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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A caneca

Terça-feira. A primeira do verão deste resto de ano. Dia quente. Convidativo para uma reunião em bar com os amigos, ao lado de uma cerveja gelada e de uma brisa fresca. Dia estranho que me fez fugir da rotina de manhã até o início da noite e transformou a rotina restante em risos e versos. Manhã preguiçosa que me convidou a ficar na cama por mais cinco minutos e que me obrigou a correr até o ponto de ônibus por outros cinco. Minutos lentos que atravessaram a janela do ônibus e me apresentaram o ir e o vir dos carros e das pessoas. Dia repleto de papéis, mas isento de preocupações profissionais. Dia de preocupação com a saúde e de constrangimentos. Terça-feira atípica. Tarde de almoço de confraternização no trabalho. De samba de roda e de cerveja na mesa do escritório. Tarde de luz e de risos. Dia de perguntas inconvenientes e de apatia. Confesso que não estava disposta a encarar com muito prazer este dia, até porque fisicamente meu corpo ainda pedia pausa e gritava por repouso. Não sei se por conta das últimas notícias ou do calor excessivo, o fato é que não tive ânimo para o samba, nem para as fofocas espontâneas. Limitei-me a observar e tudo não teria passado de uma terça-feira quente se não fosse pela cumplicidade que me foi apresentada em um convite: - Já que você não pode ir para o bar, combinamos de ir tomar um café. O que acha?! - Café? - É. Café. Passo para te buscar umas cinco horas. Mal tive tempo de responder o sim ou o não, principalmente por pensar em alguns detalhes deste convite, do tipo: Café, em uma tarde quente desta? Café, na primeira terça-feira de verão deste resto de ano? Café, simples e puro café? Puro, com leite, frio, quente, com conhaque ou chantily, de um jeito ou de outro, assim ou assado, posso afirmar que foi o mais agradável café de todos os meus dias. Café forte, mas doce. Café preto e branco. Café para despertar e sorrir. Foi assim, com um simples café que se iniciou mais um delicioso “Dia das meninas”. Foram quase quatro horas de conversas intensas. Muita comilança e bobagens que iam e vinham com a garçonete. Mimos de Natal com direito a cartão individual. Pedidos de atendimento feitos por engano por simples reflexo ou curiosidade. Soda de maça verde. Dúvidas entre mais de vinte itens que iam de cima a baixo no cardápio. Fofocas amargas ou auspiciosas, tudo isso acompanhado de um simples café. Poderia falar de muitos assuntos tratados naquele final de tarde, mas nenhum teria tanto significado quanto o que mais nos rendeu risadas e fechou o encontro e o ano com chave de ouro (ou seria de alumínio?). Final da tarde, início da noite, céu claro, com poucas nuvens. Hora de pagar a conta e voltar para casa. Fila do caixa, cálculos e olhares curiosos em volta das coloridas paredes do Café. - Nossa! Que caneca linda! Olhei para meu lado direito e vi uma de minhas amigas segurando uma caneca de alumínio azul, destas que se usa para levar café para o trabalho. No mesmo instante todas concordaram com o elogio e atentas olhamos para a garçonete que disse: - Acho que essa é a última, aproveita para levar, é só R$9,90. - Vou comprar para presentear você! – disse uma outra amiga virando-se para a última integrante do quarteto, que por coincidência faria aniversário naquela semana. Conversa vai, conversa vem. A caneca já estava de posse da futura aniversariante quando uma outra atendente, com mais tempo de casa interrompe a conversa e diz: - Ela disse o preço errado para vocês. Essa caneca custa R$25,00. - O quê?! – disse a compradora da caneca ao mesmo tempo em que tirava a caneca das mãos da aniversariante e a devolvia no balcão. - É que ela é nova aqui e não sabe o preço direito. - Mas e agora? Se eu não levar, minha amiga vai achar que não merece um presente de R$25,00, mas está muito caro! - Mas não posso fazer nada! - Moça, ela já nasceu no Natal, ganha só um presente por ano, se ela achar que ela não merece essa caneca que custa R$25,00, como você acha que ela vai se sentir? - Então, compra a caneca para ela e prova que ela merece, ué! E assim, deu-se o diálogo entre a compradora da caneca e a atendente, enquanto isso, eu, a futura aniversariante e nossa outra amiga nos desmanchávamos de tanto rir no meio do saguão. Resumindo, a aniversariante saiu de lá com a caneca. A compradora da caneca saiu de lá com seu presente eternizado em uma fotografia digna de porta-retratos e nós ganhamos uma tarde inesquecível de risadas e disse que me disse. É por estas e outras que admiro incessantemente as pequenas coisas da vida. É por estas e outras que valorizo tanto minhas amizades. Um simples café tornou um dos dias mais indispostos do ano, uma tarde repleta de gargalhadas e de boas recordações. Recordações que só tornaram-se tão boas e inesquecíveis por estarem, eternizadas nos sorrisos e abraços de grandes amigas. Um brinde à caneca térmica, à amizade e ao cafezinho, é claro!



Ilustração de: Gabriel Vicente.

4 comentários:

Marly Meyre disse...

Sempre digo:
Amigos temos poucos.
Mas, qunado os temos...
Não tem preço.
kkkkkkkkk

bjus

Paterson Franco disse...

É que o que chamamos de "pequenas coisas da vida" são pequenas no geral, para o mundo, para a vida como um todo, mas na verdade são muito grandes pra gente, quando valem a pena. uma pequena coisa pode mudar o rumo de absolutamente tudo. eu até postaria aqui o link de um texto que escrevi mais ou menos sobre isso no meu blog, mas acho que iria parecer spam. se quiser ver, o texto chama-se "switches". fui.

Paulo disse...

Se eu fosse ela eu falaria pra todas as amigas racharem o valor da caneca hehe... afinal todas sao amigas e deveriam dar um presente bom haha. Mto engraçado o texto!

Anônimo disse...

Concordo, elas nem se ofereceram para dividir o valor da caneça,depois eu sou pão-duro, né,rsrsrsr.
Bjos e saudades do dia das meninas!!!