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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quem não arrisca não petisca?!


"... os riscos têm que ser corridos, pois o maior perigo na vida é não arriscar nada. A pessoa que não arrisca nada não faz nada, não tem nada e não é nada. Pode evitar o sofrimento e o pesar, mas não pode aprender, sentir, mudar, crescer, viver ou amar. Acorrentados por suas certezas e vícios, é um escravo. Sacrificou o seu maior predicado, que é a sua liberdade individual. Só a pessoa que arrisca é livre." (Leo Buscaglia)

Estou em um momento de crise. Não, não é crise financeira, também não é crise de risos ou de choro. Estou em um momento de crise existencial.
Escutei esta semana uma história que me deixou com uma confusão de sentimentos difícil de explicar.
Soube que um querido amigo deu uma reviravolta em sua vida da noite para o dia. "Chutou o balde" sem se importar com as opiniões alheias, sem esperar algo em troca. Buscava apenas sua liberdade, seu reencontro e isso ele conseguiu.
Um homem novo, recém formado, inteligente, atuando em uma área alheia à sua formação, mas que lhe garantia um bom emprego, com um ótimo salário. Tinha uma companheira, animais de estimação, viagens aos finais de semana e tudo o que o dinheiro podia comprar. Contudo, descobriu um dia que estava para sufocar, que a casa cara não era um lar, que a companheira não era a mulher ideal, que o dinheiro não comprava felicidade e que o trabalho que dignifica um homem é aquele que lhe dá prazer.
Largou tudo. A mulher, a casa, o emprego, o dinheiro, TUDO. Voltou para a casa de sua mãe, com um gato a tira colo e uma vontade louca de recomeçar.
Voltou livre, voltou leve e cheio de sonhos. Voltou a sorrir, a assoviar, a reencontrar os amigos de antes e a querer conquistar novos amigos.
Uma reviravolta. Sem começo, meio e fim. Apenas uma pausa para um novo fôlego, para uma nova vida.
Quando soube do ocorrido me admirei e custei a acreditar no que tinha acontecido. Não conseguia entender como alguém poderia deixar o certo pelo duvidoso, como alguém poderia assumir um risco tão grande, sem certeza alguma, mas depois de muito pensar consegui entender a essência disso tudo.
Diria que tudo não passou de coragem. Coragem de recomeçar, de burlar o senso comum e a vontade dos genitores, dos professores, dos padres e assumir riscos.
Riscos que eu, com minha covardia nunca tive coragem de assumir. Sempre tomei as decisões com os dois pés firmes no chão, sem dúvidas, sem chance de me surpreender com o inesperado.
Tenho tido vontade de assumir alguns riscos. De jogar tudo para o alto e recomeçar, do zero, de um ponto de partida que eu escolherei.
Vontade de sair do emprego e deixar currículos em livrarias ou em jornais. Vontade de gastar todas as minhas economias com a viagem dos meus sonhos e deixar o apartamento para depois. Vontade de começar uma faculdade de artes plásticas e ganhar a vida cristalizando meus sentimentos em arte. Vontade de passar o dia em uma cachoeira e a noite em um acampamento, sem relógio por perto, sem regras, nem cronogramas.
Tenho vivido de forma tão monótona. Trabalho, estudo e o que mais?! Alguns dirão, e o que mais você quer? E eu poderia responder se a pergunta fosse: E o que mais você precisa?
Preciso de histórias para contar, de novos personagens, de novos sabores e cheiros. Preciso de aventuras e de conhecimento. Preciso de novas gargalhadas e de um novo lugar para recomeçar, onde as paredes não tenham sempre a mesma cor, onde os carros não me acordem de madrugada e, sobretudo, onde eu tenha tempo para cuidar de mim.
Já perdi a conta das vezes que ameacei me matricular em um academia, ir ao cardiologista, ao dermatologista e aos outros "istas" desta vida. Tenho deixado o minuto do batom de lado para dormir um pouco mais. Tenho trocado o pão na chapa por um lugar no ônibus. Tenho preferido meu sofá ao cinema com o namorado. Tenho trocado a viagem de férias por boletos bancários. Tenho trocado um jantar com as amigas pelo fundo para o apartamento.
E quando me reconheci assim, tão sem vida recebi o seguinte questionamento: O que você valoriza em sua vida?O quê?
