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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Uakti


A semana que se encerrou foi repleta de surpresas. Mudanças inesperadas, respostas mal trocadas e muitas perguntas sem resposta. Há quem diga que a vida é assim e ponto final. Há quem diga que a vida nos faz assim e ponto e vírgula. Há ainda, quem nada diz e faz da sua vida um emaranhado de reticências.
Nunca fui de não falar. Falo muito, pelos cotovelos, desde criança. E nem sempre me dou bem com minha tagarelice, por isso o tempo me ensinou a ser ponderada e a escutar mais do que falar, especialmente quando não se tem certeza do que se quer dizer, ou do tornado que uma palavra dita aqui pode causar no outro lado do mundo.
A mudança da última semana refletiu-se na vida de muitas pessoas, não só na minha e tenho que admitir que algumas consequências da transformação ainda não são evidentes, outras me assustam. O murmurinho geral me fez calar. Ouvir mais, respirar fundo e tentar entender todos os 28 lados da história que hoje para mim, ainda não faz tanto sentido.
Acontece que em um desses momentos de abstenção e escuta tive o prazer de ouvir uma história que me trouxe de volta a vontade de enxergar algo bom em tamanho incômodo. A lenda foi narrada por uma pessoa que transborda calma e acolhida, fiquei paralisada até a última palavra e por fim um arrepio invadiu meu corpo e me indicou a necessidade de transformar a incerteza em esperança, e é isso que pretendo aqui.
Aos que já conhecem a lenda, peço licença para mais uma vez reproduzi-la e para os que nunca a ouviram desejo que lhes cause a mesma sensação que me despertou, um novo olhar sobre as dúvidas e incertezas da vida, no meu caso, em especial, as da última semana.
A lenda narra a história de Uakti, um ser mitológico que podia expandir-se a qualquer altura, atingindo a superfície de um precipício facilmente. Tinha o corpo cheio de aberturas, que exalavam música ao se encontrar com o vento.
Uakti, com sua música encantava a todas as mulheres que o ouviam. O encanto era tanto que elas abandonavam filhos, pais, maridos, irmãos e caminhavam hipnotizadas em busca daquela melodia, caindo inevitavelmente no precipício onde se encontrava Uakti.
Inconformados com tanta perda, os índios de uma tribo resolveram se unir e trancar todas as mulheres em uma caverna, as impedindo de ouvir a melodia que as encantava enquanto planejavam um grande ataque ao Uakti.
Uakti foi atingido de todos os lados e sua altivez não foi suficiente para suportar a fúria da tribo. O ser se desfez em pedaços, e foi jogado no fundo do penhasco, respeitando o que ele mais gostava de fazer e indicando o fim daquele encantamento.
Enquanto a tribo comemorava, no fundo do precipício brotavam ramos de uma planta cilíndrica, longa e oca. Assustados com a possibilidade de ser uma maldição de Uakti, um pajé da tribo foi convidado a identificar que planta era aquela.
Cortou um ramo e para melhor entender seu funcionamento fez buracos dentro dela e depois de muito olhar soprou em seu interior e qual não foi sua surpresa ao ouvir ecoar um som semelhante ao produzido pelo Uakti.
O som, antes destrutivo, agora causava boas sensações e harmonia na tribo. Desde então, reproduz-se através de flautas de bambu o som do Uakti, lembrando às novas gerações da possibilidade de transformação e restauração plena de tudo o que há na natureza.
Esta lenda me fez pensar que mesmo quando o fim se apresenta, ainda existe a possibilidade de um novo ciclo ser iniciado. Mesmo na dor do rompimento, da mudança abrupta e incerta é possível transcender a música, é possível provocar harmonia.
Música essa que hoje pode não ser entendida, pode parecer dura e irreversível, mas que pode ser restaurada, a cada buraco feito no oco bambu, a cada sopro dado no caminho que se reapresenta. Música que pode embalar um novo começo, que eu desejo seja belo e acolhedor.
Reportando-me ainda, ao maravilhoso compositor Chico Buarque, arrisco-me ainda a lembrar: “amanhã, vai ser outro dia...amanhã há de ser outro dia”, e que ele se apresente azul, melodioso e capaz de provocar paz a todos nós, pois é tudo o que desejo neste momento. Um copo de paz, por favor!
E para quem gostou da lenda, um convite à música:

http://www.youtube.com/watch?v=B8OwgKuqYWM&feature=related

4 comentários:

cristina rosas disse...

Teu texto soa como a canção de Uakti

Priscila Albuquerque disse...

Estava esperando seu texto. Como sempre nos trouxe leitura grandiosa sobre os acontecimentos.

Anônimo disse...

"mui"lindo tá...que venha a melodia...pois amanhã com certeza será um novo dia bjs.

Fernanda disse...

"O que será o amanhã?" ainda não podemos responder, mas com certeza "vai ser outro dia." e que venham "Dias melhores pra sempre!"

Amiga, o texto ficou lindo, muito lindo! Parabéns!
PS: Onde estão as ilustrações?