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terça-feira, 18 de junho de 2013

Ah! O amor...

“Não quero mais
Ouvir quem diz
Que o amor é só
Pra ser feliz
Angústia ou paz
Prazer ou dor
Eu quero é mais
Morrer de amor”
(Dori Caymmi)

Semana do dia dos namorados, corações explodindo de alegria e de ar nas vitrines das lojas pela cidade. Balões em forma de coração, almofadas em forma de coração, porta-retrato em forma de coração, chocolate em forma de coração, tapete em forma de coração, assadeira de bolo em forma de coração e até coração em forma de coração.
Para falar a verdade, não consigo entender porque quando o assunto é dia dos namorados o coração tem que ser símbolo fundamental. Logo o coitado que é o primeiro a se estrepar quando o relacionamento desanda. Logo ele que vive cheio de curativos, partido, todo temeroso quando alguém bacana aparece. Por que logo ele tem que ser o carro chefe da festa no dia dos namorados?
Namorados costumam trocar corações o tempo todo, é pingente daqui, promessas dali, almofadinhas acolá. Simbologia perfeita do cuidado, mas se você pensar que muitas pessoas mal conseguem cuidar do seu próprio coração, aceitar a missão de cuidar de outro, cheio de vontades e manias estranhas é no mínimo arriscado.
Acontece que muitas pessoas esperam mais dos outros do que delas mesmas. E isso é perigoso. É terreno farto para decepções e conflitos. Digo isso, pois me incluo nesse grupo e sei que grande parte das vezes em que me percebi triste, não era por algo que eu tinha feito de errado, mas por decepção. Tristeza causada pela atitude de alguém que não ocorreu da forma como eu esperava.
Essa semana estava escutando uma palestra e o orador disse que as pessoas que tentam ser perfeitas demais, acabam buscando a perfeição nas outras pessoas com que se relacionam e o desfecho desse encontro é um fatídico desencontro, rumo à solidão, pois as pessoas não são perfeitas. Isso pode parecer óbvio, mas com certeza você já se pegou cobrando a mudança de atitude em alguém e se decepcionando por não tê-la conseguido, atribuindo ao outro toda a culpa.
Tentar fazer o bem sempre, agir da melhor maneira possível em todas as situações, nos colocam em um grau arriscado de criação de expectativas, pois ao acreditar que os outros fariam por nós o mesmo que faríamos por eles, cedo ou tarde, acabaremos inevitavelmente nos decepcionando.
E o motivo de tanta decepção é simples: as pessoas não são perfeitas. E mesmo aquelas que mais nos amam, um dia irão errar e nos decepcionar. O que podemos fazer é garantir a superação desta decepção cristalizando valores reais, de respeito, lealdade, amor, que farão a tristeza se esvair com o tempo, deixando apenas mais uma cicatriz no coração, sem consequências duradouras.
Eu que já vivi tantos “breves para sempre”, posso afirmar com propriedade que pior do que ser decepcionado por alguém é se decepcionar. Essa decepção sim é doída, difícil de passar, então não espere demais dos outros. Gaste sua energia priorizando ações que auxiliem na realização de seus sonhos, não os deposite nas mãos de outra pessoa, por melhor que ela seja, pois ela não é você, não sente como você, não sabe o que você espera e no que acredita.
Aproveite o dia dos namorados para conhecer melhor o coração da pessoa que está ao seu lado e se estiver sozinho, aproveite esta data para conhecer seu próprio coração. Avaliar todas as dores, os medos e as ideias absurdas que os sentimentos nobres nos provocam é um ótimo jeito de se preparar para um novo amor.
Tudo bem que os corações são fofinhos e atrativos, mas mais do que isso são parte do elo fundamental de uma relação duradoura, não deveriam ficar assim tão expostos em vitrines. Ali deveriam ter sorrisinhos, poemas, cartinhas de amor, rosas vermelhas, bochechas rosadas, olhos nos olhos, timidez e tudo mais que envolve a arte da conquista. O coração vem depois, bem depois, com o tempo, com a confiança e o respeito.
Geralmente chega de mãos dadas com a vontade crescente de ficar junto e com a saudade no meio do dia. Não acho que seja necessário ter ânsia de se chegar ao coração, quanto mais lento o acesso, mais duradoura a permanência.
Tente valorizar o que é estável, perene, isso é amor. Paixões se esvaem com o vento, com a beleza que o tempo leva, com as criticas e imperfeições que os dedos apontam. O amor não. Esse se fortalece nas tempestades de vento, nas rugas que o tempo aplica ao trazer sabedoria, nas reclamações diárias e na difícil arte de aceitar a diversidade e com ela conviver.

Então, fica a dica para o dia dos namorados, prefira os olhos nos olhos ao porta-retrato de coração,prefira o abraço apertado ao coração de pelúcia, prefira o beijo de olhos fechados ao chocolate em forma de coração. Em suma, diria: Apaixone-se menos e ame mais. Ame muito mais.

Um comentário:

Taline Libanio disse...

Texto publicado na Capa do Caderno Dois do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 15/06/13.

Aguardo comentários!^^