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terça-feira, 19 de abril de 2011

Amor à primeira vista...


Existem coisas que você pensa em vivenciar, outras de tão impossíveis não consegue nem imaginar. Existem situações em que você tenta calcular como agiria, outras de tão inimagináveis nem sequer passam pela sua cabeça. Existem palavras que estamos preparados para ouvir diariamente, outras de tão raras nos causam susto ao serem verbalizadas.
Passei por uma situação inimaginável hoje pela manhã. Caminhava tranquila para o trabalho, quando avistei dois rapazes caminhando na direção contrária. Passaram por mim e alguns minutos depois escutei alguém correndo, qual não foi minha surpresa (e susto) quando um deles parou na minha frente e disse:
- Você acredita em amor à primeira vista?
Limitei-me a dizer um: “Não”, e apressei o passo. Enquanto me afastava escutava o outro rapaz dizer:
- Vamos embora cara, deixa a moça em paz.
Quanto a eles, não sei se foram embora ou se ficaram, mas eu fui e bem depressa. Com o coração acelerado pelo susto e com uma sensação esquisita de vulnerabilidade. Afinal nunca estamos preparados para abordagens deste tipo, especialmente às oito da manhã de uma terça-feira ensolarada.
Por alguns segundos não sabia explicar o que estava sentindo. Acho que o medo foi predominante, me senti exposta, vulnerável, como se o simples fato de estar na rua fosse motivo para que algo acontecesse. Depois achei engraçado e fiquei pensando no quanto existem pessoas malucas neste mundo.
Nunca achei que passaria por uma situação desse tipo. Lembrei-me de várias investidas que já tinha sofrido enquanto contava o ocorrido para minhas colegas de trabalho e delas escutei mais dezenas de cantadas que apontam para a mudança de postura nos envolvimentos contemporâneos.
A discrição saiu de cena. Os olhares sem palavras, a troca de bilhetes, as rosas jogadas no portão, até mesmo o pedido de namoro, tudo o que antes era regra, hoje virou exceção. A cada dia são mais comuns investidas diretas e por vezes mal educadas.
Aposto que você já levou uma cantada deste tipo e por um segundo ficou sem reação. O desencontro da ação com a emoção provoca-se justamente pela forma torta com que vem sendo desempenhada ultimamente.
O amor está se banalizando, ou melhor, sendo banalizado, diariamente. Tudo é pelo amor justificável. Por diversas vezes encontramos brutalidades justificadas pelo excesso de amor, ou pela falta dele. E assim, uma frase que era para ser romântica, torna-se esquisita, provoca medo e mal estar.
Declarações de amor têm sido feitas cotidianamente da boca para fora. Sem que o amor exista e exale pelos poros, brilhe nos olhos, enrubesça a pela e gele as mãos. Qual é o conceito de amor que temos hoje? Qual é o seu conceito de amor?
Eu acredito no amor, em todas suas formas e concepções. Não no amor à primeira vista que nada diz, nem cristaliza, mas no amor dos olhos nos olhos, no amor do coração apertado e acelerado e que provoca aquela sensação de borboletas no estômago quando um certo alguém se aproxima.
O amor real é livre, leal e pleno. Não existe rima para descrevê-lo, nem anéis para domá-lo, pois é único para cada alma.
Ao contrário do que muitos dizem, creio que para viver o amor não é preciso ser romântico, muito menos exagerado em sua exposição. Para viver o amor, basta deixar-se apaixonar, deixar-se amar e essa ação simples é para mim a mais complexa, pois não depende de mais ninguém... Amar, depende apenas de nós, do nosso querer.
O amor quando existe, independe de ser correspondido ou não. O amor quando existe, vive, pois sem amor seria difícil sonhar e ter disposição de a cada dia enfrentar os obstáculos que a vida nos impõe. Já dizia Roberto Freire: “É o Amor, e não a vida, o contrário de Morte".
E com o escritor concordo plenamente, sem o amor não há vida, não há querer, nem por quê. Amemos! De forma inteira, de corpo, alma, de coração. Amemos, como se fosse a primeira e a última vez e deixemos a “primeira vista” apenas para as coisas passageiras...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Meu tempo...


