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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Por favor?!

A cada dia que passa descubro que tenho uma lista incontável de dificuldades, ou melhor dizendo, de “desafios” para serem superados. Tenho me deparado constantemente com alguns deles e por vezes me pergunto se foram criados por mim, pelos outros, para realmente serem superados ou simplesmente ignorados.

Contudo, como tudo que nos incomoda, esses desafios não são facilmente esquecidos ou colocados de lado, envolvem emoções fortes, por vezes orgulhosas que nos impedem de simplesmente esquecê-los.

Entre as incontáveis dificuldades existe uma que tem me enfrentado com uma constante irritante nas últimas semanas: odeio pedir favor. Tenho uma dificuldade surreal de solicitar algo para minha facilidade que poderá provocar em alguém alguma dificuldade.

Geralmente penso cinco mil vezes antes de pedir algum favor para alguém e quando o faço fico com aquela sensação de “devedora” por incontáveis dias. Na verdade nunca me senti no direito de influenciar a vida de quem quer que seja. Pedir algo para alguém requer uma relação de intimidade que por vezes não é recíproca e é nesse momento que encontramos algo que me parece pior que pedir um favor: tê-lo negado.

Vivo rodeada de pessoas que me dizem o tempo todo: se precisar é só chamar! Qualquer coisa me ligue! Conte sempre comigo! Mas tenho percebido que tanta disponibilidade não existe sempre, nem o tempo todo.

Claro que não tenho a ingênua pretensão de acreditar que as pessoas terão de deixar seu mundo para me atender, muito menos que meu interesse seja maior ou mais importante que qualquer afazer de qualquer pessoa, mas quem me conhece sabe que não sou de pedir favor e quando o faço é porque realmente estou precisando.

Ao contrário da minha dificuldade em pedir, não me importo de realizar um favor. Sinto-me bem quando posso facilitar a vida de alguém mesmo que isso complique um pouquinho meu dia. Creio, inclusive, que o segredo para superar este desafio, encontra-se justamente aqui...

Ninguém é obrigado a sair do trilho por ninguém, muito menos para facilitar a vida de outrem. Mas existem algumas coisas que são passiveis de realização e não são feitas por simples questão de prioridade e outras que não são realizadas pela simples falta de vontade.

Prioridade e vontade. Esses conceitos, tão presentes em nossos dias é que fazem com que a cada vez que precise pedir um favor pense antes cinco mil vezes, pois me lembro sempre que a minha prioridade nunca será a prioridade do outro e por consequência, provavelmente minha vontade dificilmente será compatível com a de outra pessoa, especialmente quando se trata de pedir um favor.

Para que alguém mude sua rotina para te fazer um favor é preciso que você seja parte da história da vida dessa pessoa; seja prioridade na vida dela ou nela provoque a vontade de fazer algo que te fará bem. Por vezes nada disso acontece e o favor fica ali, por fazer e é aqui que entra algo ainda mais relevante do que a realização de um favor: a importância que se dá ao pedido.

E é isso que quero destacar, para que ninguém tenha medo de me negar um favor depois deste texto. Já que ninguém é obrigado a sair da rotina por ninguém e cada um tem seus motivos, vontades e prioridades, gostaria apenas de lembrar que existem mil maneiras de dizer não, mas algumas pessoas escolhem sempre a pior delas o que torna o pedido de favor algo bem mais constrangedor do que deveria ser.

Gentileza, gera gentileza. Dedicar atenção a um pedido de ajuda, mesmo que não possa satisfazê-lo pode ser bem mais importante do que jurar gratidão a vida toda, ou afirmar sempre que possível: conte comigo!

Recebi alguns “nãos” nas últimas semanas, entre eles alguns que realmente me surpreenderam, não pela negativa em si, mas pelo discurso anterior de cumplicidade e pela indiferença dedicada ao pedido naquele momento.

Confesso que me decepcionei com algumas posturas nos últimos dias, mas por ainda acreditar nas pessoas é que resolvi tocar nesse assunto, para inclusive tentar entender onde se inicia o não em um pedido de favor. Afinal, não conheço muita gente que goste de depender dos outros para qualquer coisa que seja e pedir um favor não deve ser um incomodo apenas para mim.

Não é agradável pedir ajuda, pois temos que nos expor ao indicar nosso problema e a forma de solucioná-lo, sem contar que sempre corrermos o risco de embaralhar a vida de alguém que também pode estar em um dia de sufoco, mesmo que já tenha te oferecido apoio.

