Vote aqui! :)

domingo, 9 de maio de 2010

Estátua!


Tenho escutado uma pergunta nos últimos dias com tanta freqüência que tem começado a me incomodar. As pessoas sempre me perguntam da onde vim, o que faço e quando escutam as respostas parecem indignadas: Nossa!Mas como você consegue?!
Uma, duas, três, quatro pessoas em menos de uma semana me fizeram a mesma indagação e com a mesma intensidade. Pelo espanto e pelos olhares incrédulos na certa deve ter algo errado. Só não descobri se comigo ou com o resto do mundo.
Como eu consigo administrar mil coisas em 24 horas? Como eu consigo ficar longe da minha família? Como eu consigo manter uma vida social? E a pior delas: Nossa! Mas você ainda consegue ter um namorado? Então está no lucro!
Não quero responder nada disso, apesar de achar mesmo um grande lucro ainda ter um namorado compreensível diante da minha falta de tempo e paciência. Também não quero falar sobre a intensa saudade da minha família e amigos. Menos ainda falar sobre a ausência de minha vida social e da falta que sinto do dia das meninas e das tardes de domingo nos parques da cidade ouvindo boa música.
Quero hoje apenas fazer uma pergunta: Por que as pessoas se incomodam tanto com a rotina dos outros?
Será que é muito difícil alguém entender que algumas pessoas gostam de dias mais dinâmicos, e conseguem conciliar duas ou três atividades em uma mesma semana? Tudo bem que não tenho tido muita sanidade nos últimos meses, é claro que podia ter esperado terminar um projeto para começar outro, mas se foi possível unir, por que separar?!
Sim, sim, para ter mais tempo, mais qualidade de vida e um enorrrme vazio. Lembro-me bem do enorme vazio que sentia logo que me instalei nesta cidade. Trabalhava, mas parecia pouco. Cheguei até a arrumar um emprego paralelo, mas ainda assim tinha muito tempo de sobra. E hoje, aqui estou, mendigando cinco minutos a mais no meu dia.
A verdade é que nunca, nunquinha estamos satisfeitos com nossa situação. E pode ver que isso acontece com todo mundo, homem, mulher, criança, jovem, idoso.
As mulheres vivem trocando a cor e forma dos cabelos, as que os têm lisos imploram por mais volume, as que os têm cacheados dariam um dedinho do pé por eles lisos e domados. As crianças sempre sonham com a vida adulta, até nas brincadeiras insistem em adiantar a vida profissional. Os jovens moldam sua personalidade através de exemplos da mídia, estando hoje darks e amanhã coloridos, querendo ter 18 anos logo para tirar carteira de habilitação e conquistar aquela gatinha. Os idosos vivem da nostalgia de bons tempos, ah se aquela época voltasse, dariam tudo por mais alguns anos de vivacidade, de juventude. E assim vai...
Sempre queremos estar em outro lugar, de outro jeito, com outras pessoas. Isso sem contar quando não assumimos a vontade de mudar nossos hábitos e começamos a julgar os hábitos alheios. São os outros que fazem demais, ou eu que faço menos. São os outros que têm mais tempo, ou eu que não consigo organizar o meu, enfim. Sempre buscamos mais, mais e mais. E o que nos basta?
Talvez o segredo esteja bem aqui. Enquanto apenas nós não formos suficientes para nos saciar, nunca teremos o bastante. Enquanto não estivermos satisfeitos conosco e com nossos defeitos, dificuldade e limites, os assumindo e propondo mudanças sutis, sempre estaremos nos torturando querendo mais, mais e mais.
Em uma tentativa frustrada de esconder uma imagem vista em qualquer espelho. Tentando esconder ou congelar as dificuldades, para que a mudança não se faça necessária. Mudar pra quê? Por quê? Para quem? A resposta é apenas uma: mudar por você, e ninguém mais.
Às vezes me sinto em um jogo de crianças, onde o “vivo e o morto” estão sem saber seus papéis reais. Muitas vezes gostaria que a brincadeira mudasse e alguém gritasse Estátua, para que tudo se congelasse, para que o tempo invadisse meus pulmões e me trouxesse de volta a tranqüilidade para raciocinar. Mas se alguém não me salva, que graça tem? Ninguém gosta de ficar como estátua o jogo inteiro.
Vamos desengessar nossos pré-conceitos e correr atrás do novo. A mudança causa um pequeno furacão em nossas vidas, assusta, destelha casas e deixa cabelos brancos, mas também traz tanta conquista, tanta experiência e força para próximos recomeçares. Chega de Estátua! E agora que te salvei, está com você!


Ilustração de: Gabriel Vicente.

2 comentários:

Marly Meyre disse...

Olaaa!!!
É muito bom ter uma vida bem agitada, nos sentimos vivos.
Eu não consigo ficar sentada na varanda esperando a morte chegar.
Mas, de vez em quando é bom ficar de papo pro ar por algumas horas.
Refaz nosso cerebro. hehehe
Então... está com vc...de novo.
bjus no coração

FM disse...

Minha amiga, lembre-se de um grande ensinamento budista: Siga o caminho do meio, nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. Assim a gente chega em forma.
Bjs.
Desculpe a ausência, vou tentar te alcançar.