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sábado, 12 de novembro de 2011

Voz pra que te quero...

Estou sem trabalhar há dois dias. Seria um ótimo motivo para comemorar não fosse o motivo que me levou a este súbito afastamento do trabalho. Estou afônica. Logo eu que adoro falar, que não consigo ficar nem meia hora sem falar, aqui estou segurando a língua para recuperar a voz o mais rápido possível.

Só agora consigo perceber o quanto falar é importante para mim. Tudo se torna bem mais complicado quando não posso falar. Comprar os remédios na farmácia, pagar o almoço, atender ao telefone, tudo se tornou um suplício.

De acordo com o médico provavelmente terei que retomar minhas sessões de fonoterapia. Só de pensar em voltar para este compromisso me arrepio. Não consigo me acostumar a tratar algo que para mim não é visível. Quando se quebra um braço e precisa de fisioterapia, percebe-se bem o movimento para a reabilitação, com a voz é algo bem diferente, apesar de perceber os resultados, não consigo vê-los durante as sessões. E isso me incomoda tanto quanto este repouso.

Repouso vocal. Foi isso que o médico me exigiu quando sai do consultório depois de diagnosticado uma laringite que segundo ele já é crônica. Dois dias de atestado em casa, sem falar, tomando muito líquido e contendo a ansiedade.

Apesar de morar sozinha há um bom tempo, não consigo me acostumar muito com a ideia de ficar sozinha por tempo demais. Quando estou na minha rotina, saio de casa às sete da manhã e volto perto das oito da noite, então ficar por cerca de três ou quatro horas sozinha em casa antes de dormir não é sacrifício algum.

Mas ontem e hoje as quarenta e oito horas dos dias pareceram umas oitenta. Não só pelo fato de estar sozinha, mas principalmente por não poder falar. Pensava em ligar para minha família ou para alguma amiga, mas e o repouso vocal?! Foi bem aqui que percebi que bem mais do que viver dias de simples descanso para minha voz estava inscrita em um verdadeiro retiro espiritual.

Aproveitei para colocar o sono em dia, terminei um livro que estava pelo seu um terço, iniciei outro, escrevi dois textos, arrumei meu guarda-roupa e o armário da cozinha. Assisti a dois filmes, pincelei alguns capítulos das novelas, olhei pela janela no pôr-do-sol, lavei o aquário do cágado e deixei-o zanzar pela casa, mas ainda assim o tempo não passou.

Nesses dias em que me enclausurei descobri que muito do que achava que me incomodava não faz mais sentido. Percebi que algumas pessoas que pareciam importantes não chegaram a este nível ainda e outras que pouco se fazem presentes, ganharam um espaço bem maior do que eu imaginava no meu pensamento.

Dias de repouso servem para acalmar o espírito, a mente, o físico e descobrir que por vezes é realmente melhor calar do que correr o risco de se pronunciar em vão. Descobri que o meu querer, a minha vontade não se enquadra na prioridade das outras pessoas, mesmo que eu esteja doente, sozinha e sem poder falar.

Pensei em receber visitas ou fazê-las nesses dois dias, mas que cabimento teria se não poderia falar? Fala que eu te escuto – seria o máximo que poderia dizer. A verdade é que não sei se existe alguém nesse mundo que se contente apenas com a minha presença.

Quando penso nisso, só consigo lembrar-me da minha mãe, que por inúmeras vezes me deixou ficar ao seu lado, deitada de papo para o ar, sem precisar falar uma palavra, sem fazer uma pergunta, apenas me permitindo ali ficar, me fazendo cafuné até me ver cochilar.

Foram nesses dois dias que percebi o que realmente importa e mais do que isso quem realmente se importa. Foram dias de silêncio com o mundo e de diálogo com o meu caos, com meus medos e percepções. Dias de repouso para serem guardados e lembrados sempre que se perceba novamente a falta de voz...

2 comentários:

ana flávia disse...

tatá, poderíamos ter brincado de vaca amarela ontem, né? por que não me lembrou? rs

Isabel disse...

fica triste não miguxa...mulher é assim mesmo, não consegue ficar sem falar, acho que nem quando brinca de vaca amarela, como comentou sua amiga ana flávia rsrs...