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sábado, 29 de novembro de 2008

Coisas que me irritam...


Sei que assim como eu, você com certeza já deve ter passado por isso. Tem coisas que você faz e te irritam, tem coisas que você deixa de fazer e te irritam ainda mais. E nestas horas temos a mania errada de tentar achar culpados.
Sempre é mais fácil jogar a culpa no vizinho, no irmão caçula, no cunhado, no namorado ou no chefe quando algo não vai bem, afinal, errar já é complicado, traz um monte de problemas e, admitir o erro, bem, isso seria admitir que você fez uma grande besteira e ninguém gosta de se sentir uma besta, não é?
Pois bem, hoje meu intuito é alertar, especialmente a mim mesma, sobre as besteiras e erros que vivo cometendo e me irritam. Creio que muito disso já serviu, serve ou servirá para você também, cedo ou tarde, porque infelizmente todos erram, um dia ou outro, e alguns têm a proeza de errar em todos eles, assim, convém anotar algumas dicas.
Mais uma vez começo com um assunto que sempre está presente, nesta coluna e na minha vida, com certeza já sabem que se trata dos meus fracassos amorosos, e é isso mesmo, fazer o quê, esse negócio de amor não funciona mesmo comigo, mas esse não é o problema, o problema é a insistência. Meu Deus! Como sou insistente.
Geralmente não me convenço com um simples “não deu certo, foi melhor assim”, meus relacionamentos têm que acabar de forma trágica, deixando marcas profundas, prejuízos com caixas de lenços e sabem de quem é a culpa? É toda minha. Eu teimo, não me conformo, busco uma explicação, a reconquista, até que escuto ou vejo o que não quero e então, eu sossego. E é bem ai que me sinto uma besta: “como pude procurá-lo outra vez?”.
Mas não é só em relacionamentos que faço coisas que me irritam. Creio que todos vocês já precisaram fazer uma bateria de exames, sejam eles pré-operatórios, pré-nupciais ou de rotina. Aliás, quem sente tontura e náusea só de ouvir falar em sangue é melhor pular o próximo parágrafo. Pois bem, aviso dado, eis o fato.
Dia desses fui fazer um exame de sangue, escolhi um laboratório conceituado e lá estava, às sete da manhã, de jejum, de mau-humor e com uma agulha no braço. Terminada a tortura colocaram um curativinho na picada e me disseram para segurá-lo. Cumpro metodicamente a instrução e em menos de um minuto começa a jorrar sangue do meu braço, e jorrar aqui não é exagero, era muito sangue, manchei a roupa, a bolsa e o chão.
Quando a enfermeira viu me disse que era normal e que a culpa era minha, pois não tinha apertado direito o curativo. Pois é, realmente a culpa foi minha. Não por não ter apertado o curativo direito, pois o fiz, mas por confiar em um laboratório que apesar de conceituado, há alguns meses tinha me deixado com o braço roxo, inchaço e dolorido após uma simples coleta de sangue. A reclamação na ouvidoria me rendeu uma pomada antiinflamatória e a minha culpa, visto que mesmo já tendo passado por isso, voltei lá.
Consigo, ainda, me irritar profundamente quando procuro uma roupa no armário e a encontro no cesto de roupa suja, sem tê-la usado, ou simplesmente não a encontro. Fico louca da vida e sabe o que eu faço? Nada. Porque a culpa é toda minha. Eu que tenho a mania de deixar muitas coisas para lá acabo não dizendo que nem tudo pode ser emprestado sem consentimento, que nem tudo que é meu é de todos e ser altruísta demais acaba nisso. E sabe por que não falo nada? Porque senão vou ter que escutar: “nossa como você é egoísta, daqui não se leva nada”. E concordo, não se leva nada daqui, nem mesmo minhas roupas novas, porque essas eu nunca encontro.
Sinto-me uma idiota completa quando meu chefe diz que tenho que trabalhar algumas horas a mais por dia e aos finais de semana, e sabe o que respondo? Nada. Ao mesmo tempo me lembro dos compromissos que terão que ser adiados, das viagens que serão interrompidas, do stress que irei acumular, do trabalho que não conseguirei terminar e quando ele diz que vou receber hora extra dou um sorrisinho e digo: “tudo bem, quando eu começo?”.
E quando chega o final de semana e não posso viajar porque tenho que trabalhar, não posso sair porque estou cansada demais para isso , me sinto uma tola. Afinal, a culpa é minha. Podia ter dito que não, perder uma promoção no emprego e ganhar qualidade de vida, mas diriam que isso é errado, mesmo que desse mundo não se leva nada, perder uma chance dessas não seria bom, não é?
E é assim, acabamos nos irritando com nós mesmos diariamente e isso é muito pior do que quando os outros nos irritam. Com os outros você pode soltar um palavrão e sentir-se aliviado, mas quando o culpado é você um xingamento não basta. A sensação de ser uma besta toma conta de você, e o problema maior é que ela não dura por muito tempo, logo você esquece, deixa para lá, se acomoda com a nova rotina e acaba compensando seus erros com coisas que nunca valeram muito a pena.
Então eu pergunto, por que nos acomodamos? Por que deixamos de nos irritar? Por que deixamos a besta de lado e passamos a ser cordeirinhos que aceitam tudo o que é dito pelo senso comum? Por que ficar calado quando você tem razão? Por que trabalhar até seu limite se não terá nem disposição para gastar o reajuste salarial? Por que insistir num amor que te machuca tanto? Por que temos sempre que ver para crer e rever para acreditar piamente?
Para essas perguntas eu não tenho respostas. E isso me irrita. E sabe de quem é a culpa? É toda minha.