Minha vida. É isso que mais valorizo em minha vida e confesso que a tenho deixado um tanto quanto de lado. Afinal o que é viver? Não é aproveitar cada minuto e não deixar as oportunidades escaparem?
Deixei muitas oportunidades se esvaírem por entre meus dedos, como areia de praia. E tudo isso por ter medo, por não ter coragem.
Medo de quê? Medo de perder o que todos chamam de seguro, mas que tem me deixado extremamente insegura. Medo de perder o trabalho estável, o relacionamento duradouro, as amizades de infância. Que tolice... Medo de perder algo que eu escolhi, que eu construí.
Vocês entenderam a gravidade disso? Tenho medo de arriscar a única coisa que está sob meu controle: minhas escolhas.
Porque todo o resto pode ser tirado de mim a qualquer momento, não é? Posso ser mandada embora amanhã e me sentir uma tola por ter desperdiçado uma outra oportunidade de emprego há seis meses atrás, posso perder meu namorado para outra mulher mais jovem e menos confusa, posso ser traída pelos meus amigos, mas também posso levá-los comigo no coração para onde eu for.
Então... medo de escolher?!É isso que eu tenho?!
Sim. Medo de arriscar e não petiscar, medo de deixar o destino me guiar e me arrepender. Meu amigo não se arrependeu, teve coragem de assumir sua escolha, mesmo sem saber se foi boa ou má, o fato é que neste momento foi a melhor que poderia ter feito. Uma coisa de cada vez, uma escolha de cada vez, simples assim.
Poderia dizer, então, que a covardia é o medo de arrepender-se? E que o arrependimento surge de uma escolha mal feita? E se é assim, creio que para se fazer escolhas é preciso coragem.
Coragem, ausência de covardia. Coragem, não ter medo de arrependimentos. Coragem para escolher uma coisa de cada vez. Coragem é disso que preciso e nada mais.
Ilustração de: Gabriel Vicente.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

De mala cheia!

Passei meu carnaval em terras mineiras neste ano. Viajei rumo a Uberaba, desta vez sem axé ou funk, sem rebolation ou matinê. Levei na mala minha curiosidade e a vontade de esclarecer alguns males entendidos.
Parti receosa, sem saber ao certo onde estaria, quanto seria morosa minha chegada, como seria minha recepção e os dias que lá se seguiriam. Viajei quase sem rumo, apenas com a cara, a coragem e a saudade que me impulsionou a iniciar mais este capítulo, repleto de histórias que agora compartilho com vocês.
Logo na rodoviária de Campinas, ao realizar o embarque decidi me certificar de que o ponto final do ônibus seria em Uberaba e ao questionar o motorista sobre isso tive minha primeira surpresa:
- Boa noite, o ponto final desta linha é em Uberaba?
- Não senhora. Este ônibus saiu do Rio de Janeiro e só finaliza seu percurso em Cuiabá.
- E o senhor pode me avisar quando chegar a Uberaba? Nunca fui para lá.
- Quando chegarmos em Ribeirão Preto te aviso, ai você fica acordada porque vai ter troca de motorista e seu ponto já será o próximo.
- Mas tem risco do motorista seguir viagem comigo no ônibus? É que talvez eu durma...
- Ah, isso só aconteceu umas vinte vezes, é raro acontecer.
Vinte vezes. Pronto, brincadeira que ao aliar-se à minha ansiedade foi suficiente para me deixar acordada como uma coruja durante toda a viagem. De olhos atentos naquela estrada comprida, que parecia não ter fim, aguentei um calor terrível que mesmo durante a noite deixou o ar abafado e me deixou suando, com a sensação de já estar em Cuiabá. Momento pouco propício para uma pane no ar condicionado do ônibus, mas depois de dez horas tranquilas de viagem alguma coisa teria que acontecer, senão não teria graça, senão não seria comigo.
Dito e feito, restavam as duas últimas horas do percurso até Uberaba quando o ar condicionado do ônibus decidiu entrar de greve, sem prévio aviso, soltou um cheirinho de queimado e parou de funcionar. Logo imaginei que seria só o início de uma viagem com muitas histórias para contar e foi dito e feito.
Ao chegar à rodoviária de Uberaba fui recebida por meu namorado e seus pais, que me acolheram num abraço forte e me fizeram me sentir quase em casa.
