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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Aqueles segundos...

“Foi só por um segundo. Todo o tempo do mundo. E o mundo todo se perdeu”.

Cláudio Lins


Algumas coisas me envolvem, outras me comovem, outras me fazem pensar. Tenho algumas manias que adquiri ao longo da vida que me provocam certo prazer difícil de descrever. A maioria delas relaciona-se a coisas banais, simples, pouco importantes para a maioria das pessoas, por vezes imperceptíveis, mas que para mim fazem toda a diferença.
Uma delas diz respeito a duas coisas que sempre me deram medo e que hoje aprendi a respeitar: o silêncio e a escuridão. Barulho demais nunca me agradou, mas confesso que a ausência total dele me permitiu escutar barulhos interiores que incomodavam bem mais do que um grito, então tive que me adaptar ao silêncio aos poucos, até poder repousar, sentir-me em casa e enfim nele poder respirar.
Já a escuridão sempre foi casa de bicho-papão, esconderijo de bandido, ausência de luz e estar no meio dela era como adentrar um buraco negro terrível, onde o vazio dominava todos os espaços, não cabendo mais nada além do medo e do desencontro.
Acontece que aprendi no meio do meu temor a encarar a escuridão e o silêncio de uma forma ímpar. Encontrei naqueles poucos segundos que antecedem a adaptação da visão noturna motivo para me deslumbrar com o que antes me dava medo.
Sabe aqueles segundos, aqueles poucos segundos em que os olhos se adaptam a total escuridão e te dão de volta a percepção das coisas? Pois então, eu adoro esses segundos.
Sempre que apago a luz ao deitar, me ajeito no travesseiro e mantenho os olhos abertos. Os abro o máximo que consigo e fico a vislumbrar o espaço. O negrume que consome tudo e não permite o reencontro nem dos olhos com a palma das mãos vai cedendo lugar a uma sombra bonita, que deixa tudo tranquilo, em seu devido lugar.
A angústia de não enxergar nada, logo cessa e, finalmente posso fechar os olhos. Pode parecer bobagem, mas aqueles segundos geralmente me trazem paz, são momentos de encontro com meus medos e com a minha coragem, é ali que inicio o balanço do dia, são eles que precedem minha reza e velam meu sono.
Diante dos últimos acontecimentos tenho dado mais valor a esses segundos e a tantos outros que me dão prazer. Poderia descrever vários aqui, como o segundo exato em que o sol ao se despedir reflete na minha janela e muda a cor da minha parede; ou o segundo que alinha perfeitamente a lua com a rua da minha casa e a deixa ainda maior; sem contar aqueles segundos que me fazem sentir um frio na barriga, enquanto espero minha mãe abrir a porta da sala, depois de meses sem vê-la; ou ainda aqueles segundos que antecedem a chegada do elevador e sempre me deixam na expectativa do que vou encontrar ao abrir a porta. Enfim... São tantos segundos!
Os segundos que antecedem a escuridão têm me feito demasiado sentido nos últimos dias, por isso o seu destaque aqui. Mas a verdade é que todas as lembranças são feitas de segundos, e são nelas que me apoio e me renovo todos os dias, com o intuito de trilhar um novo caminho, um novo recomeçar.
Quanto dura cada segundo não faz a menor diferença. O segundo pode durar apenas um segundo, talvez alguns milésimos de segundo e até mesmo um minuto ou uma hora. Vai depender da intensidade, da vontade, do momento. Ontem enquanto esperava a escuridão ganhar sombra contei os segundos e foram bem menos do que eu imaginava, para mim esses poucos segundos parecem horas e assim continuarão a ser, pois o que me faz bem deve ganhar mais tempo do que qualquer outra coisa na minha vida.
Faltariam páginas para descrever todos os segundos que me provocam prazer de alguma maneira. Na verdade, cada um deles mereceria um texto. Aposto que você também tem aqueles segundos que te parecem horas e que queria tornar dias, não?
Dias com muitos e longos segundos é o que desejo para todos nós...



3 comentários:

Taline Libanio disse...

Texto publicado na capa do Caderno Dois do Jornal Democrata de São José do Rio Pardo/SP, no dia 17/11/12.

Aguardo comentários!^^

Luis F disse...

Ah, os segundos...
Existem os segundos bons, e os segundos ruins...
Mas bons ou ruins, a expectativa sempre esta lá...

Muito bom o texto!

Luis F.

Edvaldo Reis disse...

Eh, demorei alguns segundos pra entrar no blog e ler seus textos rs rs rs. Confesso que percebi que suas palavras refletem o quão especial você eh. Parabéns!