sábado, 22 de novembro de 2008

Papa o quê? Gaio!


Andar de ônibus não é a melhor coisa do mundo, principalmente às sete horas da manhã, após ficar quinze minutos em uma fila e logo em seguida perceber que aquela pessoa que estava atrás de você conseguiu viajar sentada e você não.
Mas isso não acontece sempre, no máximo cinco vezes por semana, especialmente nas quartas e quintas-feiras, que creio eu, sejam os dias em que as diaristas são mais procuradas. Afirmo isso porque a linha que uso para ir trabalhar passa por um dos maiores condomínios da cidade, o ônibus sai abarrotado do terminal, e lá se esvazia, como se fosse mágica!
Bem, dia desses, quando me adiantei e pude ficar vinte minutos em pé na fila e finalmente conseguir meu lugar ao sol, digo, no ônibus, presenciei uma conversa no mínimo animada.
Sei que é falta de educação ouvir a conversa dos outros, mas neste caso foi impossível não ouvir, por três motivos em especial: meu mp3 estava sem bateria, a pessoa que viajava ao meu lado estava dormindo e principalmente pelo tom de voz e gargalhadas que me chamaram a atenção para o assunto.
Sentei-me nas primeiras poltronas e logo atrás de mim duas diaristas conversavam animadamente. Não me atrevi a olhar para trás e identificar seus semblantes, mas pela voz consigo imaginá-las. Aliás, esse é um exercício que gosto de fazer, escuto a voz das pessoas e crio uma imagem delas na mente, depois olho para ver a realidade, já me surpreendi tantas vezes que não posso afirmar se são reais ou não, mas tentarei descrevê-las pelo que pude ouvir.
Umas delas tinha a voz bem aguda, e uma risada contagiante, imagino que seja baixa, cheinha, de cabelos compridos e presos em um coque. A outra falava e ria baixinho, creio que era alta e magra, cabelos crespos e rosto tímido.
A conversa começou com notícias rotineiras e a programação do final de semana, afinal, já estávamos em uma quinta-feira, até ai tudo bem, mas o que me chamou a atenção foi o seguinte diálogo:
- Qual será a novidade de hoje hein?
- Ah não quero nem saber. Da última vez ela me apareceu com um papagaio!
- Papa o quê?
- Gaio!
- Verdade?
- Juro por Deus! Minha patroa tem cada idéia...
- E você cuida do bicho?
- Eu cuido de tudo lá, tenho que cuidar do papagaio também. No começo não gostava não, bicho esquisito, soltava um monte de penas, fazia uma sujeira danada e ainda me bicava, me rasgou duas blusas!
- E a patroa te deu outra?
- Até parece! Ela riu.
- E você?
- Ri também ué...vou fazer o quê? Mas cheguei a imaginar o bicho depenado e bem fritinho! Com uma cervejinha hein?!
Nessa hora as duas gargalharam muito, a ponto de perceber por suas sombras que chacoalhavam o corpo. Só pararam de rir quando uma das duas perguntou:
- Mas o papagaio ainda te bica?
- Não, agora somos amigos! Ele até conversa comigo. O danado é esperto que só vendo! Toda vez que a gata deles pega algum passarinho ele grita, grita até que eu apareça. Então tiro o bichinho da boca da gata e ele ri bem alto.
- E a gata?
- Me unha e depois corre!
- Mas você não tem sorte com esses bichos não hein?!
Novas gargalhadas e um suspiro bem fundo. O ônibus se aproximava do condomínio:
- É... chegamos.
- Pois é, a melhor parte do dia acabou.
- E não é mesmo?
- Vamos ver qual será a novidade de hoje.
Que seja uma novidade agradável e que lhes mostre que o dia pode ter coisas bem melhores do que uma conversa no ônibus, pensei.
Não tive coragem de olhá-las e conhecer seus semblantes, preferi guardar a impressão que tive durante a conversa, e eternizar aquele momento e aquelas gargalhadas neste texto.
Passei o resto do dia pensando naquela fala, e na diferença que existe entre nossos interesses e realidades. Os valores e prioridades de uns nem sempre são os mesmos de outros. Eu mesma, nunca gostei de viajar naquele ônibus lotado às sete da manhã e para aquelas duas mulheres essa era a melhor hora do dia.
Fiquei imaginando que a minha melhor hora do dia poderia ser um sonho para elas ou simplesmente nada significar, mas sabe o que mais me inquietou? Não consegui definir qual a melhor hora do meu dia... Será que você poderia sem pensar dizer qual a melhor hora do seu?Creio que já está na hora de retomar meu otimismo e voltar a sentir prazer nas pequenas coisas da vida, estas sim nos enchem de esperança e nos permitem um recomeçar melhor, um viver melhor. Afinal, melhor rir e papagaiar do que chorar, não acham?

