação e não encontro as galochas, escolho um tênis, calça jeans e uma camiseta branca. Crachá no pescoço, colete da defesa civil, prancheta e caneta, nas mãos, é, estou pronta.
A guarda municipal chega e os companheiros de plantão além do interfone, optam pela buzina e pela sirene. Entro na viatura e observo os vizinhos do prédio na janela, no mínimo pensando que cometi algum crime ou que a culpa pelo aumento da conta de água do condomínio ou ainda pela fome no mundo é minha, mas é assim, não teria nem tempo nem disposição de explicar a situação, melhor deixar que pensem qualquer coisa, já tinha problemas demais à vista.
Pergunto onde é a ocorrência e escuto a comunicação no rádio da viatura:
- Fulano de tal, residente no bairro tal, localizado onde Judas perdeu as meias.
- É hoje, pensei.
Imagine um lugar longe, agora some a distância de São José do Rio Pardo/SP a Casa Branca/SP, foi ainda um pouco à frente que me vi depois de quarenta minutos sentada no banco de traz de uma viatura da guarda municipal que acabava de parar bruscamente:
- O que aconteceu?
- Não posso seguir, tem muita lama.
- Como assim não pode? Onde é a casa?
- Acho que daqui umas duas quadras.
- E como eu vou chegar lá no meio dessa lama?
- Ah não sei, só sei que não vou colocar a viatura lá, é muita lama.
- E qual dos dois vai me acompanhar?
- Par!
- Ímpar!
A porta se abre e eu desço. Lama, muita lama, mal conseguia andar. Um dos guardas me acompanha, aquele que perdeu no par ou ímpar, quase caio sentada na lama e penso nas galochas que não tenho, no tênis que com certeza não seria recuperado e no meu estômago roncando.
Os vizinhos se amontoavam e ridicularizavam a cena, eu e o guarda municipal nos equilibrando na rua como se fosse em uma pista de sabão. Com muito custo encontramos a residência invadida pela lama. Fui recebida por uma pessoa muito nervosa e por vizinhos curiosos. Recepção calorosa, pensei.
O telefone toca e é meu chefe perguntando como estou. Eu estou ótima, mas a casa, o dono dela e a vizinhança estavam irritados e eu buscando uma saída para algo que aparentemente não tinha solução.
Aos poucos fui dando os encaminhamentos necessários e deixando o caos sob controle. Nada que quatros horas de conversa e negociação não se resolva. Bom, trabalho cumprido, hora de voltar para casa e para meu sábado.
- Vamos?
- Acabou? Achei que não ia embora hoje.
- Avisei que ia demorar, é assim mesmo.
- Mas eu estou com fome. Já são 13:00h e eu não almocei.
- Pois eu também não almocei, nem tomei café da manhã.
- Mas agora você vai para casa e a gente fica de plantão até as 18:00h.
- Agora eu vou para casa fazer relatórios, conseguir doação de móveis, roupas, material de escola e alimentos, isso se não tiver outra ocorrência, pois meu plantão vai até a meia-noite.
Ele não se atreveu a retrucar. Fim de papo, chego em casa, com o pé cheio de lama, desço da viatura, alguns vizinhos na sacada. Tiro o tênis, que é puro barro, dou adeus à viatura e entro no prédio. Escuto uns buchichos dos vizinhos e o melhor deles, que me fez subir as escadas de meias e sorrindo foi:
- Nossa, devem ter dado uma prensa boa nela, desde aquela hora e com o pé todo sujo de lama. Coitada!
Minha vizinha passou a manhã toda daquele sábado esperando o desfecho desta história, ou melhor, da história que ela criou, pois desta, ela provavelmente nunca ficará sabendo. E eu achando que tinha perdido meu sábado...Que gente mais engraçada e ociosa! Vizinhos!