Lembro-me de já ter escrito muitas coisas sobre o tempo neste espaço. O tempo me consome, me envolve e me faz sumir em incessantes ocasiões. Faz-se farto e restrito em questão de segundos. Pinta-se colorido e amplo no alvorecer e com o chegar da noite encolhe-se feito caracol.
Tenho uma grande dificuldade em administrar o tempo. Por vezes arrisco-me a dizer que tenho tempo, mas mal faço os olhos piscarem e percebo que o tempo já não me pertence mais. Passou, rápido como vento, forte como rochedo que insiste em jogar-se no meu caminho.
Na semana passada o tempo me pregou uma peça. Levei um susto tão grande, uma sensação de estranheza tão plena que cheguei a pensar: fui capaz de fazer o tempo parar.
O medo fez com que os dias passassem devagar, como se os ponteiros do relógio andassem atrasados, incapazes de alcançar uma resposta, uma solução para por fim a aflição. As lembranças caminharam de mãos dadas com o futuro deixando o passado distante, foram dias de incerteza e de tempo de sobra para refletir sobre o “talvez”.
A decisão tomada, o fato consumado, o laudo interpretado e as novas regras ditadas aceleraram o tempo de tal forma que me fizeram correr em busca do amanhã. Os ponteiros, desta vez adiantados, giravam ávidos por mudança, por colheita de bons resultados.
Ainda assim o tempo não me pertenceu. Tentava administrá-lo de toda maneira no dia e na noite, mas quem disse que fui capaz de contê-lo?
Esvaiu-se das minhas mãos feito areia em ampulheta lembrando-me que ninguém é seu dono. As obrigações e responsabilidades retomaram seu lugar e me lembraram de que não sou dona do tempo. Pouco restou para o riso no final do dia, para a boa conversa no meio da tarde e para o namoro no final de semana.
Quase nada ficou para o olhar atento, para as pequenas coisas que tanto me inspiram e que hoje quase não consigo respirar. O tempo, que era para ser meu, me domou e me consumiu. O relógio é quem dita às regras e eu que pensei um dia ser capaz de programá-lo.
É o relógio que me diz quanto posso dormir, é o tempo que me indica quando preciso parar de mastigar, são os ponteiros que me incentivam a apressar os passos, é o tique-taque do dia que me faz encarar a noite com a sensação de que ainda faltou tanto para ser feito. O medo me deu coragem para programar meu tempo em pequenas e deliciosas ações, só me tirou a força de executá-las. Aguardo um meio de reprogramá-lo sem pouca vontade, com mais ação do que palavra, com mais certeza do que talvez.
Espero um meio de desligar o tempo do mundo e ligá-lo apenas a mim. Seria deslumbrante caber mais tempo em mim do que no mundo, seria ainda mais encantador caber no mundo todo o meu tempo.
O tempo que não é meu, nem seu, nem sequer de todo mundo. Tempo que passa rápido, arisco como pássaro selvagem incapaz de deixar-se engaiolar. Tempo que me move e que sem ele apaga-se a razão de ser, pois minha própria existência crava-se em seus ponteiros e em um espaço que não me pertence.
Enraíza-se em um tempo que me controla, me encara constantemente e irradia seu ritmo em um processo que inicia-se logo ao resplandecer de um novo dia. Que tempo é esse que me sucumbe e me envolve?
É tempo de ilustrar o dia e dele fazer poesia. Tempo é, de ganhar como presente um poema, capaz de me mostrar que o tempo não me engole, mas de mim depende, tempo que não me domina mas me guia, tempo de poesia que hoje me faz refletir sobre o tempo que a ninguém mais pertence, apenas a mim. Pois é o meu tempo, meu e de mais ninguém...
“Tempo de estar, tempo encantado, tempo de Taline? Tempo de tudo que tem e por ser tudo o que tem, tempo há em você. Em que tempo te acho? Entre temporais, tempestades, todos os dias lindos também te vejo, e vejo porquê tempo há em você. Entre tantos tempos, até mesmo o tempo às vezes a procura, e quando te encontra, ele é você. E o tempo sorri quando te abraça, e pulsa por entre seus ares, inebria seus desejos e te traz à vida. O tempo te sabe e sabe que sem você não há razão pra ser, e te tem, tem tanto que chega a dar a você a própria existência só para te ter no aconchego das tuas horas”. (Teu tempo - Tamara C. Braga- Dez/2009)
4 comentários:
Estou muito emocionada para fazer qualquer outro comentário!
Em homenagem a querida amiga Tamara, que dedicou seu tempo a fazer poesia para colorir meu dia, me fazendo assim ganhar tempo. Obrigada pela tua amizade!
é o tempo... as vezes precisamos olhar para ele, para enfim concluir o que já sabemos: que certas coisas é menos, porque é mais mais...
muito lindo tudo que escreveu...bjs.
Tá, minha sempre querida, minha amiga.
Obrigada pela homenagem!O texto, como já havia dito é maravilhoso! Nem preciso de delongas, no caso aqui, o texto já se basta por si só, cheio de sentido e cheio de beleza.
abraçoss
Tamara
Postar um comentário