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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Bolacha recheada


 
Hoje abri um pacote de bolachas recheadas, daquele que na infância se dizia servir para passar o tempo e enganar o estômago, até que a merenda ficasse pronta ou o tão esperado almoço da mamãe fosse posto à mesa.
Fazia tempo que não comia uma bolacha desse tipo. Ando evitando comprar guloseimas há uns três anos pelo menos, quando decidi iniciar uma mudança de hábitos que deixou as gostosuras bem longe da minha dispensa e permitiu que quase vinte quilos fossem eliminados do meu corpinho.  
Na verdade descobri que não sou muito fã deste tipo de bolacha, elas são doces demais, logo me enjoam. Mas quando passei pela prateleira do supermercado e olhei aquela bolacha me deu certa nostalgia e quis novamente sentir aquele sabor. 
Confesso que também fui incentivada por uma garotinha de cinco anos que agora vive na casa dos meus pais e que durante meus dias de férias me permitiu voltar a ser criança.
Certo dia, enquanto dividia com ela uma caixa de bombons, ela abriu com cuidado um sonho de valsa, que parecia enorme naquela mãozinha e primeiro mordeu a parte superior, depois a inferior e por último o recheio branco, me lembrei de que fazia isso quando era criança e ultimamente até para comer bombons a pressa me engole e não me permite a delícia de saboreá-lo pouco a pouco.
Quando abri aquele pacote de bolacha hoje e senti o cheiro forte de chocolate, me esqueci dos conservantes, peguei a primeira e comi: primeiro uma parte, depois o recheio e por último a outra parte.
Ri sozinha da minha atitude enquanto abria outra bolacha e repetia o ritual. Alguns prazeres não deveriam nunca ser esquecidos. Com certeza muitos adultos ainda usam desta estratégia para comer bombons e bolachas, mas posso apostar que a maioria só o faz quando está sozinho ou em um ambiente íntimo. No meio de um restaurante, após um almoço de negócios partir um bombom no dente e guardar uma de suas partes para o final, não seria de bom tom... Será?
Depois de comer três bolachas e colocar o pacote de lado andei repensando sobre tudo o que fazia na minha infância e que hoje simplesmente deixo passar. Lembrei-me com saudade de quando ia até uma venda de grãos e legumes com minha mãe e colocava meus dedos devagar na saca de feijão, ia empurrando um a um até ver a mão e logo em seguida o antebraço sumir completamente na saca. Era tão gostoso!
Hoje, passo todo santo dia em frente ao mercado municipal da grande cidade, onde ainda vendem-se grãos em saca e até sinto o cheiro do pó fino que exala do lugar, mas nunca (em cinco anos) tive coragem de entrar na loja e colocar minha mão na saca. É claro que hoje, provavelmente, o vendedor não aprovaria. Contudo, acho que valeria a pena, ter a atenção chamada para reviver essa sensação.
Com quase trinta anos amadureci muito, principalmente em relação a meus valores, avancei ao cultivar minha paciência e evitar o julgamento alheio, mas acho que regredi em alguns aspectos...
Passei a ter vergonha de algumas coisas que deveriam ser copiadas e não esquecidas.
Conviver com crianças hoje em dia é ter diariamente o despertar dessas verdades escondidas... Esta com dúvida? Pergunte a uma criança o que ela faria. Quer saber se pode ou não pode? Pergunte a uma criança o que ela acha.
Acho que vou conviver mais com a garotinha de cinco anos que anda habitando minha casa, ela sim sabe o que é viver plenamente.

2 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Caderno Dois do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 20/01/13.
Aguardo comentários!

Anônimo disse...

Texo liiiiindo!!!
Cheiro de infância...
Realmente, eu adoraaaaaaaava comdr o sonho de valsa assim. Muito mais divertido!!! Rs e deixa o melhor pro final rs
Vou recorrer a minha priminha para reviver esses momentos simples e deliciosos rs
Obrigada por escrever algo tao fofo e verdadeiro.
Patricia Minatogau