No dia seguinte descobri que meus dois celulares não funcionavam em terras mineiras e que estava praticamente sem contato com as terras paulistas, exceto é claro pelo telefone fixo da casa que me acolheu por estes dias.
Fui apresentada à cidade por um guia que não estava lá muito atualizado e que me fez dar boas risadas com sua falta de informação. Tão desinformado estava, que mesmo morando lá há 14 anos, só pode me assegurar que em uma lanchonete chamada Ilha do Açai, eu encontraria açai. Além disso, nada mais.
Conheci pouco da cidade, notei que é bem arborizada e repleta de estranhices,como toda cidade que se preza e precisa ter histórias para contar.
Descobri que as tampas dos bueiros são em sua maioria quadradas e que em uma das ruas ainda funciona a mão inglesa, descobri uma igreja de estilo néo-gótico, construída em 1895 por padres dominicanos, que me fez parar de respirar por alguns segundos com sua altivez.
Conheci o delicioso macarrão na chapa, o biscoito Carolina que não tem recheio de creme nem cobertura de chocolate e provei deliciosos pães de queijo.
Visitei a terra dos dinossauros, onde me arrepiei só de imaginar aqueles bichos enormes vivos. Puxei a cauda de um deles, enquanto comia doce de leite ninho e comprava doce de leite com amora.
Conheci o Museu Chico Xavier, onde pude olhar seus pertences, as roupas e os móveis na casa onde viveu tanto tempo, conheci seu filho, que foi muito receptivo e me falou sobre as obras da instituição, me indicou a Casa da prece e me vendeu dois CDs que em breve serão dados a minha mãe. Caminhei por quase trinta minutos em um cemitério até encontrar o memorial Chico Xavier, fiz uma breve oração e voltei com os pés doendo.
Conheci os irmãos do meu namorado, fui presenteada com uma nova amiga com nome de flor e descobri histórias de sua infância que me fizeram gargalhar por horas. Comi doce de leite com queijo fresco e churrasco até cansar. Provei uma pimenta que não era para ser ardida, mas que ardeu até o céu da boca.
Ganhei a muda de um cacto e de uma suculenta para aumentar meu jardim no pequeno apartamento. Ganhei um cágado que ainda não sei se é macho ou fêmea,mas seguindo o conselho da minha cunhada deve ter um nome feminino com apelido masculino, assim quando soubermos o sexo ela não terá crise de identidade (no começo achei um tanto quanto estranha esta história, mas depois de saber que suas Florzinha e Docinho transformaram-se em Floc e Doc comecei a entender).
Atravessei a ponte que faz a divisa entre os estados de Minas Gerais e São Paulo e que corta o rio Grande, me admirei com a largura do rio, e entendi o porquê de seu nome, êta rio grande mesmo. Coloquei meus pés em suas águas e entendi porque o rio Pardo é pardo, as águas do rio Grande são quase cristalinas, não tem aquela cor de barro tão comum a nós riopardenses. Não quis andar de canoa, pois o sol estava forte demais, mas aproveitei a sombra de uma árvore frondosa que derrubou umas sementes duras na minha cabeça quando a brisa soprou forte.
Por ironia do destino conheci nas margens do rio Grande uma moça de Mococa e uma senhora de Casa Branca que depois de algumas horas de conversa me mostrou como esse mundo é pequeno. Conheci mais uma criança encantadora que em breve se tornará personagem de um de meus textos.
Recebi declarações de amor do alvorecer ao anoitecer, na mesa do almoço e do jantar. Recebi abraços apertados o tempo todo e tanto carinho que só de lembrar já sinto saudades.
Assisti ao filme do George Clooney por apenas R$2,50 e olhei no relógio para ver se ainda dava tempo de uma outra sessão. Aluna de pós-graduação também paga meia-entrada em terras mineiras.
Passei por ruas tão largas que comportariam desfiles de uma escola de samba do primeiro escalão, e o mais interessante sem sinalização horizontal. Nenhuma linha para dividir a pista, nadinha. Fiquei pensando que ali poderiam andar pelo menos cinco carros no mesmo sentido, lado a lado e a confusão que isso traria em uma curva. Senti medo do "morro da onça" que me deu mais frio na barriga do que andar de montanha russa.
