Não sei por quê, mas hoje queria ter falado com ela. Falar o quê?! Ah, sei lá, talvez nada. Nossas conversas não são muito longas. Mas pelo menos dizer um oi, como você está, essas coisas.
Perguntar do trabalho e da pós dela, mesmo sem esperar que ela retorne a pergunta. Saber se ela ainda está namorando e se montou um consultório, trocou o carro ou decidiu casar. Essas coisas que a gente deve saber sobre os irmãos, entende?
Mas ela não atendeu, então deixa para outro dia. Não, não tentei uma vez só, insisti várias vezes. Em casa umas três vezes pelo menos e outra no celular. Aposto que minha mãe quando chegar vai ver a ligação e me ligar achando que aconteceu alguma coisa, mas hoje só queria mesmo era falar com a minha irmã.
Tenho pensado bastante nela essa semana. Sempre penso em todo mundo de casa, é estranho não saber o que sua família está fazendo, se estão bem ou não, se estão rindo ou chorando, se assistiram o último capítulo da novela ou tomaram chuva no final da tarde. Essas coisas que a gente faz quando mora junto com a família, coisas que agente fica sabendo sem precisar perguntar, já que acompanha tudo.
Essas coisinhas, do tipo café com açúcar ou adoçante, bife ou frango, gelatina ou sorvete, enfim... Pequenas coisas, do dia a dia que te deixam tão próximo, mas tão próximo que te colocam dentro da vida de cada membro da sua família. Você sabe o que cada um jantou, que horas saiu e chegou, que roupa vestiu e o sapato que calçou.
E quando a gente se afasta, isso tudo, que era tão comum, torna-se alheio a nova rotina. No máximo consigo imaginar o que acontece por lá, mas tudo, tudinho, não isso eu já não sei. Até por que os pais têm a mania de nos poupar dos piores problemas, na verdade acho que essa é uma tática de família, também não conto todos meus pormenores para não acharem que estou enlouquecendo, mas é assim, se soubéssemos de tudo, tudinho, não conseguiríamos tocar a vida do lado de cá, tão longe e com a cabeça lá, perto deles e dos seus problemas.
Mas a distância não impede a saudade, pelo contrário, a provoca. Ainda há a vontade de fazer parte daquela rotina e para isso eu mando e-mail, ligo, às vezes recebo até cartas do meu pai. Mas têm dias que minha irmã não atende o telefone, ou minha mãe vê a ligação tarde demais.
Na verdade o que queria dizer é que queria ter falado com minha irmã hoje. Acho que é saudade. Se pudesse iria agora mesmo para lá e me jogaria na cama dela dizendo: Oi irmaaã! Logo em seguida lhe daria um beijo na bochecha (que ela detesta), só para ouvi-la dizer: Pára Taline!
Ia então olhar bem para ela e sorrir. Esse é o nosso diálogo mais frequente, um diálogo quase mudo, sem assunto, mas que significa tanto, tanto quanto o telefonema que ela não pode atender.
Nostalgia. Essa pequenina palavra tem consumido meus dias e as poucas horas que tenho reservo para me revigorar. Tenho me dado o direito de relembrar boas coisas do presente passado e isso tem me dado mais força, mais fôlego. Diria que tem diminuído a distância e aumentado a saudade.
Que coisa estranha... Não sou muito de dizer isso, mas caramba, que saudade da minha irmã!