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sábado, 19 de dezembro de 2009

Então é Natal...

O ano passou voando...Já nos aproximamos da última semana deste rentável 2009 e tento imaginar como será meu final de ano. Não tenho tido muito tempo para pensar nas festividades, nem em quem vou reencontrar ou qual o cardápio da ceia. De alguns anos para cá, acompanho tudo de longe, dando sugestões pelo telefone, sugerindo coisas e pessoas que talvez nem existam mais, a não ser dentro de mim.
Estou em um novo apartamento neste final de ano, com novas janelas e horizontes. O barulho daqui é terrível, mas de um mês para cá se tornou bastante agradável. Músicas natalinas, risadas de crianças, conversas de namorados, passos apressados, sacolas buscando suas brechas e luz, muita luz.
A cidade ganhou nova cor, mais vida e ritmo. Consigo escutar o som dos sinos pendurados nas portas das casas e o barulho dos passos das botas colocadas nas janelas. Consigo ouvir o trote das renas e o sorriso engraçado do Papai-noel colocado em cada esquina. É como entrar em uma vila de contos de fadas, que cedo ou tarde se desfaz e volta a mostrar sua verdadeira cor.
No bairro onde trabalho não existe decoração natalina, este privilégio é reservado para o centro comercial, para os grandes shoppings e parques com maior movimentação de pessoas, e, consequentemente, de renda. Tive medo de que as crianças de lá não soubesse nada sobre o Natal e levei uma grande lição ao trabalhar com elas na última semana.
A proposta era levantarmos tudo o que existe no Natal e em seguida escolher duas destas coisas para eternizar com um desenho ou colagem. Surgiram inúmeras sugestões que iam desde o Papai-noel e seus duendes, até a enfeitada árvore de Natal, passando pela neve, pelo trenó e claro pelos presentes.
Este último item foi o mais lembrado, e confesso que não me admirei, afinal de contas o Natal deixou de ser uma data religiosa para virar uma data mercadológica há muitos anos. Passar um Natal sem presente, nos dias de hoje é inimaginável, certo?
Não para aquelas crianças. Quando as questionei sobre o presente de natal que gostariam de receber, ouvi respostas que passaram longe das bicicletas, carrinhos de controle remoto, vídeo-game e bonecas barbie. Escutei desejos de frango assado, leite, brigadeiro e macarronada.
Descobri naquela tarde que além da barriga cheia alguns desejavam rever o pai ou irmão que estavam sentenciados, outros o tio que tinha falecido ou ainda desejavam uma cama com colchão só para eles.
Claro que depois destes desejos surgiram os pedidos de carrinhos e bonecas, mas nada que fosse de última geração, ou que tirasse o sono de alguns pais.
O fato é que estes desejos de natal me deixaram sem respirar por alguns segundos e me fizeram mais uma vez procurar o espírito natalino. Espírito esse que surge no final do ano e desaparece feito mágica dias depois, deixando as expectativas para traz e nos lembrando dos tropeços da vida. Mas como não custa nada tentar, busquei bem fundo o significado real desse tal espírito de Natal e desta vez, felizmente, o encontrei.
O espírito natalino estava bem ali, estampado no rostinho de cada uma daquelas crianças que se desmancharam de alegria ao fazer pequenos pedaços de algodão virar neve com seu assopro, ou ainda, quando se lambuzaram com um saquinho surpresa de doces.
Encontrei o tão esperado espírito de Natal em uma garotinha especialmente, que ao receber os doces, guardou metade em um dos bolsos da calça e me disse:
- Tia, esses eu vou guardar para o dia de Natal.
- Ah é? E por que vai guardá-los?
- Vou dar de presente para minha mãe e meus irmãos.
Por um breve instante me calei, a peguei no colo e lhe dei um longo abraço, em seguida lhe disse:
- Este abraço você guarda também e distribui com os doces na noite de Natal, tudo bem?
Sorrindo ela me beijou e correu para os braços da mãe mostrando aquela simbólica lembrança que pra ela tinha sido tão valiosa.
Na mesma hora me lembrei de um conhecido ditado que é muito verbalizado, mas que poucos colocam em prática: “Ninguém é tão pobre que não tenha nada para oferecer, nem tão rico que não possa nada receber”.
E é com estas palavras que finalizo este texto, com desejos de fartura e alegria para todas as famílias neste Natal, e especialmente com desejos de ações altruístas como daquela garotinha que não conhece muito da vida, mas já desvendou seu segredo...


Ilustração de: Gabriel Vicente.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Enquanto o tempo vai e a vida vem...

