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domingo, 20 de março de 2011

Amar é preciso!


Teria sido apenas mais um final de semana comum, alguns dias de descanso e sossego, não fosse pelos olhos verdes que me acompanharam por todo o percurso.
Poderia ter sido apenas mais uma paixão sem limites, intensa e possivelmente passageira, não fossem pelos quatorze anos de espera que fizeram prontidão a cada dia.
O tempo passou lento e me fez aproveitar cada gesto, cada palavra, cada emoção, com uma intensidade tão ímpar que me deixou caixas de recordações.
O medo de mais uma decepção, a vontade de me esconder do mundo e ficar sozinha desapareceu. Substituído por um sorriso largo e um aperto de bom dia, hoje me faz acreditar em sonhos reais.
A ordem se instalou no meu caos.
Recomeço a sentir vontade de fazer planos, agora consigo colori-los de forma nítida, sem talvez ou quem sabe. Brotam em mim vontades que já me engoliram e foram sucumbidas e hoje se renovam objetivas, claras e palpáveis.
Tão palpável quanto a areia fina no meu pé e o vento quente que batia forte em meu rosto. Tão claro quanto o tom daquela pele que refletia luz no sol e me fazia acreditar que estava na companhia de um anjo.
Um anjo, sem asas. Humano ainda, com acertos e erros. Com passado, com histórias e medos. Com presente e o mais incrível, em busca de um futuro. Coisa rara nos dias de hoje e tão simples nesta ocasião.
Descobri nos últimos dois meses que realmente ninguém morre por amor, e nem mesmo da falta dele, mas que amar é preciso!
Descobri diante do céu azul uma chance de recomeçar, não mais com sonhos ímpares, não mais sozinha, mas a dois, com planos pares.
Os dias já não são os mesmos longe do roçar da barba que tanto me incomoda, passam lentos, sem muita graça, ávidos para que os ponteiros se acelerem até o fim de semana.
A saudade agora não é carregada de ciúme ou medo, tornou-se cúmplice dos corações vazios, carregados apenas de lembranças e cheiros, de gestos e apreços, distanciam-se mudos, calados, num aceno de adeus que esconde a vontade de mais um abraço apertado.
O mar gelado me fez acordar de um sonho estático e me mostrou na realidade dinâmica um pedido de namoro a beira mar. As pegadas na areia construindo uma nova história, cheia de idas e vindas, pronta para as reticências e entrelinhas.
Meu coração transborda amor. Tanto, tanto que nem sei explicar. Um amor novo, puro, seguro e leal. Capaz de me trazer de volta sonhos bons e quereres antes nunca imagináveis.
É este amor que tenho cultivado no meu coração cheio de cicatrizes. É deste amor que tenho me consumido para dizer aos quatro ventos que não tenho mais momentos de felicidade, pois sou feliz.
Feliz, simples assim. Na companhia de um anjo sem asas, que em pouco tempo já deixou sua marca, não na pele, mas na alma, tão forte quanto a promessa de dias melhores, tão duradoura quanto tatuagem...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Solta o som?!


