“A descrença e a negligência religiosas são
um grande mal, porém o preconceito e as mentiras são ainda piores”. (Plutarco)
Essa semana fui surpreendida com
a reação de um colega que me fez pensar no quanto ainda existe conservadorismo
e preconceito quando o assunto é religião.
Conheço essa pessoa há pouco
tempo e não acho que preciso colocar na minha ficha de apresentação meus
preceitos religiosos, contudo, nunca quis escondê-los, pois os escolhi e
agradeço todos os dias pelo conhecimento adquirido e por poder multiplicá-los. Mas
nunca imaginei que poderia causar tanto espanto a alguém ao assumir minha opção
religiosa.
Estávamos conversando quando ele
perguntou o que faria à noite e disse que iria ao Centro:
- Mas você já mora no Centro!
- No Centro Espírita.
Silêncio.
- Alô?
- Oi...
- Te assustei?
- Não... Eu só não esperava.
- Algum problema?
- Não, eu continuo gostando de
você do mesmo jeito, viu?
Vi. Na mesma hora pensei: Meu Deus! Será que ouvi direito?
Aquela frase me soava mais ou
menos assim: Você tem esse defeito grave, mas eu vou continuar gostando de
você, viu? Ou ainda, você faz essa coisa horrível, mas mesmo depois de
saber disso, eu vou continuar gostando de você, viu?
Será que eu tinha que agradecer? Esse constrangimento me fez lembrar a primeira situação que vivenciei
registrando intolerância à minha escolha religiosa.
Quando tinha meus dezesseis anos,
estudava em uma escola técnica em uma cidade vizinha e conheci lá uma garota
muito legal, tinha um coração enorme, era super simpática e companheira, então
pensei: Caramba! Essa garota vai ser
minha amiga para o resto da vida!
Construímos uma relação forte de
amizade que foi rompida quando em uma aula de sociologia, a professora abordou
o tema religião e cada aluno expressou sua crença. Ela que era testemunha de
Jeová, quando soube que eu era espírita kardecista nem se despediu naquela
tarde. E nos dias que se seguiram, foi ficando mais distante.
Lembro que sofri com a perda
daquela amizade, mas tentei compreender as razões dela e segui, construindo
minha vida nos princípios do amor e da caridade. Jamais me esqueci daquela
situação e hoje isso voltou com força, quando escutei aquela frase que ficou
ecoando na minha cabeça por horas.
Fico pensando que às vezes chega
a me dar medo de afirmar minha doutrina, pois parece aos olhos de muitos que o
que faço é errado. Mas porque temos que ser vistos assim? Não tenho nada contra
nenhuma religião, já conheci quase todas até me identificar com a doutrina espírita,
mas de verdade, é difícil entender o preconceito que se forma sobre o
espiritismo.
Agora mesmo, posso apostar que
alguns leitores que acompanham essa coluna há anos, poderão deixar de
acompanhá-la, se é que já não o fizeram lá no quinto parágrafo. Acreditar em
uma ou outra coisa, em um nome para Deus ou em outro muda minha essência? Muda
meus valores?
Acredito que o preconceito vem do
desconhecimento. Já me perguntaram se fazemos exorcismo ou rituais malignos por
lá. Poxa, se você não conhece não julgue. Participe de um atendimento fraterno,
de uma palestra, ou converse com quem é praticante e, se quiser permanecer
longe dessa doutrina, então, sobretudo a respeite.
Muito se diz sobre evangélicos
hoje em dia na mídia e tenho muitos amigos que seguem essa religião e eu os
respeito. Assim como também tenho amigos católicos e ateus. E nunca, jamais
falaria para um deles que apesar dele ser evangélico (católico, ateu ou
qualquer coisa que desejar) continuarei gostando dele, porque isso me soa
estranho, para não dizer incompreensível.
Pessoas fazem escolhas o tempo
todo, com tudo! A maravilha da humanidade está na diversidade, a evolução dos
homens está no fato de aceitar as escolhas feita por outros homens e respeitar
suas diferenças. Mas parece que é mais fácil transformar a diferença em avença
do que aceitá-la.
Ouvir isso hoje, em pleno século
XXI, onde ainda milhares de pessoas morrem no mundo por fanatismo religioso,
ouvir isso em uma cidade com quase seiscentos mil habitantes, onde existe uma
comunidade espírita vasta e fortalecida, chega a me assustar.
O conservadorismo ainda existe e
o preconceito o acompanha de braços dados.
Com esse episódio aprendi que as
respostas chegam mais rápido do que as pedimos e que mais difícil do que
esconder uma verdade é disfarçar um preconceito. Então, não o esconda, não o omita,
não o guarde.
Quando se expõe o preconceito se
abre a possibilidade de dialogar sobre isso, abre-se a oportunidade de romper
estigmas e conquistar uma nova visão sobre determinado assunto. Ninguém é capaz
de mudar uma pessoa, mas é possível mudar o jeito de olhar para ela, basta
conhecê-la, e para isso é preciso despir-se de toda e qualquer forma de
preconceito e pré-conceitos.
E então? Onde você guarda o seu?
Vamos conversar mais sobre isso?
3 comentários:
Texto publicado no Jornal Democrata de São JOsé do Rio Pardo/SP, no dia 01/06/13.
Aguardo comentários! ^^
Confesso que não consigo entender tamanho preconceito e falta de caridade, muito dogma - pouco respeito!
Confesso que não consigo compreender tamanha falta de reflexão! Muito dogma, pouco respeito, nenhuma caridade nas pessoas!
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