“Porque amor é justamente isso, é ficar
inseguro. É ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se
perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem
mais controle” (Fabrício Carpinejar)
Insegurança é veneno produzido no
coração. Corre pelas veias, invade o cérebro e domina os pensamentos. Deixa a
boca seca e mata aos poucos, gole a gole.
Seca sentimentos como o sol
castiga as plantas no sertão. Camufla sonhos e exalta medos como um outdoor com
figuras em segundo plano.
Insegurança dói. Tanto quanto a
perda de um ente querido, ou uma batida do dedinho no pé da mesa.
Insegurança é lança atirada pelo
inseguro contra o próprio peito. É dança em descompasso em piso frio.
Insegurança transparece. Cresce
feito nuvem em dias nublados e esconde o que está à vista, como a lua em dias
de nevoeiro.
Insegurança cega os olhos, tapa
os ouvidos e constrói perguntas que nunca deveriam ser feitas. Insegurança é a
maldição dos desapaixonados ou quiçá dos enganados.
Sua maior propagadora é a moça de
coração partido ou o rapaz traído na beira do altar. Sentimentinho ridículo de
tão pobre, mas capaz de impedir o surgimento de lindas e nobres histórias de
amor.
Filha do ódio e da vingança, irmã
do ciúme, a tal insegurança quando encontra um coração partido se instala como
se fosse suíte em hotel de luxo e ali permanece, em estadia prolongada, sem
data para partir. Por vezes adormece por meses e quase passa despercebida, mas
basta a menor desconfiança para que ela acorde e grite, aos berros, que dali
ninguém a tira.
Ninguém gosta de sentir-se
inseguro. Ninguém gosta de desconfiar. Mas quando alguém carrega a insegurança
dentro do peito, é difícil aquela fera aquietar. Acredita que a mantém sob
controle, quem não sabe o que ela representa, ou seus efeitos nunca sentiu.
Esse acha fácil arrancá-la dali e tece crítica feroz a quem com ela emergiu. E
entre uma critica e outra, entre um grito e outro, a insegurança desperta, e
sente-se vitoriosa ao anunciar: mais um
relacionamento que não vai vingar.
A solução para mantê-la sob
controle é manter-se solitário. Sozinho, longe de qualquer sentimento nobre que
possa atacá-la e querer seu espaço ocupar. Mas isso é justo?
No meu singelo entendimento não. Mas
se o homem é o criador de sentimento tão mesquinho, será possível outro homem
nele por fim?
Enquanto o guerreiro não a encara
de frente, corações apresentam-se secos, sem vida, incapazes de ser terreno
fértil para o cultivo de sentimentos nobres. Palavras ecoam na mente do
inseguro e o cansaço da crítica também alimenta a dúvida, enrijece a alma,
endurece o coração. A insegurança fechou o portão e disse ao amor: aqui você não entra mais não.
Que grande mal é esse, que
confunde baixa estima com medo, que ultrapassa a dor física e faz a alma chorar
por não conseguir, por mais que deseje todas as noites, confiar?
Ah insegurança... Lança a dança e
agora avança. Vá embora sua bruxa malvada e dê a menina um pouco de esperança.
Promessas, terapia e simpatia já não a fazem partir, rezas e mandingas a fazem sorrir,
seu único medo é a confiança. Mas cá entre nós, como pode confiar o inseguro
que desconfia até de quem faz suas tranças?
Mal sem fim, dor eterna? Dizem
que não há mal que para sempre dure, nem tristeza que nunca acabe. A
insegurança sendo um mal que causa tanta tristeza não há de ser eterna, pois.
Será?
Remédio para curá-la? Ainda não
há. Desconheço algum de efeito imediato,
mas dizem por ai que amor, em doses diárias, paciência e gestos de cumplicidade
alimentam a confiança e enfraquecem a insegurança.
E se assim for, que o pedido diário no lugar do café, abra espaço para uma dose de amor, bem caprichada garçom, por favor.