Confesso que havia me esquecido da sensação desconfortável e ao mesmo tempo deliciosa de andar de ônibus. Gosto de estar entre as pessoas, especialmente entre pessoas que não me conhecem. O fato de não precisar sorrir o tempo todo, ou de não correr o risco de ser questionada sobre como vai minha vida a cada segundo me tranquiliza.
Não que seja contrária a falar sobre mim, falo até demais e isso tem me feito rever inclusive algumas concepções, mas estar entre desconhecidos me desperta a possibilidade de simplesmente fazer e pensar em nada.
Nessas ocasiões não me preocupo com minha postura, com meu cabelo, com a roupa que estou vestindo, muito menos se pareço simpática ou não. Como tenho fama de sisuda e já ouvi isso de muitas pessoas, aproveito-me da minha cara brava para evitar qualquer início de conversa que possa desviar minha atenção do que existe de mais rico em um ônibus: as pessoas.
Na semana passada precisei me deslocar do meu local de trabalho e fiz questão de utilizar o ônibus. Pode parecer mentira, mas andei sentindo falta do contato com as histórias alheias depois que abandonei minhas andanças pelo coletivo urbano.
E quando digo que gosto de me inteirar das conversas de outras pessoas, não é por simples curiosidade, tento tirar de cada frase uma lição para a vida, para a minha vida. Desta vez a lição não veio de uma palavra, mas de várias e ao mesmo tempo de nenhuma...
A viagem ia tranquila até entrar no ônibus um jovem, de uns vinte e poucos anos, vestindo uma camisa de time de futebol, uma calça cheia de bolsos, boné na cabeça e um celular na mão.
Sua presença foi notável. Entrou no ônibus e literalmente se fez ouvir. O celular estava ligado no último volume, tocava um funk do tipo “só as cachorras” que, se me lembro bem, tinha em uma das letras alguma coisa relacionada com pão e linguiça, o resto você pode imaginar.
O fulano sentou-se no banco atrás de mim e para melhorar a acústica do seu som, colocou o braço no encosto do meu banco, certo de que todos que ali estavam ocupando cada centímetro da condução lotada aprovavam seu gosto musical.
Esperei alguns segundos e não ouvi nenhum coro. Ninguém cantando junto com a música, a não ser o rapaz que mais parecia um autofalante ambulante. Comecei a deixar de pensar em nada e a pensar se era só eu quem estava incomodada com a situação.
Olhei para a pessoa que estava ao meu lado e percebi que segurava um livro de ponta cabeça - na certa não seria possível ler com aquele som ensurdecedor. Olhei para as pessoas que estavam em pé no corredor e vi dois olhares cúmplices de reprovação. Bem, até aqui já eram quatro, contra um.
Com certeza outras pessoas naquele ônibus lotado, às cinco da tarde, estavam ávidas para que aquele celular misteriosamente voasse pela janela, ou ficasse sem bateria imediatamente, mas nem uma coisa, nem outra aconteceram. Respirei fundo, olhando para o relógio tentando calcular, no meio daquela barulheira, o tempo que me distanciava da liberdade e do silêncio. Ao mesmo tempo travava um duelo sem desafiador na minha mente:
- Ei garoto! Já ouviu falar em fone de ouvido?
- Você acha mesmo que as pessoas gostam de ficar ouvindo essa sua música irritante às cinco da tarde em um ônibus lotado?
- Já ouviu dizer que sua liberdade termina quando começa a do outro?
- E que o silêncio é uma prece? Já ouviu?
Em meio a estas frases imaginava os demais passageiros aplaudindo e dizendo outras poucas e boas para o rapaz, que acabava descendo no primeiro ponto e deixando todos aliviados o restante do percurso.
Pode ser que alguém esteja pensando no por que desta conversa ter ficado apenas no meu pensamento, mas a verdade é uma só: a paciência é uma virtude. E tenho tentado me tornar uma pessoa mais tolerante (e consequentemente mais virtuosa) a cada dia.
A tolerância está no ouvir uma crítica e engoli-la a seco. Está em aceitar a diferença mesmo que isso signifique repensar conceitos e opiniões. Está em ouvir uma música que você nunca gostou e tirar alguma lição disso. A tolerância está, sobretudo, no respeito de ser e conviver entre humanos, tão unos em sua formação biológica e tão diversos em suas ações e sentimentos.
Para quem já passou por isso ou ainda terá a chance de passar, fica o convite a exercer a tolerância. Aos demais, creio que não é preciso muito esforço para utilizá-la, afinal até mesmo entre as pessoas que mais amamos e no lugar mais confortável desse planeta é raro um consenso, e quando este surge provavelmente alguém se apropriou da tolerância e da paciência para mediar as diferenças.
Dias repletos de boa música, de diferença e tolerância é o que desejo a todos nós!