sábado, 15 de novembro de 2008

A ópera



Seria uma noite comum, como qualquer noite de sábado nesta cidade, não fossem por dois motivos: o espetáculo que nos aguardava e a companhia. A noite reluzia clara, uma lua cheia que dispensava a iluminação pública, algumas estrelas e uma brisa leve.
Ele chegou na hora marcada, me deu um beijo de boa noite e sua mão para descermos a escada do prédio. Estava ansioso, parecia uma criança que pela primeira vez iria ao cinema. Sorriu para mim com aquele jeito de menino e nos dirigimos ao espetáculo.
Chegamos ao teatro de arena, todo iluminado por tochas, uma maré de gente cobria os assentos, com um pouco de dificuldade encontramos dois lugares e nos acomodamos. Em breve seria iniciado o espetáculo. Estávamos ali para assistir uma ópera: Carmen, de Georges Bizet, espetáculo dramático de origem francesa que me deixou sem fôlego quando assisti pela primeira vez. Desta vez, contudo, apesar de não ser a primeira me marcou profundamente, não pelos atores ou pelo enredo, mas por alguém que se sentou bem ao meu lado.
Olhei para o lado e o observei, as mãos entrelaçadas, as pernas inquietas e os olhos brilhando como nunca havia visto. Tudo o encantava, as pessoas ali presentes, a história da ópera que havia lhe adiantado no trajeto até o local, a iluminação, a lua e claro, o espetáculo.
O amor puro de Micaela por Don José e o amor platônico deste por Carmen, nos levaram a entender as encruzilhadas deste drama e a nos comover com suas histórias descritas em cada ato, diria mais, diria que fomos capazes de nos identificar com seus sentimentos.
Ele, sentado ali, bem ao meu lado, poderia assumir o papel de Don José que perde a razão ao se envolver com Carmen, uma cigana que o fascina e hipnotiza com seu canto e dança e eu, bem, eu caberia muito bem no papel de Micaela que tenta resgatar seu amado deste futuro destrutivo ao lado da cigana. A cigana não se chama Carmen na vida real, talvez nem tenha forma física, mas pode ser considerada uma metáfora para as mazelas do mundo e para aquelas tentações que nos fazem perder o chão.
O fato é que esta ópera nos marcou, nos levou ao mundo íntimo das personagens e descobrimos em seus segredos nossos medos. O medo do envolvimento, da rejeição, o medo do desamor e da paixão. Assim, como o amor puro não impede a tragédia no fim desta ópera, também não consegui livrá-lo de seus medos. Não o livrei do medo de apaixonar-se, não me livrei do medo do envolvimento.
Pude segurar em suas mãos durante toda aquela noite e fazê-lo sentir que estava ali, bem próxima, para mostrar-lhe um mundo novo e quem sabe me permitir uma nova chance ao lado de alguém tão especial.
Ver seu sorriso e os olhos marejados enquanto me dizia obrigado, em meio ao som de “bravo, bravíssimo” da platéia após o fim do espetáculo, me fez saber que esse momento estaria eternizado em sua mente. Soube que o havia marcado para sempre, mas estar presente em alguns momentos na vida de alguém, não te assegura que estará presente em todos os momentos da vida deste alguém.
A noite terminou fria, sem um beijo de bom dia. Fui vencida por Carmen, pelos medos desta vida humana que tanto me inquieta. E se quer saber se valeu à pena, pois é, creio que um momento de alegria bem vivido suprime muitas lágrimas. Apesar de tudo, ele me fez feliz e me permitiu contar a vocês sobre esta noite, que marcou o fim de mais uma das minhas histórias de amor.

