Hoje abri um pacote de bolachas
recheadas, daquele que na infância se dizia servir para passar o tempo e
enganar o estômago, até que a merenda ficasse pronta ou o tão esperado almoço
da mamãe fosse posto à mesa.
Fazia tempo que não comia uma
bolacha desse tipo. Ando evitando comprar guloseimas há uns três anos pelo
menos, quando decidi iniciar uma mudança de hábitos que deixou as gostosuras
bem longe da minha dispensa e permitiu que quase vinte quilos fossem eliminados
do meu corpinho.
Na verdade descobri que não sou
muito fã deste tipo de bolacha, elas são doces demais, logo me enjoam. Mas
quando passei pela prateleira do supermercado e olhei aquela bolacha me deu
certa nostalgia e quis novamente sentir aquele sabor.
Confesso que também fui
incentivada por uma garotinha de cinco anos que agora vive na casa dos meus
pais e que durante meus dias de férias me permitiu voltar a ser criança.
Certo dia, enquanto dividia com
ela uma caixa de bombons, ela abriu com cuidado um sonho de valsa, que parecia
enorme naquela mãozinha e primeiro mordeu a parte superior, depois a inferior e
por último o recheio branco, me lembrei de que fazia isso quando era criança e
ultimamente até para comer bombons a pressa me engole e não me permite a
delícia de saboreá-lo pouco a pouco.
Quando abri aquele pacote de
bolacha hoje e senti o cheiro forte de chocolate, me esqueci dos conservantes,
peguei a primeira e comi: primeiro uma parte, depois o recheio e por último a
outra parte.
Ri sozinha da minha atitude
enquanto abria outra bolacha e repetia o ritual. Alguns prazeres não deveriam
nunca ser esquecidos. Com certeza muitos adultos ainda usam desta estratégia
para comer bombons e bolachas, mas posso apostar que a maioria só o faz quando
está sozinho ou em um ambiente íntimo. No meio de um restaurante, após um
almoço de negócios partir um bombom no dente e guardar uma de suas partes para o
final, não seria de bom tom... Será?
Depois de comer três bolachas e
colocar o pacote de lado andei repensando sobre tudo o que fazia na minha
infância e que hoje simplesmente deixo passar. Lembrei-me com saudade de quando
ia até uma venda de grãos e legumes com minha mãe e colocava meus dedos devagar
na saca de feijão, ia empurrando um a um até ver a mão e logo em seguida o
antebraço sumir completamente na saca. Era tão gostoso!
Hoje, passo todo santo dia em
frente ao mercado municipal da grande cidade, onde ainda vendem-se grãos em
saca e até sinto o cheiro do pó fino que exala do lugar, mas nunca (em cinco
anos) tive coragem de entrar na loja e colocar minha mão na saca. É claro que
hoje, provavelmente, o vendedor não aprovaria. Contudo, acho que valeria a
pena, ter a atenção chamada para reviver essa sensação.
Com quase trinta anos amadureci
muito, principalmente em relação a meus valores, avancei ao cultivar minha
paciência e evitar o julgamento alheio, mas acho que regredi em alguns aspectos...
Passei a ter vergonha de algumas coisas que deveriam ser copiadas e não
esquecidas.
Conviver com crianças hoje em dia
é ter diariamente o despertar dessas verdades escondidas... Esta com dúvida?
Pergunte a uma criança o que ela faria. Quer saber se pode ou não pode?
Pergunte a uma criança o que ela acha.
Acho que vou conviver mais com a
garotinha de cinco anos que anda habitando minha casa, ela sim sabe o que é
viver plenamente.
2 comentários:
Texto publicado no Caderno Dois do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 20/01/13.
Aguardo comentários!
Texo liiiiindo!!!
Cheiro de infância...
Realmente, eu adoraaaaaaaava comdr o sonho de valsa assim. Muito mais divertido!!! Rs e deixa o melhor pro final rs
Vou recorrer a minha priminha para reviver esses momentos simples e deliciosos rs
Obrigada por escrever algo tao fofo e verdadeiro.
Patricia Minatogau
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