Então, fica a dica, antes de negar ajuda pense se realmente não é possível dispensar alguns minutos do seu tempo para prestar um favor ou no mínimo justificar-se de forma educada caso não seja possível atendê-lo. Tudo que fazemos com amor e sinceridade, mesmo que seja dizer um não, soa mais gentil, facilitando o dia de quem já não acordou com o pé direito.

A verdade é que as pessoas que realmente se importam nem nos esperam pedir um favor, geralmente se oferecem para cruzar o estado se for preciso para nos socorrer e são nessas horas de sufoco, quando somos acolhidos, muitas vezes por quem menos esperamos, que percebemos que nenhum por favor supera o alívio de um muito obrigado.

sábado, 12 de novembro de 2011

Voz pra que te quero...

Estou sem trabalhar há dois dias. Seria um ótimo motivo para comemorar não fosse o motivo que me levou a este súbito afastamento do trabalho. Estou afônica. Logo eu que adoro falar, que não consigo ficar nem meia hora sem falar, aqui estou segurando a língua para recuperar a voz o mais rápido possível.

Só agora consigo perceber o quanto falar é importante para mim. Tudo se torna bem mais complicado quando não posso falar. Comprar os remédios na farmácia, pagar o almoço, atender ao telefone, tudo se tornou um suplício.

De acordo com o médico provavelmente terei que retomar minhas sessões de fonoterapia. Só de pensar em voltar para este compromisso me arrepio. Não consigo me acostumar a tratar algo que para mim não é visível. Quando se quebra um braço e precisa de fisioterapia, percebe-se bem o movimento para a reabilitação, com a voz é algo bem diferente, apesar de perceber os resultados, não consigo vê-los durante as sessões. E isso me incomoda tanto quanto este repouso.

Repouso vocal. Foi isso que o médico me exigiu quando sai do consultório depois de diagnosticado uma laringite que segundo ele já é crônica. Dois dias de atestado em casa, sem falar, tomando muito líquido e contendo a ansiedade.

Apesar de morar sozinha há um bom tempo, não consigo me acostumar muito com a ideia de ficar sozinha por tempo demais. Quando estou na minha rotina, saio de casa às sete da manhã e volto perto das oito da noite, então ficar por cerca de três ou quatro horas sozinha em casa antes de dormir não é sacrifício algum.

Mas ontem e hoje as quarenta e oito horas dos dias pareceram umas oitenta. Não só pelo fato de estar sozinha, mas principalmente por não poder falar. Pensava em ligar para minha família ou para alguma amiga, mas e o repouso vocal?! Foi bem aqui que percebi que bem mais do que viver dias de simples descanso para minha voz estava inscrita em um verdadeiro retiro espiritual.

Aproveitei para colocar o sono em dia, terminei um livro que estava pelo seu um terço, iniciei outro, escrevi dois textos, arrumei meu guarda-roupa e o armário da cozinha. Assisti a dois filmes, pincelei alguns capítulos das novelas, olhei pela janela no pôr-do-sol, lavei o aquário do cágado e deixei-o zanzar pela casa, mas ainda assim o tempo não passou.

Nesses dias em que me enclausurei descobri que muito do que achava que me incomodava não faz mais sentido. Percebi que algumas pessoas que pareciam importantes não chegaram a este nível ainda e outras que pouco se fazem presentes, ganharam um espaço bem maior do que eu imaginava no meu pensamento.

Dias de repouso servem para acalmar o espírito, a mente, o físico e descobrir que por vezes é realmente melhor calar do que correr o risco de se pronunciar em vão. Descobri que o meu querer, a minha vontade não se enquadra na prioridade das outras pessoas, mesmo que eu esteja doente, sozinha e sem poder falar.

Pensei em receber visitas ou fazê-las nesses dois dias, mas que cabimento teria se não poderia falar? Fala que eu te escuto – seria o máximo que poderia dizer. A verdade é que não sei se existe alguém nesse mundo que se contente apenas com a minha presença.

Quando penso nisso, só consigo lembrar-me da minha mãe, que por inúmeras vezes me deixou ficar ao seu lado, deitada de papo para o ar, sem precisar falar uma palavra, sem fazer uma pergunta, apenas me permitindo ali ficar, me fazendo cafuné até me ver cochilar.

Foram nesses dois dias que percebi o que realmente importa e mais do que isso quem realmente se importa. Foram dias de silêncio com o mundo e de diálogo com o meu caos, com meus medos e percepções. Dias de repouso para serem guardados e lembrados sempre que se perceba novamente a falta de voz...