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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Juntando cacos...


“(...)De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama”.
(Vinícius de Moraes)

Coloco-me de joelhos enquanto tento recuperar os cacos. Os junto um a um, tomando cuidado para retirar do chão inclusive as menores lascas, os mínimos vestígios do que aconteceu. Não tenho força para pensar em reconstruí-lo agora, será um trabalho árduo, minucioso e que talvez não tenha fim.
As cicatrizes permanecerão. Serão lembradas diariamente e mesmo que as lascas se emendem perfeitamente, sempre haverá um buraco entre os remendos. Espaços minúsculos que antes eram preenchidos por suspiros e lembranças e que agora permanecerão vazios.
Até a cor dele foi alterada. O vermelho vivo, ofuscante, deu lugar a um cinza gélido. Não é mais atrativo, mantém-se sem graça, sem vida, desiludido e desconfiado.
Penso que deveria existir uma punição para quem comete esse tipo de crime. Revirei páginas na internet, pesquisei em livros, mas não existe nada que fale sobre uma pena para corações partidos.
É um crime sem previsão penal. Hoje fiquei me perguntando por quê. Será que os legisladores e juristas nunca passaram por nada parecido? Será que não consideram grave esse tipo de crime? Será que o prejuízo emocional não pode ser avaliado e a moralidade nessas situações perde inclusive seu valor?
Acho que tem algo de muito errado acontecendo. Fui vítima de um golpe, de um jogo sórdido, sujo e triste. Sinto-me injustiçada, pois sei que minha perda, meu prejuízo, foi bem maior que qualquer bem, que qualquer gorda quantia de dinheiro.
O que perdi não pode ser substituído, nem reparado, nem mesmo com um prêmio da loteria. Crença, confiança são valores incalculáveis. Fui vítima de um jogo tão cruel que me fez pela primeira vez desacreditar da humanidade.
Não confio mais em ninguém desde então. Os danos do que vivi me acompanharão eternamente e influenciarão no que eu chamo de vida daqui para frente. Já tenho sentido os efeitos. Será difícil acreditar novamente em alguém, querer “pagar para ver” acho que nunca mais.
É por isso que deixo aqui a sugestão de ampliação do código penal. Crimes contra as pessoas de bem, deveriam ter penas como qualquer outros. Ser desonesto ao desviar um dinheiro pode te levar para a cadeia, mas ser desonesto ao iludir uma pessoa não te acarretará dano algum. Acho que é por isso que o mundo está cada dia mais doente.
O que realmente tem valor, o que realmente importa não é relevante para a maioria das pessoas, pelo simples fato de não poder ser vendido, por não ter valor comercial. Daria todos os meus bens para não ter passado pelo que passei. Pois mais do que ter sido enganada, foi-me tirado o que eu tinha de mais valioso: minha esperança.
Será que com o tempo? Será? Acho que o amigo tempo será capaz de amenizar os efeitos, com certeza irá apagar a tristeza e varrerá as lembranças até o completo esquecimento do algoz que me deixou assim, mas todas as vezes que tiver que me envolver... Sempre que precisar me entregar...Ah! Nem mesmo o tempo será capaz de apagar esse medo que voltou a me rondar.
E agora, aqui de joelhos, enquanto olho os cacos do que antes era um coração vivo e cheio de esperança, continuo me perguntando por quê. Continuo tentando preencher esse vazio que é bem maior do que tudo que já senti.
Continuo tentando encontrar as respostas do que nunca terá explicação. A espera de ver “a maldade desaparecer, e o sol, brilhar mais uma vez”, hoje me despeço em uma oração silenciosa: E livra-nos de todo o mal...
Que o silêncio me traga conforto, renove minha fé e traga de volta minha esperança... Que assim seja.

2 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado no Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 10/11/12.

Aguardo comentários!^^

Sabrina Maciel disse...

5 duclLindo e verdadeiro ... e viva nossos coraçoes !!!!