Entrei na Catedral e ajoelhei aos pés de Santo Antônio em homenagem a uma amiga que já virou até a igreja do santo de cabeça para baixo e até agora não recebeu nenhum sinal, ou se recebeu não conseguiu lê-lo. Descobri neste dia que o verdadeiro santo casamenteiro é o Santo Expedito, o das causas impossíveis e que Santo Antônio só serve para casamento caipira. Contudo, acho que esta afirmação é contestável, já que uma das minhas amigas enterrou o Santo Antônio de cabeça para baixo e hoje está casada. Se bem que com tanta pressão, é provável que qualquer santo faça o sacrifício de interceder por uma união. Será?!
Coloquei os pés na grama enquanto me sentava no banco do jardim e refiz minhas impressões, minhas emoções e minha mala.
Voltei com a bagagem repleta de histórias, de novas pessoas, novos sabores e ótimas recordações. Recordações bem diferentes das de carnavais passados, nem melhores, nem piores, apenas diferentes que me permitiram conhecer um pouco mais de algumas pessoas, mas, sobretudo, mais de mim mesma e me impulsionaram a seguir em frente mesmo que para isso seja preciso, em alguns momentos, frear alguns tratores...
Ilustração de: Gabriel Vicente.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tratores e corações não combinam...

Meu coração está partido. Partido ao meio, em pedaços, nas pontas e dos lados. Mais uma vez partido.
Desta vez o pobre coração não caiu, não levou solavanco, nem flechadas. Para dizer a verdade, nem sei ao certo o que aconteceu, talvez um mal entendido, ou quem sabe a distância, quiçá a insegurança ou ainda a incompreensão.
O fato é que se partiu e agora dói.
Não é um ferimento profundo, daqueles incapazes de curar. Nem tampouco me causa desespero ou desânimo, apenas dor. Um ferimento que provavelmente deixará uma cicatriz rala, para lembrar-me do quanto é perigoso amar.
Um ferimento que custa fechar, mas que irá sarar, pois tem sido cuidado com muito apreço.
Meu coração foi vítima de um atropelamento. Passaram por ele tratores de ofensas e injustiças. Tratores cegos e agressivos que nem me deixaram dar um passo à frente ou atrás. Tratores que me atropelaram e me fizeram chorar.
Hoje tive a certeza de que tratores não combinam com corações.
Quisera ter passado por aquele campo de batalha imune. Quisera não ter sofrido nenhum arranhão, mas o amor é assim. Faz-nos tropeçar, nos reerguer e logo em seguida nos empurra aos berros: Segue em frente!
Ainda não sei qual caminho seguir. A dor ainda não passou, estou receosa de voltar e dar "de coração", digo, "de cara" com outro trator, mas ao mesmo tempo temo seguir e passar por cima de um coração que me foi dado.
Quisera que as pessoas entendessem de uma vez por todas que tratores e corações não combinam!
Quisera tanto que as pessoas passassem a abrir passarelas em campos floridos ao invés de estradas de terra. Queria mesmo que um dia as pessoas entendessem as faces do amor e dele não mais se estranhassem.
Amizade, fraternidade, irmandade, amor, humanidade. Sentimentos separados por uma linha tênue, tão tênue que alguns não conseguem enxergar, uma linha tão sutil que impede a tantos outros decifrá-la.
Quisera que as pessoas entendessem que não há amor maior ou menor, apenas diferentes formas de amar. Que não existe amor de mãe maior que de amigo e de namorado maior que de irmão. Que cada forma de amar encontra sua forma em cada coração. Que cada coração dá seu formato ao amor que recebe e dele se apropria da melhor maneira possível.
Existem aqueles que pouco demonstram, mas sabem que o amor está lá. Existem outros que escancaram toda sua emoção, transparentes, capazes de em um abraço apertado ou de em um sorriso sincero dizer constantemente: amo você, quero-te bem, você é especial.
Quisera que as pessoas aprendessem a valorizar mais o amor que têm e deixassem de medi-lo com o que vêem. A intensidade do amor que você recebe está nos gestos, no ato e na história que você construiu com cada doador de um pouco de amor.
Quisera que todos nós aprendêssemos a nos dedicar a cada sementinha de amor que nos é dado e deixássemos de nos preocupar com as sementes dos outros.
Quisera que ao invés de atropelar corações, os tratores tirassem todo o mau olhado e as ervas daninhas que fazem morrer tantos amores.
Por que usaste logo o trator?! Eu só precisava de um pouco de água para regar o amor que tinhas me doado...

Ilustração de: Gabriel Vicente.