Tenho tido bastante tempo para pensar nos últimos dias. Por mais incrível que pareça, fui acometida por uma dolorosa caxumba. Doencinha esquisita, que me obrigou a tirar férias forçadas do trabalho e me colocou de repouso por longos e intermináveis dias.
Nunca imaginei que seria vítima desta doença beirando os vinte e seis anos, nem que a tal caxumba – doença de criança, perigosa para os homens na fase adulta, fosse tão dolorosa, menos ainda que me cansaria de ficar deitada e não teria mais filmes na minha lista intitulada: “Assistir nas férias...
O fato é que tanto tempo livre me possibilitou refletir sobre o que tenho feito do meu tempo e com a minha vida, e mais, me fez pensar nos meus quereres. Pensei no que tenho construído e no que tenho destruído nos últimos meses e tentei organizar tudo com etiquetas coloridas, como se fossem caixas em uma grande estante.
Pensei nos prazos que deixariam de ser cumpridos no meu trabalho e em todo o trabalho que teria na volta. Cheguei a sonhar com reuniões, com o grupo de crianças, com as cestas básicas e com o carrancudo auxiliar administrativo.
Pensei nas mensagens confortantes que recebi dos poucos, mas fiéis amigos que conquistei ao longo da vida e no quanto me fazem falta.
Pensei na minha família que nos últimos dias dividiu-se entre: os que já tiveram caxumba e os que não tiveram, revezando telefonemas e paparicos que deram um pouco de cor nestas tardes doloridas, me fazendo companhia no décimo filme ou me trazendo a terceira gelatina do dia.
Pensei no meu namorado e no quanto perdemos tempo falando de problemas e nos chateando nos poucos momentos que temos para ficar juntos. Pensei no quanto poderíamos rir mais, sair mais e deixar mais lembranças para este sentimento que tem se fortalecido com o passar dos dias. Pensei no vazio que sua ausência me causa e nas dúvidas que rodeiam nosso namoro e fiquei confusa.
Pensei nas aulas que deixei de assistir das duas pós-graduações que teimosamente continuo a fazer e nos livros que terei que ler quando retornar.
Pensei no texto que tinha que ser encaminhado para o jornal e no quanto tenho sentido falta de escrever. Pensei nos leitores e nos meus e-mails que estão sem resposta há mais de uma semana.
Pensei no quanto minha vida está dividida entre lá e cá e no quanto me embaralhei ao colocar algumas coisas na estante. Tantas coisas que deveriam estar na cômoda do prazer e passaram para a gaveta das obrigações. Tantas pessoas que deveriam estar na mesa de centro e foram penduradas no cabide. Tantas vontades esquecidas no fundo do baú, tantos momentos desperdiçados, tanto tempo indo enquanto minha vida vem.
Pensei no que tem me movido a fazer escolhas. No que tem me feito errar tanto algumas vezes e a acertar sem querer em outros momentos. Pensei nas coisas que gostava de fazer quando era mais jovem e que foram esquecidas. Pensei nos desenhos em grafite e carvão, nos quadros de tinta a óleo, nas flores de crochê, na minha coleção de cactos e nas aulas de natação.
Lembrei-me com saudade das habilidades que deixei de exercer e pensei no quanto tenho deixado o tempo passar enquanto minha vida vem. Pensei em algumas conversas que viraram discussões e no silêncio que me fez calar tantas vezes. Pensei nas lágrimas retidas, no nó na garganta e nas gargalhadas que há tempos não surgem espontaneamente.
Olhei para mim e me observei de fora, me vi cheia de compromissos, e sozinha, rodeada por um mar de gente. Olhei para dentro de mim e descobri o que me move.
Pensei na certeza de sair daqui e ir para lá, nas dúvidas do recomeçar e na confiança do que seria melhor. Pensei no adeus, nas pessoas que estão do outro lado do mundo e ainda vivem tão forte no meu coração e no quanto me obriguei a reencontrá-las, por tanto tempo.
Pensei no que espero do meu futuro e não encontrei resposta alguma. Descobri que viver os dias um a um pode ser maravilhoso e que fazer planos para daqui há dez anos, pode ser mais doloroso do que a caxumba, já que ninguém faz planos sozinho e contar com personagens para nossa história pode ser bastante decepcionante.
Descobri que o que me move mais que o amor em tudo o que faço é a minha confiança.
Confio na minha competência profissional, confio nas amizades que se cristalizaram com o passar do tempo, confio no amor da minha família, confio no meu coração e em tudo o que ele tem me ensinado, confio na minha ânsia de novos conhecimentos e, sobretudo, confio em mim.
Descobri que não estou infeliz, nem tão pouco descontente, creio que me falta apenas organização. Nada do que vivo foi imposto, cada momento, cada pessoa que entrou e saiu da minha vida, cada dia passado, presente e futuro, tudo foi em determinação da minha vontade, da minha escolha e das minhas renúncias.
Descobri que preciso recobrar algumas velhas alegrias e aspirar novos horizontes. Descobri essencialmente que confiança gera auto-estima, que gera confiança, que gera amor, que gera confiança, que gera coragem, que gera confiança, que gera escolha, que gera confiança, que gera sabedoria, que gera confiança, que gera personalidade, que gera confiança e que finalmente gera ple-ni-tu-de...
Enquanto o tempo vai, a vida vem plena e cheia de surpresas. Eu que o diga, ter caxumba nesta fase da vida é mesmo algo inimaginável e ainda arriscaria dizer: incrível. Fez-me brecar o ritmo e colocar cada coisa em seu devido lugar, enquanto o tempo vai e a vida vem, enquanto as coisas se apertam e se encaixam nesta longa e colorida estante...

