“Não quero mais
Ouvir quem diz
Que o amor é só
Pra ser feliz
Angústia ou paz
Prazer ou dor
Eu quero é mais
Morrer de amor”
(Dori Caymmi)
Semana do dia dos namorados,
corações explodindo de alegria e de ar nas vitrines das lojas pela cidade.
Balões em forma de coração, almofadas em forma de coração, porta-retrato em
forma de coração, chocolate em forma de coração, tapete em forma de coração, assadeira
de bolo em forma de coração e até coração em forma de coração.
Para falar a verdade, não consigo
entender porque quando o assunto é dia dos namorados o coração tem que ser
símbolo fundamental. Logo o coitado que é o primeiro a se estrepar quando o
relacionamento desanda. Logo ele que vive cheio de curativos, partido, todo temeroso
quando alguém bacana aparece. Por que logo ele tem que ser o carro chefe da
festa no dia dos namorados?
Namorados costumam trocar corações
o tempo todo, é pingente daqui, promessas dali, almofadinhas acolá. Simbologia
perfeita do cuidado, mas se você pensar que muitas pessoas mal conseguem cuidar
do seu próprio coração, aceitar a missão de cuidar de outro, cheio de vontades
e manias estranhas é no mínimo arriscado.
Acontece que muitas pessoas
esperam mais dos outros do que delas mesmas. E isso é perigoso. É terreno farto
para decepções e conflitos. Digo isso, pois me incluo nesse grupo e sei que
grande parte das vezes em que me percebi triste, não era por algo que eu tinha
feito de errado, mas por decepção. Tristeza causada pela atitude de alguém que não
ocorreu da forma como eu esperava.
Essa semana estava escutando uma
palestra e o orador disse que as pessoas que tentam ser perfeitas demais,
acabam buscando a perfeição nas outras pessoas com que se relacionam e o
desfecho desse encontro é um fatídico desencontro, rumo à solidão, pois as
pessoas não são perfeitas. Isso pode parecer óbvio, mas com certeza você já se
pegou cobrando a mudança de atitude em alguém e se decepcionando por não tê-la
conseguido, atribuindo ao outro toda a culpa.
Tentar fazer o bem sempre, agir
da melhor maneira possível em todas as situações, nos colocam em um grau
arriscado de criação de expectativas, pois ao acreditar que os outros fariam
por nós o mesmo que faríamos por eles, cedo ou tarde, acabaremos
inevitavelmente nos decepcionando.
E o motivo de tanta decepção é
simples: as pessoas não são perfeitas. E mesmo aquelas que mais nos amam, um
dia irão errar e nos decepcionar. O que podemos fazer é garantir a superação
desta decepção cristalizando valores reais, de respeito, lealdade, amor, que
farão a tristeza se esvair com o tempo, deixando apenas mais uma cicatriz no
coração, sem consequências duradouras.
Eu que já vivi tantos “breves
para sempre”, posso afirmar com propriedade que pior do que ser decepcionado
por alguém é se decepcionar. Essa decepção sim é doída, difícil de passar,
então não espere demais dos outros. Gaste sua energia priorizando ações que
auxiliem na realização de seus sonhos, não os deposite nas mãos de outra
pessoa, por melhor que ela seja, pois ela não é você, não sente como você, não
sabe o que você espera e no que acredita.
Aproveite o dia dos namorados
para conhecer melhor o coração da pessoa que está ao seu lado e se estiver
sozinho, aproveite esta data para conhecer seu próprio coração. Avaliar todas
as dores, os medos e as ideias absurdas que os sentimentos nobres nos provocam
é um ótimo jeito de se preparar para um novo amor.
Tudo bem que os corações são
fofinhos e atrativos, mas mais do que isso são parte do elo fundamental de uma
relação duradoura, não deveriam ficar assim tão expostos em vitrines. Ali
deveriam ter sorrisinhos, poemas, cartinhas de amor, rosas vermelhas, bochechas
rosadas, olhos nos olhos, timidez e tudo mais que envolve a arte da conquista.
O coração vem depois, bem depois, com o tempo, com a confiança e o respeito.
Geralmente chega de mãos dadas
com a vontade crescente de ficar junto e com a saudade no meio do dia. Não acho
que seja necessário ter ânsia de se chegar ao coração, quanto mais lento o
acesso, mais duradoura a permanência.
Tente valorizar o que é estável, perene,
isso é amor. Paixões se esvaem com o vento, com a beleza que o tempo leva, com
as criticas e imperfeições que os dedos apontam. O amor não. Esse se fortalece
nas tempestades de vento, nas rugas que o tempo aplica ao trazer sabedoria, nas
reclamações diárias e na difícil arte de aceitar a diversidade e com ela
conviver.
Então, fica a dica para o dia dos
namorados, prefira os olhos nos olhos ao porta-retrato de coração,prefira o
abraço apertado ao coração de pelúcia, prefira o beijo de olhos fechados ao
chocolate em forma de coração. Em suma, diria: Apaixone-se menos e ame mais. Ame
muito mais.
Um comentário:
Texto publicado na Capa do Caderno Dois do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 15/06/13.
Aguardo comentários!^^
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