sábado, 8 de novembro de 2008

O hidrante


Eis o hidrante. O inspirador da crônica desta semana. Aguardo comentários, postagem logo abaixo...

sábado, 1 de novembro de 2008

A resposta


Eram os primeiros dias da primavera, mas o vento forte e frio deixava o amanhecer com cara de inverno. As árvores já mostravam sua folhagem nova, verdinha, verdinha, algumas arriscavam pequenas flores coloridas que encantavam o olhar dos transeuntes. O vento soprava fundo, assoviava alto e quase levava as árvores de um lado a outro como pêndulos de um relógio antigo.
Naquele dia em especial observou pela janela do quarto e viu o balançar das árvores, decidiu tirar a blusa cor-de-rosa e colocar uma branca com gola alta, escolheu o casaco preto com capuz e um cachecol colorido. Saiu sem lenço, nem documento. Era seu dia de folga, pensou apenas em caminhar, por horas se fosse necessário, até que encontrasse a resposta.
Caminhou por alguns minutos até a margem do rio, debruçou-se na beira e respirou fundo. O ar não era puro, nem o cheiro muito agradável, mas sentiu-se livre, como há muito não se sentia. Continuou a caminhar e sentia seu rosto cortando com o vento, pensou em voltar mas não teve vontade suficiente, continuaria até onde fosse preciso.
O sol escondeu-se entre as nuvens escuras e algumas gotas respingaram sobre sua pele, não era o melhor dia para tomar chuva, afinal o frio era real, contudo, não voltaria para casa por motivo algum naquele dia, não enquanto não encontrasse a resposta.
A chuva parou. Sentou-se na grama verdinha de um campo próximo dali e olhou para o alto, as nuvens iam e vinham, mudavam de cor bem na sua frente apresentando e escondendo o sol. Lembrou-se dos últimos dias. Novamente tentou entender e não conseguiu.
Viu duas crianças se aproximarem correndo, uma delas tinha linha na mão, a outra olhava para o alto, estavam soltando pipa. Outro garoto chegou logo em seguida, sem linha ou pipa, no alto dos braços levava apenas o casaco aberto que ganhava forma com o vento, parecia outro menino sobre sua cabeça. Minutos depois ele soltou o capuz do casaco e o observou rodopiar pelo céu. Gira, gira, paira no ar como um pássaro. Ele abre a boca num largo sorriso. Os outros garotos olham e sorriem, correm em busca do capuz, que é levado para longe com o vento. No mesmo instante o capuz do casaco preto é colocado sobre a cabeça, a imaginação pára, volta a sentir o frio e a tentar entender, mas ainda não consegue.
Depois de algumas horas decide retornar, tira o capuz e solta o cachecol colorido. O vento a surpreende e carrega o cachecol, lânguido e leve voa alto, mais alto que o capuz. Colorido, parece um mar de borboletas. As crianças voltam e tentam resgatá-lo. Ela simplesmente olha.
O cachecol na mão dos garotos transforma-se em capa de super-herói, vira um turbante e uma venda para cabra-cega, serve também para esconder o pescoço do frio, mas do que isso importa? Enfim descobrira a resposta. O sol surgiu.
Naquele instante descobriu o sentido para muitas coisas, entendeu a explicação para tantas outras, descobriu que para se obter algumas respostas não são necessárias perguntas, percebeu que as respostas sempre estão a nossa disposição, basta escolhê-las, basta querer enxergá-las, descobriu isso bem ali, naquele campo, num dia frio, através do sorriso puro daquelas crianças ao brincar com aquele cachecol colorido.