Ilustração de: Gabriel Vicente.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Vida de inseto

Era uma noite chuvosa, fresca e barulhenta, que nos brindou com sua escuridão. Era uma dessas noites de “apagão”, onde faltou a luz e sentimos faltar o chão sob os pés. Momentos em que percebemos o quanto somos dependentes da tecnologia e dos confortos contemporâneos. Noite em que observar alguns insetos que rodeavam incessantemente uma vela, tornou-se uma grande diversão.
Alguns insetos grandes, outros pequenos, alguns com asas, outros com pequenas patas, iam e vinham em torno do pires que sustentava a vela, alguns mais audaciosos arriscavam um vôo ao seu redor e sumiam, alguns para sempre.
Um pequeno besouro, em especial, chamou minha atenção. Foi um dos primeiros a rodear a chama da vela e não contente com sua proeza cortou a chama raspando no pavio, que fez o fogo esmorecer rapidamente e me permitiu vê-lo sair do outro lado da chama, com uma das asas queimadas.
Caiu bem ali, de costas, no vidro da mesa de centro e ficou a mexer as patinhas numa súbita vontade de recobrar o equilíbrio. Não me atrevi a auxiliá-lo, creio que ele precisava aprender aquela lição sozinho. Quanto a mim, ficaria a observá-lo e a incentivá-lo em pensamento enquanto olhava outro inseto que se aproximava da vela.
Este, menor que o besouro, parecia uma formiga com asas, popularmente conhecido por “aleluia”, o bichinho subiu com cuidado até o pires e começou a andar em círculos.
Ia e vinha o tempo todo, sem dar descanso às patas cansadas, como se fizesse uma reverência à vela colocada no centro daquele círculo imaginário.
Fiquei pensando quando ele iria subir pela vela, ou quando criaria coragem para voar próximo às chamas como os demais insetos que ali estavam, mas ele não o fez. Ficou ali na mesma rota, até que a chama terminasse, hipnotizado pela luz, extasiado com todo aquele calor que o prendia como um imã.
Antes da chama findar-se voltei a olhar o pequeno besouro, que com muito esforço havia novamente se colocando de pé. Uma das asas estava comprometida, mas isso não o impediu de mais uma vez alçar vôo pelo pires. Ia e vinha, desta vez mais tímido, mas cada vez mais alto.
Pensei que nenhum animal seria suficientemente ignorante para novamente jogar-se nas chamas e ingenuamente me surpreendi quando o vi usar suas últimas forças para jogar-se novamente na chama e cair, desta vez sem vida.
Foi então que comecei a pensar na nossa semelhança com os insetos e tentei encontrar alguma característica que nos diferenciasse deles. Depois de muito pensar, encontrei apenas uma: a consciência.
Da mesma forma que aquele besouro, trilhamos objetivos, superamos obstáculos e muitas vezes somos por eles derrubados. Criamos novas estratégias, definimos novamente o objetivo, nos machucamos, recebemos todos os sinais de que aquele não é o melhor caminho, mas tão logo criamos novas forças, recuperamos o equilíbrio, nos jogamos na chama e muitas vezes não vemos mais saída.
A única diferença destas duas histórias está na consciência dos atos. O besouro age por instinto, não consegue desvencilhar-se da luz, nós muitas vezes nos atiramos na chama conscientes e ainda assim nos lamentamos com o fatídico resultado e não aceitamos as renúncias de nossas escolhas.
Assim também podemos nos comparar com a “aleluia”, que ficou por horas almejando seu objetivo e não se arriscou, deixou engolir-se pela rotina, e saiu cabisbaixa para longe da vela que já perdia seu significado com o apagar da chama. Quanto a nós, quantas vezes não trilhamos objetivos, fazemos planos e nos sufocamos pela rotina, que nos acomoda e nos impede de alcançá-los?
A cada dia tenho mais certeza de que temos muito a aprender com a natureza, com seu instinto e seus reflexos e é por isso que não me canso de observá-la.
Seja dia ou noite, com luz artificial ou solar, com lâmpada ou velas, meu olhar sempre estará em busca das pequenas coisas que nos movem. Das pequenas coisas que constituem a essência humana.
Talvez se adotássemos a vida de inseto poderíamos ganhar muito, principalmente se formos capazes de usar nossa consciência humanamente. Consciência esta, que atribui ao homem a capacidade de agir racionalmente e fazer suas escolhas de maneira justa.
Creio que nos falta um pouco mais de instinto e nos sobra crueldade em alguns momentos, em outros nos falta coragem e nos sobra acomodação, sem falar nas vezes que nos sentimos com as pernas para o ar e sem forças para recomeçar. Para recobrar este equilíbrio, e nos ensinar novas formas de trilhar os mesmos caminhos, creio que os insetos, na imensidão de suas monótonas vidas ainda têm muito a nos ensinar....
Ilustração de: Gabriel Vicente.