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terça-feira, 9 de julho de 2013

Onde você guarda o seu?

A descrença e a negligência religiosas são um grande mal, porém o preconceito e as mentiras são ainda piores”. (Plutarco)

Essa semana fui surpreendida com a reação de um colega que me fez pensar no quanto ainda existe conservadorismo e preconceito quando o assunto é religião.
Conheço essa pessoa há pouco tempo e não acho que preciso colocar na minha ficha de apresentação meus preceitos religiosos, contudo, nunca quis escondê-los, pois os escolhi e agradeço todos os dias pelo conhecimento adquirido e por poder multiplicá-los. Mas nunca imaginei que poderia causar tanto espanto a alguém ao assumir minha opção religiosa.
Estávamos conversando quando ele perguntou o que faria à noite e disse que iria ao Centro:
- Mas você já mora no Centro!
- No Centro Espírita.
Silêncio.
- Alô?
- Oi...
- Te assustei?
- Não... Eu só não esperava.
- Algum problema?
- Não, eu continuo gostando de você do mesmo jeito, viu?
Vi. Na mesma hora pensei: Meu Deus! Será que ouvi direito?
Aquela frase me soava mais ou menos assim: Você tem esse defeito grave, mas eu vou continuar gostando de você, viu? Ou ainda, você faz essa coisa horrível, mas mesmo depois de saber disso, eu vou continuar gostando de você, viu?
Será que eu tinha que agradecer? Esse constrangimento me fez lembrar a primeira situação que vivenciei registrando intolerância à minha escolha religiosa.
Quando tinha meus dezesseis anos, estudava em uma escola técnica em uma cidade vizinha e conheci lá uma garota muito legal, tinha um coração enorme, era super simpática e companheira, então pensei: Caramba! Essa garota vai ser minha amiga para o resto da vida!
Construímos uma relação forte de amizade que foi rompida quando em uma aula de sociologia, a professora abordou o tema religião e cada aluno expressou sua crença. Ela que era testemunha de Jeová, quando soube que eu era espírita kardecista nem se despediu naquela tarde. E nos dias que se seguiram, foi ficando mais distante.
Lembro que sofri com a perda daquela amizade, mas tentei compreender as razões dela e segui, construindo minha vida nos princípios do amor e da caridade. Jamais me esqueci daquela situação e hoje isso voltou com força, quando escutei aquela frase que ficou ecoando na minha cabeça por horas.
Fico pensando que às vezes chega a me dar medo de afirmar minha doutrina, pois parece aos olhos de muitos que o que faço é errado. Mas porque temos que ser vistos assim? Não tenho nada contra nenhuma religião, já conheci quase todas até me identificar com a doutrina espírita, mas de verdade, é difícil entender o preconceito que se forma sobre o espiritismo.
Agora mesmo, posso apostar que alguns leitores que acompanham essa coluna há anos, poderão deixar de acompanhá-la, se é que já não o fizeram lá no quinto parágrafo. Acreditar em uma ou outra coisa, em um nome para Deus ou em outro muda minha essência? Muda meus valores?
Acredito que o preconceito vem do desconhecimento. Já me perguntaram se fazemos exorcismo ou rituais malignos por lá. Poxa, se você não conhece não julgue. Participe de um atendimento fraterno, de uma palestra, ou converse com quem é praticante e, se quiser permanecer longe dessa doutrina, então, sobretudo a respeite.
Muito se diz sobre evangélicos hoje em dia na mídia e tenho muitos amigos que seguem essa religião e eu os respeito. Assim como também tenho amigos católicos e ateus. E nunca, jamais falaria para um deles que apesar dele ser evangélico (católico, ateu ou qualquer coisa que desejar) continuarei gostando dele, porque isso me soa estranho, para não dizer incompreensível.
Pessoas fazem escolhas o tempo todo, com tudo! A maravilha da humanidade está na diversidade, a evolução dos homens está no fato de aceitar as escolhas feita por outros homens e respeitar suas diferenças. Mas parece que é mais fácil transformar a diferença em avença do que aceitá-la.
Ouvir isso hoje, em pleno século XXI, onde ainda milhares de pessoas morrem no mundo por fanatismo religioso, ouvir isso em uma cidade com quase seiscentos mil habitantes, onde existe uma comunidade espírita vasta e fortalecida, chega a me assustar.
O conservadorismo ainda existe e o preconceito o acompanha de braços dados.
Com esse episódio aprendi que as respostas chegam mais rápido do que as pedimos e que mais difícil do que esconder uma verdade é disfarçar um preconceito. Então, não o esconda, não o omita, não o guarde.
Quando se expõe o preconceito se abre a possibilidade de dialogar sobre isso, abre-se a oportunidade de romper estigmas e conquistar uma nova visão sobre determinado assunto. Ninguém é capaz de mudar uma pessoa, mas é possível mudar o jeito de olhar para ela, basta conhecê-la, e para isso é preciso despir-se de toda e qualquer forma de preconceito e pré-conceitos.
E então? Onde você guarda o seu? Vamos conversar mais sobre isso?




3 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São JOsé do Rio Pardo/SP, no dia 01/06/13.

Aguardo comentários! ^^

Paula Leão disse...

Confesso que não consigo entender tamanho preconceito e falta de caridade, muito dogma - pouco respeito!

Paula Leão disse...

Confesso que não consigo compreender tamanha falta de reflexão! Muito dogma, pouco respeito, nenhuma caridade nas pessoas!