Lembro-me de já ter escrito muitas coisas sobre o tempo neste espaço. O tempo me consome, me envolve e me faz sumir em incessantes ocasiões. Faz-se farto e restrito em questão de segundos. Pinta-se colorido e amplo no alvorecer e com o chegar da noite encolhe-se feito caracol.

Tenho uma grande dificuldade em administrar o tempo. Por vezes arrisco-me a dizer que tenho tempo, mas mal faço os olhos piscarem e percebo que o tempo já não me pertence mais. Passou, rápido como vento, forte como rochedo que insiste em jogar-se no meu caminho.

Na semana passada o tempo me pregou uma peça. Levei um susto tão grande, uma sensação de estranheza tão plena que cheguei a pensar: fui capaz de fazer o tempo parar.

O medo fez com que os dias passassem devagar, como se os ponteiros do relógio andassem atrasados, incapazes de alcançar uma resposta, uma solução para por fim a aflição. As lembranças caminharam de mãos dadas com o futuro deixando o passado distante, foram dias de incerteza e de tempo de sobra para refletir sobre o “talvez”.

A decisão tomada, o fato consumado, o laudo interpretado e as novas regras ditadas aceleraram o tempo de tal forma que me fizeram correr em busca do amanhã. Os ponteiros, desta vez adiantados, giravam ávidos por mudança, por colheita de bons resultados.

Ainda assim o tempo não me pertenceu. Tentava administrá-lo de toda maneira no dia e na noite, mas quem disse que fui capaz de contê-lo?

Esvaiu-se das minhas mãos feito areia em ampulheta lembrando-me que ninguém é seu dono. As obrigações e responsabilidades retomaram seu lugar e me lembraram de que não sou dona do tempo. Pouco restou para o riso no final do dia, para a boa conversa no meio da tarde e para o namoro no final de semana.

Quase nada ficou para o olhar atento, para as pequenas coisas que tanto me inspiram e que hoje quase não consigo respirar. O tempo, que era para ser meu, me domou e me consumiu. O relógio é quem dita às regras e eu que pensei um dia ser capaz de programá-lo.

É o relógio que me diz quanto posso dormir, é o tempo que me indica quando preciso parar de mastigar, são os ponteiros que me incentivam a apressar os passos, é o tique-taque do dia que me faz encarar a noite com a sensação de que ainda faltou tanto para ser feito. O medo me deu coragem para programar meu tempo em pequenas e deliciosas ações, só me tirou a força de executá-las. Aguardo um meio de reprogramá-lo sem pouca vontade, com mais ação do que palavra, com mais certeza do que talvez.

Espero um meio de desligar o tempo do mundo e ligá-lo apenas a mim. Seria deslumbrante caber mais tempo em mim do que no mundo, seria ainda mais encantador caber no mundo todo o meu tempo.

O tempo que não é meu, nem seu, nem sequer de todo mundo. Tempo que passa rápido, arisco como pássaro selvagem incapaz de deixar-se engaiolar. Tempo que me move e que sem ele apaga-se a razão de ser, pois minha própria existência crava-se em seus ponteiros e em um espaço que não me pertence.

Enraíza-se em um tempo que me controla, me encara constantemente e irradia seu ritmo em um processo que inicia-se logo ao resplandecer de um novo dia. Que tempo é esse que me sucumbe e me envolve?

É tempo de ilustrar o dia e dele fazer poesia. Tempo é, de ganhar como presente um poema, capaz de me mostrar que o tempo não me engole, mas de mim depende, tempo que não me domina mas me guia, tempo de poesia que hoje me faz refletir sobre o tempo que a ninguém mais pertence, apenas a mim. Pois é o meu tempo, meu e de mais ninguém...


“Tempo de estar, tempo encantado, tempo de Taline? Tempo de tudo que tem e por ser tudo o que tem, tempo há em você. Em que tempo te acho? Entre temporais, tempestades, todos os dias lindos também te vejo, e vejo porquê tempo há em você. Entre tantos tempos, até mesmo o tempo às vezes a procura, e quando te encontra, ele é você. E o tempo sorri quando te abraça, e pulsa por entre seus ares, inebria seus desejos e te traz à vida. O tempo te sabe e sabe que sem você não há razão pra ser, e te tem, tem tanto que chega a dar a você a própria existência só para te ter no aconchego das tuas horas”. (Teu tempo - Tamara C. Braga- Dez/2009)