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sábado, 12 de dezembro de 2009

Enquanto o tempo vai e a vida vem...

Tenho tido bastante tempo para pensar nos últimos dias. Por mais incrível que pareça, fui acometida por uma dolorosa caxumba. Doencinha esquisita, que me obrigou a tirar férias forçadas do trabalho e me colocou de repouso por longos e intermináveis dias.
Nunca imaginei que seria vítima desta doença beirando os vinte e seis anos, nem que a tal caxumba – doença de criança, perigosa para os homens na fase adulta, fosse tão dolorosa, menos ainda que me cansaria de ficar deitada e não teria mais filmes na minha lista intitulada: “Assistir nas férias...
O fato é que tanto tempo livre me possibilitou refletir sobre o que tenho feito do meu tempo e com a minha vida, e mais, me fez pensar nos meus quereres. Pensei no que tenho construído e no que tenho destruído nos últimos meses e tentei organizar tudo com etiquetas coloridas, como se fossem caixas em uma grande estante.
Pensei nos prazos que deixariam de ser cumpridos no meu trabalho e em todo o trabalho que teria na volta. Cheguei a sonhar com reuniões, com o grupo de crianças, com as cestas básicas e com o carrancudo auxiliar administrativo.
Pensei nas mensagens confortantes que recebi dos poucos, mas fiéis amigos que conquistei ao longo da vida e no quanto me fazem falta.
Pensei na minha família que nos últimos dias dividiu-se entre: os que já tiveram caxumba e os que não tiveram, revezando telefonemas e paparicos que deram um pouco de cor nestas tardes doloridas, me fazendo companhia no décimo filme ou me trazendo a terceira gelatina do dia.
Pensei no meu namorado e no quanto perdemos tempo falando de problemas e nos chateando nos poucos momentos que temos para ficar juntos. Pensei no quanto poderíamos rir mais, sair mais e deixar mais lembranças para este sentimento que tem se fortalecido com o passar dos dias. Pensei no vazio que sua ausência me causa e nas dúvidas que rodeiam nosso namoro e fiquei confusa.
Pensei nas aulas que deixei de assistir das duas pós-graduações que teimosamente continuo a fazer e nos livros que terei que ler quando retornar.
Pensei no texto que tinha que ser encaminhado para o jornal e no quanto tenho sentido falta de escrever. Pensei nos leitores e nos meus e-mails que estão sem resposta há mais de uma semana.
Pensei no quanto minha vida está dividida entre lá e cá e no quanto me embaralhei ao colocar algumas coisas na estante. Tantas coisas que deveriam estar na cômoda do prazer e passaram para a gaveta das obrigações. Tantas pessoas que deveriam estar na mesa de centro e foram penduradas no cabide. Tantas vontades esquecidas no fundo do baú, tantos momentos desperdiçados, tanto tempo indo enquanto minha vida vem.
Pensei no que tem me movido a fazer escolhas. No que tem me feito errar tanto algumas vezes e a acertar sem querer em outros momentos. Pensei nas coisas que gostava de fazer quando era mais jovem e que foram esquecidas. Pensei nos desenhos em grafite e carvão, nos quadros de tinta a óleo, nas flores de crochê, na minha coleção de cactos e nas aulas de natação.
Lembrei-me com saudade das habilidades que deixei de exercer e pensei no quanto tenho deixado o tempo passar enquanto minha vida vem. Pensei em algumas conversas que viraram discussões e no silêncio que me fez calar tantas vezes. Pensei nas lágrimas retidas, no nó na garganta e nas gargalhadas que há tempos não surgem espontaneamente.
Olhei para mim e me observei de fora, me vi cheia de compromissos, e sozinha, rodeada por um mar de gente. Olhei para dentro de mim e descobri o que me move.
Pensei na certeza de sair daqui e ir para lá, nas dúvidas do recomeçar e na confiança do que seria melhor. Pensei no adeus, nas pessoas que estão do outro lado do mundo e ainda vivem tão forte no meu coração e no quanto me obriguei a reencontrá-las, por tanto tempo.
Pensei no que espero do meu futuro e não encontrei resposta alguma. Descobri que viver os dias um a um pode ser maravilhoso e que fazer planos para daqui há dez anos, pode ser mais doloroso do que a caxumba, já que ninguém faz planos sozinho e contar com personagens para nossa história pode ser bastante decepcionante.
Descobri que o que me move mais que o amor em tudo o que faço é a minha confiança.
Confio na minha competência profissional, confio nas amizades que se cristalizaram com o passar do tempo, confio no amor da minha família, confio no meu coração e em tudo o que ele tem me ensinado, confio na minha ânsia de novos conhecimentos e, sobretudo, confio em mim.
Descobri que não estou infeliz, nem tão pouco descontente, creio que me falta apenas organização. Nada do que vivo foi imposto, cada momento, cada pessoa que entrou e saiu da minha vida, cada dia passado, presente e futuro, tudo foi em determinação da minha vontade, da minha escolha e das minhas renúncias.
Descobri que preciso recobrar algumas velhas alegrias e aspirar novos horizontes. Descobri essencialmente que confiança gera auto-estima, que gera confiança, que gera amor, que gera confiança, que gera coragem, que gera confiança, que gera escolha, que gera confiança, que gera sabedoria, que gera confiança, que gera personalidade, que gera confiança e que finalmente gera ple-ni-tu-de...
Enquanto o tempo vai, a vida vem plena e cheia de surpresas. Eu que o diga, ter caxumba nesta fase da vida é mesmo algo inimaginável e ainda arriscaria dizer: incrível. Fez-me brecar o ritmo e colocar cada coisa em seu devido lugar, enquanto o tempo vai e a vida vem, enquanto as coisas se apertam e se encaixam nesta longa e colorida estante...

Ilustração de: Gabriel Vicente.

3 comentários:

Anônimo disse...

hm, ao ler seu texto pensei nessa música, que te ofereço porque já a ofereci tantas vezes a mim mesma..e ela sempre fazia sentido

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
(caetano veloso_oração ao tempo)

abraços
Tamara

Marly Meyre disse...

Oie!!!

que vontade de organizar minha vida em caixas e colocar algumas coisas na prateleira.
kkk
mas como sempre digo: vivo um dia de cada vez, em perspectiva de um futuro melhor.

bjus Taline
vc mora em meu coração(sem te conhecer pessoalmente)

Bele disse...

sua caxumba também me fez refletir sobra alguma questões...apesar do seu sofrimento, ela suavizou uma possível tensão entre nós...me preocupei, precisei de saber notícias suas...as vezes a gente precisar levar alguns sustos para entender que a unica coisa que realmente vale a pena nesta vida, são as pessoas...obrigada pela oportunidade de pensar um pouco...bjs.