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terça-feira, 16 de julho de 2013

Vai de busão! Vai na contramão!


“Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!”
(Grabiel O Pensador – Até quando?)

Praticamente todos os dias escuto a mesma pergunta:
- Por que você não compra um carro?
A resposta para esse questionamento vai do rápido: porque não quero, até o longo discurso que engloba minha repulsa por dirigir e o entendimento de que até o momento não preciso de um carro para viver.
Sempre andei com meus dois pés bem fincados no chão quando morava na pequena cidade, raramente precisava do carro para alguma coisa e nessas horas uma carona sempre era bem vinda. Nunca gostei muito de dirigir, na verdade esse desgosto beirou a fobia, mas hoje já foi superado.
Tenho carteira de habilitação, dirijo quando é preciso, mas não gosto. Para dizer bem a verdade, nem de andar de carro eu gosto. Tenho aflição, sempre acho que está rápido demais, ou que a vaga não tem tamanho suficiente e isso me dá aflição.
Quando mudei para a grande cidade percebi que andar a pé não seria uma solução, já que as distâncias passavam e muito dos seis ou dez quarteirões de antigamente. Então escolhi o transporte coletivo, também conhecido como ônibus ou “busão”, como meu meio de transporte diário.
Para que preciso de um carro se consigo chegar de ônibus ao meu destino, acomodada em um Mercedes Benz, com 42 lugares, bancos de couro e motorista particular? Sempre consegui chegar a todos os lugares de ônibus e quando o retorno por esse meio não era possível, um táxi resolveu bem o meu problema.
Mas tem muita gente que acha um absurdo não ter um carro e me privar desse conforto. Sinceramente em dias de chuva eu penso seriamente que essas pessoas têm razão, mas basta ver o sol se abrindo e aquela brisa fresca batendo no meu rosto enquanto caminho para casa que já mudo de ideia novamente.
É claro que é muito mais confortável andar de carro, mas não vejo problema nenhum em viajar de ônibus quando consigo um assento livre. E é aqui que está o “X” da questão.
Andar de ônibus não é o problema, complicado é você pagar o mesmo preço de tarifa de quem viaja sentado e ter que viajar em pé. Se equilibrando entre um monte de gente, feito sardinha em lata, correndo o risco de cair, se machucar, ser assediado ou assaltado.
Essa semana me enchi de orgulho ao ver as manifestações pelo Brasil afora. Claro que não é apenas pelos vinte centavos que acrescentaram na tarifa da passagem de ônibus. Claro que não é só pelo passe livre, mas esse já é um motivo forte para se iniciar uma reflexão que beira a revolução.
A esmagadora maioria dos brasileiros utiliza o transporte público, muitos deles não por escolha, mas por essa ser sua única opção. O sucateamento do transporte público, a diminuição de linhas, a ausência de dignidade de um lado e do outro o aumento da tarifa, a corrupção ativa e a política pobre para pobres tem sido retrato há décadas do que o povo brasileiro sofre diariamente.
Se o transporte é público por que é mantido por empresa privada? Por que é pago? Por que não é confortável e de livre acesso? Particularmente não reclamo do aumento da tarifa, o problema é que tudo aumenta, o ônibus, o aluguel, o arroz e o feijão, o combustível, o pão de cada dia, mas o salário do trabalhador continua lá, congelado.
Esse ano mesmo, a maioria dos trabalhadores não teve nem 1% de aumento real no seu salário, mas tudo teve elevação de tarifa, inclusive o ônibus. Tudo bem foram só vinte centavos. Vinte centavos, que para você que anda de carro pode parecer pouco, mas para quem utiliza quatro conduções no dia é quase o almoço no Bom prato.
Está na hora de deixar a crítica vazia de lado e levantar os braços, abrir bem a boca e exigir reforma tributária, punição aos corruptos, liberdade de manifestação. Chega de lavar o carro zero todo o final de semana e se esquecer que daqui seis meses ele já desvalorizou em 30%. Chega de achar que o “busão” lotado está de bom tamanho para o trabalhador pobre e xingar horas em um congestionamento.
Se um dia sentir a necessidade de ter um carro, vou adquiri-lo com consciência, sem me esquecer de todos os anos em que me utilizei do transporte público. Hoje eu falo não e não me calo. Chega de alienação.
Eu ando de ônibus e não me envergonho disso. O que me envergonha é a ausência de um transporte público digno, com qualidade. E se a minha indignação for considerada contrária as prerrogativas dos governantes, então já aproveito para informar que eu vou de “busão” e vou na contramão!

2 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 22/06/13.

Aguardo comentários! :)

Paula Leão disse...

Eu também não gosto de dirigir, na verdade acredito que isso deve se a situações traumáticas de aprendizado, de pressão para dirigir "que nem homem" tudo isso me fez odiar, prefiro dirigir como mulher, as vezes e quando me dê prazer... também não tenho vergonha do transporte coletivo, pensamentos globais como este ajudariam bem mais a humanidade, o meio ambiente! O Modelo Global de Economia que te obriga a ter um carro, a dirigir se não você não é gente só funciona em cabeças que não conseguem fazer reflexão....